(ultima atualização em julho/2017)
São Roque, SP, 1972.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ.
Indicado ao Prêmio PIPA 2017.
Ricardo Càstro pesquisa as qualidades, tanto formais quanto místicas, de elementos cromáticos para realizar intervenções que supõem a transformação dos espaços arquitetônico, urbano e social. Em geral são trabalhos híbridos, abertos à participação do público. Suas ações artísticas foram reunidas pelo termo abra- vana, neologismo que ressoa como uma chave vocal dotada de vibração, intensificando a relação corpo/obra para realçar uma dimensão que corresponde à um nível infinito de percepções.
Site: www.abravana.com
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes, exclusivamente para o Prêmio PIPA 2017:
“É a criançada se alimentar de luz…”
(Chico Buarque de Holanda – O Brejo da Cruz)
Por José Bernardo de Souza, 2015
Como um elemento pode reverberar no espaço criando novas dimensões senso- riais e planos de percepção mística e estética?
Ricardo Càstro vem pesquisando as qualidades tanto formais quanto místicas de volumes cromáticos, relacionando formas geométricas de modo a repensar as relações entre o homem, a cultura e a natureza. Ao contrapor o rigor da geometria – cuja leitura convencionada remete ao mundo artificial, construído – à imaterialidade da luz, e da energia por ela desencadeada, o artista nos faz perceber que ambas as esferas (cultural e natural) estão intimamente conectadas. Os fractais encontrados nas formações geológicas, aparentemente aleatórias, trazem em seu desenho o ritmo que produz a diferença, relativizando a teoria científica que parte da observação de padrões constantes para constituir um conjunto de leis generalizadoras. Ao entender que talvez resida na diferença o desfecho para a equação do universo, Castro relaciona a parte com o todo, criando assim um sistema que opera de maneira holística, num exercício estético que abre novos brancos na semântica artística que envolve forma e conteúdo.
Nesta exposição relâmpago que resulta de um período em residência no Largo das Artes, o artista explora novos rumos para sua recorrente pesquisa sobre a relação travada entre o homem e o espaço, entre o homem e as forças da natureza, emanadas de um impulso vital, humano ou mesmo ancestral. Ao construir uma espécie de templo que tem como figura central o triângulo – forma geométrica que remete tanto à matemática quanto ao misticismo e a religiosidade -, onde somos posicionados de forma a reagir aos estímulos provocados por feixes de luz, cristais, campos cromáticos e espelhos, Castro busca disparar uma série de reações sensoriais que nos transportam a outros planos, de ordem metafísica.
Entretanto, a obra central desta instalação é um vídeo filmado no Rio de Janeiro, onde uma série de experimentos realizados com triângulos espelhados funcionam como dispositivos para rebater e fazer divergir e fracionar a luz solar, elemento central para a existência da vida. Em uma paisagem natural, rochosa, banhada pelo mar – não por acaso o espaço de onde teriam emergido os primeiros seres vivos no planeta -, Castro posiciona personagens que interagem com o meio-ambiente, seres que buscam controlar fontes de energia tão essenciais quanto desconhecidas. Neste cenário, os atributos primitivos da humanidade – seu próprio corpo – convivem com elementos da cultura material e imaterial produzida por nossa sociedade, os quais são diretamente confrontados com as forças maiores da natureza e seu caráter divino. Desta pluralidade de formas, atores e elementos emerge uma quasi ficção científica de uma tribo que se alimenta de luz.
Transformer
Por Fabio Morais, 2012
Fabio Morais
3:33 AM
Ricardo? Cê taí? Tá acordado? É tarde, né? Lembrei de como éramos crus em 1997. Cê me deu aquele trabalho redondo, IKB. Lembra? A música eletrônica da moda, as festas da moda, as drogas da moda, tudo entre a gente, tão no começo. Fico feliz de te ver em outra individual. Nas individuais, a gente urra ou sussurra sozinho, elas respeitam nosso tom. No teu ‘sozinho’, te vejo de New Look, Ricardo, com Flávio, com Yves, com Ney, com os neoconcretos. Mas não os conheci, quando cheguei eles já eram lenda. Se os compreendo, é porque
os experimento em ti. Costumo acessar a história apenas através do presente. Você me faz enxergar séculos de pintura de uma só tacada — como me fazia
a expogra a de Lina, quando eu era criança — , logo você que não respeita a pintura como entidade histórica, mas como corenergiação. Você é tão explosivo, Ricardo, e eu tão implosivo. Se vejo tuas cores explodidas, no Paço, no teu ap, na tua primeira exposição na Triângulo, imagino que tuas lascas coloridas vão além da galáxia, onde a ciência é burra e a metafísica é ridícula. Te admiro, Ricardo, por aquilo que não posso ser. Se fôssemos iguais, nos repeliríamos. Não tenho essa relação espiritual que você tem com a energiacor. Você me propõe o que em mim não é natural. Sou tão ncado no dicionário. Eu não sou cromático. Por isso, nas tuas explosões de cor, aproveito e me ilumino, faço cor meu preto e branco, como quando na plateia a gente olha alguém sentado na poltrona ao lado, tingido pela luz do lme. O que na tua vida é cor, Ricardo, na minha é pala- vra. Mas você não é pintor e nem eu escritor. Que porra de artistas somos nós? Você é desses que me põem na beira da queda e me sussurram: não há prob- lema; se há, ele é teu. Sou tão linear, se Salto no Vazio caio reto. Eu queria te es- crever um texto do caralho, à altura da tua corcosmogonia. Me ajuda a escrever um texto pra ti, Ricardo, me empurra, vamos explodir um artefato de corpalavra- cor? Não sei se estou preparado para isso, nunca estive preparado para nada, nasci apenas com dois instintos, o autodestrutivo e o de sobrevivência, apaix- onados um pelo outro. Vamos, Ricardo, vamos explodir uma corpalavracor que se torne caco que se torne cosmo que se torne corpo que se torne corte que se torne carícia? Bombardeemos, agora, quem não é kamikaze que que em casa, homembombatucada, a EXPLOSÃhuma(espiritual)no/ene/r\gias_ ideias, que são muito leves “ ” su/av-es {extrapolar as substan}cias, e_q-u_i-l_í-b_r-i_o – ativ,ar; quando falo de pensamento*, quero amarelo (quero; quer o / / quer-me) dizer como forma* acúmul(os( liberd(prismática)ade — Esse tipo de escultura é invisível – é m(orte)uito leve — (energiadensa) ) azul ‘você’ “não” ‘existe’ e ‘precisa’ ‘de’ ‘um’ ‘pé’ “v”e”t”o”r”e”s ca(c)os > dando forma à geometria invisível q//ue sustenta as nossas relaçõ—estarmos juntos—es ácúmúló onndassssssss vermelhos vibrrratórrrias : ) TRANS///FORMER >> a intenção secreta do artista, que te conto aqui, ao pé do ouvido ; ) ……………m!agia……….dese¡rto………. tradiçãooãçidart ;’ luz zul luz zul o azulazul’acaso; ‘do dissimulado’ ‘do alienado’ ‘do fugitivo’: brilha-me você é ab//solutamete visível — — con ança —, aa tradu//ção da informa/a/ção c|o|d|i|f|i|c|a|da (autoridade natural} a” vontade “huma”na = ouro,a reversão que eu acredito _intenções esculturaissociais_ trazer_as_coisas—para—a—superfície ̄//processos concre- tos// o que a gente não inventa não existe (vermelho/magenta/vermel(tótemAMO) ho/magenta) podemos construir qq coisa qq qqq qqqq qqqqq (in nito) cor mudanç’ação bomba radical — (espaço para diál(silêncio)ogo)
Very Rick – Passe Lá
Por Fernanda Carlos Borges, 2008
“Passe” lá! Para transmutar o adverso em favorável, como na antropofagia Oswal- diana, assimilando as forças que te sacodem continuamente – e podem te der- rubar – transformando-as em posição e atitude.
O super poder do herói de Pindorama. Voa.
Very: excessivo.
Rick: identidade identidade identidade identidade.
Passe: dispositivo capaz de insu ar e direcionar forças para o poder de seguir adiante.
Lá: situação, onde para ser é preciso estar junto.
Os vetores nascem do movimento, organizando o caos das forças explosivas, dando forma à geometria invisível que sustenta as nossas relações, direcionando nossas inclinações.
Não podemos fugir do imperativo de estarmos juntos.
Explosão de cores cuja resultante são ondas vibratórias capazes de diluir seus ranços – intenção secreta do artista, que te conto aqui, ao pé do ouvido.
Vai, porque “movendo-se, descansa…”
O que é a morte diante da oportunidade de levar um tombo?
Caia, para não morrer de velho.
Caia, para abrir as mãos soltando o que te prende ao passado obsessivo.
Caia, para recomeçar outro primeiro passo descontínuo, embora comprometido com tanto caminho andado
tanto mapeamento
tanta sinalização
tanto rastreamento
Tradição.
Você é eternamente responsável pelas posições na qual se coloca.
Mesmo que não queira, você é um agente transformador do espaço signi cativo. É impossível evitar posições: se tentar, sua posição será a do dissimulado, do alienado, do fugitivo.
Você é absolutamente visível.
Partilhar olhares transversais. Oi…
Very toma passe.
Rick transmuta o medo reativo, o poder abusivo e as estratégias de guerra em consciência participativa – é preciso ter cuidado.
“A paz espera no chão”.
“Teu amor eu guardo aqui”
Por Daniela Castro, 2010
Morri, baby, que é ser-vivo de Outra forma, sem crer, a crer, acrer, acrer e ditar (“coitados dos que crêem; vai ver que jazem crendo”). Acreditei. Transmutei. Transcrimupassei o Portal 3PV1, assim que comecei esse escrito. Te vejo do cosmo cor de burro-quando-foge, que é aquele dos recém-mortos (“quero já meu amor perto de mim, apertando-me a mão, palma-a-palma, oh, porque está tão longe, não veio”). É lindo. Daí, vemos a cor como re exo que aparenta uma conformação improvisada em acorde com o ritmo do que se acha que são todas as coisas; daqui, vemos como luz que causa alteridade de ser o néon do Outro: a cor burro-quando-foge como um cobre brilhante, triplicado (3) PV, sem 1 código de felicidade programada.
Só de liberdade. Da participação ativa voluntária quando colocada diante de, em torno de, ou rodeada por sistemas estáticos ou de movimentos voláteis, sendo que sua atuação modi ca ou encerra mudanças de participações segun- do sua vontade, e não segundo uma crença. Transcendendo-as. Como o cosmo lilás cintilante, daqueles que já não precisam crer há muito tempo, daqueles que nem sabem mais, mas daqueles que são (tal como o amor, que não tem que ser nada. Ele já é). O Willys, a Lygia, que são do cosmo de luz lilás cintilante. O primeiro diz que o objeto não é objeto, é habitáculo. Já a Lygia diz que o objeto não é objeto, tem que ser experiência vivida. Que, no nal, são as mesmas tropicações.
Sim, porque a história humana (dos que crêem) é a superfície fervente da panela da biologia ordinária; somos (fui) carnes que caíram num tipo de rede atrativa pelo devir da História, que nos esculpe (vos esculpem) a partir da cultura, da consciência, das psicodelias, das tecnologias. Mas as mesmas pessoas que administram essa estória toda sabem que essa mesma História (dos programas de linguagens formando capacidades felizes sem perceber a diferença entre ser e estar: os banqueiros, alguns escritores, alguns artistas, os publicitários, os jornalistas) está chegando ao m.
São as luzes dos seus cacos, amor, que te fazem todo, que eu trago comigo para me refazerem de novo. Aqui. Transparente e luz (“Algo é previsto pelo artista, mas as signi cações emprestadas são possibilidades, suscitadas pela obra, não previstas. Incluindo a não-participação nas suas inúmeras possibili- dades também”). Em todo caso, é como se habitássemos esse limite impossível (ser/estar; viver/morrer) e a reversibilidade enigmática (cor/cor) dessa gosma energética toda. Nada é possível, tudo é possível, e continuamos à cata dos sinais, dos signos, dos comutadores.
O teu amor eu guardo aqui mesmo.
Formação
1995
– Graduado em Arquitetura e Urbanismo, MACK – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP
2000
– Especializado em Artes Visuais, FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, SP
Exposições Individuais
2017
– Raio 777, projeto Parede Gentil, Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, RJ
2016
– A Radically Condensed History of Post Industrial Life LADO A/LADO B, projeto curatorial de Daniela Castro para Produce III, curadoria de Zeynep Oz, Istambul, Turquia
2015
– Ajuste Solar, curadoria de Bernardo José de Souza, Largo das Artes, Rio de Janeiro, RJ
– Dança da Chuva, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, SP
2014
– Mesa de Centro, curadoria de Tobi Maier, Estúdio Álvaro Razuk, São Paulo, SP
2013
– Transformer, curadoria de Agnès b., Art-O-rama, Marselha, França
– Abravana Nova YorKque, curadoria de Tim Goossens, TEMP ArtSpace, Nova York, Estados Unidos
2012
– Transformer, Galeria Casa Triângulo, São Paulo, SP
2010
– Portal 3PV1, Paço das Artes, São Paulo, SP
2008
– Very Rick – Passe Lá, Galeria Casa Triângulo, São Paulo, SP
– Explode, curadoria de Pablo Leon Dela Barra, White Cubicle, Londres, Reino Unido
– Abravana e vai, curadoria de Fernando Oliva, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP
Exposições Coletivas
2016
– Manjar, Solar dos Abacaxis, Rio de Janeiro, RJ
– O Pulo do Grito, Virada Cultural, SESC Belenzinho, São Paulo, SP
– Depois do Futuro, curadoria de Daniela Labra, Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
2015
– Aurora, AT&T Centro de Performance, curadoria de Tim Goossens, Dallas, Estados Unidos
– Animism & Shamanism – Diving into Gaia’s Spirit, curadoria de Charlotte Cosson e Emmanuelle Luciani, Paradise, Marselha, França
– A Mão Negativa, curadoria de Bernardo José de Souza, Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
2014
– Cabane Georgina#1, curadoria de Jérémy Chabaud, Cabane Georgina, Marselha, França
2013
– Abravana Being Green, programa de residência, espaço para dinâmicas de arte e cultura, Casa das Caldeiras , São Paulo, SP
– 3M Digital, curadoria de Gisela Domschke, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP
-The Big Picture, curadoria de Cecília Dean, em parceria com Dudu Bertholini para o projeto MOVE, SESC Belenzinho, São Paulo, SP
2012
– Assopre, Virada Cultural, SESC Vila Mariana, São Paulo, SP
2011
– Um Outro Lugar, curadoria de Luisa Duarte, em colaboração com Marilá Dardot para o projeto Introdução ao Terceiro Mundo, MAM-SP
2010
– Gamerz Festival #5, curadoria de Isabelle Arvers, Aix-en-Provence, França
2009
– Grau Zero, curadoria de Fernando Oliva e Priscila Arantes, Paço das Artes, São Paulo, SP
2008
– Em Vivo Contato, 28th Bienal de São Paulo, curadoria de Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen, em colaboração com avaf, São Paulo, SP
– Cover, curadoria de Fernando Oliva, MAM-SP
– Abravanation X Vomidinglberrys Movement Troup, em parceria com Kenny Scharf, em colaboração com o coletivo avaf, Deitch Gallery, Long Island, Estados Unidos
– Staminada, em parceria com Renata Abbade, em colaboração com Agathe Snow, Bienal de Whitney, Nova York, Estados Unidos
– Performance Presente Futuro, curadoria de Daniela Labra, Oi Futuro, Rio de Janeiro, RJ
2007
– Tropical Punk, curadoria da Banda Tetine, Whitechapel Gallery, Londres, Reino Unido
2006
– Abra Vana Alucinete Fogo, em colaboração com avaf, Galeria Casa Triângulo, São Paulo, SP
- Abravanation Virada, Virada Cultural, em colaboração com EIA, São Paulo, SP
Prêmios
2014
– II Premio FOCO Bradesco ArtRio, Rio de Janeiro, RJ
Residências
2014
– Largo das Artes, Rio de Janeiro, RJ
2013
– Casa das Caldeiras, Espaço de dinâmicas artísticas e culturais, São Paulo, SP
– Universidade de Verão, Capacete, Rio de Janeiro, RJ
Coleções
2016
– Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
2013
– Palais d’Iena, Paris, França