(ultima atualização em agosto/2020)
Belo Horizonte, MG, 1983.
Vive e trabalha em São Paulo, SP.
Indicada ao PIPA 2020.
Carolina Cordeiro é graduada pela Escola de Belas Artes da UFMG, mestre em Linguagens Visuais UFRJ. Atualmente cursa o doutorado na ECA-USP, com bolsa de doutorado sanduíche na Chelsea College of Arts em Londres. Realizou diversas exposições no Brasil e exterior, além de residências artísticas em Berlim, Barcelona e São Paulo, onde a artista vive e trabalha.
Site: cordeirocarolina.tumblr.com
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes, exclusivamente para o Prêmio PIPA 2020:
Sobre os trabalhos – “Dizem que há um silêncio todo negro”, 2019 Nesse projeto a claraboia da biblioteca é revestida com placas de zinco. Faço interferência direta dentro da estrutura arquitetônica da casa e faço referência a toda uma tradição do samba e da música popular brasileira que falam dessas casas pobres feitas com as chapas de zinco. Esse material é citado na canção brasileira, como elemento construtivo e doméstico, desde o início do século XX, mas por ser um material considerado pobre não aparece na história oficial. O procedimento altera a iluminação da biblioteca e as perfurações nas chapas são atravessadas pela luz do sol salpicando o chão com pontos luminosos, criando um chão de estrelas, frase presente e muito revisitada da tradição da nossa canção. Mas o zinco perfurado no telhado também pode ser relacionado à atual violência do Estado dentro das favelas brasileiras que sofrem frequentemente com tiros disparados de helicópteros. Dizem que há um silêncio todo negro é uma frase retirada do livro Cravo, da poeta portuguesa Maria Velho da Costa. O livro foi escrito durante a Revolução dos Cravos em Portugal e conta sobre a vida das mulheres na revolução. – “Castelos”, 2019 Cartas de baralho feitas de zinco montam castelinhos que se espalham pela arquitetura da casa. Aqui o diálogo acontece diretamente com o espaço, que é invadido pelas pequenas e frágeis estruturas. O zinco é amplamente utilizado nas construções precárias do Brasil, como nas favelas, e é citado em diversas letras de samba, desde os anos 1930, sempre como elemento construtivo como no caso dos trechos de barracão de zinco, mundo de zinco, ou ainda, o chão de estrelas provocado pela luz que atravessa os furos no teto de zinco de um barraco. Apesar de ignorado pela história da arquitetura, este material nunca deixou de existir nas construções pauperizadas que se acomodam e se estruturam como podem em um equilíbrio precário nos morros e cantos das cidades. Ele está mais presente na nossa história do que queremos admitir e reflete um projeto perverso de exclusão. Para realizar o trabalho, preciso da concentração e do tempo dirigido a essas frágeis estruturas que podem cair e se desmanchar a qualquer momento. O procedimento requer presença e atenção e conta com o fator sorte para se manter de pé durante todo o período da mostra. – “Há uma observação a ser feita”, 2019 Série de colagens que reestruturam fichas catalográficas recolhidas em arquivo público da cidade de São Paulo em forma de poesia concreta. A partir de uma imersão de um mês no arquivo do Centro Cultural São Paulo, percebi quão difícil era o acesso às informações contidas ali. A burocracia pretende proteger aquele material histórico, mas ao mesmo tempo, inviabiliza o acesso à ele. Pensando nisso, coletei todo o material que podia acessar ali que já não tinha mais uso. Realizei as colagens que carregam elementos da própria instituição, mas ao mesmo tempo se libertam das estruturas rígidas em forma de poesia visual. – “As Impurezas do Branco”, 2019 Deixei o livro sobre a grama do jardim para, com a ajuda do tempo, realizar o trabalho. No local onde o livro fica apoiado a grama perde sua pigmentação verde, se desvitaliza, fica esbranquiçada. O título e a capa dessa primeira edição da publicação, um retângulo branco no centro de um retângulo vermelho, me impactaram mesmo antes de saber quais eram seus poemas, que, por se tratar da obra de um poeta que falou de Minas Gerais, dialoga diretamente com a paisagem à qual costumo me referir em meus trabalhos. A palavra “impureza” se relaciona com o que se convencionou como um dos signos de pureza no ocidente, o branco. Dessa forma, a frase, a capa e a presença do livro ali, podem ser pensadas como um pequeno gesto que descortina toda a carga de violência real e simbólica contida nessa convenção que atravessa os séculos, oprime de maneira brutal e define a condição subjetiva dos indivíduos que participam e se constituem como reflexo dessa cultura em um contexto especial como o nosso. – “Paisagem”, 2019 Este trabalho é o registro de uma ação revelada por um rastro no piso e pelas marcas deixadas por mãos sujas de terra que esticaram os tecidos de linho nos chassis. A terra vermelha é um elemento presente em minha produção por ser predominante em Belo Horizonte, minha cidade natal. A exploração mineral em Minas Gerais não só modifica diretamente a paisagem, como espalha pó vermelho por todas as estradas e caminhos que contornam a cidade, impregnando tudo e penetrando nos lugares menos esperados. Minha sensação é de que somos vermelhos por dentro de tanto respirar esse pó fino e que a cada vez que expiramos soltamos um pouco dessa atmosfera. Ao mesmo tempo que é a riqueza desse lugar, essa terra – “Sem Título”, 2018 Trabalho desenvolvido para o Ciclón Compostela em Santiago de Compostela, Espanha, 2018. Para o Ciclón, cada artista é convidado a realizar um projeto de exposição e publicação com 100 folhas A4 que serão reproduzidas em xerox. Para o meu projeto, desenhei as pautas de um caderno em 10 papéis vegetais. Cada papel gerou um grupo de imagens a partir de dobraduras feitas sobre a própria máquina de xerox. No espaço, 5 grupo de imagens foram apresentados inteiros e 5 grupos foram apresentados fechados apenas com a última imagem gerada pelas dobras. – “Último fôlego para seguir rio”, 2016 Três vasos de cerâmica cheios de água contendo uma gota de água da Baía de Marajó (onde o Rio Amazonas deságua no oceano atlântico). – “Cheia”, 2016 A região Norte do Brasil foi o lugar onde realizei a maior parte da pesquisa para a residência artística Red Bull, 2016. Lá é comum encontrar misturas de ervas em pequenos vidros que servem de cura para todos os males e problemas imagináveis. O que fiz foi utilizar os mesmos pequenos vidros, mas agora contendo a água da Bahia de Marajó, o encontro do Amazonas com o Oceano Atlântico. – “Água Benta”, 2016 Dentro de cada frasco com conta gotas, há a mesma água do rio presente nos trabalhos anteriores. Aqui, quis mostrar um pouco desse atravessamento físico/geográfico/temporal/espacial/emocional oferecendo água do rio para ser tomada em conta gotas, para que quem visitasse a exposição pudesse ser atravessado pela experiência e pelo movimento do próprio rio. – “Cruzeiro do Sul”, 2013 O barbante atravessa o espaço expositivo, por um pequeno orifício na parede, e de um lado sustenta uma pedra e do outro liga alguns pregos que formam a constelação Cruzeiro do Sul. Essa constelação só pode ser vista no Hemisfério Sul e é muito emblemática na identificação geográfica do céu do Brasil. O trabalho se torna essa tensão que poderá se desfazer a qualquer momento se a corda se romper pelo peso da pedra. – “Campos de Ação Noturnos”, 2011 – até hoje Comecei, em 2011, a bordar os tecidos dos travesseiros antigos da minha casa e, em seguida, comecei a coletar e trocar com pessoas próximas travesseiros novos por velhos que apresentassem as manchas causadas pelo uso e pelo tempo e ainda continuo coletando e bordando esses tecidos. – “Uma noite a 550km daqui”, 2010 – 2017 550km é a distância existente entre este espaço expositivo e Itatiaiuçu, um município localizado em Minas Gerais (Brasil), e o lugar específico onde recolhi durante o inverno no Brasil – a época mais seca do ano – de 2017 sementes de Xanthium cavanillesii o Carrapicho. A morfologia destas sementes faz com que se dispersem agarradas aos pelos dos animais que passam por elas, sendo assim capazes de se disseminarem por grandes superfícies de terreno. A ideia de recolher uma noite a centenas de quilômetros do espaço expositivo, distribuindo as sementes sobre um feltro azul escuro, desenhando um mapa celeste que se descola da parede para gerar um diálogo entre este espaço em São Paulo e a paisagem do meu estado, Minas Gerais, e também entre o celeste e o terreno. Este trabalho muda de título dependendo da distância de cada lugar em que é exposto e aquele céu em concreto.
de cor vermelha condena não só a si mesma, mas tudo que a rodeia, por ser o alvo da ganância financeira com potencial destrutivo que não encontra limites. Este trabalho também fala do impacto que senti com os rompimentos das barragens de rejeitos de minério nas cidades de Mariana em 2015 e Brumadinho em janeiro deste ano, os maiores crimes ambientais e contra a humanidade, cometidos pela mineradora Vale S.A., consequência dessa exploração, cujos efeitos nocivos para a terra e população local foram alertados pelo poeta Carlos Drummond de Andrade há quase um século. A paisagem passa a ser o pensamento de uma paisagem que já não existe e que se constrói pelos rastros dessa impregnação.
Homenagem aos três rios soterrados sob o prédio onde o trabalho foi apresentado em São Paulo. O trabalho toma como referência o ritual dos povos nativos da Ilha de Marajó, lugar de pesquisa, que enterravam seus mortos em vasos de cerâmica. Aqui há uma inversão, ao trazer de volta os rios à superfície.
– 29ªEdição do programa de exposições do CCSP Exposições Individuais Exposições Coletivas Residências A base conceitual do meu trabalho parte de elementos muito particulares dentro da cultura brasileira. A união entre o que se convencionou chamar de alta e baixa cultura, o poder de evocação da paisagem ou os aspectos econômicos e sociais que envolvem a nossa história são intrínsecos à minha prática. Às vezes, sou levada a explorar um lugar desconhecido, às vezes a retornar a um lugar familiar e, apesar das imersões em cada experiência para realizar um novo trabalho, tento sempre manter a distância do observador. A paisagem entra em meu trabalho de maneiras diversas, partindo da mais íntima revelada por objetos domésticos, passando pela observação das mudanças causadas pela exploração mineral no entorno da cidade onde nasci, até aquela descrita nas letras de samba, base da nossa cultura, que já retratava, desde o início do século XX, a divisão do espaço urbano entre classes muito marcadas. Penso as questões históricas e culturais como aspectos centrais na modificação da paisagem, mas penso também que ainda que ela sofra imensas modificações segue sendo portadora de uma essência originária. A formalização dos projetos é pensada sempre de modo a tornar visível algo que não podia ser visto, mas que estava o tempo todo presente. Se inicio a pesquisa de maneira conceitual, o momento da apresentação abre espaço para a dimensão poética e imersiva.
– Perfil da artista no site da galeria ángels barcelona
– Release da exposição “I remember earth”
– Release da exposição “Escuta à procura de som”
– Perfil da artista no site da galeria Pivô
2019
– “Dizem Que Há Um Silêncio Todo Negro”, auroras, São Paulo, SP
– “Há uma observação a ser feita”, Centro Cultural São Paulo, SP
2018
– “One Night 8360 km From Here”, Angels Barcelona Gallery, Barcelona, Espanha
2020
– Lenta Explosión de Una Semilla, Espacio de Arte OTR, Madri, Espanha
2019
– “I Remember Earth”, Magasin des horizons, Grenoble, França
– “Estratégias do Feminino”, Farol Santander, Porto Alegre, RS
– “Escuta a procura de som”, Consulado de Portugal, São Paulo, SP
2019
– “Pivô art and research”, São Paulo, SP
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