(ultima atualização em junho/2017)
Belém, PA, 1969.
Vive e trabalha em Belém, PA.
Representado pela Rosa Barbosa Escritório de Arte e Kamara Kó Galeria.
Indicado ao Prêmio PIPA 2017.
Guy Veloso é formado em Direito e fotografa desde 1989 com diversas publicações e mostras nacionais e internacionais. Participou da 29a Bienal Internacional de São Paulo, em 2010, a convite dos curadores Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos. Foi curador-chefe de Fotografia Contemporânea Brasileira na XXIII Bienal Europalia Arts Festival, em Bruxelas, na Bélgica, 2011/12. Artista convidado para a Biennial of the Americas de 2017, no Museo de las Americas em Denver, Colorado, nos Estados Unidos. O assunto religião é o mais recorrente em seu trabalho, especialmente o uso do corpo como transcendência.
Site: www.guyveloso.com
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes, exclusivamente para o Prêmio PIPA 2017:
Fé e cultura popular estão presentes intimamente em seu trabalho como em em sua vida. Usa apenas lentes 35mm para, como diz, “ter que chegar ainda mais perto das pessoas”, o que em muitos casos torna-se um verdadeiro “corpo-a-corpo” durante grandes procissões e romarias.
Os projetos de cunho antropológico demoram anos para serem apresentados ao público pela extensa pesquisa. É um fotógrafo que se envolve nos temas pesquisados (em uma Ordem de Penitentes foi iniciado após anos de íntima documentação do grupo).
Neste seu principal projeto em curso, Penitentes: dos Ritos de Sangue à Fascinação do Fim do Mundo, iniciado em 2012, curado por Rosely Nakagawa, com a expectativa de durar 13 anos, foram já fotografados (até 2015) o total de 161 grupos religiosos laicos de caráter secreto (também conhecidos como “Encomendadores” ou “Alimentadores das Almas”), boa parte deles nunca antes documentados, tendo sido o primeiro pesquisador a provar (e publicar em 2010) a existência de tais singulares manifestações nas 5 Regiões do país.
Em 2005 fez parte do livro Fotografia no Brasil, Um olhar das Origens ao Contemporâneo, de Angela Magalhães e Nadja Peregrino. Em 2011 participou da mostra Geracao 00 – A Nova Fotografia Brasileira (livro publicado). Em 2012 é catalogado no livro que retrata os 150 anos da Fotografia no país, Um Olhar Sobre o Brasil: A Fotografia na Construção da Imagem da Nação, de Boris Kossoy e Lilia Schwarcz.Em 2014 faz parte da obra “Outras fotografias na arte brasileira séc. XXI”, livro organizado por Isabel Diegues, em colaboração com Júlia Rebouças, Luisa Duarte e Moacir dos Anjos.
Em 2014 foi artista homenageado pelo 33º Salão Arte Pará (curadoria Paulo Herkenhoff e Armando Queiros) ganhando mostra na Casa das 11 janelas (dividindo galeria com Pierre Verger) na exposição “Entre Dois Mundos: Pierre Fatumbi Verger e Guy Veloso. Em 2015 integra o livro Outras Fotografias na Arte Brasileira do Séc. XXI, de Moacir dos Anjos, Luisa Duarte, Isabel Guedes e Julia Rebouças, Ed. Cobogó.
Possui um dos mais completos bancos de fotografias e vídeos no assunto “religiosidade brasileira” no país.
“Guy Veloso: um fotógrafo peregrino entre roteiros da Fé”, por Heldilene Guerreiro Reale, 2015 – Para download (792 KB): Guy Veloso: um fotógrafo peregrino entre roteiros da Fé
Catálogo da 29ª Bienal de São Paulo
A fotografia de Guy Veloso nasce de sua discrição em infiltrar-se e cultivar intimidades. Usa equipamento simples, sem recursos de aproximação ou otimização daquilo que seu olho nu pode capturar; reserva às possibilidades do corpo, seus convívios, apegos, erros e divagações, a maior condicionante daquilo que almeja fixar sob a forma de imagem. Em retribuição, o artista conquista naturalidade e espontaneidade dos fotografados, e cria um mapa de cenas que alternam crueza documental, ambiguidade e fantasia. (…) Em Penitentes, o artista apresenta uma seleção de fotografias de rituais de autoflagelação de católicos ortodoxos que acompanhou durante anos em cidades do interior. As imagens combinam momentos de sacrifício e dor dos fiéis com momentos lúdicos e de louvação. Assim como na prática do fotógrafo, elas devassam e desmistificam este ideário ocultado e devolvem ao público da Bienal a reflexão e a responsabilidade sobre qualquer espécie de estigma
Clique aqui para ler na íntegra.
Paulo Herkenhoff, 2012
A fotografia de Guy Veloso desdobra-se em ângulos de captura da cena de exercício da fé. O conjunto transita entre a interioridade do ser, o êxtase e o corpo em estado de sublimação. Se é possível rezar sem entender as palavras (Derrida), em Veloso o espectador, não importa sua religião, comunga dos momentos de encontro com o sagrado. Contra as primazias e fundamentalismos religiosos, o artista aponta para a etimologia da palavra religião e a ideia de “religar” os homens acima de seus conflitos.
Clique aqui para ler na íntegra.
Gestos Numinosos
Paulo Miyada
Talvez seja possível dizer que a produção imagética de alguns artistas filia-se de forma mais aguçada a polos diferentes do campo pictórico, afirmando-se através da cor, da luz ou da linha, para nomear algumas possibilidades. Nesse caso, será legítimo dizer que a obra de Guy Veloso prima pelo trabalho com a luz. Com cores saturadas e vibrantes, como muito do que há de mais célebre na produção de artistas de Belém, suas fotografias resistem a entregar-se ao gozo pleno dos jogos cromáticos, fazendo com que sua paleta de cores acobreadas se revele através de uma densa sombra. Tal negrume, que empresta uma aura noturna mesmo para imagens captadas sob o sol inclemente do meio-dia, encobriria por inteiro seus cromos, não fosse pelo jogo de fontes de luz e pelos anteparos que a refletem e matizam sua coloração. É significativo, portanto, que esses anteparos sejam, no mais das vezes, corpos engajados em ritos de crença que são, eles mesmos, atos de busca por alguma espécie de iluminação.
Envolvido durante anos com uma peregrinação em busca de movimentos religiosos, cultos e celebrações pagãs de diversas naturezas, o artista ultrapassou a linha de conforto que separa o fotógrafo curioso por uma manifestação cultural. Guy Veloso tornou-se cúmplice de gestos de crença muitas vezes contraditórios entre si, e compartilha seus cultos com notável assiduidade, mesmo daqueles que provocam reações contraditórias nos cidadãos comuns, como os dos penitentes das cidades de Barbalha, Tomar do Jeru e Juazeiro no interior do Ceará, Sergipe e Bahia. Nesses lugares, permite que suas fotografias explorem gestos e feições limítrofes, muito próximas do esgotamento físico, da dor, do delírio e da paixão – em toda a polissemia que a palavra carrega. Tal efeito de cumplicidade não se deve apenas a frequência das visitas de Guy Veloso a tais ritos, isso se torna possível pela própria natureza dos gestos do fotógrafo em relação aos movimentos que o cercam.
Mesmo em contextos menos chocantes, nem por isso menos intensos, como o Círio de Nazaré (Belém-PA), fotografa desde muito perto a multidão que cerca a corda que antecipa a passagem da imagem sagrada em transladação. Roça, tromba, apoia e mistura-se aos corpos pressionados, procurando pontos de vista aproximados para a lente 35 mm de sua câmera. Assim, não é à toa que em sua ampla coleção de fotos seja possível encontrar imagens em que eventos tão distintos como o Círio, o Candomblé, o carnaval e, mesmo, o balé de repente passam a compartilhar gestos afins entre si. São os gestos de crença e os gestos do artista que se encontram numa mesma qualidade de movimento luminoso, ou, como poderia querer o artista, numa mesma qualidade de gesto numinoso.
Rafael Campos Rocha, Revista DAS ARTES, Ed. Outubro de 2010
Seu apuro formal, as cores febris e o enquadramento dramático realçam a expressão, mais do que a informação, mas nem por isso convenceu a todos os críticos. Podemos inferir que tal rejeição se deva ao fato de Guy Veloso aparentemente aderir à religiosidade que retrata, em vez de analisá-la com olhar crítico. O transe fotográfico de Veloso concilia-se com o transe religioso, levantando uma questão que não é apenas teológica. A arte deve nos convidar a um estado de enlevo, como o frenesi do fiéis, ou a um olhar reflexivo, de uma distância estratégica? Ou, talvez, ambos, simultaneamente?
Eder Chiodetto
É como se não estivéssemos mais vendo fotografias ‘sobre’ algo mas a coisa em si. Por vezes é necessário experimentar, expandir a linguagem, romper com os manuais, para que o realismo irrompa com maior contundência.
– Catálogo da mostra “Penitentes” na 29ª Bienal de SP/2010
– Texto catálogo mostra Pororoca, MAR-Museu de Arte do Rio, 2014
– Entrevista O Globo, “Conte algo que não sei”, 2016
– Catálogo exposição Êxtase (Programa Educativo), 2014
– Matéria “Dez Anos de Penitências” – Photochannel (matéria Penitentes, 2012)
– Matéria Coleção Pirelli MASP, Folha de SP, 2010
– Matéria exposição Êxtase, 2012 (“Veloso desconstrói distâncias entre religiões”)
– “Imaginário febril: um recorte na obra de Guy Veloso”,de Helena da Silva Souza, 2016