Goiânia, GO, 1995.
Vive e trabalha em Goiânia, GO.
Minhas pesquisas artísticas são autobiogeográficas e se manifestam por intersecções entre o social, o ancestral e o espiritual. Construir imagens, ativar memórias possíveis, demarcar no inconsciente coletivo territórios originários, esfarelar fronteiras e queimar ervas para curar as feridas coloniais. As dimensões do feminismo negro ancestral para ativar o decolonial e contra-colonial são atravessadas para assentar um possível lugar afro-diaspórico-indígena. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFG, durante minha tese de conclusão do curso crio o conceito AXÉTETURA onde faço o deslocamento das imposições epistêmicas eurocêntricas-modernas-capitalistas buscando minhas referências de espaço, território, lugar, cultura, conhecimentos e formas de saberes a partir da cosmovisão afrocentrada e da Encantaria Indígena.
Colocando os pés no chão, minha caminhada enquanto artista contemporânea é muito recente. Ser contemporânea, para mim, só faz sentido se isso significar ser contra-colonial. Se todo cubo branco tem um quê de Casa Grande, quando crio imagens preciso demarcar a necessidade de mudança no olhar colonial. Reconheço e agradeço aos mais velhos que abriram estas fendas nas instituições de poder, para os mais novos chegarem.
Eu sou a manifestação de uma linhagem que se encontra em travessias entre Brasil e Gabão. Meu trabalho se materializa através da insistência em me descolonizar e me reencontrar, a mim e aos meus, ser e estar em estado de graça, beleza e união. Não quero mais resistir nem sobreviver. Quero no empuxo das águas transbordar. O movimento do mar é uma dança de travessia. Minhas palhetas de cores são movimentos ancorados. Quando evoco as ervas, plantas de poder, recebo e entrego. Na guerra de narrativas, minhas palavras são confundidas com o passado. Mas meu tempo é espiral, e ancora naquilo que é Axé. Dentro desse território peço licença aos donos da casa e evoco corpas de axé e encantadas à entrarem na roda. Corpas-território, herança e legado. Cada momento é hora de recriar nosso direito à vida, à comungar com os seres humanos e não-humanos. Palavra é feitiço, o tempo perdido em conceitos euro-judaico-cristão-patriarcais corroboram com o (cis)tema de adoecimento coletivo e da Terra. Voltar-se à terra, oferendar à ela e a si o direito de boas sementes, bons frutos, água fresca. Parar os comedores da terra. Com essas intenções crio imagens, para ativar no campo astral e inconsciente a tecedura de possibilidades sussurradas nas matas. Entre o visível e o invisível, não dá mais para deixar subentendido: As fronteiras imaginadas pelos colonizadores precisam queimar, o que foi construído a partir do que foi roubado precisa ruir. As dívidas precisam ser pagas. Me alio às árvores que andam , aos rios subterrâneos e voadores do cerrado. Na roda afro-diaspórica-pindôramica-Abya Yala, é preciso firmeza e cultivar o ato político revolucionário do amor.
¹ cito bell hooks, Davi Kopenawa Yanomi, Denise Ferreira da Silva, Igor Moraes Simões, Mirna Kambeba Omágua Anaquiri, Uýra Sodoma e Nêgo Bispo.
Trajetória:
Mestranda em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação da FAU/UFBA (2021). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFG (2019). Bolsista do CNPQ no Coletivo Rosa Parks (2017). Artista do NUPPA – Núcleo de pesquisa de práticas Autobiográfica (2018). Exposição “Enciclopédia Negra”, Pinacoteca, São Paulo (SP) 2021; Prêmio EDP nas Artes do Instituto Tomie Ohtakie, São Paulo (SP) 2020; Exposição “Construção”, Mendes Wood DM, São Paulo (SP) 2020; Exposição “Das águas se faz tempestade” TROVOA, Galeria da Fav, Goiânia (GO) 2019; Exposição “24° Salão Anapolino de Artes” Antônio Sibasolly , Anápolis (GO) 2019; Exposição “15° Abre Alas” A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (RJ) 2019; Exposição “Um Corpo no Ar pronto pra fazer barulho” Museu de Arte Contemporânea de Goiás, Goiânia (GO) 2018/2019. Exposição “AEAN Arquivo Negro”, Recife (PE) 2018. Exposição Artistas Negras La Herida, Goiânia (GO) 2017.
“#Na Varanda com Renata Felinto : Laços transatlânticos capturados na Terra como Morada“, 2020. Duração: 16’53”
“Entrevista com Hariel Revignet | Artes“, 2019. Duração: 12’13”
“Pílula EDP nas Artes – Instituto Tomie Ohtakie“, 2020. Duração: 2’10”