(ultima atualização em julho/2016)
Santos, SP, 1973.
Vive e trabalha, em São Paulo, SP.
Representado pela Galeria Vermelho.
Indicado ao PIPA 2014.
Maurício Ianês é formado pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, SP.
Seu trabalho questiona as linguagens verbal e artística, suas possibilidades expressivas e limites, suas funções políticas e sociais, muitas vezes propondo a participação do público em suas ações para criar situações de troca onde a linguagem e os seus desdobramentos sociais entram em jogo. Ianês busca referências e influências em filosofia, poesia, crítica social, literatura e música.
Ações e performances que buscam questionar a relação entre espectador e artista, tirando o espectador do papel de observador passivo e transformando-o em parte importante da criação da obra são parte importante do trabalho de Ianês.
Já participou de importantes exposições nacionais e internacionais, como as 28ª e a 29ª Bienais Internacionais de São Paulo, SP; “Des Choses en Moins, Des Choses en Plus”, Palais de Tokyo, Paris, França; “Avante Brasil”, KIT Kunst im Tunnel, Düsseldorf, Alemanha; “Il Va se Passer Quelque Chose”, Maison de L’Amérique Latine, Paris, França; “Chambres Sourdes”, Parc Culturel de Rentilly, França.
Vídeo produzido pela Matrioska Filmes, exclusivamente para o PIPA 2014:
Como falar sobre o que não pode ser dito
por Douglas de Freitas, em 2011
”Não sei expressar-me por palavras. O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio.” ”Eu sei criar o silêncio. É assim: ligo o rádio bem alto – então de súbito desligo. E assim capto o silêncio. Silêncio estrelar. O silêncio da lua muda. Para tudo: criei o silêncio. No silêncio que mais se ouvem os ruídos. Entre as marteladas eu ouvia o silêncio.” Clarice Lispector (1)
Não é por acaso que na série de objetos ”Sobre o silêncio“, desenvolvida em 2003 por Maurício Ianês, o que vemos é um relevo que sai direto da parede sugerindo um grifo amarelo de destaque de texto, em que o texto está oculto, e todo o espaço ao redor é transformado em entrelinhas. Ianês trabalha com o que está nas entrelinhas. Sua produção consiste em problematizar as lacunas da comunicação, tentar de algum modo traduzir o que não é traduzível, o silêncio que reside entre as palavras. Para o artista, nesse embate da comunicação entram em pauta importantes jogos de poder, questões de linguagem e semiótica, questões políticas e sociais e também, possivelmente até acima das questões anteriormente descritas, questões pessoais, emocionais e linguagens privadas.
O silêncio sempre ronda o trabalho de Ianês. Talvez porque seja a maneira mais honesta de se comunicar sem nos deixar cair nas ciladas da linguagem. Em “Untitled – silent area/ monologue area/ dialogue area” de 2008, o artista adesiva no piso proposições para o público. Em uma delas se lê “silent area”. Com essa intervenção mínima o espaço é ativado e aquela área passa a ser percebida de outro modo. Na instalação “Um e outro Silêncio” de 2011, o ponto de partida é o texto da peça Ohio Impromtu do escritor, poeta e dramaturgo irlandês Samuel Beckett, que é reproduzido em acrílico espelhado pelo artista e está suspenso no espaço. Essas frases receberam um tachado, parecendo anuladas, como se tivessem sido faladas e caladas, e giram refletindo o espaço, encenando um aparecer/desaparecer constante.
Partindo também de Ohio Impromtu, onde para o artista a função comunicativa da linguagem é colocada em jogo e é desconstruída para revelar as suas falhas e becos sem saída, a performance desenvolvida especialmente para a Capela do Morumbi circunda o que Maurício chama de discussões em torno da linguagem (sua dissolução, incapacidade representativa, potência poética através da desconstrução), explorando seu trajeto em direção ao silêncio, em busca de uma comunicação mais intima e intensa que vá além das palavras.
Ao entrar na Capela o público se depara com uma mesa e duas figuras de perfil sentadas frente a frente. Uma tem a mão aberta pousada sobre um livro em branco, a outra tem a mão fechada sobre a mesa. O artista é fiel a alguns dos apontamentos feitos pelo autor no texto que serve de base para a performance. Essas figuras estão quase que completamente cobertas por um tecido preto, anulando qualquer possível vestígio de identidade, fazendo com que uma se torne reflexo da outra. Em determinado momento, outras quatro pessoas entram em cena. Elas se posicionam nos cantos da mesa e, de frente para o público, iniciam a leitura do texto da peça reorganizado pelo artista, lembrando em certos momentos um mantra ou um coro religioso, mais um elemento recorrente na produção de Ianês (2).
Seguindo novamente as indicações de Beckett, em determinados trechos do texto, uma das duas figuras que está sentada bate com o punho fechado na mesa. O som produzido por essa batida é capitado por um microfone e passa a ser reproduzido sistematicamente por amplificadores de som instalados no fundo da Capela. Com o caminhar do texto, e com o acumulo das indicações para que a batida se repita, se repete também o processo de captação e reprodução desses sons.
Esse grande ruído vai reverberando e ganhando o espaço até que os leitores sejam calados pelo som amplificado a partir da primeira batida. As palavras são vencidas, já não é mais possível ouvir o que se fala. Os leitores acabam de ler o texto em uma leitura muda, e deixam a Capela. As duas figuras de preto continuam sentadas à mesa imóveis enquanto o som se propaga. Em um determinado momento essas figuras levantam e também deixam a Capela. O som é cortado e em oposição ao ruído constante, um grande silêncio é criado. “Nada resta a dizer” (3). As palavras já não dão conta, resta apenas o silêncio.
(1) Um sopro de vida (pulsações) de Clarice Lispector, 1978.
(2) “A pesquisa de Maurício é movida por uma tríade de sistemas de representação – a linguagem, a arte e a religião”. Kiki Mazzucchelli. O verbo encarnado, texto criado para a publicação que acompanhava a exposição O mensageiro de Maurício Ianês.
(3) “Nothing is left to tell” (“Nada resta a dizer” em tradução livre), Samuel Beckett. Ohio impromtu 1980.
Êxtase e arte
por Cauê Alves, em 2009
“Filosofia e arte, juntas, não são fabricações arbitrárias no universo da cultura, mas contato com o Ser justamente enquanto criações”. M. Merleau-Ponty. O visível e o invisível, 1959.
O clímax da vídeo-instalação de Maurício Ianês Minha língua é a pena de um hábil escriba é o êxtase. Num determinado instante as imagens das quatro projeções sincronizadas se transformam completamente. Os olhos do artista se voltam para o interior e tudo se passa como se ele fosse transportado para fora de si. Como se atingisse uma outra dimensão, não mais nesse mundo sensível que habitamos e do qual nosso corpo é inseparável, o artista passa por uma experiência inexprimível, uma espécie de espasmo, um arrebatamento que provoca a perda dos sentidos e do controle sobre os movimentos corporais. Trata-se de um misto de exaltação mística, de um prazer supremo e também de assombro e perturbação.
O pigmento negro e informe (1) que escorre da boca de Ianês revela a total falta de articulação da linguagem verbal ou escrita. É justamente da impossibilidade de comunicação exata por meio de signos convencionais, sejam sonoros, gráficos ou gestuais, que seu trabalho surge. Sua língua é a “pena de um hábil escriba” porque o sentido de sua expressão jamais poderia ser ditado ou transcrito por pena alguma. Se o texto de sua fala no momento do êxtase pudesse ser redigido seria silencioso, um papel vazio, fundo sobre o qual repousam todos os sentidos. O inexprimível, mais do que ultrapassar qualquer possibilidade de expressão é também aquilo que permite toda a expressão. É a raiz originária e primeira de onde brotam outras significações. Não se trata apenas do silêncio avassalador que nos faz calar frente a acontecimentos traumáticos, mas também daquele que permite a compreensão de que sem ele não haveria palavra, som ou sinal. A tinta que escorre da boca do artista é o que no limite sustenta todo sentido e expressão.
O trabalho de Ianês costuma flertar com o limite, seja da expressão, da representação, do corpo ou da vida. A referência ao local em que se suicidou o poeta Paul Celan (1920-1970) aparece nas imagens laterais projetadas sobre as duas paredes da vídeo-instalação. Nelas as águas, como o próprio fluxo do tempo, não cessam de passar sob a ponte Mirabeau, no Rio Sena, onde Celan se atirou. Entretanto o suicídio, além de uma questão fundamental para a filosofia contemporânea, como escreveu Albert Camus (1913 – 1960), pode ser o grande silêncio final, mas também ato poético extremo, contato último com o inexprimível. A morte é o limite máximo, fim do êxtase, saída de si e simultaneamente reencontro do homem consigo mesmo e com suas próprias invenções.
O inexprimível é o solo comum de onde todos os sentidos surgem e para onde provavelmente retornarão. Por isso o artista desenha a palavra como luz, como intervalo, fenda sobre um fundo escuro. A desconfiança que Ianês demonstra em relação à linguagem é fruto da compreensão de que tanto a palavra como as imagens não podem simplesmente traduzir sem equívocos pensamentos ou experiências externas a elas. A linguagem como instrumento, aquela que a ciência pretendeu empregar de modo preciso, exato e sem ambiguidades, não é a mesma empregada na poesia e na arte. O modo como o artista se coloca não é traduzindo pensamentos ou idéias, mas como alguém que do interior das coisas dá sentido a elas. O sentido do trabalho de arte não pode estar separado dele, tampouco num céu metafísico, num mundo ideal, fora da sombria caverna em que viveríamos, mas só pode ser encontrado no interior dele, sustentando por dentro o próprio trabalho.
Embora não seja um projeto deliberado do artista, seu trabalho pode proporcionar um contato com questões metafísicas e seus limites. Esses temas essenciais da filosofia, sobre as quais a linguagem segundo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) não poderia dar conta, jamais deixaram de estar no horizonte do homem ao longo da história. O projeto de Maurício Ianês, ao interrogar o inexprimível e o inefável, nos mostra, como a própria filosofia contemporânea o fez, que se é possível uma metafísica ela estará primordialmente na arte e na poesia. O artista a apresenta de modo implícito e alusivo, ao filósofo caberia tentar elaborá-la filosoficamente, sempre num momento posterior ao trabalho do artista. Como se sabe, a coruja de Minerva, a própria filosofia, levanta vôo somente ao entardecer. Mas se algo pode nos dar acesso direto e imediato ao inexprimível será, portanto, a própria experiência com a arte.
(1) A cena pode ser comparada à noção de “informe” como definiram Yve-Alain Bois e Rosalind Krauss em texto de exposição L’Informe: Mode d’emploi, realizada no Centre George Pompidou, em Paris, no ano de 1996.
Exposições individuais
2014
– “Ponto Final”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
2013
– “O Nome”, Octógono da Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP
– “Silencer”, Y Gallery, Nova Iorque, EUA
2012
– “Sem Título”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
2011
– “Emet”, Centro de Cultura Judaica, São Paulo, SP
– “Um e Outro Silêncio”, Festival Cultura Inglesa, São Paulo, SP
2010
– “Salvo o Nome”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
2009
– “Inefável”, Galeria Lunara, Porto Alegre, RS
– “Minha Língua É A Pena De Um Hábil Escriba”, Paço das Artes, São Paulo, SP
2006
– “Mensageiro”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
Exposições coletivas
2014
– “Sem Título”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Greve”, Laboratório Curatorial/ SPArte 2014, Pavilhão da Bienal de São Paulo, SP
– “Des Choses en Moins, Des Choses en Plus”, Palais de Tokyo, Paris, França
2013
– “Avante Brasil”, KIT [Kunst im Tunnel], Düsseldorf, Alemanha
– “Coletiva”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “O Corpo É O Meu”, Laboratório Curatorial/ SPArte 2013, Pavilhão da Bienal de São Paulo, SP
2012
– “Verbo – Festival Internacional de Performance”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Sonora”, Paço das Artes, São Paulo, SP
– “FLAM III – Forum of Live Arts”, Arti et Amicitiae, Amsterdam, Holanda
– “Instável”, Paço das Artes, São Paulo, SP
2011
– “Contra a Parede”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Museumnacht” na Oude Kerk, Amsterdam, Holanda
– ”Il Va Se Passer Quelque Chose”, Maison de L’Amerique Latine, Paris, França
– “Verbo, Festival Internacional de Performance”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Como O Tempo Passa Quando A Gente Se Diverte”, Galeria Triângulo, São Paulo, SP
– “FLAM II, Forum of Live Arts”, Arti Et Amicitiae, Amsterdam, Holanda
– “Integr(ação) São Paulo/ Québec”, SESC Pinheiros, São Paulo, SP
– “Lettre”, CNEAI Paris, Paris, França
– “Festival Performance Arte Brasil”, MAM-Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “Chambres Sourdes”, Parc Culturel de Rentilly, Bussy-Saint-Martin, França
2010
– “Exposição Residência Artística FAAP/ Cité des Arts”, Casa Lutetia, São Paulo, SP
– “Livres Tradutores” , Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Quem Tem Medo?”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “29ª Bienal Internacional de São Paulo, Terreiros”, São Paulo, SP
– “RIAP, Rencontre International de L’Art Performance”, Le Lieu, Québec City, Canadá
– Rhodislândia, “Hélio Oiticica, O Museu é o Mundo”, Instituto Itaú Cultural, São Paulo, SP=
2009
– “Artérias e Capilares”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “MIP, Manifestação Internacional de Performance”, Belo Horizonte, MG
– “Verbo – Festival Internacional de Performance”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Mash Up”, Artspace, Auckland, Nova Zelândia
2008
– “Silêncio!”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “28ª Bienal Internacional de São Paulo”, São Paulo, SP
– “Seja Marginal, Seja Herói”, Galerie GP & N Vallois & Galerie Natalie Seroussi, Paris, França
– Cícera 2008 – Inauguração do espaço, Cícera, São Paulo, SP
– “É claro que você sabe do que eu estou falando”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Performance Presente Futuro”, Oi Futuro, Rio de Janeiro, RJ
– “Provas de Contato”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Verbo – Festival Internacional de Performances”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “OIDARADIO”, Paço das Artes, São Paulo, SP
– “Looks Conceptual ou como confundi um Carl Andre com uma pilha de tijolos”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
2007
– “Verbo – Festival Internacional de Performance”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Tropical Punk”, Whitechapel Gallery, Londres, Reino Unido
– “Intimidades”, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, SP
2006
– “This Is Not A Love Song”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Sequences Festival”, Reykjavík, Islândia
– “Paralela” – Pavilhão Armando de Arruda Pereira PRODAN, São Paulo, SP
– “Paradise ’A Step to the Left’”, TactileBosch Studios, Cardiff, País de Gales
– “Verbo – Festival Internacional de Performance”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Access/Denied”, Little Theater, Port of Spain, Trinidad e Tobago, Espanha
2005
– “Verbo – Festival Internacional de Performance”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Viés”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
2004
– “Grátis”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Paralela”, São Paulo, SP
2003
– “Modos de Usar”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “In ´vel”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Sábado de Performances”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Observações sobre o Espaço e o Tempo” – UNICSUL, Campus Anaália Franco, São Paulo, SP
2002
– “Matéria Prima”, Novo Museu, Curitiba, PR
– “Marrom”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
1998
– “Ponto Cego” – Museu da Imagem e do Som MIS, São Paulo, SP
1997
– “Arte/Cidade 97”, São Paulo, SP
– “Ouro de Artista”, Casa Triângulo, São Paulo, SP
– Performance “Projeto # 1 – Continuum”, FAAP, São Paulo, SP
1996
– “Programa ABRA de Exposições”, ABRA Santo Amaro, São Paulo, SP
– “8 + 27”, FAAP Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, SP
– “Nem Tudo o que Reluz é Ouro”, Galeria Nara Roesler, São Paulo, SP
1995
– “Circuito Interno”, FAAP, São Paulo, SP
– “Projeto Outdoor”, Galeria Luisa Strina, São Paulo, SP
– “Projeto 00”, Museu De Arte Brasileira, São Paulo, SP
1994
– II Prêmio Talentos Michelângelo, São Paulo, SP
Bolsas e Residências
2011
– Cité des Arts, 3 meses, Paris, França
2008
– Cité des Arts/ Faap, 6 meses, Paris, França
– Quartier21, 3 meses, Viena, Áustria
2006
– CCA/ Little Theater, Port of Spain, Trinidad e Tobago, Espanha
Prêmios
2011
-Primeiro prêmio do Festival Cultura Inglesa, São Paulo, SP
1994
– Segundo Prêmio Talentos Michelângelo, São Paulo, SP
Entrevista concedida a Fabio Cypriano, publicada na Folha de São Paulo, em 24/11/2008.
O artista Mauricio Ianês revela o que passou e o que sentiu durante os 12 dias de sua performance no evento:
Performances que contenham nudez tendem a ser midiáticas. Foi assim, em 2002, quando o norte-americano Spencer Tunick, na 25ª Bienal, reuniu centenas de paulistanos para realizar suas fotografias, que foram vistas não só em todos os veículos de comunicação do Brasil, mas em outros, de todo o mundo.
Menos espetacular, mas começando nu, Maurício Ianês provocou, até agora, a performance mais mobilizadora da 28ª Bienal de São Paulo: “Sem Título – A Bondade de Estranhos”, que começou no dia 4/11. Naquele dia, ele entrou sem roupas no pavilhão e, para se manter ali, ficou na total dependência do público, de acordo com 13 regras estipuladas pelo artista _listadas na entrevista abaixo. Até o dia 16/11, dezenas de pessoas se dirigiram ao parque do Ibirapuera para ver esse “artista da fome”.
“Nos dois primeiros dias da minha performance na Bienal, me senti num açougue, principalmente por conta da mídia. Pensei até mesmo em encerrar o trabalho”, conta Ianês a Trópico. A imagem inicial do “peladão” foi paulatinamente sendo substituída por outra, quase mística, de uma figura que recebia oferendas de todo tipo: roupas, travesseiros, comida, livros, textos, dobraduras…
Em seus últimos dias na performance, ao ocupar o andar vazio da Bienal, Ianês conseguiu imantar aquele espaço, dando novo sentido ao local. “Pessoas foram lá me doar uma música tocada ao vivo, dois grupos me doaram performances, e isso foi muito lindo, ver que o vazio se tornou um espaço de expressão aberta por conta do trabalho, coisa que antes tinha sido muitas vezes proibida”, diz o artista.
Depois de 13 dias sem falar (essa era uma das 13 regras), Ianês cantou “I’ll Be Your Mirror” (Eu Vou Ser Seu Espelho), canção do Velvet Underground e de Nico, que ficou em sua cabeça durante toda a ação. Leia a seguir o primeiro grande relato do artista sobre essa experiência.
***
Como você está após treze dias sem sair da Bienal e sem falar?
Maurício Ianês: Doente, mas na verdade isso importa pouco. Para mim foi uma grande experiência, esse contato intenso com um público enorme, durante tanto tempo, dependendo do que me era doado para viver e, sobretudo, em silêncio. Foi, sim, uma experiência transformadora e, durante o processo do trabalho, fiquei impressionado com a responsabilidade e a confiança que o público colocava sobre mim. Só isso já teria sido algo intenso o suficiente para gerar uma mudança. Uma coisa engraçada (pós- performance) é que, apesar de ainda não sair muito de casa, me peguei fazendo mímica para me comunicar no supermercado.
O que era mais fácil: estar na Bienal quando havia público ou quando não havia?
Ianês: Durante o dia, quando o público estava constantemente em torno de mim, tive momentos difíceis, pois às vezes estava extremamente cansado, passando mal, com dor de cabeça, fome ou frio, mas tinha que estar ali, disponível. E, se tentava me isolar do público, havia uma cobrança para voltar. As pessoas me chamavam e me cutucavam: eu tinha que voltar.
No entanto, as noites eram longas e frias e eu dormia pouquíssimo. Sem contar que o pavilhão é bastante barulhento, com montagens das outras performances durante a noite, seguranças conversando e ouvindo música para ficar acordados etc. Cada período tinha as suas vantagens e desvantagens, não sei falar o que era pior ou melhor.
Houve momentos incômodos na relação com o público? Quais?
Ianês: Tive alguns momentos um pouco desagradáveis, mas em geral o público foi bastante respeitoso.
O que acontece é que, por eu estar ali totalmente disponível ao que viesse, sem julgamento, em alguns momentos houve abuso, mas nada que eu não esperasse. Na verdade, para mim, a pior situação aconteceu um dia em que eu comi algo que não me fez bem e passei muito mal, vomitei, fiquei com dor de cabeça e dor no estômago. Você sabe, eu antes tinha uma alimentação supercuidada, fora da Bienal.
Fiquei deitado tentando dormir, já era noite, mas várias pessoas que passavam ao meu lado tentavam me acordar, gritavam para ver se eu respondia, esse tipo de coisa. Foi sem dúvida a pior situação. Às vezes o público via o artista e esquecia que ele era um homem que estava dormindo pouco, no chão frio, disponível 12 horas por dia, comendo praticamente só bolacha, doces e salgados.
Houve momentos emocionantes na relação com o público? Quais?
Ianês: Sim, vários. Justamente por ver a responsabilidade que o público depositava em mim. Fiquei bastante emocionado -e quem estava em volta também- com um menino que veio com um grupo de escola. Ele devia ter uns 13 anos, talvez. Ele parou para me dar algo, e como sempre eu olhei nos seus olhos.
Quando eu começava a olhar nos olhos de alguém, a “regra” é que eu só desviasse o olhar quando a pessoa parasse de olhar para os meus olhos. Ficamos nos olhando por um bom tempo -o que é raro com jovens e crianças. Seu grupo da escola foi embora. As pessoas o chamaram, e eu ouvi que o ônibus ia sair às 18h30. Ele ficou olhando nos meus olhos, sem responder aos chamados do grupo. Ficamos ali, mas eu comecei a ficar preocupado que ele pudesse perder o ônibus.
Depois de um bom tempo, eu resolvi interromper e, com gestos, mas sem desviar o olhar, falei que era hora de ele ir embora. Ele arregalou os olhos, soltou um longo suspiro e falou “que pena”. O público que estava em volta aplaudiu. Ele foi embora.
Outro momento emocionante aconteceu com um adolescente que foi lá com a família, ficou observando o trabalho por um tempo. Eu o ouvi comentar: “Mãe, ele só está comendo porcaria!”. Eles voltaram meia hora depois com uma marmita com arroz e muitos legumes assados. Quando eu abri a marmita e vi aquilo, quase chorei. Parece bobo, mas na situação em que eu estava foi emocionante. Na verdade foram muitos momentos interessantes e emocionantes.
Você pretende repetir essa experiência?
Ianês: Definitivamente não no Brasil, pelo menos por um bom tempo. Aqui, a experiência está feita. Não tenho planos ainda, mas adoraria mostrar esse trabalho em outros países, onde a cultura é diferente, para ver as diferentes reações do público.
Sua performance irá marcar esta Bienal. Você se tornou um ícone midiático, fazendo com que sua ação ganhasse um retorno popular inédito em sua carreira. O que isso significou para você, já que suas performances lidavam com um público acostumado com esse tipo de ação e, na Bienal, seu público se ampliou muito?
Ianês: Para mim foi assustador. Como você disse, estou acostumado a mostrar o trabalho para um público especializado e ver o trabalho comentado apenas na mídia especializada, quando muito. Já na semana anterior eu fiquei assustado e até chateado de ver como a mídia estava explorando a questão da nudez.
Nos dois primeiros dias da performance na Bienal, me senti num açougue, principalmente por conta da mídia. Pensei até mesmo em encerrar o trabalho. Com o tempo, no entanto, passei a me preocupar mais com o público mesmo, e isso foi muito gratificante. Ter esse contato tão próximo com o público de Bienal, mais diversificado e muito maior que o público de galerias, por exemplo. Ver como o trabalho marcou pessoas tão diferentes. Foi muito importante para mim e com certeza essa experiência irá transformar os caminhos do meu trabalho.
Pelo que se pode ver em imagens, e há muitas que circulam pela internet, pessoas o procuraram como se procura um milagreiro. Você sentiu uma carga “religiosa”?
Ianês: Sim, enorme! Isso também me assustou! Muitas pessoas iam lá desabafar comigo, muitas falavam mesmo de religião ou espiritualidade. Foi interessante perceber como as pessoas precisam de exemplos e guias, de heróis. Só não achei confortável assumir esse papel. Em um determinado momento da performance, tive o pensamento irônico: minha próxima ação vai ser fundar uma religião.
Por outro lado, sua performance “A Bondade de Estranhos”, tem de fato um viés religioso-cristão, que é acreditar na caridade, já que você dependia totalmente dos outros. Nisso não há uma espécie de omissão, tirando do artista toda a potência criativa?
Ianês: A escolha do subtítulo deste trabalho -“Sem Título – A Bondade de Estranhos” foi na verdade irônica. Não imaginei nunca que conseguiria mobilizar as pessoas para que fizessem doações. Não achei que o trabalho fosse chegar ao fim. Não acreditei que o público fosse participar tanto do trabalho. Eu não acreditei na caridade. No entanto, sim, a idéia inicial foi exatamente a de omissão. Esse trabalho falava, para mim, sobre criar novas formas de relações com o público menos dependentes da linguagem e tornar o trabalho inteiro uma construção do público, um espelho do público.
Queria justamente que, com o tempo, eu fosse desaparecendo atrás das doações. Não acredito que isso tire a força criativa do artista, até porque vejo que, em trabalhos como este, o artista se torna um potencializador dos desejos do público, um meio para que o público possa se expressar. No entanto, acho que isso nunca foi diferente na arte. Pelo menos é assim que eu penso.
Essa dependência e essa “omissão” têm alguma relação direta com a proposta do vazio da Bienal, no segundo andar?
Ianês: Não, nenhuma relação direta ou pensada. No entanto, acho que no andar do trabalho as duas propostas dialogaram bastante.
Você começou no terceiro andar, ficou um tempo no primeiro e terminou ocupando justamente o vazio. O que o levou a realizar esse roteiro e por que ocupar o lugar que não deveria ter nada na Bienal?
Ianês: Uma das “regras” da ação era: eu sou nômade dentro da Bienal. No entanto, quanto mais doações eu receber, menos eu me movo. Tive a autorização dos curadores para me instalar onde eu quisesse, sem restrições.
Na primeira semana, a cada dia estava em um lugar: no terceiro andar no primeiro dia, no segundo andar no segundo dia, no térreo no terceiro dia, no primeiro andar no quarto dia, e então fiquei lá por três dias, pois já tinha recebido muitas doações. Então me mudei novamente para o segundo andar e acabei ficando por lá até o final do trabalho, porque as doações foram muitas e, na verdade, não caberiam de modo confortável em outro lugar do prédio.
Nos demais andares, eu acabaria invadindo o trabalho de outros artistas, então resolvi ficar no segundo andar mesmo, até o final. No momento dessa decisão, pensei que eu deveria conversar com os curadores, justamente porque estava me colocando por um período razoavelmente longo em um lugar que eles tinham imaginado vazio. No entanto, eu não podia falar e tinha recebido a autorização prévia. Acabei ficando.
Acho, no entanto, que o trabalho se relacionou bem com o espaço, por vários motivos. Uma, porque fez mais pessoas explorarem o espaço, indo até o final dele, onde eu me coloquei, coisa que não acontecia muito antes. Segundo, porque era um trabalho efêmero, ia desaparecer em breve, e deixar o espaço vazio novamente, mas carregado de memórias para o público, para os educadores, para mim. E terceiro, porque ativou o espaço vazio de uma forma interessante; por causa do trabalho, várias pessoas foram ocupar o vazio com seus trabalhos.
Pessoas foram lá me doar uma música tocada ao vivo, dois grupos me doaram performances, e isso foi muito lindo, ver que o vazio se tornou um espaço de expressão aberta por conta do trabalho, coisa que antes tinha sido muitas vezes proibida, mas pela minha presença, a segurança da Bienal acabava autorizando que o público fizesse coisas que antes não teriam podido fazer.
Em várias respostas você cita regras criadas para a performance. Você poderia dizer na íntegra quais são essas regras? Você precisou desrespeitar algumas ao longo desses dias?
Ianês: Sim, eu tinha criado algumas poucas regras que não divulguei totalmente. Algumas eram totalmente fixas, outras mais maleáveis. Elas eram:
– Não usar nunca a fala para se comunicar, com quem quer que fosse, mesmo fora dos horários de abertura da Bienal; acabei quebrando essa regra quando precisei falar com a produção sobre uma situação que poderia acontecer mas não aconteceu -uma pessoa ameaçou levar tudo o que eu tinha arrecadado no último dia. Isso, e uma outra vez para liberar com a equipe de segurança a saída de três meninos de rua que tinham pego comida, dinheiro e outras coisas que tinham sido doadas;
– Não sair nunca do pavilhão;
– Ao receber algo de alguém, olhar a pessoa nos olhos e manter o olhar até que ela desista;
– Sempre que eu passar os olhos por alguém que esteja olhando para mim, parar e olhar nos olhos dessa pessoa até que ela desista;
– Não responder a olhares “mediados” por câmeras etc.;
– Não escrever as minhas memórias ou pensamentos em relação ao trabalho durante o processo;
– Não usar a escrita para me comunicar; acabei quebrando essa regra em quatro momentos, para resolver assuntos relacionados ao trabalho;
– Não recusar nada do que me foi doado e consumir, o tanto quanto possível, todas as doações, sem exceção ou julgamento;
– Não comunicar ao público nenhuma das minhas necessidades, sentimentos, julgamentos ou desejos;
– A performance dura 24 horas, ou seja, mesmo nos horários em que a Bienal está fechada, as regras continuam valendo;
– Ficar sempre que possível disponível ao público e aos seus desejos;
– As doações não são minhas -o público pode intervir, levar, usar o que quiser da coleção, sem que eu possa intervir;
– Não aceitar doações de pessoas conhecidas, família, amigos, equipe da Bienal e da Galeria Vermelho. Essa regra eu também acabei mudando, e aceitei doações de pessoas conhecidas, mas assim que elas saíam de perto de mim as doações eram repassadas aos seguranças, aos educadores, à equipe de limpeza, ou ao público, para que esse consumisse o que eu tinha recebido.
Ao final de sua performance, você cantou com a artista Dora Longo Bahia. O que você cantou? Como isso foi combinado?
Ianês: Cantei a música “I’ll Be Your Mirror”, do Velvet Underground, que ficou na minha cabeça durante toda a ação. No terceiro dia, quando Dora foi me visitar, combinei essa apresentação por escrito com ela. Sabia que minha voz seria péssima, que eu não ia ensaiar com eles, mas isso não importou. O que queria era finalizar o trabalho com a música.
Além de comida, você recebeu muitas roupas, textos… O que vai fazer com tudo isso?
Ianês: Coisas perecíveis vão ser doadas, assim como as roupas, o travesseiro e os colchonetes. Muitas coisas já foram levadas por moradores de rua que visitaram o trabalho -os dois cobertores, um dos travesseiros, muitas comidas, dinheiro etc. As outras doações serão arquivadas.
Sua ação lembra muito o conceito de “vida nua” do pensador Giorgio Agamben. Vida nua seria “nem uma vida animal nem uma vida humana, mas tão somente uma vida separada e excluída de si mesma”, na definição de Sandro de Souza Ferreira. Você se baseou em Agamben para sua performance? Você concorda que sua performance possa apontar para uma “vida nua” no contexto contemporâneo?
Ianês: Coincidência. Comecei a ler na última segunda-feira, dia seguinte à minha saída da Bienal, o livro “Le Langage et La Mort” (A Linguagem e a Morte), de Agamben, que eu comprei quando estava em Paris, mas ainda não tinha começado a ler. Este é o primeiro texto dele que eu leio, de modo que não conheço muito o conceito de “vida nua” que ele desenvolveu.
No entanto, após ter feito uma pesquisa, vi algumas semelhanças sim. Tenho medo aqui de fazer qualquer comparação, pois ela seria muito superficial e talvez mesmo errônea, mas vou tentar elaborar um pensamento breve sobre o assunto.
Achei, na pesquisa, a citação do Agamben em que ele fala sobre a vida nua, que ela é “aquela que qualquer um pode tirar sem cometer homicídio ou aquela que qualquer um pode levar à morte, em que pese seja insacrificável”. Claro que a radicalidade dessa declaração não se enquadra à minha performance, mas de certa forma esse distanciamento e esvaziamento colocado na minha postura diante do público, e com o controle total cedido ao público, em que eu não colocava nenhum impedimento ou julgamento sobre o público, leva a pensar nessa vida dessacralizada e distanciada de si mesma, em “posse” do “outro”.
Ali, eu não era sujeito, ou ao menos me esforcei ao máximo para eliminar essa qualidade de mim. A minha vida -em todas as nuances desse conceito- não era minha, e era recriada em cada pessoa que participava da performance.
Apesar dessa dessacralização da minha vida, houve um momento de sacralização da minha figura pelo público, como já falamos nas outras perguntas. Isso talvez anule um pouco a conexão com a “vida nua” do Agamben.
Achei no mesmo texto o conceito de máquina antropológica, que é “constituída como que por uma série de espelhos em que o homem, ao olhar-se, vê a própria imagem deformada”. Essa citação, ainda mais que a outra, me parece bastante pertinente à idéia do trabalho. Era assim que eu me sentia, como um reflexo de um reflexo do público, uma deformação exagerada de seus desejos, de suas emoções e histórias de vida etc. Deformação causada principalmente pelo contexto expositivo do trabalho, mas também pelos próprios desejos e pelas expectativas do público.
Outra possível referência para seu trabalho é “Um Artista da Fome”, de Franz Kafka. Você faz essa relação?
Ianês: Kafka sempre me perseguiu, ou melhor, eu sempre persegui Kafka. Curiosamente, sempre encontrei refúgio nos seus textos, e os leio avidamente. Há alguns anos, voltei ao “Artista da Fome”, em uma situação de trabalho que infelizmente não foi pra frente, uma performance “última” contada em livro.
Apesar de achar superinteressante a questão levantada pelo livro de um artista que se propõe a passar fome em público, o que mais me fascinou o tempo todo foi outra questão que, se não me engano, o livro mesmo responde: ele passa fome para quem? Se não houvesse público, essa ação teria seu propósito e fim? Ou seja, o personagem definhando ali, frente aos nossos olhos, existiria sem o olhar do outro? Isso me marcou muito.
Na verdade, quando comecei a performance, não imaginei de modo algum que ela chegaria a seu fim. Se eu chegasse a uma situação extrema em que nenhuma doação de alimentos e água fosse feita, eu encerraria o trabalho, claro. Não pretendia criar o espetáculo da fome. Na verdade, pretendia eliminar da minha ação qualquer espetacularização -o que é bastante estranho de falar agora, quando ela se tornou através da mídia um espetáculo. Não pretendia, ao contrário da personagem, expor o espetáculo da minha fome, da minha decrepitude ao público, mas sim criar uma relação com ele, e nisso acho que fui bem sucedido.
O mais interessante de estarmos agora falando do artista da fome é que, num determinado momento do trabalho, eu recebi uma folha, criada nas máquinas de escrever da (artista) Rivane Neuenschwander, onde o casal escreveu com os pontos “KAFKA”. A palavra começava feita com mais pontinhos, e o último “A” quase não tinha pontinhos, ou seja, ela se dissolvia. Quando recebi essa folha, abri o maior sorriso, e a coloquei numa posição central na instalação dos objetos.
I’ll Be Your mirror
The Velvet Underground e Nico
I’ll be your mirror
Reflect what you are, in case you don’t know
I’ll be the wind, the rain and the sunset
The light on your door to show that you’re home When you think the night has seen your mind That inside you’re twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
‘Cause I see you
I find it hard to believe you don’t know
The beauty that you are
But if you don’t let me be your eyes
A hand in your darkness, so you won’t be afraid When you think the night has seen your mind That inside you’re twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
‘Cause I see you
I’ll be your mirror
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