(ultima atualização em março/2022)
Tiradentes, MG, 1980.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ.
Representado por Galeria Athena Contemporânea, Sprovieri e Galeria Carlos Carvalho.
Indicado ao PIPA em 2011, 2013 e 2016.
Finalista do PIPA 2012.
Em período curto de tempo e por meio de projetos diversos, Matheus Rocha Pitta sedimentou interesses e estratégias que permitem identificar, em uma obra que se adensa a cada novo trabalho, enunciado crítico sobre os mecanismos de troca que regem a vida comum. Move o artista, em particular, a vontade de explorar e expor a mercadoria – coisa qualquer que o trabalho humano produz e pela qual existe inequívoco desejo de posse – como índice de paradoxos que tais intercâmbios encerram ou engendram. Sem apelar para enunciados discursivos de disciplinas que tomam a mercadoria como objeto de investigação frequente (economia, filosofia, política), articula objetos e imagens que inventa para gerar conhecimento que não cabe naqueles campos de estudo.
Nascido em Tiradentes, Minas Gerais, Matheus Rocha Pitta vive e trabalha atualmente no Rio de Janeiro, onde estudou Historia (UFF) e Filosofia (Uerj). Nos últimos anos têm investigado formas e percepções de gestos que têm implicações éticas. Atento à interseção da arte e a vida cotidiana, ele desloca os gestos de seu seu fundo biográfico e deliberadamente os eleva a atos estéticos com uma dimensão histórica.
Fotografias, vídeos e esculturas são usados para construir um repertório de gestos, que são disponibilizados com o público, tais como a “Primeira Pedra” (2015, Galeria Mendes Wood, São Paulo, Brasil), “No Hay Pan” (2015, Milão, Gluck50, Itália), “Assalto” (Bienal de Taipei, 2014), “Golpe de Graça” (2013, Pivo, São Paulo, Brasil) e “Aos vencedores as batatas” (2017, Kunstlerhaus Bethanien, Berlin, Alemanha).
Apontamentos para uma nova economia política
Moacir dos Anjos
Em período curto de tempo e por meio de projetos diversos, Matheus Rocha Pitta sedimentou interesses e estratégias que permitem identificar, em uma obra que se adensa a cada novo trabalho, enunciado crítico sobre os mecanismos de troca que regem a vida comum. Move o artista, em particular, a vontade de explorar e expor a mercadoria – coisa qualquer que o trabalho humano produz e pela qual existe inequívoco desejo de posse – como índice de paradoxos que tais intercâmbios encerram ou engendram. Sem apelar para enunciados discursivos de disciplinas que tomam a mercadoria como objeto de investigação frequente (economia, filosofia, política), articula objetos e imagens que inventa para gerar conhecimento que não cabe naqueles campos de estudo. É em torno dessa agenda em construção que se situam os dois trabalhos apresentados na exposição Rendez-vous.
Em B.O. (Boletim de Ofertas), mercadorias de consumo diário são destituídas de seu valor de uso prosaico por meio de incisões de onde subtrai matéria, abrindo nelas espaços vagos que são preparados para receber e ocultar, em potência, coisa qualquer que valha a pena transportar sem que se possa perceber (a referência a métodos de introdução de drogas em territórios ou recintos onde são proibidas se impõe aqui de modo claro). O valor de troca do material carregado clandestinamente, maior do que era o das mercadorias que o podem agora transportar, sugere que a anulação da utilidade de algo pode ter, como sua contrapartida, a criação de riqueza que não é, todavia, socialmente validada.
Ao fazer fotografias desses objetos e inserir suas imagens no campo da arte, Matheus Rocha Pitta cria os meios, contudo, para conceder-lhes, ao menos em sua existência imagética e a despeito da interdição social que seu novo uso evoca, um valor de troca maior do que possuíam quando eram somente mercadorias ordinárias. Distribuindo essas imagens gratuitamente, porém (compiladas em impressos como fossem bens ofertados com desconto em supermercados), anula uma vez mais o que poderiam valer os produtos modificados. Demonstra, por meio de operações que se apresentam e se explicam em imagens, a natureza arbitrária dos valores permutados em sociedade, dependente de convenções partilhadas e, simultaneamente, do poder que alguns detêm para mudá-las.
No segundo trabalho apresentado na mostra – parte da série Figuras de Conversão –, o artista desloca o foco da mercadoria mesma para o fato de ela estar sempre em mudança de lugar físico e simbólico. Na série, conjuntos de fotos na parede e objetos dispostos no piso se associam para configurar narrativas de trocas de posições e de significados, subvertendo a ordem com que se espera que as coisas do mundo sejam visualmente apresentadas. Em cada reunião de três imagens, uma descreve uma pessoa carregando sacolas plásticas cheias com mercadorias que se compram e se consomem no cotidiano (alimentos, itens de higiene, entre outros produtos necessários à reprodução da vida) e uma outra, de tamanho idêntico, fixa o momento em que as sacolas são depositadas no chão, situação em que o consumidor se aparta daquilo que vai consumir ainda. Na terceira e maior fotografia de cada um dos grupos, as sacolas que estavam antes cheias de coisas estão agora vazias, ligadas entre si por meio de fita adesiva e formando, assim, enorme recipiente. Em seu interior, a pessoa que carregava as sacolas está agora de “ponta-cabeça” e despida.
O posicionamento das duas primeiras imagens de cada agrupamento já sugere um desvio de norma largamente adotada para representar visualmente um evento, posto que o modo como são dispostas fratura a ordem cronológica da banal e absurda ação que constituem junto com a terceira fotografia. O percurso do desaparecimento das roupas que vestiam as pessoas e das mercadorias que ocupavam as sacolas que aqueles seguravam não é objeto, ademais, de qualquer registro, constituindo-se em hiato narrativo que não se explica em momento algum. Muito menos se esclarece, é evidente, como podem as pessoas assumirem o lugar das mercadorias que transportavam antes.
A relação das imagens na parede com os objetos postos no chão à sua frente somente acentua o intento do artista em desentranhar, do exame de um circuito inventado por ele, conhecimento sobre a natureza das trocas que tem por fim a geração e distribuição de riquezas. Dispostas sobre o piso, cada peça de roupa que as pessoas usavam nas fotografias é preenchida, nos lugares que eram dos corpos, pelas mercadorias que, nas primeiras imagens de cada conjunto, se encontravam no interior das sacolas que eles carregavam. Ao estender as narrativas fotografadas para os objetos que lhes serviram de modelo, Matheus Rocha Pitta converte imagem em coisa e faz gente a partir de produtos, exibindo, sem em momento algum querer explicá-la, a ideia de indiferenciação entre diferentes que é central ao estabelecimento de um valor geral de troca entre mercadorias. Faz apontamentos para uma nova economia política.
Formação
2002-2004
– Filosofia, UERJ, Rio de Janeiro, RJ
1998-2000
– História, UFF, Rio de Janeiro, RJ
Exposições individuais
2016
– “Golpe de Graça”, Casa França Brasil, Rio de Janeiro, RJ
2015
– “No Hay Pan”, Gluck 50, Milão, Itália
– “Assalto”, Galeria Athena Contemporanea, Rio de Janeiro, RJ
– “Fountain for the Unknown Protester”, Dalston Street Market, Londres, Inglaterra
– “Primeira Pedra”, Galeria Mendes Wood DM, São Paulo, SP
2014
– “Fé Experimental”, Galeria Progetti, Rio de Janeiro, RJ
2013
– “L’Accordo”, Fondazione Morra Greco, Napoli, Itália
– “Golpe de Graça”, Pivô, São Paulo, SP
– “Nau”, Galeria Progetti, Rio de Janeiro, RJ
2012
– “Giudizio Universale”, Solo Project Artissima, Turim, Itália
– “Conversão”, Galeria Mendes Wood, São Paulo, SP
– “Dois Reais”, Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ
– “Provisional Heritage”, Galeria Sprovieri, Londres, Inglaterra
2010
– “FF#2”, Galeria Progetti, Rio de Janeiro, RJ
– “Galeria de Valores”, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ
– “FF”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Olho de Peixe”, Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, RJ
2009
– “Drive Thru # 2”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Project Room”, ARCO9, Madrid, Espanha
2008
– “Drive Thru # 1”, Sprovieri Progetti, Londres, Inglaterra
2007
– “Jazida”, Galeria Millan, São Paulo, SP
2006
– “(dado)x”, Centro Cultural São Paulo, SP
– “Drive-in”, Novembro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
2004
– “Bolsa Pampulha”, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG
2002
– “Três páginas da topografia facial”, Projeto Castelinho 2002, Castelinho do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ
2001
– “Projeto para uma nova iluminação do Paço Imperial”, Pça XV e Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ
Exposições coletivas
2016
– “What Separate Us”, Brazilian Embassy, Londres, Inglaterra
– “Ao Amor do Público: Doações Recentes”, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
2015
– “Aparições”, Caixa Cultural Rio de Janeiro, RJ
– “Coleções 10”, Galeria Luisa Strina, São Paulo, SP
– “Quarta Feira de Cinzas”, Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
– “A queda do céu”, Paço das Artes, São Paulo, SP
2014
– “El Ranchito”, Matadero, Madri, Espanha
– “The Great Acceleration” – Taipei Biennale, Taiwan
– “To see what is coming”, Largo das Artes, Rio de Janeiro, RJ
– “Estado de Suspensão”, Coletor, São Paulo, SP
– “Alimentario”, MAM-Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “Cães sem Plumas”, MAMAM, Recife, PE
– “Do Valongo à Favela”, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “Um caso transatlântico”, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “Prêmio Arte e Patrimônio”, Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ
– “Medos Modernos”, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP
– “140 caracteres”, MAM-SP, São Paulo, SP
2013
– “Collective Fictions”, Palais de Tokyo, Paris, França
– “Avante Brasil”, KIT Dusseldorf, Alemanha
2012
– “Trienal Poli/Grafica de San Juan”, Puerto Rico
2011
– “Travessias”, Centro de Cultura Bela da Maré, Rio de Janeiro, RJ
– “Caos e Efeito”, Itaú Cultural, São Paulo, SP
– “Rendez Vous 11”, Institut d’Art Contemporain, Lyon, França
– “Um outro lugar”, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, SP
– “Porque Sim”, Galeria Millan, São Paulo, SP
2010
– “Convivências”, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS
– “Primeira e Última”, Galeria Luisa Strina, São Paulo, SP
– 29ª Bienal de São Paulo, São Paulo, SP
– “After Utopia”, Museo Pecci, Milão, Itália
2008
– “Nova Arte Nova”, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ
– “Passagens Secretas”, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP
– “É claro que você sabe do que eu estou falando?”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Seja Marginal Seja Herói”, Galerie GP Vallois, Paris, França
– “Turistas Volver!”, Galeria Carminha Macedo, Belo Horizonte, MG
2008 – 2007
– “Panorama de Arte Brasileira”, MAM-SP, São Paulo, SP, 2007; Alcalá 31, Madrid, Espanha, 2008
2007
– “Ligações Cruzadas, Dragão do Mar, Fortaleza, CE
– “Jogos Visuais”, Centro Cultural da Caixa, Rio de Janeiro, RJ
2006
– “Um século de arte brasileira – Coleção Gilberto Chateaubriand”, Pinacoteca do Estado, São Paulo, SP; MAM-Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “Paradoxos Brasil”, Itaú Cultural, São Paulo, SP; Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ; Centro Cultural Dragão do Mar, Fortaleza, CE
– “Março, Novembro Arte Contemporânea”, Rio de Janeiro, RJ
2005
– “Além da Imagem”, Centro Cultural Telemar, Rio de Janeiro, RJ
2004
– “Posição 2004”, Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
2003
– “Novas Aquisições”, coleção Gilberto Chateaubriand, MAM- Rio, Rio de Janeiro, RJ
2002
– “ArteFoto”, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ
– 2º Salão Nacional de Arte de Goiás, Flamboyant Shopping Center, Goiânia, GO
2001
– “Uma Geração em Trânsito”, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ
Prêmios e Bolsas
2016-2017
– Kunstlerhaus Bethanien, residencia de um ano, abril 2016/abril 2017, Berlim, Alemanha
2015
– The Politics of Food, Delfina Foundation, Londres, Inglaterra
2014
– Bolsa Matadero EL Ranchito, Madri, Espanha
– Studio Arte Ginistrelle, Assisi, Italia
2011
– 1º Lugar na categoria fotografia do I Concurso de Arte Contemporânea do Itamaraty, Brasília – DF
2010
– Prêmio Mostras de Artistas no Exterior, PBAC, Fundação Bienal, São Paulo, SP
– XI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, Rio de Janeiro, RJ
2008
– 47º Salão de Arte de Pernambuco, bolsa de pesquisa concedida ao projeto Drive Thru # 2, Recife, CE
– 1º Illy Sustain Art Prize, Arco 08, Madrid, Espanha
2007
– Prêmio Aquisição 14º Salão da Bahia, MAM Bahia
– Bolsa Iberê Camargo – Blanton Art Museum, Austin, Estados Unidos
2003
– 27º Salão de Arte Nacional de Belo Horizonte, Bolsa Pampulha, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG
1999
– 1º lugar na categoria fotografia do Prêmio Rio Jovem Artista, Rio de Janeiro, RJ
Bibliografia
– HEISER, Jörg. “Focus: Matheus Rocha Pitta”, em Frieze issue 149, Londres, setembro 2012
– V. SMALL, Irene. “Openings: Matheus Rocha Pitta”, em ARTFORUM summer edition, Nova York, 2011
– MARTINS, Sérgio Bruno. “Dois Reais”, em DOIS REAIS, cátalogo da exposição, Rio de Janeiro, 2012
– “Provisional Circuits”, volante da exposição, Sprovieri, Londres, Inglaterra, 2011
– PRADILLA, Ileana. “Uma Geração em Trânsito”, catálogo da exposição, Centro Cultural Banco do Brasil, 2001
– CABAÑAS, Kaira, ‘Matheus Rocha Pitta’, em ARTFORUM, dezembro 2013
– “Epiphany, Exegesis”, em NO HAY PAN, Mousse Publications, Milão, 2016
– MOURA, Rodrigo. “Matheus Pérpetuo”, em Bolsa Pampulha 2003-2004, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, 2004
– LAGNADO, Lisette. “Bolsa Pampulha: o meio e a formação do artista hoje”, em Bolsa Pampulha 2003-2004
– DUARTE, Luisa. “Drive In”, folder da exposição, Novembro Arte Contemporânea, janeiro de 2006
– OSÓRIO, Luiz Camillo. “Retrato alegórico de uma época em trânsito”, em O Globo, 12 de fevereiro de 2006
– MOURA, Rodrigo. “Drive-In”, em Art Nexus # 61, jul/ago 2006
– INTERLENGHI, Luiza. “Fundo Falso # 2”, volante da exposição, Progetti, Rio de Janeiro, 2010
Obras em acervos
– Castelo de Rivoli, Turim, Itália
– Fondazione Nomas, Roma, Itália
– Fondazione Morra Greco, Napoli, Itália
– Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, BA
– Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP
– Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ
– Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ
– Centro Dragão do Mar de Arte Cultura, Fortaleza, CE
– Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro, RJ
– Coleção Itaú Cultural, São Paulo, SP
– Maison Europenne de la Photographie, Paris, França
Vídeo produzido pela Matrioska Filmes, exclusivamente para o PIPA 2011:
Posts relacionados
- "Até onde a vista alcança” explora a paisagem em diferentes momentos históricos
- Cristiano Lenhardt, Denilson Baniwa, Júlio Leite e Matheus Rocha Pitta participam da 2a Bienal do Barro do Brasil
- Pinacoteca adquire obras de Marcius Galan, Regina Parra, Débora Bolsoni e Matheus Rocha Pitta
- Cem artistas reúnem experimentações em gravura, em “Da Tradição à Experimentação”
- Marcius Galan explora origens indígenas em "Mará-obi"
- “Quem não luta tá morto” debate direito à habitação, violência urbana, feminicídio, racismo e questões de gênero
- Assista a outras quatro vídeo-entrevistas com os indicados ao Prêmio PIPA 2018
- Mais páginas de indicados ao Prêmio PIPA 2018 atualizadas no site
- Matheus Rocha Pitta discute mídia e violência em "memória menor"
- Conheça os 78 artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018
Videos relacionados
- Assista a outras quatro vídeo-entrevistas com os indicados ao Prêmio PIPA 2018
- Matheus Rocha Pitta | Artista indicado 2011