(ultima atualização em agosto/2023)
Jacarezinho, PR, 1988
Vive e trabalha em Curitiba, PR
Indicada ao Prêmio PIPA 2023
Bruna Alcantara é artista visual e jornalista. Brasileira, nasceu na cidade de Jacarezinho, região norte do Estado do Paraná. Formada em jornalismo em 2010 pela PUCPR, começou a atuar profissionalmente como artista visual através do arquivo fotográfico familiar como material de pesquisa, e principalmente, ao encontrar no campo artístico o melhor meio para se trabalhar os temas da maternidade e do corpo como instrumento político.
Durante o período de mestrado em Portugal, a artista se envolveu com o movimento feminista local, como mulher e imigrante, assunto obrigatório em seu trabalho. Também é na arte de rua, através da linguagem do lambe-lambe – que envolve imagem e colagem em intervenções urbanas, que Bruna encontra uma das principais formas de expressão. Ao unir o amor por contar histórias à fotografia, ao bordado, à colagem, aos objetos e às instalações, a artista cria trabalhos visuais que partem da indignação, traumas e violências e tencionam a relação entre o público e o privado.
Bruna Alcantara já participou de eventos nacionais e internacionais, como LambesGoia de Goiânia e Cheap Street Poster Art Festival de Bolonha, assim como já teve seu trabalho em exposições individuais e coletivas em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, e em países como Portugal, Itália e Líbano.
Site: brunaalc.com
instagram.com/brunaalcantara.00/
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes exclusivamente para o Prêmio PIPA 2023:
Série Mães também gozam
Série Reflita-se
Série Lingeries
Série Maternidade
Série Lambe-lambe
Série Fotografias antigas
Graduação – Comunicação Social – Jornalismo – PUCPR, 2010
Pós Graduação – Mídia e Jornalismo – Universidade do Porto, 2016
03/2023 – Artista Indicada ao Prêmio Pipa de Arte Contemporânea.
03/2023 – Exposição coletiva “NÓS: Mulheres na Ciência”- Paço das Artes, São Paulo – SP.
02/2023 – Ministrou cursos de lambe-lambe e intervenção em fotografia. Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAMSP).
01/2023 – Coordenação de Comunicação Residência Artística Cuíca, Niterói – Rio de Janeiro / Projeto captado pelo Edital Fomentão de incentivo à cultura – Prefeitura de Niterói – RJ.
12/2022 – Instalação Artística – Encontro Internacional de Mulheres da Cena. Alfaiataria Espaço das Artes, Curitiba – PR.
11/2022 – Residência Artística – Um Corpo diante do Outro – Campo das Artes – São Luís do Purunã – PR.
09/2022 – Exposição Coletiva XXX – Espaço Capibaribe 27, Rio de Janeiro – RJ.
07/2022 – Primeira Mostra Lambes Brasil. Curadora. Vila Cultural Cora Coralina. Goiânia – GO.
07/2022 – Artista convidada, muralista – Festival Internacional de Lambe-Lambe de Goiânia – GO.
06/2022 – Ministrou oficinas de lambe-lambe para escolas municipais de Curitiba, projeto SesiPr.
06/2022 – Artista Convidada, muralista – CHEAP Street Poster Art. Bolonha – Itália.
06/2022 – Coordenadora de Comunicação – Residência Artística Sergius Erdelyi, em Tijucas do Sul – PR / Projeto captado pelo Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura do Paraná.
05/2022 – Exposição Coletiva “Salão de Artes Vermelho”, Ateliê Sanitário, Rio de Janeiro – RJ. Artista Convidada.
03/2022 – Assessora de Imprensa para o projeto Ação 2030, com 17 artistas, em 10 escolas municipais de Curitiba, Programa de Apoio de Incentivo à Cultura, da Fundação Cultural de Curitiba.
12/2021 – Mostra Muchas Minas, exposição coletiva. Centro Cultural Sistema Fiep. Curitiba-PR.
12/2021 – Como Não Subir Uma Escada, exposição coletiva. Paço Imperial. Rio de Janeiro-RJ.
11/2021 – Assessora de imprensa para o projeto de murais da Produtora Mucha Tinta, com a espanhola Marina Capdevila e a paranaense Cris Pagnoncelli. Projeto captado através da Lei de Incentivo/Mecenato.
09/2021 – Exposição individual “Derivações Para Uma Mártir” em cartaz na Alfaiataria Espaço de Arte. Artista convidada.
08/2021 – Operar (N)O Caos, exposição coletiva. Casa da Escada Colorida. Rio de Janeiro – RJ.
07/2021 – Festival de Inverno SESCRio, Murais em lambe-lambe, artista Lambes Brasil. Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Três Rios – RJ.
07/2021 – Assessora de imprensa para a exposição coletiva “A Imagem Retroalimentada”, apresentada pelo Clube da Colagem de Curitiba, no Museu da Gravura, no Solar do Barão, com o apoio do Programa de Apoio de Incentivo à Cultura, da Fundação Cultural de Curitiba.
04/2021 – Residência Artística, artista residente. Casa da Escada Colorida. Rio de Janeiro – RJ.
03/2021 – Ilustradora Folha de São Paulo – Projeto artístico para matéria que comemorava o Dia das Mulheres.
09/2019 – Bienal de Curitiba, Como Se Nos Conhecêssemos Há Anos, exposição
Coletiva. Galeria Ponto de Fuga. Curitiba – PR.
02/2019 – Exposição individual “Derivações Para Uma Mártir” em cartaz em São Paulo, no espaço Oficinas de Cultura Alfredo Volpi, apresentado pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Artista Convidada.
03/2019 – Assessora de imprensa para a exposição coletiva “Mulheres inventadas”, MUMA. Curitiba-PR / Como jornalista e assessora do projeto Mulheres Inventadas, financiado pela Fundação Cultural de Curitiba
11/2018 – Brazilian Street Art | Lambe-Lambe Exhibition, exposição coletiva. Brazil Lebanon Cultural Center. Beirute – Líbano.
06/2018 – Sobre a Mulher Livre, exposição coletiva. Galeria Recorte, São Paulo – SP.
03/2018 – In Memorian da Dor – Festival Feminista do Porto, exposição coletiva. Galeria da Cedofeita. Porto – Portugal.
03/2017 – Recamada: linhas do eu – Festival Feminista do Porto, exposição Individual | O Casarão – Espaço de Intervenções Artísticas. Porto – Portugal.
Que irônico: perverter a noção da costura – ligada aos fazeres femininos – para denunciar o que os homens fazem conosco.
Nasci numa cidade de 30 mil habitantes, no interior do Paraná. Foi lá onde fiquei até os meus 18 anos. Tive uma infância no mato, correndo atrás de galinhas, brincando com barro, andando à cavalo. Mas também, tive em minha volta tudo o que uma sociedade machista e atrasada podem levar a uma criança: fui uma menina “criada para casar”.
Como herança desses tempos, além de vários traumas, carrego o fazer manual, bordado e costura, como habilidades. Afinal, eu também fui uma menina ensinada a fazer o próprio enxoval antes mesmo de saber o que significava o matrimônio, a identidade de gênero e a monogamia.
Introduzi meu texto explicando minha origem, porque ela sempre está presente, mesmo que de forma subjetiva, no meu processo artístico. Posso dizer que meu trabalho se inicia no conflito interno/externo e na indignação, principalmente por questões relacionadas às mulheres e às desigualdades.
Somados a isso, com 26 anos, descobri uma gravidez indesejada. Desde então, minha obra discorre sobre a mãe que eu (e milhões de outras brasileiras) não quis ser e sou. Com dizeres e julgamentos que vão de “mãe solteira” a “você é mãe, precisa se comportar”, ou “seu filho está com quem?”. Pesquiso também a relação da igreja católica na culpa cristã que carrego em trabalhos autobiográficos, atravessados por memória afetiva, como os oratórios.
Não bastasse a pressão social, minha geração também tem que lidar com os algoritmos que sempre me sugeriram grávidas felizes. Eu tentei: começo então minha primeira série, a Maternidade, que já dura 9 anos. Em autorretratos, grávida, no puerpério, na amamentação e até hoje, com um filho fora do ventre, tenho a fotografia como aliada. Mas não paro por aí: fotografias são o ponto de princípio para a feitura de bordados, bandeiras, lambe-lambes que espalho em minhas próprias redes sociais, com conteúdo de viralização, característicos de memes, e também, na rua, nos muros, lugar onde mais gosto de estar, tensionando o público e o privado que tanto me lembra a relação da sociedade com os corpos femininos.
Também, com fotografias antigas, garimpadas em sebos por onde passo, ou em lixos, narro histórias do Brasil contemporâneo, com conteúdos das manchetes dos jornais. Existe em mim uma jornalista afinal, em busca do conteúdo factual, que trata com ironia as situações políticas pelas quais passamos nos últimos anos: falas bizarras do ex presidente, homens que acham que podem abusar de uma menina porque ela usa um “shortinho tipo Anita”, ou indagações levadas por anos, como “cadê o Queiroz?”.
Ainda, como um grito, no último ano desenvolvi um manifesto: o Mães Também Gozam, que fala sobre uma violência obstétrica que sofri: a episiotomia e os mais de 10 pontos que me deram entre a vagina e o ânus. Para tal, costurei como ação performática, uma bandeira em inglês (Mums Also Cum), para pendurar num dos principais pontos turísticos da cidade onde meu filho nasceu, o Porto.
Depois, no Brasil, a frase em Português já passou por diversas capitais. Eu brinco até que passou num avião publicitário, por toda Copacabana. Busco questionar a autoridade do machismo, que achou que poderia costurar em mim, e em milhões de outras mulheres, o “ponto do marido”, aquele ponto a mais, pra que o homem sinta prazer na relação com uma mulher recém parida.
Também, na busca por ressignificação de objetos antigos, garimpo espelhos e os fotografo, como extensão do meu próprio corpo. Centralizada, em paisagens, que dialogam com a imagem bela da busca perfeccionista da estética feminina, ou o que esperam dela. Na série Reflita-se, que já andou por mais de 5 mil quilômetros, encontro em mim a cura de traumas, para redescobrir o gozo, o prazer, a mulher que me disseram que deixaria de existir depois de mãe.
Eu estou viva, custe o que custar: meu corpo pulsa.
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