Edgar Kanaykõ Xakriabá é da Terra Indígena Xakriabá, compreendida entre os municípios de São João das Missões e Itacarambi, no estado de Minas Gerais. É fotógrafo do povo indígena Xakriabá, que pertence ao segundo maior tronco linguístico indígena do país o Macro-Jê da família Jê, subdivisão Akwẽ. Kanaykõ possui graduação na Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei/UFMG) e mestrado em Antropologia Social (Visual) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua dissertação, “Etnovisão: o olhar indígena que atravessa a lente” (2019), é uma discussão acerca da utilização da fotografia pelos povos indígenas como instrumento de luta e resistência e o conceito de imagem, e é a primeira realizada por um pesquisador indígena em um programa de pós-graduação da UFMG. Sua composição se baseia em registros fotográficos de sua comunidade Xakriabá, de outros povos, assim como de manifestações do movimento indígena no país.
Além das atividades de fotógrafo e pesquisador, Kanaykõ já ministrou oficinas de audiovisual na Casa de Cultura Xakriabá para jovens, iniciativa da Associação Indígena Xakriabá da Aldeia Barreiro Preto, a qual está ligado. Entre 2013 e 2015, co-organiza o Encontro Nacional de Estudantes Indígenas, evento que reúne lideranças, estudantes indígenas e não-indígenas de graduação, pósgraduação e pesquisadores para uma reflexão e mobilização coletiva, trabalhando questões relacionadas à interculturalidade e à descolonização do modelos de ensino atuais no Brasil. Edgar Kanaykõ Xakriabá possui prêmios, trabalhos e exposições publicadas em sites, jornais, livros, revistas e em artigos acadêmicos, dentro e fora do país, aonde pode se destacar: 2018, prêmio na categoria Foto Jornalística/Documental Brasília Photo Show; Fotografia selecionada pela National Geographic/Brasil, 2018; em 2019, participa da mostra coletiva Mundos Indígenas, no espaço do conhecimento da UFMG; Exposição Urgência e Resistência pelo Festival internacional du Documentaire Èrmegente (FIDÉ) Paris/França (2019); em 2020, vence Prêmio de Fotografia Ciência & Arte de iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a obra fotográfica Iny: o brilho dos encantos; exposição coletiva Véxoa: Nós sabemos (Pinacoteca de São Paulo, 2020, curadoria de Naine Terena); “Tropical Forest: Ancestray and Dystopia” at the Fundación Pablo Atchugarry / Miami, com curadoria de Eder Chiodetto; exposição do Masp “Histórias brasileiras”, núcleo “Retomadas”, 2022; Selecionado pelo Pulitzer Center on Crisis Reporting | Indigenous Photograph / Coal+Ice exhibit in Washington, D.C. 2022; “Kâ | somos rios” doc/curta Selecionado para o San José Foto 2023 “Internacional Photography Festival”, na categoria multimídia, Uruguay. Além disso, está em curso o seu primeiro fotolivro intitulado “Hêmba”, que será lançado em 2023 pela Fotô editorial e abordará os múltiplos significados da imagem, principalmente pela perspectiva dos conhecimentos dos povos indígenas.
Kanaykõ vê a produção de imagem fotográfica como um meio de registro dos aspectos da cultura e da vida de um povo. Para ele, a fotografia e o audiovisual são também uma ferramenta de luta para os povos indígenas, ao possibilitar que o “outro” (não indígena) veja com outro olhar aquilo que eles (indígenas) são. Na língua akwẽ, a palavra hêmba significa espírito ou alma, mas também pode significar imagem, fotografia. Segundo Kanaykõ, a fotografia é inicialmente mal vista entre as comunidades indígenas, que passam a apropriar-se dela como uma forma de “revelar o que os olhos não podem ver”. A antropologia reversa proposta pelo artista, realizando a etnofotografia de uma perspectiva indígena, procura estabelecer uma relação com a linguagem que também incorpora o mundo espiritual, atentando-se aos perigos de envolver o sagrado e os elementos secretos que devem ser resguardados segundo preceitos culturais. O artista conta que, durante um ritual ou festas, para muitos povos indígenas por exemplo, quem decide sobre o que pode ou não ser registrado não é quem está com uma câmera nas mãos, mas sim as entidades ou os espíritos, mediados pelos pajés, que também negociam com a comunidade. A preocupação e o compromisso com sua comunidade e suas tradições perpassam a produção do artista, sempre atenta ao que é permitido e não permitido, da captura ao uso da imagem, bem como às formas de leitura que seu trabalho encontra junto ao seu povo.