Em sua série Vogue, em que Almeida se apropria da identidade visual e da estética dessa famosa revista de moda para vincular corpos negros, vemos a convergência dessas diversas linhas de trabalho, levando-nos a questionar sobre os modos como esses sujeitos são representados e postos em circulação na cultura visual brasileira.
Elian Almeida vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. Sua primeira individual Antes – agora – o que há de vir, ocorreu na Nara Roesler (2021), no Rio de Janeiro, Brasil. Seus trabalhos estiveram presentes em diversas coletivas, entre elas: Atos de revolta, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) (2022), no Rio de Janeiro, Brasil. Crônicas cariocas, no Museu de Arte do Rio (MAR) (2021), no Rio de Janeiro, Brasil; Enciclopédia negra, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2021), em São Paulo, Brasil; e no Museu de Arte do Rio (MAR) (2022), no Rio de Janeiro, Brasil; Amanhã há de ser outro dia / Demains sera um autre jour, no Studio Iván Argote e no Espacio Temporal (2020), em Paris, França; Esqueleto – 70 anos de UERJ, no Paço Imperial (2019), no Rio de Janeiro, Brasil; Arte naïf – Nenhum museu a menos, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage) (2019), no Rio de Janeiro, Brasil; Mostra memórias da resistência, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (CMAHO) (2018), no Rio de Janeiro, Brasil; Bela verão e Transnômade Opavivará, no Galpão Bela Maré (2018), no Rio de Janeiro, Brasil; Novas poéticas – Diálogos expandidos em arte contemporânea, no Museu do Futuro (2016), em Curitiba, Brasil; entre outras. Seu trabalho integra a coleção do Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil.
Eu nasci duas vezes. Essa sentença que agora é parte da minha biografia e me desloca a pensar como poeticamente nos colocou Conceição Evaristo:
antes – agora – o que há de vir
Antes
Eu nasci duas vezes porque as coordenadas do meu local de nascimento são as mesmas coordenadas do Caís do Valongo. Então, eu nasci quando os meus ancestrais chegaram no Rio de Janeiro, em um dos principais pontos de chegada e comercialização de negros a serem escravizados no Brasil durante o século XIX e nasci novamente em 1994.
Com isso, a dimensão geográfica e temporal se entrelaçam.
Eu costumo dizer que a minha pesquisa é um processo de arqueologia de uma memória histórica, o trabalho parte da falta, da ausência, da memória e do apagamento histórico.
O direito a memória ou a falta dela, é também um problema racial e político.
Os processos de pesquisa são partes de uma tentativa de reconstituição de uma memória que é individual e coletiva.
É muito comum para as pessoas negras no Brasil não conseguirem identificar nem se quer a sua árvore genealógica, os percursos dos seus antepassados e seus registros, sendo eles os arquivos ou imagens.
Essa condição similar a quase todas as pessoas negras no Brasil, é parte da complexidade histórica do que foi o empreendimento colonial no Brasil.
Um dos artifícios da colonização, foi não somente a brutalidade do sequestro de africanos e a desumanização através da violência física e psicológica, mas também, a tentativa do apagamento da memória e da identidade, através do cerceamento cultural, social e político.
Agora
Mãe Stella de Óxossi nos sentenciou:
O que não se registra o tempo leva.
As mazelas históricas sofridas pelos meus ancestrais transcendem o espaço e o tempo. O direito ao registro foi e continua sendo um objeto político e secular de disputa sobre a construção histórica e a cultura visual.
Isso parte diretamente do meu interesse sobre o direto a auto-representação, a cultura visual na contemporaneidade e a apagamento histórico como forma de violência pós-colonial. Tenho me debruçado em pesquisar biografias de personagens históricos negros, anônimos ou notórios que contribuíram de maneira direita ou indireta, mas que são fundamental para a conformação de uma identidade nacional.
O que há de vir
Em suma, o processo de pesquisa perpassa as mais diversas linguagens artísticas, sendo a produção pictórica, parte essencial da minha produção.
A bibliografia pictórica é parte fundamental do meu processo e pesquisa, ou seja, tudo aquilo que antecede o ato de pintar. A busca aos arquivos, os estudos sobre a linguagem cinematográfica, o cinema documentário, a imagem de arquivo, os registros históricos, a iconografia, os livros e sobretudo, a oralidade como suporte fundamental da busca pela história afro-brasileira.