(ultima atualização em outubro/2021)
Rio de Janeiro, RJ, 1981.
Vive e trabalha entre Rio de Janeiro, RJ e São Paulo, SP.
Representada pela Galeria Luisa Strina.
Indicada ao PIPA 2019.
Originalmente pichadora do subúrbio do Rio, Panmela Castro interessou-se pelo diálogo que seu corpo feminino marginalizado estabelecia com a urbe, dedicando-se a construir obras a partir de experiências pessoais, em busca de uma afetividade recíproca com o outro de experiência similar. Sua obra já foi exposta em museus ao redor do mundo, como o Stedelijk Museum em Amsterdã, e faz parte de importantes coleções. Sobrevivente de violência doméstica, Panmela desenvolve há quase 20 anos projetos de arte e educação para conscientizar sobre os direitos das mulheres, especialmente por meio da Rede NAMI – associação criada por ela.
Site: panmelacastro.com
Video produzido pela Do Rio Filmes com exclusividade para o PIPA 2019:
“Revanche”, 2019, 3’43”
“Ato Delicado”, 2019, 6’03”
“Corpo Vermelho”, 2019, 1’00”
“A Noiva”, 2019, 2’19”
“Poema Vagina Dentada”, 2018, 1’17”
“Stolen Kiss”, Panmela Castro, 2018, 1’06”
“Feminicídio”, 4’04”, 2018
“Poema da Vagina”, 2017, 1’17”
“Caminhar 2017, 1’00”
“Porquê?”, 2016, 5’31”
“Lady Grinning Soul”, Panmela Castro, 2009, 2’00”
Mestre em processos artísticos contemporâneos pelo Instituto de Artes da UERJ e Bacharel em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Panmela Castro (Rio de Janeiro, 1981) é artista visual, cuja trajetória marginalizada é o estopim de sua prática. Interessada em pintura e performance, dedica-se a pensar obras confessionais relacionadas às experiências pessoais de violência e prisão do pensamento binário e heteronormativo. Sua produção transpassa a fotografia, vídeo, objetos, esculturas e instalações participativas, além de seus murais mundialmente conhecidos.
Autora de uma obra confessional, Panmela cresceu como artista e desenvolveu sua trajetória a partir das experiências marginais no subúrbio carioca, como a pichação, os bailes funk e o surf de trem. Assim interessou-se pelo diálogo que seu corpo lido como feminino estabelecia com a urbe, dedicando-se a construir obras a partir de suas vivências, em busca de uma afetividade recíproca com o outro de experiência similar. O cerne das inquietações da artista é descrito por ela como “alteridade e pertencimento: o trabalho é sempre sobre o amor, sobre a relação com o outro, é sobre a minha existência vivenciada a partir da existência do outro”.
A artista realizou projetos de artes em cidades do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Espanha, França, Alemanha, República Tcheca, Holanda, Áustria, Noruega, Israel, Turquia, Emirados Árabes, África do Sul, Chile, Bolívia, Colômbia e outras. Expôs seu trabalho em museus como o Stedelijk em Amsterdam e o MUBE (Museu de Escultura Brasileira) em São Paulo. Seus trabalhos fazem parte de coleções como as das Nações Unidas, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington D.C., da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu da República no Rio de Janeiro e da Câmara dos Deputados em Brasília.
Em 2017 pintou o mural Femme Maison para a Frestas Trienal de Artes a convite da curadora Daniela Labra. O mural baseado na pintura da artista que é parte do acervo do Urban Nation Museum de Berlim mostrava duas cabeças femininas entrelaçadas por uma flor, que acusada de representar uma vagina, escandalizou parte dos conservadores da cidade. Durante 7 minutos o vereador pastor Luis Santos discursou um conjunto de críticas retrógradas (Panmela incorporou o vídeo do discurso como obra) levando o ministério público a mover uma ação contra o SESC Sorocaba que viu-se obrigado a apagar a pintura ao final da Trienal. O caso ficou conhecido como um dos primeiros episódios da onda de censura das artes junto ao Queer Museum e a performance “La Bête” no MAM.
Panmela Castro foi criada como uma “menina branca” por sua família conservadora de classe média baixa do subúrbio do Rio. Sua mãe, Dona Elizabeth, enfrentou uma série de dificuldades financeiras e vivenciou alguns episódios de violência doméstica com seu primeiro marido, até que decidiu fugir e se casou novamente com outro homem, que lhe proporcionou uma vida mais digna e criou Panmela como filha. Sem educação formal, seu novo pai fez com que conseguisse se dedicar aos estudos por um tempo, mas ao completar 15 anos, ele declarou falência. Foi com essa idade que a artista, ainda muito nova, precisou trabalhar para ajudar nas despesas de casa.
Para pagar suas contas e estudos, além de dar aulas, começou a desenhar pessoas nas ruas e vendê-las por 1 Real. Também foi nessa época que, com o codinome Anarkia Boladona, tornou-se a primeira garota de sua geração a escalar prédios para pichar seu vulgo. Panmela foi uma das primeiras grafiteiras a pintar trens no Rio e interviu ilegalmente por toda a cidade.
Em 2005 começa a se dedicar à pintura mural depois de uma experiência com violência doméstica: foi espancada e mantida em cárcere privado por seu até então companheiro, e essa experiência influenciou diretamente o caráter político de suas obras.
Pelo seu trabalho ativista nas artes, Panmela Castro recebeu muitas nomeações de direitos humanos como o Vital Voices Leadership Awards (D.C, 2010), o DVF Awards (NY, 2012), Young Global Leader do Fórum Econômico Mundial (2013) e figurou em listas importantes como da revista americana Newsweek como uma das “150 mulheres corajosas que estão bombando no mundo” (2012), além de outras. Em 2007 a CNN a nomeou Rainha do Graffiti. Panmela é pauta de veículos como da TV Americana PBS e no Fantástico da Rede Globo. É personagem em livros didáticos, de arte, liderança e direitos humanos; artigos acadêmicos, e nas principais mídias ao redor do mundo.
Para realizar uma mudança efetiva na sociedade, Panmela fundou a Rede NAMI, instituição de artes e direitos humanos onde, desde 2010, já atendeu mais de 9.000 mulheres. Hoje, a ONG é dedicada às mulheres negras, maiores vítimas do feminicídio no país.
- Grafiteira Panmela Castro vai pintar fachada do Museu de Arte Contemporânea de Amsterdã, publicado no O Globo (02/2019) – em português
- De Malala a Frida Kahlo, ‘Fantástico’ apresenta histórias inspiradores de força feminina por Nelson Gobbi, publicado no O Globo (03/2019) – em português
- A grafiteira Panmela Castro pintará a fachada de vidro do museu Stedelijk, por Ancelmo Gois, publicado no blog Ancelmo.com (01/2019) – em português
- Grafiteira faz mural de 500m2 no Rio para homenagear mulheres negras, publicado na Agência EBC (2018) – em português
- Ninguém vê obeliscos de Sorocaba como símbolos fálicos’, protesta grafiteira censurada, por Nelson Gobbi, publicado no O Globo (12/2017) – em português
- Pintura que causou polêmica por parecer genitália feminina é removida de prédio, por Natália de Oliveira, publicado no site G1 (12/2017) – em português
- A curadora Daniela Labra reflete sobre desafios e imprevistos envolvidos no processo de realização da Trienal Frestas 2017, em Sorocaba, por Daniel Labra, publicado na Select (12/2017) – em português
- Arte à flor da pele para falar de mulher, publicado no O Globo (2016) – em português
- Artista se inspira na obra de Frida Kahlo em grafite, publicado no jornal Destak (2016) – em português
- Carioca quebra tabu e pinta painel na escola de arte Barnard College em Nova York, por Renan França, publicado no Globo.com (2016) – em português
- Mostra reúne obras de Bispo do Rosário e de artistas contemporâneos, por Mariana Tessitore, publicado no site Brasileiros (06/2016) – em português
- Grafiteira brasileira Panmela Castro ganha homenagem em Nova York, por Mila Burns, publicado no Nova York ela Blogs (03/2015) – em português
- Anarkia Boladona estreia exposição com grafites, por Karina Maia, publicado no O Globo (2015) – em português
- Artista plástica da Penha promove direitos femininos e ganha projeção mundial, por William Helal Filho, publicado no O Globo (03/2013) – em português
- Dilma e artista Panmela Castro em lista de 150 mulheres que abalaram o mundo, publicado na Época (2012) – em português
- Ativista nas paredes, publicado na Vogue (2012) – em português
- Muros Feministas por Amanda Lourenço, publicado na Carta Capital (2012) – em português
- Catálogo exposição Anarquia Andarilha – em português
- Catálogo Exposição EAT ART – em português
- Catálogo Pamela Castro – em português e inglês
Formação
2011 – 2013
– Mestre em Processos Artísticos Contemporâneos pelo Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ
1999 – 2007
– Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ
2007 – 2018
– Cursos de Daniela Labra e Fernando Cocchiarale na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
Exposições Individuais e Projetos Especiais de Arte Pública Selecionados
2019
– “Together we Are Stronger”, Stedelijk Museum, Amsterdam, Holanda
– “Sisterhood”, Stockwell, Londres, Inglaterra
2018
– “A Selection Of Works: Panmela Castro”, The Stew Studio, Washington DC, EUA
– “Dororidade”, Quarteirão Cultural da Lavradio, Rio de Janeiro, RJ
– “Vesguinha”, Pinheiros, São Paulo, SP
– “Pulso”, AB Galeria, Rio de Janeiro, RJ
2017
– “Human’s Rights Are Women’s Rights”, Green Art Park, Manhattan, Nova Iorque, EUA
– “Panmela Castro”, Pop International Gallery, Nova Iorque, EUA
– “Jardim da Sororidade”, Centro Cultural João Nogueira – Imperator, Rio de Janeiro, RJ
2016
– “Somos Somas”, Urban Nation Museum, Berlim, Alemanha
– “Freedom For women”, Andrew Freedman Art Complex, Bronx, Nova Iorque, EUA
– “Porquê?”, Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
– “Nem Puta, Nem Santa”, J. Walter Tompson, São Paulo, SP
– “Nice”, Boulevard Olímpico, Rio de Janeiro, RJ
– “Série Búzios”, Galeria Paçoca, Rio de Janeiro, RJ
2015
– “Sem Título”, Wynwood, Miami, EUA
– “Sem Título”, Museo de Arte Contemporáneo de Quito, Quito, Ecuador
– “Linda, Libre Y Loka”, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, RJ
– “Sem Título”, Sesc Santana, São Paulo, SP
– “We’ve Got Your Back Girl”, Pop International Galleries, Nova Iorque, EUA
– “It is Ok Girl”, Andrew Freedman Art Complex, Bronx, Nova Iorque, EUA
– “Garden”, Green Art Park, Manhattan, Nova Iorque, EUA
– “Irmãs”, Barnard College, Manhattan, Nova Iorque, EUA
– “World Women”, Oslo, Noruega
– “Elas”, Matadero, Cochabamba, Bolívia
– “Garden”, Haifa, Israel
– “EVA”, Galeria Scenarium, Rio de Janeiro, RJ
– “Anarkia Andarilha”, Espaço Furnas Cultural, Rio de Janeiro, RJ
2014
– “Onde Há Respeito Há Paz”, Quarteirão Cultural da Lavradio, Rio de Janeiro, RJ
– “Pequim + 20”, ONU Mulheres, Brasília, DF
– “Vida Plena”, INCA, Rio de Janeiro, RJ
2013
– “Sem Título”, Jerusalém, Israel
– “Sim, Ela Quis Voar”, Escola SESC, Rio de Janeiro, RJ
2012
– “Sem Título”, Festival Cerro Polanco, Valparaíso, Chile
– “House Of Refuge”, Edmonton’s House Of Refuge, Edmonton, Canada
– “Piece Of Mind”, Edmonton, Canada
– “As Irmãs Siamesas”, Madison, Wisconsin, EUA
– “La Casa Pintada”, La Casa Pintada, Linares, Espanha
– “Transformation”, Awid, Istambul, Turquia
– “Eva”, Graffiti Passage Viena, Viena, Áustria
– “Manuela Libélula”,Trafatcka, Praga, República Tcheca
– “Piece”, Washington D.C, EUA
– “Eva”, Madison, Wisconsin, EUA
– “The Myth”, Bob’s Gallery, Nova Iorque, EUA
– “Eat Art”, Centro Cultural CEDIM Heloneida Studart, Rio de Janeiro, RJ
2010
– “Marte”, DVF Stúdio, Nova York, EUA
– “Eu Não Sou Sua Jabulani”, Universidade de Johanesburgo, África do Sul
2009
– “Mulheres”, Galeria Paris, Rio de Janeiro, RJ
2008
– “Anarkia”, Centro Cultural La Família Araya, Bogotá, Colômbia
Exposições Coletivas
2019
– “Palavras Somam”, Museu de Arte Brasileira da FAAP, São Paulo, SP
– “Ocupação Lavra”, Centro de Artes Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, RJ
2018
– “Corpus Críticos”, Espaço Z42, Rio de Janeiro, RJ
– “Street Type”, Caixa Cultural DF, Brasília, DF
– “Marina Monumental”, Marina da Glória, Rio de Janeiro, RJ
2017
– “Frestas Trienal de Artes”, Sesc Sorocaba, Sorocaba, SP
– “Urban Nation Museum Permanent Collection”, Urban Nation Museum, Berlin, Alemanha
2016
– “Das Virgens em Cardumes e da Cor das Auras”, Museu Bispo Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
– “Somos Todos Clarice”, Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro, RJ
– “We’re All Connected”, Urban Nation Museum, Berlim, Alemanha
– “Gentileza — O verde-amarelo do Rio”, Parque das Ruínas, Rio de Janeiro, RJ
– “Synopsis of an Urban Menoir”, Andrew Freedman Complex, Nova Iorque, EUA
2015
– “Múltiplo IN-Comum”, Galeria A7ma, São Paulo, SP
– “Pequim + 20 em Graffiti “, UN Women, Brasília, DF
– “Casa Fenomenal”, Nike, Armazém Utopia, Rio de Janeiro, RJ
2014
– “Festival ArtRua”, Instituto Rua, Rio de Janeiro, RJ
– “Calle Libre”, Academia de Belas Artes de Viena, Viena, Áustria
2013
– “Graffiti, A cor das Ruas”, Galerias da UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ
– “V Multigrab Expo Shapes”, Galpão das Artes Urbanas Hélio g. Pellegrino, Rio de Janeiro, RJ
– “História Contada Por elas”, Escola SESC, Sesc Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, RJ
2012
– “Optimística”, Chimkowe Art Gallery , Santiago, Chile
2011
– “The C.O.P guide to Etiquette”, Strychnin Gallery, Berlin, Alemanha
– ” Toyart International Exhibition”, Museu de Escultura Brasileiro (MUBE), São Paulo, SP
– ” Verão da Cultura”, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
– “ArtRua Festival”, Instituto Rua, Rio de Janeiro, RJ
– “Cor de Rosa Choque”, Centro Cultural CEDIM Heloneida Studart, Rio de Janeiro, RJ
– III Multigrab Expo Shapes, Galpão das Artes Urbanas Hélio g. Pellegrino, Rio de Janeiro, RJ
2010
– “Bienal Internacional Graffiti Fine Art”, Museu de Escultura Brasileiro (MUBE), São Paulo, SP
– “Graffiti”, Galeria do BNDES, Rio de Janeiro, RJ
– “Festival Internacional de Poster Art”, Centro Cultural da Justiça, Rio de Janeiro, RJ
– “The Art Whino Art Gallery”, Washington DC, EUA
– “Zona Oculta”, Sesc Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, RJ
– “Zona Oculta”, Centro Cultural CEDIM Heloneida Studart., Rio de Janeiro, RJ
2009
– “3o Encontro de Paulista de Hip Hop”, Memorial da américa Latina, São Paulo, SP
– “Movimento Periférico”, Sesc Caxias, Sesc Niterói and Sesc Madureira, Rio de Janeiro, RJ
2008
– “Banknotes”, Us and Them Gallery, Toronto, Canada
– “1a Bienal Internacional de Graffiti de Belo Horizonte”, Belo Horizonte, MG
2007
– “Das e sobre as ruas”, Sesc de Madureira, Rio de Janeiro, RJ
– “De Portinari ao Graffiti”, Sesc Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, RJ
Uma pessoa em um não lugar
Filha bastarda, acostumei-me a ocupar uma posição apátrida. Nem pobre nem rica, nem preta nem branca, nem masculina nem feminina, nem gorda nem magra, nem bonita nem feia. Da rua e da academia; hora privilegiada, hora marginalizada. Enfim, nunca esperei que um dia, que até me questionaria se sou mulher. A única coisa que tenho certeza é de ser feminista, e se me tiram daí, eu não sou mais nada. Até isto ousaram-me roubar. O meu objeto de trabalho é o pertencimento. Construo um pensamento a partir de experiências pessoais, em busca de uma afetividade recíproca com o outro de experiência similar. Sinto-me não pertencer a nenhum grupo, e por este motivo, aguardo essa identificação espontânea como forma de amenizar a solidão de se ocupar um não lugar. É um trabalho sobre a busca do amor, do afeto, do cuidado, e que repetidas vezes é parada pelo preconceito, pela violência, pela perversidade e pelo silenciamento. Um debate interseccional sobre privilégios, sexualidade, gênero e etnia. Quando um outro se identifica com uma historia minha pessoal, a obra se transmuta em política, ampliando seu entendimento para grupos sociais. Aí então, talvez eu pertença há algum lugar.