É graduanda em Artes Visuais pela EBA/UFMG. Sua trajetória artística transita entre diferentes espaços e suportes, tendo como foco principal a pintura. Investiga as características expressivas da figura humana, explora as proximidades do ato do retrato como possibilidade de acesso às questões de identidade e de raça, mesclando sua própria história às subjetividades e memórias, individuais e coletivas, da pessoa retratada. Sua prática utiliza elementos composicionais como objetos, acessórios, cores, estampas e as interações que inscrevem o corpo no espaço. Suas pinturas discutem a relação entre o jovem belorizontino/brasileiro e seu cotidiano, suas relações, escolhas, conflitos, afetos, amizades, sonhos e, principalmente, sua interação com o circuito cultural dos lugares que vive. Realizou as mostras individuais como: “Estar Íntimo” (Galeria de Arte e pesquisa GAL 2023 – Belo Horizonte, BH), “Dialética – Corpo, História e Som” (2a mostra 2022 CCSP – São Paulo, SP), “Julianismo” (2022, Galeria do Centro Cultural Sesiminas – Belo Horizonte, MG), Instalação “Corpo História” (2022, Virada Cultural BH – MG), “Entre – Lugares Julianismo” (2022, Arte no centro – Ocupação Artística Teatro Espanca – BH, MG). Participou das exposições coletivas “Dengos do Cotidiano” (2022, BH, MG), “Pertencer e Mudar” (2022, Museu da República – Rio de Janeiro, RJ), 2º Festival da Casa Camelo de Arte Contemporânea (2021 – BH, MG), “NOIZ” (2020, Espaço Cultural OCA Livre – BH, MG), entre outras. Foi selecionada para a residência Lab BDMG Cultural (2021 – BH, MG). Suas obras já foram vendidas na feira ArtRio em 2021.
“Julianismo em Corpo História: os trabalhos dos afetos no mutirão da vida”, por Carolina Ruoso
Julianismo é uma afirmação da singularidade, um ato contraprimitivista. É uma prática desviante do cânone: intacta retina. Um jeito de descobrir a si mesma entre as questões culturais vivenciadas no coletivo. Saber-se jovem, saber-se mulher, saber-se amante, saber-se estudante de artes visuais na universidade, saber-se entre mundos: entre referências culturais das mais diversas. Como argumenta Caetano Veloso: e éramos olharmo-nos, essa frase traduz a pesquisa da artista Juliana de Oliveira em Corpo História, onde a matéria viva é tão fina. Juliana, que nasceu em vida comunitária onde os saberes eram compartilhados, ofertados entre todos: os saberes da culinária, a elaboração de receitas que carregam a força das ancestralidades, os sons dos lamentos sertanejos do Nordeste, o tocar dos tambores, os aprendizados da percussão responsáveis pela dança das memórias trazidas de longe. Juliana herdou a sabedoria dos mutirões e dos aquilombamentos, sempre agregando perto de si os amigos e amigas, os familiares e as pessoas que são para ela uma referência. Assim, a sua pesquisa Corpo História foi composta nessa perspectiva onde a artista oferta afetuosamente seu talento para montar retratos que apresentam as poéticas dos laços construídos por ela na vida cotidiana. Os retratos pintados são compostos de presentes, um amigo, uma amiga, um familiar a presenteia com uma fotografia, ela tece os sentidos da amizade, identifica símbolos dessa história e monta um retrato de si com o outro, um retrato em que ela diz: éramos olharmo-nos. É sobre quem olha e quem vê, sobre encontros. A participação de Juliana no mutirão da vida está na prática de pintar os retratos dos seus amores: dar nome, rosto, corpo e história aos que nunca tiveram direito à exposição, seus antepassados, seus amigos e os antepassados dos seus amigos. Juliana retrata corpos com histórias dignas atravessadas de afetos. Sua pintura é um ato político, um gesto de resistência e uma afirmação da importância das memórias coletivas daqueles que fizeram e fazem dela uma artista. Julianismo é um argumento que sustenta em intacta retina que ela veio de longe, de povos com muitas histórias e que estão sempre junto dela. Existimos: a que será que se destina? E Juliana os abraça poeticamente, dizendo aos seus: é nóis!
“Figurar o Brasil através de quem faz; ou desfigurar aquilo que é figurado sobre nós.”, por Pedro Neves
“Comecei a pintar desenhando o mundo modesto que me cercava: meus animais, minha varanda, o interior da casa, retratos de vizinhos. O estudo de observação amorosa das coisas que estimava.”, assim falou Djanira em entrevista ao correio da manhã em 1967. Djanira é sem dúvida uma das mais importantes artistas que se conhece na história da arte brasileira, estando entre povoados indígenas ou exposições em Nova York, nunca abandonou a essência e a paixão pelo seu povo. Seu trabalho, muito característico em retratar as pessoas de seu convívio, autorretratos, cenas cotidianas ou festas populares, resgata o mais íntimo do que é “arte”, nada mais do que a vida, nua e crua. Assim como Djanira, Juliana de Oliveira busca no seu povo as leituras do Brasil na sua essência e não abandona suas raízes populares como mulher e como artista. Juliana representa através de retratos de amigos, conhecidos e autorretratos uma parcela de jovens que atravessam gerações, que não se sentem parte do cânone social em que foram criados por seus pais, onde a busca pela identidade se torna constante. Aqui, identidade é análoga à liberdade, em um continente onde nossas identidades foram jogadas à calunga no cruzamento do atlântico para que nossa liberdade fosse comprada a dez mil réis. Pouco mais de cem anos, estamos aqui fazendo o trajeto reverso para entender quem somos. Com pinceladas rápidas que deixam rastro ou quase que “pixeladas”, como quem tenta montar um quebra-cabeça, Juliana evoca o que tem por trás da figura de cada persona representada. Assim, um retrato de Ian em acrílica sobre tela é um estudo das cargas que Ian traz sendo um homem negro e gay na América Latina, cargas boas e ruins. Juliana brinca e explora a dualidade da vida, em um período da arte em que o discurso é vendido com tanto sofrimento, Juliana demostra com muita leveza o orgulho de ser quem escolhemos, ser sem ignorar as violências diárias. A preocupação dos modernistas da busca pela identidade nacional está ainda hoje muito presente em nossos artistas, de maneiras mais aprofundadas, em questões que vão além da identidade cultural, é uma busca por identidade espiritual, estética, familiar, ancestral, política e geográfica, é uma preocupação em entender a vida e, através de sua arte Juliana traz respostas simples e diretas, somos um país que nasce da mistura de dor e prazer, alegria e tristeza. Juliana revive grandes nomes como Djanira e Di Cavalcanti, buscando no retrato de nosso povo uma maneira digna e sincera de nos mostrarmos.
“Exposição Dengos do Cotidiano”, 2022. Duração: 5’46”
“Ateliê que é quarto, Casa | Processo com Pedro Neves e Julianismo (legendado)”, 2020. Duração: 10’50”