(ultima atualização em outubro/2016)
Macaúbas, BA, 1968.
Vive e trabalha entre Cachoeira, e Salvador, BA.
Representado pelas galerias Paulo Darzé, Portas Vilaseca e Blau Projects.
Indicado ao PIPA 2012, 2015 e 2016.
Artista visual e curador, doutorando em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP. Professor do curso de Artes Visuais do Centro de Artes Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Suas obras transitam pela instalação, performance, fotografia e audiovisual, lidam com freqüência com elementos da cultura afro-brasileira e já foram vistas em individuais na Bahia, mostras, festivais e Bienais internacionais. Nos trabalhos de Heráclito encontramos dendê, a vida no Brasil-Colônia, charque, açúcar, peixe, esperma e sangue, corpo, dor, arrebatamentos, apartheids e sonhos de liberdade.
Vídeo produzido pela Matrioska Filmes com exclusividade para o PIPA 2016:
Buruburu, 2010
Buruburu significa pipoca no dialeto Afro Brasileiro. No candomblé, a pipoca está ligada à Obaluaê, o orixá da doença e da cura. O trabalho evoca questões rituais, simbólicos, e etnográfico, e aborda a relação entre natureza e construções culturais.
O Pintor e a Paisagem, 2011
“Em tempos de “imagem em alta definição”, quais são as imagens indefinidas da nossa cultura? O que há de pouco claro na nossa história? Mais que uma questão física relativa à qualidade da imagem, existe um processo de “invisibilização” histórica de determinados aspectos da cultura brasileira, que aos poucos revela um componente ético do visível no nosso cotidiano.” Alejandra Hernández Muñoz
Sangue, Sêmen e Saliva, 2005
O óleo se metamorfoseia em motor da sobrevivência do negro e de sua cultura. Torna-se fluido vital que permite a perpetuação da vida.
“Ayrson Heráclito e a Reunião das Margens Atlânticas”
Por Marcello Moreira
[Texto publicado no Catálogo do “NOVO BANCO Photo 2015”, Lisboa, Portugal.]
No culto de Babá Egun, na Bahia, a apresentação dos ancestrais da coletividade ao público dá-se em dia festivo, quando o «egun», o morto, se torna novamente apreensível pelos sentidos dos viventes ao envergar a roupa que lhe coseram, o «opá», que o dá a ver e a ser tocado. A sua manifestação, ou melhor, a sua apa- rição entre nós – uma vez que se trata da «aparência» ritual que a cultura dos descendentes de africanos entre nós soube preservar – é, como o diz Júlio Santana Braga, «chama da imortalidade do homem» (1), que flameja nas cores vivas dos tecidos de que é feito o «opá». Este, feito não apenas de tecidos, mas de missangas e de vidrilhos sobrepostos naqueles, reluz. A luz, inclusive, é condição de apreensão da imensa gama cromática própria de todos os «opás», e os efeitos de reflexão da luz nos elementos vidrados podem ser compreendidos, em termos físicos, como a associação entre cor e luz, mas também, num nível mais profundo de significação, entre esses elementos como metáfora visível do próprio princípio de imortalidade que se dá a ver. O Babá Egun, quando manifestado, dado ao olhar, é luz e cor, é cor pela luz que a dá a ver, sendo ambas compreendidas, enquanto fenómenos, como apropriadas à expressão do princípio metafísico ou espiritual que connosco quer comunicar, lembrando-nos a nossa imortalidade. Se somos pó em pé, se seremos pó caído, como se dizia na poesia do século XVII, católica e contrarreformista é certo, lembram-nos os Babá Eguns que poderemos ser também pó soerguido uma vez mais, mas manifestado por meio da luz-cor que metaforiza, como se disse, a beleza indizível dessa flama imortal, dita ou tornada visível de forma imperfeita, nos limites da linguagem artística, por meio do tropo metafórico que é Babá presente.
Ayrson Heráclito, ao propor-se «sacudir» a Casa da Torre na Bahia e a Maison des Esclaves [Casa dos Escravos] na ilha de Gorée, recorda-nos que não há apenas «eguns», há também fantasmas. «Sacudir uma casa», como se diz entre o povo de santo da cidade da Bahia, é tomar em mãos as folhas indicadas pelos zeladores de santo para com elas bater os cantos dos aposentos, para afugentar com as fustigadas que se dão com o molho de ramos os que são pó caído, mas que teimosamente permanecem entre nós, perturbando-nos a existência. Uma folha com que se sacode a casa é, por exemplo, o para-raios, a folha do orixá Iansã, associada ao culto de Babá Egun, folha quente, excitante, de tipo «gun». O nome popular da folha, para-raios, faz lembrar a atuação desse mecanismo, o para-raios, em dias tempestuosos: atrair e absorver a energia destrutiva da intempérie para impedir que ela atinja os seres humanos. O para-raios com que se sacode a casa tem essa mesma função: captar as energias ruins que se fazem presentes numa habitação e também, com os movimentos enérgicos e vigorosos próprios do sacudimento, como se esse fosse uma varredura de casa, debelar, dispersar as energias ruins acumuladas ou estagnadas, pondo-as também em movimento e em fuga.
Mas não são os negros torturados de forma desumana em ambos os lados do atlântico os «eguns» que, ainda presentes na Casa da Torre e na Maison des Esclaves, demandam o sacudimento. Este, ao ser realizado por Ayrson Heráclito, conjura o passado, a história, tornando-os presentes. O que exige o imediato sacudimento da Casa da Torre e da Maison des Esclaves é a persistência histórica da desigualdade, que vitima incontáveis homens na Bahia e na África nos dias de hoje. O sacudimento dessas casas visa, se possível, exorcizar os demónios que a história nos legou, mas esses demónios são todos eles práticas enraizadas nas sociedades brasileira e africana e toleradas muitas vezes pelo Estado. Ao sacudir a Casa da Torre e a Maison des Esclaves, ao tornar presente o que precisa ser alijado da vida social, da história, o exorcismo levado a efeito por Ayrson Heráclito é belíssimo, pois sacode «a história», o «passado», com a mão-cheia de para-raios que os negros nos ensinaram a usar, a empregar tão bem para nosso socorro diário. São os seviciados que nos legam os instrumentos de exorcismo, que nos ensinam a conjurar o tempo ido e o seu legado. São os negros da Bahia, aqui trazidos contra sua vontade, que legam as práticas que servem para purgar a história na outra margem atlântica. O passado a ser exorcizado, metaforizado na performance como «egun», como energia disruptora, não tem, como os Babá Eguns do culto praticado na África e na Bahia dos dias de hoje, nem cor nem luz. Esse passado é a morte, a que Babá se opõe como princípio continuador da vida.
***
Referências bibliográficas:
(1) Júlio Braga, Ancestralidade Afro-Brasileira. O Culto de Babá Egum. Salvador: EDUFBa, 1995, p. 106.
Exposições individuais
2015
– “Genealogy of Materials / Généalogie des Matières, Raw Material Company, Dakar, Senegal
2013
– “Atlântico Negro”, Central Galeria, São Paulo, SP
2009
– “MIP 2”, Manifestação Internacional de Performance, Belo Horizonte, MG
2008
– “Bori – Peformance-Arte”, Teatro Castro Alves, Salvador, BA
2002
– “Ecologia de Pertencimento”, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, BA
2000
– “A Transmutação da Carne”, Galeria do ICBA, Salvador, BA
1990
– “Dentro do Escuro”, Galeria Vila Imperial, Vitória da Conquista, BA
1989
– “No Limite da Sagrada Família”, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, BA
Exposições coletivas
2016
– “Miroir – Effacement”, Galeria Imane Farès, Paris, França
2015
– Bienal africana de fotografia – 10 Rencontres de Bamako no Mali (artista convidado), Bamako, Mali
– Bienal Internacional de Curitiba, PR
– 10ª Bienal do MERCOSUL, Porto Alegre, RS
– “Wer hat Angst vor dem Museum?” – Performance “ A transmutação da Carne” e “ Embostando o Museu de Etnologia de Viena”, Weltmuseum Wien, Áustria
– “Crú – Comida, transformação e arte”, CCBB, Brasilia, DF
– “Novo Banco Photo 2015”, Museu Colecção Berardo, Lisboa, Portugal
– “Ficções”, Caixa Cultural Rio de Janeiro, RJ
– “Memorias imborrables — Una mirada histórica sobre la Colección Videobrasil”, MALBA, Buenos Aires, Argentina
– “Terra Comunal – Marina Abramović + MAI: Oito Performance – Transmutação da Carne”, SESC Pompéia, São Paulo, SP
2014
– “Histórias Mestiças”, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP
– “Alimentário – Arte e Patrimônio Alimentar Brasileiro” Museu da Cidade – OCA, São Paulo, SP
– “Memórias Inapagáveis – Um Olhar Histórico No Acervo do Videobrasil. SESC Pompéia, São Paulo, SP
– “Do Valongo à Favela : imaginário e periferia”, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “Alimentário – Arte e Patrimônio Alimentar Brasileiro”, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ
– “Deslize Surfe Skate, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
2013
– “A Nova Mão Afro-Brasileira”, Museu afrobrasil, São Paulo, SP
2012
– “Incorporation: Afro-Brazilian Contemporary art”, Europalia-Brasil, Bruxelas, Bélgica
– “Full Bazilian and other rituals”, Museumnacht- De Oude Kerk, Amsterdam, Holanda
2011
– 7th Berlin International Directors Lounge, Berlim, Alemanha
– “Arte Lusófona Contemporânea”, Memorial da América Latina, São Paulo, SP
2010
– “Trienal de Luanda”, Angola
2009
– “Saccharum-ba”, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, BA
2008
– “Atualização em Retalhos Postais da Bahia”, Museu Municipal de Tavira, Portugal
2007
– “As Mãos do Epô” (vídeo), 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica – Vídeo Brasil, São Paulo, SP
2006
– “Cosmogonia Cravo” (vídeo instalação), Museu Rodin Bahia, Salvador, BA
2005
– “Barreuco”, Bienal de Vídeo Arte KunstfilmBiennale, Colônia (Köln), Alemanha
– DISCOVER BRASIL, Ludwig Museum Koblenz, Alemanha
2004
– “Primeiro de Abril”, Galpão Sta. Luzia, Salvador, BA
– “Barreuco” (vídeo arte), 5º Festival Internacional Vídeo Brasil, SESC Pompéia, São Paulo, SP
– “Bahia A Fora”, Galeria Terra Fértil, Buenos Aires, Argentina
2003
– “Líquidos”, Galeria Caco Zanchi, Salvador, BA
2002
– 9º Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, BA
2001
– II Bienal do MERCOSUL, Porto Alegre, RS
– “Design 21”, Felíssimo, Nova Iorque, Estados Unidos
2000
– “Performance – Ação”, Instituto Cultural Brasil – Alemanha (ICBA), Salvador, BA
– Exposição Coletiva em Comemoração aos 25 Anos da Galeria ACBEU, Salvador, BA
– “Terrenos”, Instituto Cultural Brasil – Alemanha (ICBA), Salvador, BA
1995
– “Artistas Baianos – MAC – USP”, Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, SP
1993
– “Artistas Emergentes”, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, BA
1991
– I Bienal do Recôncavo, Centro Cultural Dannemann, São Félix, BA
1990
– “Exposição Coletiva de Colagem”, Instituto Cultural Brasil – Alemanha (ICBA), Salvador, BA
– “Das Estrelas ao Asfalto”, Museu de Arte da Bahia, Salvador, BA
– “Z Eros ao Infinito”, Galeria de Arte Nata, Salvador, BA
1988
– Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco, Recife, PE
Premiações
2013
– Prêmio de residência pelo 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil – Raw Material Company, Dakar, Senegal
2007
– “As Mãos do Epô” (vídeo), 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica – Vídeo Brasil, São Paulo, SP
2002
– Prêmio Brasken de Cultura e Arte
– Nono salão do MAM, Salvador, BA
1994
– II Bienal do Recôncavo
1992
– XI Oficina Nacional da Dança Contemporânea, Concurso de Instalação e Performance
– II Salão Universitário de Artes Visuais, Salvador, BA
– II Salão Baiano de Artes Plásticas, MAM, Salvador, BA
1988
– I Salão Baiano de Artes Plásticas, BA
1986
– I Salão METANOR / COPENOR de Artes Visuais da Bahia, BA
Coleções
Possui obras em acervos no Museum der Weltkulturen Franfurt na Alemanha, no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Videobrasil e em diversas coleções particulares.
Video produzido pela Matrioska Filmes com exclusividade para o PIPA 2012:
Video produzido pela Matrioska Filmes com exclusividade para o PIPA 2015:
– http://www2.sescsp.org.br/sesc/videobrasil/site/dossier036/apresenta.asp
– http://ayrsonheraclitoart.blogspot.com.br/
– https://vimeo.com/ayrsonheraclito2011/videos
Posts relacionados
- "Um oceano para lavar as mãos" apresenta obras de 12 artistas
- MAM-Bahia abre exposição dedicada a Exú
- Ayrson Heráclito passa a ser representado pela galeria Simões de Assis
- Clube de Colecionadores do MAM Rio lança edição para ArtRio 2020
- "À Nordeste" enfatiza simbolismos e singularidades da região
- EAV justapõe obra de arte com fotografias históricas
- Semana de arte 2018 retoma Modernismo brasileiro com enfoque na produção negra e feminina
- I Mostra de Filme de Artista no Espaço Cultural Porto Seguro
- "Histórias Afro-Atlânticas" ocupa duas das maiores instituições de arte de São Paulo
- Tiago Sant'Ana inaugura "Casa de Purgar" no Paço Imperial