(ultima atualização em julho/2017)
Garça, SP, 1982.
Vive e trabalha em São Paulo, SP.
Representada pela galeria Mendes Wood DM.
Indicada ao PIPA 2015, 2016 e 2017.
Desenvolve pesquisa e produção artística em torno da materialidade, estrutura e fisicalidade. Seu trabalho de escultura parte do processo de investigação da matéria, suas formas vêm da intimidade com o material e em resposta à sua presença antes de sua função ou representatividade. Objetos criados são muitas vezes assemblages e intervenções mais ou menos sutis sobre objetos encontrados. O tempo e a intimidade com o processo são essenciais em sua prática e as medidas do corpo são frequentemente seu ponto de partida, tanto em trabalhos de menor escala quanto grandes intervenções no espaço.
Site: www.palomabosque.com
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes, exclusivamente para o Prêmio PIPA 2017:
Desenvolve sua pesquisa e produção artística em torno de questões que envolvem materialidade, estrutura e fisicalidade em meios variados. Seu trabalho resulta do processo direto de investigação da matéria e suas relações físicas e simbólicas com o espaço e o espectador.
Teve sua primeira exposição individual, “Um Ponto Antes”, na Mendes Wood DM, São Paulo, SP, em 2014. Participou de exposições coletivas incluindo “Building Imaginary Bridges Over Hard Ground”, Pan -Latin America, Art Dubai, Dubai, EAU, 2015; “Ouro – Um fio que costura a arte do Brasil”, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ, 2014; “Ultrapassado”, Broadway 1602, Nova York, EUA, 2014; “My Third Land”, Frankendael Foundation, Amsterdam, Holanda, 2013; “Da Próxima Vez Eu Fazia Tudo Diferente”, Pivô, São Paulo, SP, 2012; “Projeto Imóvel”, Edifício Copan, São Paulo, SP, 2011 e 7ª Bienal do Mercosul, Programa Ao redor de 4’33”, Porto Alegre, RS, 2009.
Trabalhos da artista integram coleções públicas tais como: Kadist Foundation Paris, França/São Francisco, EUA, e Tulip Collection, Londres, RU.
Kiki Mazzucchelli
[Texto para a exposição “Campo”, em Agosto de 2016]
Parte significativa da produção de Paloma Bosquê nos últimos cinco anos é marcada pela combinação entre materiais sólidos e maleáveis, resultando em composições que, embora fortemente amparadas por um grid, incorporam superfícies e texturas moles, translúcidas ou imperfeitas que promovem o desvio de uma vontade de pureza geométrica. Mesmo nos trabalhos nos quais o aspecto construtivista se destaca, há sempre algum dado que perturba o rigor absoluto. Na série de relevos de parede intitulada Ritmo para 2 (2013), por exemplo, pares de molduras de tamanhos distintos são sobrepostas e entrelaçadas com feixes de fios metálicos dourados que simultaneamente amarram os dois objetos e criam planos tridimensionais que perpassam fundo e superfície, entrecruzando-se em alguns momentos. São amarrações engenhosas e meticulosamente executadas, mas que subentendem uma estado de transitoriedade, uma vez que o que garante a fixação das peças de madeira é apenas a tensão das linhas. Em outros trabalhos, o desvio se dá pela combinação de formas marcadamente geométricas e materiais intrinsecamente informes como a cera de abelha (Língua, 2014), a encáustica (Repetições [Os 12 Defeitos], 2013) ou a linha tecida à mão (Trapinhos, 2015-16).
Em Campo, sua segunda exposição individual na Mendes Wood DM, Paloma Bosquê aprofunda sua pesquisa em torno das qualidades físicas da matéria e das possibilidades estruturais do objeto. Nesse processo, além de expandir seu repertório de materiais, pela primeira vez produz trabalhos que prescindem completamente da sustentação na parede ou no teto. Mais do que denotar apenas uma transição para o domínio daquilo que pode ser entendido mais tradicionalmente como escultura, essas peças são o resultado do desdobramento de uma busca infatigável da artista por estabelecer relações complexas porém potencialmente instáveis entre materiais de naturezas distintas. É que o ficar de pé – pré- requisito fundamental da escultura em seu sentido clássico –, em coerência com a lógica que permeia suas construções anteriores, não pode ser conquistado por meio de subterfúgios. Interessa-lhe sobretudo aquilo que consegue manipular sozinha, o que as limitações de seu próprio corpo lhe impõe. Assim, o fino equilíbrio das estruturas que constituem o esqueleto das peças autoportantes apresentadas aqui é obtido através relação entre o peso das tiras de lençol de chumbo que envolvem a base das hastes de latão, que por sua vez são conectadas por meio de uma técnica de encaixes e amarrações que dispensa soldas ou parafusos. Há portanto uma fragilidade latente nessas construções, na medida em que os arranjos que as sustentam podem aparentemente ser desfeitos a qualquer momento sem que seja necessário recorrer à força ou a instrumentos externos.
Paloma Bosquê conta que a primeira delas que conseguiu erigir foi Jirau (2016), cuja forma lembra as estruturas homônimas constituídas por um estrado de varas sobre forquilhas cravadas no chão e utilizadas principalmente no norte do país para fins variados: guardar louças ou panelas, defumar carne, secar frutas. Chama-se jirau (a palavra é de origem Tupi) também a armação sobre a qual se constrói casas em áreas alagadas, ou ainda, qualquer armação de madeira em forma de estrado ou palanque. O jirau de hastes de latão concebido por Bosquê é atravessado horizontalmente por um pedaço de feltro de lã de cor clara e quase translúcida que desenha uma grande curva entre suas duas extremidades, contrastando diametralmente em densidade, temperatura e textura com a armação ortogonal de metal. Na parte superior, sobre uma tela de finas tramas douradas, repousam duas pequenas peças alongadas fundidas em bronze. Assim, quando o observamos à uma certa distância, o que se sobressai é a geometria do desenho traçado pelas linhas retas das hastes e a curva da lã. Mas ao nos aproximarmos, o que é visível é a sobreposição das peças de bronze sobre a tela que tem como fundo a cor amarelada e a textura da lã. Esse último ponto é, sem dúvida algo que não deve ser subestimado, já que ao mover-se para o campo da escultura, no qual a posição do corpo do observador frente ao objeto se torna ainda mais crucial, Bosquê complexifica ainda mais as relações de negociação entre os diferentes materiais, que é uma das operações mais fundamentais de seu trabalho.
Mas além das estruturas autoportantes de chão, que permitem uma ocupação mais livre do interior do espaço expositivo, a exposição inclui ainda peças de parede e esculturas em menor escala que são apresentadas sobre bases. A recorrência do feltro bege ou cinza claro, a tripa de boi e o papel de bananeira de um rosa pálido, geralmente contrastados com o dourado do metal, conferem a predominância de uma paleta próxima aos tons da pele, uma associação que é reforçada pela superfície orgânica desses materiais. Campo, Bosquê propõe uma ocupação do espaço que busca recriar em certa medida a experiência de convivência com as obras no ateliê, lugar onde as obras normalmente convivem numa estado de proximidade e interferência. A artista conta que durante o processo de pesquisa que antecedeu a exposição, interessou-se pela idéia de Ma, palavra japonesa que adquire sentidos múltiplos em contextos diversos, mas que pode ser aproximadamente traduzida como a experiência do espaço que inclui elementos temporais e subjetivos. As definições deste conceito, embora inúmeras e às vezes divergentes, deixam claro que não se refere ao espaço criado por elementos compositivos, mas aquilo que acontece na imaginação de quem se relaciona com esses elementos. Portanto, o ma pode ser definido como um espaço da experiência cuja ênfase é no intervalo. Mas o que interessa aqui, mais do que uma idéia de fidelidade da artista ao conceito original, é que ao conceber um display mais próximo da sua própria experiência dos trabalhos no ateliê ela busca quebrar o isolamento de trabalhos ou séries individuais e a determinação de um espaço mais definido de separação entre o público e a obra que caracterizam montagens mais tradicionais. Ao fazê-lo, amplia o campo de atuação dos trabalhos, que passam a dialogar mais intimamente entre si, ao mesmo tempo em que estabelece uma relação mais próxima entre o corpo do espectador e a obra.
O trabalho de Paloma Bosquê é frequentemente lido em termos de sua filiação à uma produção associada ao Neoconcretismo, movimento que refutou os paradigmas industriais do Concretismo paulista em prol da aproximação entre arte e vida. Embora a comparação não seja desacertada, dado o caráter geométrico- sensível que caracteriza grande parte de sua prática até o momento, corre o risco de subestimar outros aspectos que talvez tenham um impacto mais significativo no desenvolvimento de sua obra. A artista reitera constantemente a importância da prática diária no ateliê, que lhe permite uma convivência intensa com os materiais, bem como uma ética de trabalho fundamentada no fazer manual e circunscrita pelas limitações de seu próprio corpo. Daí emana seu interesse pelas técnicas vernaculares, na medida em que essas denotam um conhecimento adquirido através da experiência direta com o material, seja no bordado, no trançado ou na criação de estruturas inspiradas em técnicas construtivas populares. Em última instância, acredito que Bosquê concordaria com Eva Hesse quando esta, comentando sobre sua obra, declarou: Não pergunte o que significa ou ao que se refere. Não pergunte o que é o trabalho. Pelo contrário, veja o que faz o trabalho.
Fernanda Brenner
[Release da exposição “Campo”, em Agosto de 2016]
A Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a mostra individual da artista Paloma Bosquê. A rotina do ateliê é o ponto de partida de boa parte da pesquisa Paloma. Nesse ambiente a artista manuseia e associa livremente materiais diversos, criando composições e muitas vezes desenvolvendo métodos específicos para unir, sobrepor e emendar elementos que dificilmente ocupariam o mesmo espaço em outro contexto. Latão, feltro, bronze, carvão, breu, cera de abelha, tripas de boi, peles de bode, papéis artesanais, peneiras de café e lã são utilizados indiscriminadamente; a procedência ou a potencial carga simbólica de cada um dos itens empregados pela artista em sua prática escultórica interessam menos do que sua presença física. É através das relações entre textura, peso e equilíbrio dos materiais que a artista constrói um território de extrema delicadeza visual e que instiga por frustrar sempre qualquer esforço de interpretação.
Cada composição é um arranjo de materiais singulares, os feltros e os teares são feitos à mão e se adaptam a cada escolha da artista, as peneiras de café guardam marcas de uso – cada uma envelhece a seu tempo – e não há duas peles de bode iguais. O foco de Bosquê está na “coisa em si”, suas esculturas se fazem presentes e requerem envolvimento.
A montagem da exposição replica informalmente o processo de trabalho da artista e a disposição de seu ateliê. O arranjo das peças no espaço revela o convívio que tiveram durante sua execução – muitas feitas simultaneamente. O passeio pelo espaço expositivo é inquieto, as distâncias entre as esculturas são calculadas no limite, assim como os métodos de sustentação das peças. Não há soldas, parafusos ou alfinetes de segurança em nenhuma das peças em exposição, a negociação com a gravidade e entre os elementos das composições é um acordo justo. Tudo está em balanço e por um triz. A experiência da exposição faz o visitante se sentir como uma criança numa loja de antiguidades, em que tudo é igualmente frágil e fascinante.
Paloma Bosquê desenvolve sua pesquisa e produção artística em torno de questões que envolvem materialidade, estrutura e fisicalidade em meios variados. Seu trabalho de escultura parte do processo direto de investigação da matéria, suas formas vêm da intimidade com o material e em resposta à sua presença antes de sua função ou representatividade. Os objetos criados pela artista são muitas vezes assemblages e intervenções mais ou menos sutis sobre objetos encontrados. Para executa-los, Bosquê muitas vezes desenvolve processos e técnicas específicas para cada fim, amarras, colagens e fundições são tão elementares para a composição quanto a escolha da materia-prima.
Exposições Individuais:
2016
– “Campo”, Mendes Wood DM, São Paulo, SP
2015
– “O Incômodo”, Pivô, São Paulo, SP
2014
– “Um Ponto Antes”, Mendes Wood DM, São Paulo, SP
Exposições coletivas:
2016
– “Tudo Joia”, Bergamin & Gomide, São Paulo, SP
–
”In Between”, Bergamin & Gomide, São Paulo, SP
– “Mycorial Theatre”, Pivô, São Paulo, SP
– “Projeto Piauí”, Pivô, São Paulo, SP
– “Roberto Burle Marx: Brazilian Modernist”, The Jewish Museum, New York, EUA
2015
– “Kiti Ka’ Aeté”, The Modern Institute, Glasgow, Reino Unido
– “United States of Latin America”, Museum of Contemporary Art Detroit, Detroit, EUA
2014
– “Ouro – Um fio que costura a arte do Brasil”, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ
– “Ultrapassado”, Galeria Broadway 1602, Nova York, EUA
2013
– “My Third Land”, Frankendael Foundation, Amsterdã, Holanda
2012
– “Da Próxima Vez Eu Fazia Tudo Diferente”, Pivô, São Paulo, SP
– “Concrete Mirrors”, Crypt Gallery, Londres, Reino Unido
2011
– “Projeto Imóvel”, Edifício Copan, São Paulo, SP
2009
–
“Programa – Ao redor de 4’33″, 7a Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS
Video produzido pela Matrioska Filmes com exclusividade para o PIPA 2016:
Video produzido pela Matrioska Filmes com exclusividade para o PIPA 2015:
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