(ultima atualização em julho/2018)
Aracaju, SE, 1973.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ.
Representado pela Cassia Bomeny Galeria.
Indicado ao Prêmio PIPA 2018.
Nas palavras de Olívia Ardui, crítica e curadora, “as esculturas de Zé Carlos Garcia se apresentam como entes insólitos que podem tomar a forma de insetos imaginários, uma vez que resultam de uma combinação de membros de diferentes espécies, ou ainda da mescla de plumas e partes de mobiliário de madeira. Dessa junção originam-se híbridos que, além de conservar os significados das partes que os compõem, geram uma curiosidade mórbida em relação à sua natureza. Garcia parece assim evidenciar certa perversidade do público, refém, entre estranhamento e fascínio, de seu próprio voyeurismo diante de corpos dilacerados, por mais fictícios que sejam.”
Site: zecarlosgarcia.com.br
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes exclusivamente para o Prêmio PIPA 2018:
“Arte totêmica em Zé Carlos Garcia e Daniel Lie: epistemologias da transmutação e não da repetição”
Por Ana Luisa Lima
[Texto publicado no website da exposição “Frestas Trienal de Arte” exibida em 2017 no SESC SP, Sorocaba, SP]
“Esta onipresença da ave, pondo sobre os espantos da selva o signo da asa, faz-me pensar na transcendência e pluralidade dos papéis desempenhados pelo Pássaro nas mitologias deste mundo […] Mas os conhecia através do verniz das pinacotecas, como testemunho de um passado morto, sem recuperação possível.”
Alejo Carpentier em “Os passos perdidos”
Tenho por certo que o lugar do Paradoxo é onde se encontram as possibilidades latentes de novos modos de existir. Situação histórica em que paira sufocante uma sensação de encurralamento. Nesse espaço-tempo, condensado de presentes e passados, desastrosos e hostis, as formas tornam-se frouxas e desenvolvem uma polivalência que em um só tempo podem descambar para uma iluminação completa ou trevas ainda mais profundas. É nesse particular momento em que soam urgentes as fabulações e as invenções como exercícios práticos e simbólicos de ser e estar no mundo. As artes enquanto campo aberto das imaginações são as pontas de lança que abrem fendas para um novo por vir. Não à toa, em tempos opressores, que tornam impossíveis os modos de vidas plurais, as artes precisam estar em avant-guard. Ser as guardas que vão à frente abrindo caminhos, desfazendo trincheiras, vivendo as primeiras e mais fortes violências em nome de ideias e presenças que marcam mudanças revolucionárias.
Tais revoluções só são possíveis diante das elaborações de novos vocabulários estéticos que são em si uma abertura para novas formas de ser e estar no mundo. É nesse lugar que o experimental conduz as sensibilidades para fora do que está dado e, nesse sentido, os pulmões podem ensaiar novos fôlegos ao invés do sufoco. Os artistas Zé Carlos Garcia e Daniel Lie são produtores desses tipos de experiências em que se é preciso criar asas e alçar voos para além da constatação das realidades que oprimem. Há em ambos uma qualidade de dar às formas uma frouxidão nos significados triviais e que com os significantes atormentados por uma alquimia poética evocam novos corpos, novas sensibilidades, novos entendimentos, novos verbos ansiosos para se conjugarem.
Ainda que atinjam em cheio nosso estado anímico, as experiências que propõem começam no corpo encarnado cujo estado-matéria precisa elaborar uma dança por entre os objetos/instalações que instauram ‘campos estésicos’. Garcia nos faz mais acerca à encarnação de sabedorias das faunas, enquanto que Lie nos leva a uma reinvenção de si nos processos cíclicos e de transmutação guardados nas veias das floras. De modos diversos e contundentes em campos semânticos próprios, Garcia-Lie se tocam e fecham um ciclo totêmico cuja potência mágica é a da (re)criação. Que em tempos sombrios como esses, salvaguardam nosso filão atávico de sobrevivência. Essa mera mudança de paradigma põe em xeque uma série de preconceitos que convém denunciar nesses tempos atuais de discursos de ódio e violência de bases fundamentalistas.
O que se passa hoje é reflexo de uma construção cientificista de lidar com as coisas do mundo que estreita as possibilidades de leitura dos acontecimentos históricos. Pois, elegeu apenas uma epistemologia hegemônica da qual decorreu seu respectivo modo de contar a história em detrimento de múltiplas narrativas possíveis. Essa eleição de uma única mirada sobre os fenômenos da vida na Terra, que privilegiou os olhos como canal de percepção e a razão como única criadora de significados, estabeleceu relações de poder desequilibradas: economias, políticas e desenvolvimento socioambientais em completas disfunções porque alicerçados em hierarquias hegemônicas. Baseado em “Ficções de Superioridade”, o mundo Ocidental se organizou – e pensa organizar todo resto. E no que deveria ser uma Comunidade Global igualitária, tem-se uma estrutura opressora que naturaliza as ficções de que uma cultura é superior a outras, um grupo étnico é superior aos outros, que a espécie humana é superior às demais espécies da natureza, que um conhecimento científico moderno é superior às sabedorias milenares etc.
Esse modo unilateral e ‘monocromático’ de construção de mundo mantém-se replicado nos modos de construção de conhecimento. Vivemos, atualmente, um completo esgotamento das formas de criação que traz também um esgotamento dos modos de vida e, nessa direção, surge um ‘looping’ monótono de uma existência parcimoniosa, sem novidades. Voltados para mera reprodução de discursos, os campos de conhecimento humano encontram-se estreitados pela falta de imaginação – essa que é a faculdade humana capaz de produzir futuros inacreditáveis.
Mas há um número considerável de artistas que preferem a constatação da opressão no lugar de transcendê-las, e o fazem de modo repetitivo, empregando formas usadas no passado cujo propósito de reinvenção cumpriu sua jornada histórica. Repetem meros dispositivos e não proposições existenciais, a saber: mapas, bandeiras, frases de ordem, trabalhos de outros artistas reiterando uma obviedade dada em cada forma de vida oprimida nas ruas. Parte da classe média em sua condição raquítica de pensamento celebra essas formas-ocas como expiação de suas culpas. Entre festas, viagens e prêmios vai-se retificando a parcimônia enquanto modo de vida.
Ainda que uns pensem que as formas plurais de existir estão sendo aniquiladas pelo fascismo – modo claro de autoengano – o que tem ameaçado nossa vida na Terra é a monotonia. O esgotamento das formas de viver. A humanidade está ameaçada por repetir-se. Seremos extintos pelo tédio.
“Pó ao pó”
Por Isabel Portella
[Texto referente à exposição “Do pó ao pó”, Rio de Janeiro, maio de 2017]
“Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína”, Claude Levi–Strauss, Tristes Trópicos
As obras de Zé Carlos Garcia promovem a reflexão sobre diversas questões e simbolismos que acompanham o ser humano desde sempre. Vida e morte, permanência, deterioração, pedra e pó são algumas das instigantes propostas exploradas pelo artista visual que, ao retomar sua pesquisa sobre monumentos urbanos, traz para a Galeria do Lago, no espaço do Museu da República, bustos em pedra sedimentar. Seus trabalhos escultóricos caminham na contramão das obras criadas para a posteridade e executadas em materiais consistentes, dialogando com a dimensão da eternidade e da ruína, com a construção de um ideário e a perda do poder.
Existe, entre a alma e a pedra, uma relação estreita. Segundo a lenda de Prometeu, procriador do gênero humano, as pedras conservaram a ligação com o Homem, mantendo em suas entranhas até mesmo o odor humano. Quando os excessos de pedra são retirados, surge a alma, a essência do homem, aquilo que vai permitir a sua vida eterna. Mas se a pedra não suporta a ação do tempo ou da mão do artista, o que aparece é apenas um simulacro de rosto, uma vaga ideia dos cabelos ou do torso. Restará o pó. E o expectador então começará a se questionar sobre a imobilidade da pedra, sobre imagens que desaparecem aos poucos, memória e passagem do tempo.
Garcia elabora uma teia de relações com os simbolismos de poder, ruína e o que restará no final dos séculos. Apenas pedra sobre pedra, sem nomes ou referências, sem identificação. Suas obras trazem a impermanência do homem, da riqueza e do poder. Afinal viemos do pó e ao pó voltaremos. O atual Museu da República e seus jardins, sede do poder que governou o país por tantos anos, é certamente o cenário perfeito para tais considerações.
“Ganimedes”
Por Raphael Fonseca
[texto relativo à exposição “Ganimedes”, São Paulo, abril de 2016]
O cenário dos acontecimentos é o Monte Ida, na atual Turquia, a sudeste da cidade de Tróia. Zeus se encanta com um príncipe, filho do rei da Dardânia, de nome Ganimedes e que trabalha nos rebanhos de seu pai. O rapaz é comumente representado nas artes visuais como portador de um corpo atlético, mas não exageradamente musculoso, aparentemente na virada entre a adolescência e a primeira fase adulta.
Deslumbrado com a visão pastoril desse efebo, Zeus decide tomá-lo para si por meio de uma águia – há fontes que afirmarão que o próprio deus se transforma nela e outras dirão que ele invoca o animal. Tirado da esfera familiar da Dardânia, Ganimedes é levado para a companhia de Zeus e é o novo responsável por servir vinho aos deuses. Como agrado ao rapaz e benfazejo ao seu inconsolado pai, Zeus atribui ao jovem a imortalidade. A narrativa greco-romana sobre Ganimedes pode ser interpretada como um exemplo do poder de arrebatamento de uma imagem em diversas esferas: estética, geracional, sensual e sexual.
A presente exposição de Zé Carlos Garcia dialoga com este mito. É possível aproximar a pesquisa do artista, com uma trajetória de cerca de dez anos, à mutação entre o humano e o animal vivenciada por Zeus. As esculturas e objetos gerados por ele se encontram por diversas vezes entre o reconhecimento estrutural de móveis e anatomias animais, e o estranhamento proporcionado pela plasticidade dilacerada dos corpos estranhos que se instauram. De uma antiga cadeira de madeira saem penas de um pássaro e da trama de palha de outro móvel brota um pequeno inseto. Os fazeres artesanais e da zoologia se encontram e geram imagens que parecem em transformação perante os nossos olhos.
Para a ocupação da sala destinada ao projeto Zip’Up, o ponto de partida do trabalho foi o encontro entre o corpo humano e os limites arquitetônicos dados pelo espaço; trabalhar a partir de site specifics é algo que tem interessado cada vez mais ao artista. A imagem de uma estrutura tridimensional suspensa e composta pela variação cromática de penas pretas emergiu perante os nossos olhos. Uma vez a observar a confecção da peça, parecia difícil distanciá-la de um grande pássaro preto que, por fim, nos remeteu à história de Ganimedes.
Em vez de fugir das garras desse resquício de pássaro, desejamos que os espectadores se entreguem ao seu chamado e explorem seu movimento através de uma postura física ativa. Congelada no tempo pelas mãos de Zé Carlos, esta imagem pede uma lenta fruição de sua sensação de encarceramento, deixando incerto o seu movimento de pouso ou ascensão instaurado pela sua presença.
Convidamos o público a, mais do que se colocar ficcionalmente no lugar do jovem raptado, subverter a fonte e recodificá-la a partir de suas visões particulares da soma entre desejo e posse. Tal atitude é dialógica ao gesto do artista de deslocar o material orgânico e criar uma narrativa que pede diferentes começos, meios e fins.
Espera-se que o pássaro enviado ao Monte Ida pouse em São Paulo sendo um pouco de urubu, um pouco de pavão e outro tanto de corvo; que o fantasma da imortalidade de Ganimedes volte à sua terra-natal e que as imagens, sejam elas artísticas ou carnais, sigam a nos atiçar e nos jogar nesse lugar movediço entre a paixão e a violência.
“Natural – Antropologia e artes visuais: a percepção do que nos cerca através do sensível
Outras naturezas, outras culturas, novas formas de ver o mundo e conviver junto”
Por Paula Borghi
[Rio de Janeiro, outubro de 2017]
Falar das coisas que nos cercam através de um olhar que busca compreender o que é natural pode nos levar automaticamente para o seu oposto, o que é artificial. Mas, por que não ampliar este espectro e pensar a natureza em oposição a cultura? Em uma conferencia em Paris no ano de 2007, recentemente publicada pela Editora 34 em “Outras naturezas, outras culturas”, o antropólogo francês Philippe Descola questiona como o homem organiza o mundo através da diferença entre aquilo que é natural e aquilo que é cultural.
Se em um primeiro momento podemos compreender a natureza como tudo aquilo que existe no mundo sem intervenção do gesto humano (oceanos, montanhas, florestas etc…), a cultura é tudo aquilo que o toca (obras de arte, leis, ferramentas, cidades, idiomas etc…). Em um segundo momento, é possível observar que muito daquilo que nos cerca é natural e cultural ao mesmo tempo.
Por exemplo, o porrete de madeira utilizado na obra de arte “Exaustas” de Marcone Moreira é um objeto natural, um tronco fino de madeira encontrado na mata maranhense. Contudo, esse pedaço de madeira é um porrete utilizado por mulheres da região para a extração da semente do babaçu; exerce uma atividade técnica e logo cultural. Neste caso, o objeto não é apenas caracterizado como cultural por ser uma obra de arte, pois antes de ser compreendido como obra de arte ele já exercia uma função cultural por ser um instrumento de trabalho.
Indo além, Descola provoca esta ideia do homem ocidental como protagonista da cultura, questionando os parâmetros que definem os humanos (nós) e os não humanos (plantas, animais e objetos). Segundo sua experiência como etnógrafo com o povo indígena Achuar da Amazônia equatoriana e posteriormente como antropólogo comparando povos indígenas de outros continentes, Descola critica nossa maneira de tratar animais e plantas como não humanos, logo como não formadores de cultura.
Exemplificando uma série de estudos sobre povos indígenas que entendem plantas e animais como pessoas ou sujeitos, somos apresentados a uma humanidade através de sua essência e não através de aspectos físicos. Segundo o autor, para os Cri (indígenas do norte de Quebec, Canada) a diferença entre os animais e os homens é mera questão de aparência, uma ilusão dos sentidos baseada no fato de que o corpo dos animais é um tipo de fantasia que vestem quando os humanos estão por perto, a fim de enganá-los sobre sua verdadeira natureza.
Em paralelo, podemos pensar no trabalho “Cabeça de Porco” de Zé Carlos Garcia, em que uma cabeça de porco é operada pelo artista através de um processo cirúrgico escultórico que transforma a feição porcina em humana. Um objeto contemplativo que é também servido ao público como alimento, um trabalho de arte que nos provoca a refletir exatamente o que é humano, pois ao comer a cabeça do porco estamos comendo a imagem/ideia de uma cabeça humana.
Neste sentido, Zé Carlos Garcia pelas artes visuais e Descola pela antropologia nos incitam a repensar nossa maneira de conceber a relação dos humanos com os animais e plantas, nosso lugar como os únicos a poderem criar cultura, a olhar a natureza não mais como fonte de recurso dos quais podemos tirar proveito, mas de nos entendermos ligados a ela por sermos todos humanos e formadores de cultura. Somos motivados a ver a “alma” da natureza e parar de tratar o mundo meramente como fonte de riqueza e a buscar novas formas de viver junto.
“Zé Carlos Garcia”
Por Olívia Ardui
[texto publicado no catálogo da exposição “Frestas Trienal de Arte”, SESC SP, Sorocaba, SP, 2017]
As esculturas de Zé Carlos Garcia se apresentam como entes insólitos que podem tomar a forma de insetos imaginários, uma vez que resultam de uma combinação de membros de diferentes espécies, ou ainda da mescla de plumas e partes de mobiliário de madeira. Dessa junção originam-se híbridos que, além de conservar os significados das partes que os compõem, geram uma curiosidade mórbida em relação à sua natureza. Garcia parece assim evidenciar certa perversidade do público, refém, entre estranhamento e fascínio, de seu próprio voyeurismo diante de corpos dilacerados, por mais fictícios que sejam.
Em Frestas o artista apresenta um conjunto representativo de sua produção dos últimos oito anos. Nas obras Cadeira e Pássaro, por exemplo, explora as qualidades formais dos materiais e imprime um movimento dinâmico às penas, o que parece desmentir a condição objetal das esculturas, que se erguem como presenças enigmáticas. Semelhante efeito acontece em Ganimedes, uma massa monumental e informe coberta de plumas negras que ocupa o espaço expositivo. A obra não remete propriamente nem a um manto, nem a uma asa: é um estado de corporeidade híbrida, cujo gesto parece ter sido suspenso no tempo. Gesto semelhante ao de Zeus, que na mitologia grega reina sobre os deuses e os homens, quando rapta o jovem Ganimedes. Esse príncipe de Tróia cuidava dos rebanhos de seu pai quando foi visto por Zeus, que, encantado por sua beleza, e num ímpeto entre a sedução e o sadismo, transforma-se em águia para levá-lo e torná-lo servo dos deuses do Olimpo.
“Tropical”
Por Paula Borghi
[texto referente à exposição “Tropical”, Rio de Janeiro, outubro de 2017]
“A carne que como hoje é a carne que vai fazer falta em alguém amanhã” é uma frase que aparece nos sonhos de Zé Carlos Garcia desde sua infância. Às vezes acompanhadas por imagens de pessoas amputadas, a passagem segue o artista tanto dormindo como em sua prática de ateliê. Pois bem, vou contar uma história.
Em uma cidade interiorana do Estado do Rio de Janeiro havia um senhor que criava um porco como seu animal de estimação. O porco foi domesticado ainda leitão como se fosse um cachorrinho. As pessoas da cidade achavam estranho um porco ser criado como um membro da família, mas havia uma empatia por este cuidado. Era uma postura excêntrica e também espirituosa, existia uma graça em criar um porco como um ente querido.
Passados os anos, o leitãozinho cresceu e virou um porcão. O senhor também teve um filho, um lindo bebezinho. Um dia, o senhor e sua senhora saíram de casa, como de costume, e deixaram seu bebê aos cuidados da babá. A babá estava dando papinha para o bebê mas precisou ir ao banheiro e o deixou sentado no chão. Neste breve intervalo de tempo, o porco entrou na sala e comeu toda a papinha, inclusive a que estava nas mãozinhas do bebê e por isso acabou, também, comendo seus bracinhos. Talvez o porco comesse toda a criança se a babá não tivesse voltado a tempo. O menino sobreviveu e cresceu sem os braços, a babá foi espancada e o porco assassinado por seu senhor. Esta é uma história Tropical e verídica que nos aponta para uma possível leitura desta exposição.
Cabeça de porco é uma cabeça de porco operada pelo artista através de um processo cirúrgico escultórico, procedimento que transforme uma feição animalesca em humanizada. Este trabalho foi apresentado algumas vezes, a primeira em 2005 com o subtítulo Severino e a última em 2016 com o subtítulo Pig. Trata-se de uma obra que aponta para uma crítica do cenário político brasileiro em sua época. Não à toa, a cabeça de porco presente nesta exposição é apelidada de Leitão.
Em 2006 a Cabeça de porco foi além da cabeça do animal, nesta todo o porco passou por um processo cirúrgico escultórico para se assemelhar á imagem corporal de uma criança. Um trabalho que ora se restringe à cabeça e ora à totalidade da anatomia deste corpo, que pode ser apresentado no sal grosso como objeto contemplativo, como também pode ser cozinhado e servido ao público como alimento. Aqui leitão é servido ao público acompanhado por jabuticabas.
Enquanto a Cabeça de Porco traz a presença do animal de forma mais frontal na exposição, uma série de esculturas realizadas com plumagem negra pousam neste mesmo ambiente. A beleza e a exuberância escultórica presentes em cada peça desta série são elementos fundamentais para a construção desta narrativa que atrai o olhar ao mesmo tempo que desperta uma consciência repulsiva.
É nesta dicotomia entre o homem e animal, atração e aversão, escultura, corpo morto e alimento que a produção de Zé Carlos Garcia nos perturba. Tropical é como a história do menino que teve os braços comidos pelo porco incomoda por despertar pensamento acerca de valores éticos, morais, naturais, culturais, sociais e da vida em sua forma mais crua: a morte.
– “Bifurcações”, por Kamilla Nunes
– “Çriaturas Imaginárias”, por Angela Mascelani
– “Ouro de Tolo”, por Raphael Fonseca
Formação acadêmica
– Graduação na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
– Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
Exposições individuais
2017
– “Tropical”, Espaço Saracura, Rio de Janeiro, RJ
– “Do pó ao pó”, Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro, RJ
2016
– “Ganimedes”, Zipper Galeria, São Paulo, SP
2015
– “Finca”, Galeria Amarelonegro, Rio de Janeiro, RJ
2014
– “Prumo”, Memorial Meyer Filho, Florianópolis, SC
2013
– “Jogo”, Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, RJ
2012
– “PET”, Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro, RJ
2010
– “Hereditários”, Durex Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
Exposições coletivas
2018
– “De Sangue e Ossos”, Galeria Matias Brotas, Vitória, ES
2017
– “A Queda”, Galeria Movimento, Rio de Janeiro, RJ
– “Bestiário”, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP
– “Frestas”, Trienal de Artes, Sesc Sorocaba, Sorocaba, SP
– “A Room and a Half”, Ujazdowski Castle Centre for Contemporary Art, Varsóvia, Polônia
– “Gazua #946”, Despina, Rio de Janeiro, RJ
2016
– “My body is a cage”, Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro RJ
– “Primeira de Muitas”, Espaço Saracura, Rio de Janeiro, RJ
– “Nuit Blanche Monaco”, instalação, Praia do Lavrotto, Cidade de Mônaco, Mônaco
– “Depois do Futuro”, Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
2015
– “Tórrido”, Espacio Odeón, Bogotá, Colômbia
– “Coquetel”, Castelinho do Flamengo, Rio de Janeiro
2014
– “Matéria”, Casa Hoffmann, Bogotá, Colômbia
2013
– “Criaturas Imaginárias”, Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro, RJ
– “E”, AutAut Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
– “Redemptive glimpses from the future world”, Musterzimmer, Berlim, Alemanha
2012
– “From The Margin To The Edge – brazilian art and design in the 21st century”, Somerset House, Londres, Reino Unido
2011
– “Nova Escultura Brasileira – Herança e Diversidades”, Caixa Cultural Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ
2010
– “Inquietude”, Galeria Durex Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
– “2 anos”, Barracão Maravilha, Rio de Janeiro, RJ
– “Eco, Ritmo, Acaso”, Galeria Durex Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
2009
– “Karnevalismus”, ocupação, Berlim, Alemanha
– “Ecos de Hélio”, Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, RJ
– “Supernova”, Barracão Maravilha, ocorrida simultaneamente em 13 países, Rio de Janeiro, RJ
– “1 ano”, Barracão Maravilha Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
2008
– “Do gelo da Escandinávia ao fogo tropical o Barracão Maravilha recria na Terra um inferno de delícias”, Barracão Maravilha, Rio de Janeiro, RJ
– “MAC Filé”, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Niterói, RJ
– “Barracão Maravilha Convida”, Barracão Maravilha Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
– “Abertura”, Barracão Maravilha Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ
2006
– “Paranaturais”, Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, Niterói, RJ
– “Abre Alas 2006”, Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, RJ
Vídeo-projeto da exposição individual “Do pó ao pó”, 2017, Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro, RJ, vídeo por Lucas Assis
Vídeo entrevista sobre exposição individual “Jogo”, 2013, Centro de Artes Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, RJ, vídeo por Alessandra Bergamaschi e Gabbo Marvasi
Vídeo entrevista sobre a exposição individual “Tropical”, 2017, Espaço Saracura, Rio de Janeiro, RJ, vídeo por Canal Arte Com
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