Rio de Janeiro, RJ, 1953.
Vive e trabalha em Londres, Reino Unido.
Descobri a fotografia aos 15 anos, em 1968, período conturbado na história política do Brasil. Fotografar me deu uma mistura de identidade com liberdade. Finalmente, eu gostava de alguma coisa. Hoje, 50 anos depois, percebo meu trabalho intuitivo, faço imagens e vídeos, e guardo numa pasta provisória. Se amadurece, a pasta ganha título. Se tiver densidade, vira livro. Minha história é indissociável das imagens que escolho. Cresci num ambiente de instabilidade emocional, filho de sobreviventes do holocausto. Aceitei a instabilidade como normalidade. Talvez por isso, minha estética busca elementos de inquietude e aleatoriedade, emoções que me impulsionam a elaborar visualmente sobre a peça faltante de um quebra cabeça.
“anonymity“, 2021. Duração: 2’34”
“Bryant, a public park“, 2021. Duração: 2’45”
“Despojos“, 2021. Duração: 0’59”
Descobri a fotografia aos 15 anos, em 1968, período conturbado na história política do Brasil. Fotografar me deu uma mistura de identidade com liberdade. Finalmente, eu gostava de alguma coisa, e não havia risco político, pelo menos, nas minhas fotos.
Minha fotografia foi tomando corpo, autodidata, Pentax a tiracolo, montei meu laboratório para revelar filme e papel PB em casa, e acabei me tornando um bom técnico de laboratório. Fotografava muito na rua, meu interesse eram pessoas, gente, emoções. Na minha cabeça, a influência de Cartier Bresson, Paul Strand, Eugene Smith.
Jovem, criativo, cada vez mais identificado com minha atividade fotográfica, mais importante que minha PUC – Economia. Buscando o novo, passei a fotografar pessoas em situações encenadas, na rua ou em ambientes, influenciado pelas imagens de Irving Penn, Richard Avedon, Bill Brandt e Helmut Newton. Senti que tinha que conhecer luz em estúdio e arrumei um estágio com Antonio Guerreiro, um mestre em luz e retratos de mulheres.
Em 1976, recém-formado, decidi que meu caminho era a fotografia. Convenci meus pais de buscar formação acadêmica em fotografia, e, em Nova Iorque, onde morava meu irmão. Chegando lá, o oficial da imigração carimbou meu visto para 28 dias…
Me matriculei na School of Visual Arts e New School para cursos de curta duração. Na New School, tive a sorte de fazer um curso de 3 meses com a extraordinária Lisette Model, mestra de Diane Arbus. Acabei me apaixonando pelo formato médio, negativo quadrado, lente única. Arrumei uma Rolleicord, mais tarde, uma Rolleiflex.
Com a situação do visto se complicando, impossibilitado de trabalhar, minha única opção para permanecer em Nova Iorque foi o caminho acadêmico em economia/finanças.
Formado em finanças, em 1978, pela New York University, voltei para São Paulo, em 1979, casado e empregado em banco. Apesar do trabalho, continuava muito ativo na fotografia, voltado, agora, para composições com objetos e estruturas de rua, usando formato médio.
Em 1981, por motivos familiares misturados com desafios profissionais, interrompo minha atividade em fotografia. Minha relação com fotografia passa a ser, essencialmente, “fotos de família”. Só iria retomar a fotografia, como forma de expressão, em 2006, 25 anos depois.
Com mais de 50 anos, distante das artes por um longo período, precisava me atualizar. De volta a Nova Iorque, a trabalho, passei a fazer cursos no ICP – International Center of Photography, com a hesitação de um novato.
Num curso de Allen Frame, fotógrafo e curador, senti surgir um rumo. A orientação era para o estudante/fotógrafo ter um projeto, explorar um tema. Foi solicitado que cada um trouxesse, para a aula seguinte, um relato de uma experiência emocional que estivesse vivendo, seria o tema do projeto.
Na aula seguinte, compartilhei o desafio emocional que minha esposa e eu estávamos passando em torno da educação de nosso filho, na época, com 8 anos. Como resultado dessa reflexão, minha tarefa foi fotografar minha família sob essa ótica, os momentos bons e difíceis, contar uma história. Em 2012, editei um fotolivro (Blurb), meu primeiro livro, intitulado “Home”. Dediquei à minha esposa como presente de dia das mães.
Identificado com o formato fotolivro, finalizo meu segundo projeto, em 2015. “Bryant Park, a public park”. O livro busca retratar a experiência de um refúgio encravado em Midtown Manhattan. Cercado por prédios, de todos os lados, o parque é um oásis mental, a representação da expressão: “É na praça onde reencontro minha raça”.
Em 2020, meu terceiro projeto, “Despojos”, fotografado, principalmente, durante a pandemia. O livro retrata objetos, coisas deixadas para trás, largadas, esquecidas, que, porém, não desaparecem, não morrem. Ao contrário, se transformam e ganham uma nova vida.
“Anonymity”, meu projeto mais recente, em finalização, tem por objetivo revelar o aspecto individual no meio do anonimato populacional. A maior parte das fotos é feita na estação de metrô Oxford Circus, em Londres.