Rio de Janeiro, RJ, 1985.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ.
Mario Bands é um Comunicador, Arte-Educador e Grafiteiro. Artista interventor urbano com obras marcadas pelo intenso uso da geometria e precisão no trabalho com luz, sombras e cores, Mario Bands utiliza a técnica do grafitti para deslocar elementos, confundir e trair o olhar do espectador com a inserção de novas formas nos suportes que utiliza. Com olhar aguçado, Bands busca nas ruas espaços e objetos para empreender seu gesto artístico, voltando-se, muitas vezes para locais não inseridos no circuito de arte.
Formado em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Faculdades Integradas Hélio Alonso – FACHA, no Rio de Janeiro. Também foi estudante da Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
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Por Leandro Fazolla
Artista urbano com obras marcadas pelo intenso uso da geometria e precisão no trabalho com luz, sombras e cores, Mario Bands utiliza a técnica do grafitti para deslocar elementos, confundir e trair o olhar do espectador com a inserção de novas formas nos suportes que utiliza. Com olhar aguçado, Bands busca nas ruas espaços e objetos para empreender seu gesto artístico, voltando-se, muitas vezes para locais não inseridos no circuito de arte. Foi assim que os escombros de uma escada no Complexo do Alemão chamaram sua atenção, tornando-se suporte para um site-specific. Fruto de uma demolição inacabada, a escada persistia tão esquecida quanto impávida no local onde outrora havia uma casa. Despida da construção à qual pertencera, erguia-se tal qual obelisco em meio ao nada, com seus degraus rumando ao vazio.
Pelas mãos do artista, a escada ganhou cores fortes e formas que se confundiam em meio a seus traços originais. Alçando nova condição, o que antes era apenas destroço se elevou a um monumento ao descaso de seu entorno. A intervenção de Bands logo foi incorporada à vida local, mais exaltada do que grande parte dos “reais” monumentos urbanos que, “como objetos celebrativos de datas memoráveis […] estão completamente ‘desativados’, emudecidos em meio ao mundo desencantado dos tempos modernos”. Mais que monumento, foi celebrada como ponto turístico, exaltada pelos moradores em inúmeras fotografias que se proliferaram pelas redes sociais. Entretanto, como um visitante que ousasse dar passos às cegas por seus degraus, ao atingir o ápice do reconhecimento, ela mesma se viu em meio ao nada e ruiu. O que era fruto do descaso e do abandono de um lugar, tão logo chamou atenção das autoridades, virou pó ante a ação de maquinaria pesada.
O percurso da obra de Mario serve bem de metáfora: quantos dos habitantes do Complexo, originalmente esquecidos, tão logo se erguem em meio ao descaso, não são demolidos pelas autoridades? Quantos Amarildos cujos nomes não chegamos a conhecer não são reduzidos à memória diariamente? A obra efêmera, que não surgiu objetivando este destino, tornou-se bandeira erguida, monumento ausente a evocar tudo o que representou. A obra se tornou vazio que pulsa, que grita. O descaso de seu título mudou de foco: não é mais apenas descaso ao lugar, é descaso à arte, à população, ao ser humano…
Concebido antes da destruição, o projeto (com fotografias e a recriação de elementos constituintes do site-specific no Complexo do Alemão) que Mario Bands leva às paredes da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, ironicamente, vem prestar justa homenagem ao monumento que não teve tempo de almejar a perenidade de seus congêneres. O Monumento ao Descaso agora sobrevive na ausência, in memorian. Porém, paradoxalmente, ao jazer, ergue-se soberano.
(1) ARANTES, Otília Beatriz Fiori. O lugar da arquitetura depois dos tempos modernos. 2ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.