Yuli Anastassakis desenvolve trabalhos em bordado, fotografia e pintura. Nos últimos anos vem pesquisando a relação entre arquivos, plantas, palavras, tempo e memória. Seu trabalho parte de reflexões relacionadas às seguintes questões: o tempo do bordado, o tempo das plantas; o tempo expandido e as tentativas de desaceleração; as relações entre plantas, pessoas e suas crenças; a captura e arquivamento das coisas do mundo; a memória do tempo presente; a forma como tentamos guardar imagens e palavras e a maneira como elas tendem a desaparecer.
É Bacharel em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ e Mestre em Processos Artísticos Contemporâneos pelo PPGARTES/UERJ. Fez cursos de vídeo-arte, desenho e pintura na EAV do Parque Lage. Atualmente participa do grupo de acompanhamento artístico do NowHere_Lisboa, com orientação de Cristiana Tejo. Foi assistente dos artistas Barrão e Carlito Carvalhosa. Trabalha como produção de/para arte desde 1998.
Captura Cotidiana
A série Captura Cotidiana foi um trabalho desenvolvido entre 2010 e 2016 a partir da captura de imagens de passeios virtuais realizados através do Google Street View (GSV), recurso do Google que disponibiliza vistas de algumas partes do mundo ao nível do solo. Os passeios seguiam por ruas de diversas cidades sem que houvesse qualquer deslocamento físico, sem sair de casa. As imagens capturadas eram separadas por categorias e alocadas em um arquivo que fui alimentando ao longo dos anos. Divido este capítulo em duas partes. Inicialmente, discorro sobre a flanagem, o Google Street View, a captura/coleta de imagens e seu posterior arquivamento, categorização e reutilização, buscando mostrar como essas questões aparecem no desenvolvimento do trabalho. A segunda parte do capítulo é uma reflexão sobre o bordado como experiência de desaceleração e de alargamento do tempo.
LivroLinhoLinha
O livro LivroLinhoLinha foi o resultado poético-visual de uma pesquisa, que contém os desenhos e conversas coletados durante uma residência artística. Esse projeto traz à tona os aspectos conceituais que permeiam o trabalho, como o estar/trabalhar junto de outros artistas em uma situação de deslocamento, assim como ponderações sobre a linha, o fio e o bordado. Além da experimentação com os materiais, me interessa pensar o livro de artista e o bordado como dispositivos de conversa e encontro.
Proteção para tempos sombrios
Na serie Proteção para tempos sombrios estabeleço uma costura reflexiva entre plantas, narrativas, internet e bordado. Partindo de uma pesquisa em que coletei na internet acerca de narrativas sobre o momento atual em nosso país, discorro sobre o desejo de guardar coisas que nos ajudem a rememorar, buscando capturar um dado momento histórico a partir da percepção e dos discursos de pessoas comuns capturando frases que contenham as palavras “tempos sombrios” publicadas na internet nos últimos quatro anos. A partir dessa pesquisa, faço alguns questionamentos, tais como: por que nos referimos repetidamente a tempos sombrios? Que tempos sombrios seriam esses? Como as pessoas relacionam esses tempos de agora a outros momentos históricos também considerados sombrios? De que outras maneiras denominamos os tempos de agora?
Nesta mesma época, estava colecionando fotos de espadas-de-são-jorge ou de espada-de-santa-bárbara que ia encontrando pelas ruas. As fotos das espadas viravam desenhos e bordados. Em um dado momento, a coleção de espadas se juntou à de frases. Fui incorporando palavras ou fragmentos de frases nessas imagens. Juntei essas frases aos desenhos de pessoas capturadas do Google Street View com espadas-de-são-jorge no lugar da cabeça. Tinha a intenção de associar a proteção e a resistência dessas plantas como uma maneira de incorporar tais qualidades, criando seres híbridos, meio plantas, meios humanos.
Essas plantas são muito populares e costumam ficar na frente de residências e de estabelecimentos comerciais como forma de proteção contra mau-olhado e inveja. As Sansevierias, como são chamadas cientificamente, se multiplicam e se espalham com facilidade, são fortes, resistentes, vivem bem em solos pobres e com pouca rega. Essas plantas têm papel fundamental nas religiões de matriz africana, onde são consideradas sagradas, simbolizando proteção e resistência.
Pensar a espada como um modo de refletir e agir, um modo de ser e estar no mundo. Pensar em como as plantas se comunicam, se apoiam, resistem, se espalham. Plantas como exemplos de maneiras de comunicação e cooperação. Pensar no tempo das plantas. “Não se pode separar – nem fisicamente, nem metafisicamente – a planta do mundo que a acolhe. Ela é a forma mais intensa, mais radical, mais paradigmática do estar-no-mundo.” (COCCIA, 2018:13)
Formação
2019
Mestre em Processos Artísticos Contemporâneos, pelo Programa de pós-graduação em artes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro/Brasil (Ppgartes/UERJ)
2008
Bacharel em Ciências Sociais, pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro/Brasil (IFCS/UFRJ)
Atualmente participa do grupo de acompanhamento de projetos com orientação de Cristiana Tejo no NowHere, em Lisboa.
Fez cursos de vídeo-arte, desenho e pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro.
Foi assistente dos artistas Barrão e Carlito Carvalhosa.
Residências artísticas
2019
Flora (Casero Residência – Serra da Mantiqueira/RJ)
2018
O sentido do Fio (Serrinha do Alambari/RJ)
Principais exposições individuais
2021
Tempos de Agora (Espaço NowHere – Lisboa/Portugal)
Coletivas
2023
Afiar (Galeria do Lago / Museu da República – Rio de Janeiro/RJ) 2022
Mutirão 2022 (Espaço NowHere – Lisboa/Portugal)
2021
AR: Acervo Rotativo (Oficina Cultural Oswald de Andrade – São Paulo/SP) _ Mutirão 2021 (Espaço NowHere – Lisboa/Portugal)
2020
Exposição do Clube dos Colecionadores NowHere (Espaço NowHere – Lisboa/Portugal)
2019
SobreviverResistir (Z42 – Rio de Janeiro/RJ)
Manjar: para habitar liberdades (Solar dos Abacaxis – Rio de Janeiro/RJ) _ Um dia só. Um ano depois. (Espaço Santa Cristina 13 – Rio de Janeiro/RJ)
2018
Ocupação Ovárias (Centro cultural Laurinda Santos Lobo – Rio de Janeiro/RJ) _ Dissecada (Marques456 – Rio de Janeiro/RJ)
2017
Experiência n.14: Gestos Intervalos, Reversos (A Mesa – Rio de Janeiro/RJ) _ FioCorpoTerra (Espaço Saracura – Rio de Janeiro//RJ)
Mostra de arte HUB Rio (Espaço Hub Rio – Rio de Janeiro/RJ) _ SOMA 2017 (Fábrica Bhering – Rio de Janeiro/RJ)
2016
SOMA 2016 (Fábrica Bhering – Rio de Janeiro/RJ)
1 + 10 (Galeria Hiato – Juiz de Fora/MG)
2014
Virei Viral (Centro Cultural do Banco do Brasil – Rio de Janeiro/RJ)
2013
Ausência Aguda Presença (SESC Copacabana – Rio de Janeiro/RJ)