Querida Laura,
Você me perguntou o que eu faço como trabalho. É difícil colocar em palavras como cheguei aqui: sentindo meu corpo tocando a cama, o celular na minha mão, pesado. A dor no mindinho pq o celular não foi feito pra minha mão. Estas são as condições que invadem meu corpo neste lugar adoecido, enquanto te escrevo. Desde que comecei, tudo tem sido sobre o corpo. Em particular, os efeitos corporais que este transtorno mental crônico têm no meu corpo. Dor, exaustão, aceleramento, pressão, instabilidade, inércia, pensamentos invasivos e sensações físicas que escapam da “normalidade” cotidiana. Desde então, tenho tentado maneiras de colocar em movimento essas sensações corporais que o mundo onde vivo chama de “sintomas.” Inventar relações dançadas entre meu corpo e as coisas ao meu redor. Por coisas, quero dizer cadeiras ou paredes. Mas também pessoas, plantas, objetos, palavras, materiais, câmeras.
Em um nível mais abstrato, isso vêm de uma curiosidade sobre as forças que coreografam nossos movimentos e corpos. Mais especificamente, como que, com a disseminação do celular, as câmeras estão vivendo tão perto de nós. Poderíamos dizer que eles se fundiram aos nossos corpos. Viramos “corpocameras” mesmo se o dispositivo não está em mãos. Mesmo desligado: esse celular que uso para te escrever me transforma. Ou, num trabalhador ativo e protagonista, produzindo sem parar. E, se não é isto, este celular vira ferramenta e para obsolescência. Ele transforma pessoas em corpos obsoletos: simplesmente não-ser, não estar apto, não ser considerado ou visto.
Minha abordagem é baseada no corpo e no movimento, vindo da terapia somática, dança e improvisação. Apesar de ser tudo prática, perguntas grandes pairam: com dançar nesse mundo de maneiras que não são tão adoecedoras para nós como corpos coletivos e para os mundos ao nosso redor? Que danças podemos dançar para combater as forças que nos coreografam?
Te amo,
Sofia
Hospital Fond’Roy, Bruxelas, 05/05/23
Superaquecidas (Overheating), 2022, 20’24”
Workation, 2019, 9’50”
Unrest (documentation), 2019, 6’55”
Excess Lines Linhas de Excesso, 2017, 7’13’’
a curva que fecha o circuito 1’14”
Trem 1’36”
aqueles estáveis 1’23”
Pausa pelos cantos 2’20”
Sofia Caesar cresceu no Rio de Janeiro e atualmente mora entre o Rio e Bruxelas, na Bélgica. Em 2019 foi contemplada com uma bolsa de doutorado pela LUCA School of Arts / KU Leuven, onde leciona e desenvolve sua pesquisa.
Caesar parte da dança para fazer trabalhos em meios variados como pintura, fotografia, vídeo, performance, e instalação. Seu trabalho evoca estados corporais entre atividade e passividade, movimento e pausa, trabalho e descanso. A vitalidade do corpo cotidiano, estados corporais como a ansiedade e a dança fazem parte do seu universo temático.
Em 2019, Caesar abriu sua primeira exposição individual, Canseira (contemplado pelo Prêmio Rumos Itaú Cultural 2018), no Centro de Arte Hélio Oiticica (RJ, BR). Esta mostra resulta de uma longa pesquisa sobre a relação entre a pausa, o movimento, a estética do lazer usada por empresas internacionais como a Google, e proposições de artistas como Hélio Oiticica.
Nos últimos anos, mostrou trabalhos e colaborou com instituições como a Brugge Triennale (BE), Framer Framed (NL), BienalSur (AR), Munch Museet (Oslo), Bienal de Moscou (RUS), M HKA (BE), SFMOMA (EUA), A Tale of a Tub (NL), Tomie Ohtake Institute (BR), ISELP, Bienal de Contour (BE), Beursschouwburg (BE), CAVEAT / Jubilee (BE) entre outras organizações no Brasil e fora.
As obras de Caesar estão presentes em coleções públicas e privadas, como FRAC Pays de la Loire (FR), Parco d’Arte Vivente (IT), Jacques De La Beraudiere, MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói (BR), Itaú Cultural (BR), e outros.
Exposições Individuais
2022
Superaquecidas, Galeria Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
2020
WORKATION, Brugge Triennale, Bruges, Bélgica. Curador: Bert Puype
2019
CANSEIRA. Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Brasil Curador: Raphael Fonseca
2017
Worker leaves the factory (conditions for the work) Opening permanent installation, Parco de Arte Vivente, Turin, IT
2016
I am Welton Santos, Performance, Parco de Arte Vivente, Turin, IT
Coletivas
2022
Sublime Ordinário, Espaço-Cama, São Paulo (BR)
The Silence of Tired Tongues, Framer Framed, Amsterdam (NL)
Bienal Sur, Rosario (AR)
2021
Transmediale, Berlin (DE)
CADS, Munch Museum, Oslo (NO)
2020
Mira, ArtRio, Rio de Janeiro (BR)
Risquons-tout!, Instersections of Care, WIELS, Brussels (BE)
Sunset Kino, Kunstverein Salzburger (AT)
2019
Fried Patterns, Brussels Gallery Weekend, Vanderborght, Brussels (BE)
Failures of Cohabitation, M HKA, Antwerp (BE)
Embodied Language, Plagiarama Gallery, Brussels (BE)
rosa rosa rosae rosae, The Pool, Brussels (BE)
2018
6th Moscow Biennial, Moscow (RUS)
Times to reflect on, Josza Gallery, Brussels (BE)
Zero Hour, Batârd Festival, Caveat, Beursschouwburg, Brussels (BE)
Rites of Exchange, L’Iselp, Brussels (BE)
2017
Delirium & Destiny, A Tale of a tub, Rotterdam (NL)
SYNC!, Iselp, Brussels (BE)
2016
Physical Factors of a Historic Process, HomeSession, Barcelona (ES)
2015
TXT, Casamata, Rio de Janeiro (BR)
Quero te encontrar, La Maudite, Paris (FR)
2014
Visual Activism Symposium, SFMOMA, San Francisco, USA. Curated by Dominic Willsdon.
Participation in Turning a blind eye, 31st São Paulo Biennial, BR. Parte do programa Bik van der Pol.
2013
Terceira mostra, Parque Lage, RJ, BR (curated by Marcelo Campos, Fernando Cocchiarale e Ana Bella Geiger)
2012
Transperformance II, Oi Futuro, Rio de Janeiro (BR). Curadora: Marisa Flórido.
ROAD/Material Bruto, Dança no Andar de Cima, Fortaleza
Exposição-ocupação-apresentação: ROAD, CCBNB, Fortaleza, BR
Novíssimos, Galeria Ibeu, Rio de Janeiro, RJ, BR
EDP das Artes, Prize, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, BR (Curador: Agnaldo Farias, Paulo Myiada, e outros)
63° Salão de Abril, Fortaleza, CE, BR (Group show)
Abre Alas 8, Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, BR. Curado por Daniela Labra, Marcelo Campos e Alexandre Vogler
2011
Festival de Vídeo EAV & Rio Show, Parque Lage, RJ, BR
Corpo Incógnito: água viva, Galeria Amarelonegro, RJ, BR
Casa Relâmpago, RJ, BR
Residências Artísticas
2019
Hangar, Barcelona, ES
2018-19
HISK, Gent, BE
2017
Workspacebrussels, Brussels, Belgium
2016
Resó Network 6, Parco d’Arte Vivente, Turin, Italy
Summer Studios, Rosas, Brussels, Belgium
2012
ROAD, Capacete / Funarte, Brazil
Prêmios
2018
Rumos Itaú Cultural 2017-18, BR
2019
Nominated VG-Award 2020 , NL/BE
2016
7e SYBREN HELLINGA
KUNSTPRIJS Long listed, NL
2012
ROAD / Funarte
EDP, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP/BR (Longlist)
Mençao Honrosa. Novíssimos, Galeria Ibeu, Rio de Janeiro, RJ/BR
Coleções
2020
Workation, FRAC Pays de la Loire, France
2019
Tired mobiles series: várias aquisições incluindo por Jaques de la Beraudiere
Noise and Knowledge, Kuntenbibliotheek, Bélgica
Mobiles Cansados, MAC, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, BR
2017
Workers leave the factory, permanent installation, Parco d’Arte Vivente, Turin, IT
Publicações selecionadas
2019
Workation, L’art Même n77, magazine, Brussels, BE. Feature by Florence Cheval.
Making it Heard, Bloomsbury, ed. Rui Chaves, Fernando Iazzetta. in. Out of the Mainstream: Noise and Otherness in the Work of Marie Carangi, Paula Garcia, e Sofia Caesar (Lílian Campesato, University of São Paulo, Brazil)
2018
Abracadabra, 6th Moscow Biennial Catalogue, Moscow (RUS)
2013
Terceira Mostra Catalogue. EAV, Rio de Janeiro, BR
2012
Prêmio EDP das Artes Catalogue [/ed Agnaldo Farias].
Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, BR
O inventário dos gestos de Sofia Caesar. Blog Comunicação e Artes, November. entrevista por Viviane Matesco, Rio de Janeiro/BR
Sofia Caesar, DasArtes Magazine, Number 22, June. Article by Aline Leal. Rio de Janeiro/BR
2011
Vídeo, diversão e arte para todos, O Globo Newspaper, Caderno Rio Show, 1º de Julho, RJ/BR