Rio de Janeiro, RJ, 1989.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ.
Graduada em Desenho Industrial pela PUC-Rio (2013). Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage onde atuou também como monitora no curso Teoria e Portfólio com Marcelo Campos e Efrain Almeida em 2014.Em fevereiro de 2014, foi selecionada para o 89plus, organizado por Hans Ulrich e Simon Castets, no MAM-Rio.
Seleciona e utiliza apenas materiais originais de livros, revistas e catálogos sem manipulação digital para abordar temáticas do cotidiano através da colagem. Reconstrói, sem a pretensão de reinventar, o universo a partir dos resíduos gráficos dele mesmo. Suas referências são majoritariamente literárias.
“Apresentando Ingrid Bittar: do belo ao inquietante”
Por Guilherme Gutman
O que pode ter feito com que Madeleine Dunnigan tenha escrito, para a revista inglesa Ladybeard, que as colagens de Ingrid Bittar seriam “ao mesmo tempo, divertidas e sinistras”?
Esta pergunta pode encontrar a sua resposta em um despretensioso exercício imaginativo. A cena seria a seguinte: na sala de uma casa burguesa, durante um almoço de domingo, o casal anfitrião apresenta com algum orgulho aos convidados, a sua nova “aquisição” em “arte contemporânea”. O casal convidado, com alguma simpatia e benevolência, olha para o trabalho na parede com aquela tolerância meio gasta e característica dos amigos; intuem que há ali algum valor artístico, mas suspirantes e suspicazes, entendem que o valor real daquilo estaria principalmente na fruição idiossincrática dos conhecidos anfitriões.
Naquilo que vêem, há beleza, é verdade; acham o trabalho “alegre” e “decorativo” (“divertido”, diria Dunnigan), e quase invejam a sorte do casal. Chegam mesmo a pensar no pequeno ou grande esforço que fariam para, também, adquirirem “uma obra” e, desse modo, sentirem-se parte de um grupo de iniciados em uma arte “menos fácil” e mais “séria”. Contudo, a primeira coisa que sai de suas bocas ao elogiarem o trabalho é: “Que lindo!”.
Ora, embora saibam pouco ou nada de arte contemporânea, não ignoram que, neste campo, a “lindeza” não será a característica que garantirá a chancela da cena artística à qualidade de um trabalho, por exemplo, aos olhos de um crítico experiente. Seria o mesmo que dizer que um dado trabalho é “fácil” ou decorativo, recebendo com isso, o olhar torcido dos iniciados ou experts.
“Lindo” e “difícil”? “Divertido” e “sinistro”? Não parecem qualidades facilmente harmonizáveis…
É possível que uma das linhas fortes do trabalho de Ingrid seja traçada como borda entre impressões e sentimentos contraditórios; no limite, entre o belo e o transgressivo. Melhor: não na borda entre uma e outra qualidade, posto que não há aí, necessariamente, uma oposição, mas mais precisamente, no enlaçamento entre uma e outra.
Quando a transgressão transborda beleza? Ou pela via do belo, recebemos notícias daquilo que não chega fácil, tanto porque o articulamos com dificuldade, como porque obtemos daí algo que, de modo inconsciente, sempre se quis obliterado? O que nós neuróticos guardamos “a sete chaves”, eventualmente a criação revela.
Voltando ao nosso exercício imaginativo, seria preciso que um dos anfitriões pedisse aos seus convidados que se aproximassem um pouco mais do trabalho e, com tempo e com atenção, apareceriam elementos que, à distância pareceram como que amalgamados, constrangidos e opacificados pela marca do Belo.
Neste ponto, caso já se tenha almoçado, o resultado terá sido uma indigestão; caso contrário, perde-se-á a fome. A leveza, antes correspondente à beleza da obra, dará lugar ao peso e ao mal estar.
Há nas colagens, nos bordados e nos mapeamentos de Ingrid a presença de figuras, fragmentos e sugestões que, bem vistos, levam a uma suave náusea. É isto: há em seus trabalhos beleza e suavidade, tanto quanto estranheza e desconforto. Em Ingrid, o convite ao passeio é dado pela via do belo, mas quando se entra na obra, a paisagem, ora idílica, se torna soturna e inquietante.
Com um conjunto já expressivo – em força e em número de obras – Ingrid vem se colocando de modo consistente na cena das artes visuais brasileiras, fazendo parte de coleções importantes, como a de Gilberto Chateaubriand, e de exposições em instituições relevantes, com “Ver e ser Visto”, em 2015, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio).
Sem espaço para acomodação, o seu trabalho, além das colagens, anda trilhando novos rumos com os seus bordados e os seus mapeamentos.
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Guilherme Gutman é médico psiquiatra e psicanalista, professor da PUC-Rio e da EAV – Parque Lage, curador independente e critico de arte.
Formação
2009 – 2013
– Bacharelado em Desenho Industrial, PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ
Exposições Individuais
2018
– “Sob o mesmo teto: war in a garden scale”, curadoria de Guilherme Gutman, Galeria Carambola, Rio de Janeiro, RJ
2016
– “Do Belo ao Inquietante”, SESC Niterói, RJ
– “Tripa”, Caixa Preta, Rio de Janeiro, RJ
2015
– “Expo Bordados”, QGuai, Rio de Janeiro, RJ
2013
– “Trajetória em séries”, Casalegre Art Vila, Rio de Janeiro, RJ
Exposições Coletivas
2016
– “Amours, corps et ámes”, Galerie Le Magasin de Jouets, Arles, França
2015
– “Ver e ser Visto”, MAM-Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “Collage#1 Imprint”, Ingrid Bittar e David Woodward, SomoS, Berlim, Alemanha
– “Transpoéticas”, SESC Ramos, Rio de Janeiro, RJ
2014
– “Group 17 AIR Berlin”, Kunstraum Tapir, Berlim, Alemanha
– “Novas Aquisições 2012 – 2014”, MAM-Rio, Rio de Janeiro, RJ
– “O que nos faz”, Ateliê Co.dorna, Rio de Janeiro, RJ
– “Entre#2”, Galeria Portas Vilaseca, Rio de Janeiro, RJ
– “Sarau Eletrônico”, Comuna, Rio de Janeiro, RJ
– “Ausência”, SESC Quitandinha, Petrópolis, RJ
– “Alguns Desenhos, Hotel e Spa da Loucura”, Inst. Nise da Silveira, Rio de Janeiro, RJ
– “#SeeMeTakeover”, Times Square, Nova York, EUA
– Projecto Múltiplo, Redbull Station, São Paulo, SP
2013
– “Caminho Velho Caminho”, Contemporâneo Hostel, Rio de Janeiro, RJ
– R.Tarpeia – Pavão, ESDI / UERJ, Rio de Janeiro, RJ
Coleções
– Coleção Gilberto Chateaubriand e acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Residências e cursos
2015
– Residência artística na SomoS, Berlim, Alemanha
2014
– Teoria e portfólio com Marcelo Campos e Efrain Almeida, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
2013
– Arte Agora com Marcelo Campos, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
Programas
2014
– Artista selecionada para o 89plus organizado por Hans Ulrich Obrist e Simon Castets, sediado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro com presença de Klaus Biesenbach, Marta Mestre e Luiz Camillo Osorio.
Publicações e mídia
2015
– Ladybeard “Spotlight: Ingrid Bittar” (Londres 09/2015)
2014
– Harper’s Bazaar Art “No animado cordão da Arte Carioca” (lançada na SP Art 04/2014)
– Harper’s Bazaar Brasil website “As colagens manuais de Ingrid Bittar” (04/2014)
– Rio Etc “Muito prazer, Britta” (Rio de Janeiro 04/2014)
2013
– The Mark Mag “Chill out session” (10/2013)