Brasília, DF, 1985.
Vive e trabalha em Brasília, DF
Em sua obra, Camila associa a tradição da pintura a óleo figurativa, envolta em uma usual seriedade, com temáticas relacionadas ao humor satírico que se apresenta em situações esdrúxulas (fulerage). São recortes de imagens que fragmentam e narram momentos bizarros. Dessa maneira são estabelecidos, por intermédio de construções ambivalentes, questionamentos acerca das possibilidades de produzir pinturas figurativas e inseri-las no campo contemporâneo da produção artística. Essas imagens permeadas de fortes narrativas, associam situações – aonde algo ocorre de maneira quase falha – à qualidade da pintura aplicada, com pinceladas encarnadas, achicletadas, fugidias e índices que revelam o processo do trabalho: borrões, manchas e escorridos. Descuidos assumidos como potencializações poéticas.
Camila Soato nasceu em 15 de agosto de 1985 na cidade de Brasília. Leonina com ascendente em aquário, tem 27 primaveras completadas em sua cidade natal aonde também reside e trabalha. Sua trajetória na arte contemporânea se iniciou por volta dos 8 ou 9 anos, foi à feira do rôlo e trocou sua bicicleta por um pangaré. Deste dia em diante vem trabalhando com a noção de fuleragem, conceito cunhado pelo Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos, do qual faz parte, contamina e é contaminada desde 2009.
Atualmente flerta com as galerias MUV Gallery e a Amarelonegro Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. É mestranda na linha de Poéticas Contemporâneas em Artes Visuais pelo Programa de Pós-graduação em Artes na Universidade de Brasília. Sua pesquisa poética é direcionada à pintura que escolhe o descuido como potência, e se afasta da assepsia e virtuosismo técnico, abraçando o fuleiro, o tosco e o mal acabado.
Em sua obra, Camila associa a tradição da pintura a óleo figurativa, envolta em uma usual seriedade, com temáticas relacionadas ao humor satírico que se apresenta em situações esdrúxulas (fulerage). São recortes de imagens que fragmentam e narram momentos bizarros. Dessa maneira são estabelecidos, por intermédio de construções ambivalentes, questionamentos acerca das possibilidades de produzir pinturas figurativas e inseri-las no campo contemporâneo da produção artística. Essas imagens permeadas de fortes narrativas, associam situações – aonde algo ocorre de maneira quase falha – à qualidade da pintura aplicada, com pinceladas encarnadas, achicletadas, fugidias e índices que revelam o processo do trabalho: borrões, manchas e escorridos. Descuidos assumidos como potencializações poéticas.
“No Grande Vidro: a pintura das fuleirices”
Por Ana Avelar
[Texto curatorial da individual de Camila Soato “Virilha Suada”, exibida na Casa de Artes da América Latina (CAL/UnB) em abril de 2018 como parte do projeto “Grande Vidro”]
Na Brasília contemporânea de Camila Soato, evidencia-se a convivência improvável dos signos da capital idealizada, como na citação aos azulejos de Athos Bulcão, com a vida como ela é dos bares das superquadras. A indicação dos percursos frequentes dos habitantes, entre o plano-piloto e os arredores, é sugerida pela placa indicativa de Planaltina, Goiás, e pelas traseiras de caminhões que seguem seu curso. Personagens são apresentadas em cenas descontraídas, às vezes atravessadas por uma erotização sem ornamentos; o movimento é conferido por pinceladas rápidas em torno delas, lembrando a visualidade eficiente das HQs. Os cenários podem ser apenas desenhos indicativos; há silêncios no espaço pictórico; listras verticais sugerem profundidade (e remetem à rigidez de algumas pinturas modernistas), a tinta escorre das formas que parecem se dissolver junto à história heroica da capital. Soato aposta que nós, espectadores, somos bons entendedores e não está interessada em entregar todas as pistas.
A elegância da cidade ideal – conferida por suas edificações modernas ordenadas em escala monumental – cai por terra. No lugar dela, a rebolada do dia a dia. Essas pinturas podem ser vistas como cenas de costumes pintadas à óleo, com um pé na tradição, e outro – o esquerdo – no grotesco como procedimento simbólico e formal. A reunião de supostos contrários como esses orienta a produção da artista.
Nesse sentido, o conceito de “fuleragem”– que, na linguagem popular, reúne significados variados, desde o comentário sobre uma sexualidade sacana até aspectos de uma produção mal acabada ou de mau gosto – é entendido por Soato como princípio de organização do trabalho. É inusitado como o termo congrega acepções de naturezas tão distintas; ao mesmo tempo, como diz respeito ao amálgama da cultura brasileira, podendo ser encaixado na família de seus semelhantes: a gambiarra, a malemolência e a ginga.
Se, por um lado, a fuleragem – ou fuleirice? – traz uma emancipação para a pintura de Soato, incluindo-se aí uma comicidade evidente, por outro, o processo de produção é bastante elaborado, tanto em termos conceituais como naquilo que diz respeito à fatura. Ao escrever sobre as etapas do trabalho, a artista explica como monta um banco de imagens coletadas. A partir desse banco, acessa diferentes situações do cotidiano, para então cruzar essas imagens, promovendo alterações de todos os tipos. Apenas, então, projeta-as sobre a tela que será pintada. A reunião desses elementos díspares gera resultados provocadores, embora acabem fazendo sentido dentro de uma poética que procura elaborar o contemporâneo e, simultaneamente, falar de outros tempos. Como pontua Giorgio Agamben, a contemporaneidade “é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias”.
Formação
2017
– Doutorado em Poéticas Visuais no PPG-AV, pela Universidade de São Paulo
2013
– Mestrado em Artes Visuais, UnB – Universidade de Brasília
2010
– Graduação em Artes Plásticas, UnB – Universidade de Brasília
Exposições individuais
2017
– “Caviar é uma Ova!“, Zipper Galeria, São Paulo, SP
– “Desculpa Virilha Suada“, Galeria Alfinete, Brasília, DF
2016
– “Anti-Higiênicas“, Sesc Santana, São Paulo, SP
2015
– “Uma diva, uma louca, uma macumbeira, meu deus ela é demais!“, Artur Fidalgo Galeria, Rio de Janeiro, RJ
2014
– “Nobres sem Aristocracia: Projeto Vira-Latas Puros nº 51“, Zipper Galeria, São Paulo, SP
2013
– “Fuleragem Polissistêmica Nº 05“, Zipper Galeria, São Paulo, SP
– “Vira-Latas Tecnológicos: inserções pictóricas no espaço urbano“, Galeria Espaço Piloto, Brasília, DF
2011
– “O Descuido Vira-Latas, Fuleragem e Bundas“, Galeria Espaço Piloto, Brasília, DF
– “Situações“, Galeria da América Latina, Brasília, DF
– “Situações“, Espaço Cultural UNESC, Criciúma, SC
– “Situações“, Galeria Espaço Piloto, Brasília, DF
Exposições Coletivas
2018
– 11º Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS
– “Contraponto (Coleção Sérgio Carvalho)“, Museu Nacional da República, Brasília, DF
– “Dialetos 2“, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP
2017
– “Outros Olhos“, Hill House, Brasília, DF
– “Circuito #2“, Alfinete Galeria, Brasília, DF
– “Contrafogos“, Museu da Biblioteca Pública de Pelotas, Pelotas, RS
– “A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela“, CAIXA Cultural Rio de Janeiro, RJ
– “Animal-Estar“, Galeria de Arte do Centro de Arte UFF, Niterói, RJ
2016
– “Ao amor do público“, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “De|Generadas“, Sesc Santana, São Paulo, SP
2014
– “Entre Dois Mundos – Arte Contemporânea Japão-Brasil“, Museu Afro Brasil, São Paulo, SP
2013
– “Exposição dos Finalistas do Prêmio Investidores Profissional em Arte (PIPA)“, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ
– “Idolatria Vâ“, Galeria Laura Marsiaj, Rio de Janeiro, RJ
– “Mirante“, MUV Gallery, Rio de Janeiro, RJ
– “Retrato: Autoretrato“, MUV Gallery, Rio de Janeiro, RJ
– “Primeira Vista“, Amarelonegro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
– “Abre Alas“, A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, RJ
2012
– 64º Salão Paranaense de Arte Contemporânea, Museu de Arte Contemporânea do Paraná MAC/PR, Curitiba, PR
– “Espelho Refletido: O Surrealismo e a Arte Contemporânea Brasileira“, Espaço Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, RJ
– 31º Salão Arte Pará, Museu Histórico do Estado do Pará, Belém, PA
– “Gambiarras“, Galeria Espaço Piloto, Brasília, DF
– “Dialetos“, Centro Cultural, Goiânia, GO
– “Dialetos“, Museu de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS
– “Diálogos de Resistência“, Museu Nacional da República, Brasília, DF
– 18º Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Universidade da Amazônia, Belém, PA
2011
– 17º Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Universidade da Amazônia, Belém, PA
– “Salão/Residência Fora do Eixo“, Espaço Cultural Renato Russo, Brasília, DF
– 1° Salão de Arte Contemporânea do Centro Oeste, Centro Cultural Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO
2010
– “Brasília Outros 50“, Galeria Fayga Ostrower, FUNARTE, Brasília, DF
– 16º Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Universidade da Amazônia, Belém, PA
– “Presenças de Cor“, Museu de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS
2009
– Salão 1º Prêmio Espaço Piloto de Arte Contemporânea, Galeria Espaço Piloto, Brasília, DF
– 28º Salão Arte Pará, Belém, PA
Prêmios
– Prêmio Aquisição, 16º Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Universidade da Amazônia, Belém, PA
– “Melhor Exposição“, Prêmio PIPA Voto Popular, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ
– Prêmio Salão de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS
– 64º Salão Paranaense de Arte Contemporânea, Museu de Arte Contemporânea do Paraná MAC/PR, Curitiba, PR
– Bolsa Funarte Estímulo à Produção em Artes Visuais 2012
– Projeto “Vira-latas Tecnológicos: inserções pictóricas no espaço urbano“, Brasil