Licenciado em Educação Artística – Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará, é pintor por ofício e desde 2004 desenvolve sua investigação artística na relação entre os temas retrato e identidade, tendo como objeto principal o homem amazônico.
Trabalhando em diversos suportes, como óleos sobre tela, intervenções, e site-specific, com esse tema realizou as exposições individuais Malerei – oder die Fotografie als Gewaltakt (Kunsthalle Lingen, Alemanha, 2016), Você é a Seta (Galeria Periscópio Arte Contemporânea, Belo Horizonte, 2016), Páginas Vermelhas (Galeria Blau Projects, São Paulo, 2015) e Alistamento (Galerias do Sesc em Belém, Ji-Paraná, Macapá, São Luís, 2015-2017), além de participar de exposições coletivas, entre elas Salão Arte Pará (Museu Casa das Onze Janelas, Belém, 2016), A Cor do Brasil (Museu de Arte do Rio, 2016), 31ª Bienal de Artes SP (Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, 2014) e suas itinerâncias em 2015 em Campinas (Sesc Campinas) e Portugal (Museu de Serralves) e Pororoca: A Amazônia no MAR (Museu de Arte do Rio, 2014).
Entre bolsas e premiações, destacam-se o Lingener Kunstpreis 2016 (Alemanha), Rede Nacional Funarte Artes Visuais (2015), Prêmio Seiva Projetos Artísticos (Fundação Cultural do Pará, 2015), Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais (2014), Prêmio SIM de Artes Visuais do Sistema Integrado de Museus (2008) e o 2º Grande Prêmio do Salão Arte Pará (2007).
Você é a seta…
por Wilson Lazaro
(Texto para a exposição “Você é a seta…” realizada na galeria Periscópio Arte Contemporânea, em maio de 2016, em Belo Horizonte).
O artista Éder Oliveira tem o poder de transformar pessoas e lugares em encontros de ideias, onde o personagem é seta e o alvo são as questões do cotidiano. Reflete responsabilidade na formação da sociedade e parece dar aos seus personagens poder para uma doce renovação em movimentos políticos e movimentos sociais. Fazer com que qualquer pessoa, mesmo que só por algumas horas, sinta-se um pouco mais humana é o objetivo do artista, que se apropria das manchetes diárias dos jornais da sua cidade para nos dar a possibilidade de compreender o presente ao aprender o passado, ou ao elaborar novas questões para o futuro.
Seus personagens têm uma potente imagem e, consequentemente, grande responsabilidade no trato com o pensamento da população nas notícias de cada pessoa representada pelo artista em sua obra.
Em todas as direções possíveis do caminho da seta, como na própria criação artística, tudo é permitido. Acredito que o que Éder gosta mesmo de fazer é contar histórias, e é para isso que ele pinta, para contar uma situação do universo de cada pessoa, em olhares onde podemos captar o despudor, o frescor, a maluquice inventiva do artista. Tudo é real na sua pintura gestual, tudo revela a narrativa que quer comunicar… ele consegue mudar o sentido dessas pessoas, dando-lhes novas imagens na sua pintura visceral, por dentro e por fora. Nosso olhar capta isso em seus trabalhos, há uma realidade que nos faz sonhar novamente por todos os lados da vida!
Páginas Vermelhas
por Douglas de Freitas
Texto para a exposição “Páginas Vermelhas” realizada na galeria Blau Projects, em agosto de 2015, em São Paulo.
No decorrer da história da arte o gênero retrato sempre foi, e ainda é, uma potente fonte de pesquisa. O artista Éder Oliveira inicia sua produção em 2004, construindo através do retrato, a imagem do “homem amazônico”, que carrega em si traços de negros, mestiços, caboclos e índios, buscando assim, além da identidade desse homem, sua própria identidade. Foi atrás de referências para esses retratos que o artista chegou à constatação de uma questão social implicada em seu trabalho, as imagens destes homens eram encontradas apenas em um caderno especial dos jornais impressos da cidade de Belém, onde supostos criminosos capturados pela polícia, antes de qualquer julgamento, tem suas imagens registradas, e publicadas em cores e grandes formatos. São exibidos como troféus.
É a partir dessa constatação que o trabalho deixa de ter apenas uma dimensão de pesquisa para a construção de um retrato etnográfico, e passa a trazer uma dimensão de reivindicação social e política. Passa também a trazer à tona, além dessa imagem em linhas gerais de uma identidade de “homem amazônico”, esses homens específicos, expostos nos jornais como símbolos da violência de uma região.
“Páginas Vermelhas” apresenta uma série de trabalhos realizados a partir destes retratos publicados nos jornais de Belém. A pintura rege a mostra, são objetos onde o artista se apropria do jornal, pinturas em óleo sobre tela, uma pintura sobre o próprio espaço da galeria, e uma foto que registra um trabalho da mesma série em um muro da cidade de Belém, onde o artista reside.
Todas essas pinturas são realizadas em tons de vermelho, em referência a um estado de atenção e violência que as próprias imagens implicam. Mas também se relacionam à própria história de Éder. Por ser daltônico, as nuances de vermelho são os tons que o artista tem maior dificuldade de reconhecer. Como condição, parte do processo de pintura do artista acontece menos visualmente e mais racionalmente. Éder constrói com apenas um tom de vermelho, e um tom escuro, o preto ou o azul, todo o contraste e volumetria de seus retratos. As imagens, que antes pareciam banais, sem muito requinte, agora se apresentam com uma riqueza de detalhes, sendo elevadas à outra condição.
O trabalho remete a uma condição da própria Pop Art, não apenas pelos retratos oriundos de algo do cotidiano ou banal, explorado pela mídia, mas no sentido mais crítico do Pop. Impossível não nos levar de volta à série de acidentes do artista Andy Warhol, como por exemplo, Green car crash (Green burning car I),obra que mostra uma cena de acidente de carro, imagem serigrafada a partir de uma fotografia publicada em um jornal da década de 1960. Curiosamente, na obra, o próprio corpo do motorista que foi lançado devido ao impacto aparece em primeiro plano, cravado num poste do outro lado da calçada. Assim como no trabalho de Éder, a banalidade de como a violência é vista por uma sociedade está em evidência. A violência é alavancada a uma situação de estar entre o ser crítica social e elemento de estética apurada.
A prática de Éder Oliveira estabelece uma forma de atualização do gênero retrato, mas que extrapola a condição academicista em formato, técnica e amplitude conceitual. Éder expõe a condição social local, removendo da circulação típica da cidade uma imagem, para depois devolvê-la, alterando a percepção que temos daquele retratado.
Alistamento
por Marta Mestre
Texto de curadoria para a exposição homônima realizada no Centro Cultural Sesc Boulevard, em maio de 2015, em Belém.
O trabalho de Éder Oliveira constrói-se rente à observação direta do mundo em que vivemos juntos, debruça-se sobre diferentes contextos de identidade e pertencimento, e extrai deles sentidos artísticos e culturais que nos devolvem não só o estranhamento de nossas (problemáticas) sociabilidades, mas também a estranheza constitutiva do eu.
Para chegar ao conjunto final de trabalhos de ALISTAMENTO, Éder Oliveira serviu-se de procedimentos de aproximação ao “objeto” relacionados aos campos das ciências sociais, e em particular da antropologia.
Junto aos quartéis militares e Forças Armadas de Belém divulgou uma convocatória pedindo a participação de alistados no projeto. Aos que responderam, chamou-os para o seu atelier localizado na periferia da cidade, e dividiu o processo de trabalho entre um questionário e uma sessão fotográfica. A partir daí realizou os retratos em tela, na parede da galeria e na rua, transferindo escalas e verossimilhanças físicas.
Dando seguimento à sua pesquisa sobre o “homem amazônico” que o levou a retratar “marginais”, os “soldados” agora representados por Éder Oliveira nos expõem diante daquilo que deveria ter ficado guardado ou invisível. Uma espécie de “retorno do recalcado nacional” (E. Viveiros de Castro) que “desarranja” corpos, rostos e percepções. E que ao reconfigurar as formas perceptivas existentes torna-se político sem que necessite ser engajado.
“Alistamento” assume um magnífico efeito de espelho antropológico que, sob o véu de falar dos outros (soldados), deixa passar observações sobre nós, sobre a nossa cultura, os nossos valores e atitudes. E de um modo simples coloca em evidência o quanto toda a imagem é sempre a imagem de um “outro”, sendo a experiência de alteridade capaz de uma reformulação constante dos termos em que nos definimos.