(ultima atualização em janeiro/2019)
São Paulo, SP, 1986.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ.
Representada pela Galeria Leme e A Gentil Carioca
Indicada ao PIPA 2014, 2016 e 2018.
Finalista do PIPA 2018.
Vivian Caccuri utiliza o som como veículo para cruzar experimentos de percepção em questões relacionadas a condicionamentos históricos e sociais. Por meio de objetos, instalações e performances, seus trabalhos criam situações que desorientam a experiência diária e, por consequência, interrompem significados e narrativas aparentemente tão entranhadas como a própria estrutura cognitiva. Vivian já desenvolveu projetos em diversas cidades do Brazil e exterior, icluindo Amazônia, Accra, Detroit, Helsinki, Vienna, Veneza, Kiev, Valparaíso entre outras. Ao longo de sua carreira colaborou com diversos músicos como Arto Lindsay (EUA/BR), Gilberto Gil (BR), Panji Ano (Gana), Fausto Fawcett (BR), Wanlov (Gana) e recentemente lançou seu primeiro projeto musical (Homa).
Seus trabalhos sonoros foram transmitidos por rádios como Resonance FM (Londres), Kunstradio (Viena) e Mirabilis (Rio de Janeiro). Na Universidade de Princeton escreveu o livro “O que Faço é Música” (2012), publicado pela editora 7Letras e premiado Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música em 2013.
Site: www.viviancaccuri.net
Sobre os Trabalhos
– “High Fidelity [Hi-Fi]”, 2017
[comisssionado para a exposição Sonic Rebellion, MOCA Detroit]
Em Abril de 2017, caminhei por Detroit (EUA) até chegar na antiga sede da rádio WDTR FM. Esta costumava ser uma estação pública gerida e programada pelas escolas municipais de Detroit. Ali encontrei fitas de programas dos últimos anos de atividade da rádio, que foi fechada e vendida nos começo dos anos 2000.
A aleatoreidade desse conteúdo soou para mim como uma alucinação sonora por muitos motivos: eu era uma estrangeira ali e essas fitas foram encontradas nas ruínas da ex-cidade mais rica das Américas.
Programas apresentados por crianças, discussões políticas, campanhas de engajamento comunitário, contadores de histórias, visitas a museus… o mix dos programas que compus é experimental e líquido, por isso o chamo de “alucinação radiofônica espiritual” que apresenta um grande e único hit ao longo da programação: “Praying Spirit” das The Clark Sisters, um famoso quarteto gospel de Detroit. Também improvisei e compus novos trechos musicais utilizando timbres, texturas, instrumentos e técnicas similares ao conteúdo e às canções gospel, como uma expansão emocional do passado da minha perspectiva pessoal e musical.
– “Oratório”, 2017
[Comissionado para a exposição do “Future Generation Art Prize”, Pinchuk Foundation]
Oratório (Tidal Wave) é um trabalho de som e velas acesas cujas chamas são movidas por ritmos graves. A trilha sonora baseia-se no hino ambrosiano (o gênero pré-gregoriano) Aeterne Rerum Conditor, uma das primeiras notações escritas para coral na história da música ocidental, executada por monges católicos romanos. Explorando formas arquitetônicas e musicais da religião, a artista expande conexões e signifcados para considerar interrelações culturais entre o uso do grave em rituais e cultos. Ao passo que a música religiosa cristã se distancia da percussão, tambores e graves para privilegiar o texto, a voz, e seus acompanhamentos cordas e sopro, a interpretação musical pop de Caccuri procura formas sônicas onde o grave ainda pode funcionar como um veículo para a mente.
– “TabomBass”, 2016
[Em co-autoria com Wanlov, Keyzuz, Kuvie, Yaw P, Ghalileo, Mensahighlife, Mutombo Da Poet, Steloo, Panji Anoff e Sankofa]
TabomBass (2016), um sistema de som feito com alto-falantes empilhados, como ocorre em festas de rua. É no entanto, construído somente com subwoofers, ou seja, emite somente sons graves. Diante deles, velas acesas dançam com o ar deslocado pelo ritmo dos graves – linhas de baixo compostas por artistas da cidade Acra, em Gana, que colaboraram com Caccuri, depois de um período de pesquisa nesse país. Acra recebeu grupos de afro-brasileiros após a Revolta dos Malês, levante de escravos ocorrido em 1835 em Salvador. Hoje, seus descendentes são conhecidos como “tabom” – pois, por não conhecerem os idiomas locais, respondiam com a expressão “tá bom” ao que lhes era perguntado. Com esse pano de fundo histórico, Caccuri busca ampliar os vínculos e os sentidos para pensar o trajeto África-América, propondo encontros nos quais músicos e performers brasileiros improvisam a partir dos graves africanos e realizam, nesse atravessamento, uma produção híbrida.
– “Odebrecht SoundSystem”, 2016
Odebrecht Soundsystem é um sistema de som de funk carioca – geralmente chamado de “paredão” ou “equipe de som” – coberto com os vidros espelhados azuis usados pela Odebrecht na área portuária do Rio de Janeiro. A qualidade de som não é comprometida com esta estrutura refetiva, pelo contrário: o som é empoderado e superfaturado.
– “Automotivo”, 2016
Automotivo I é um par de subwoofers que faz dados e búzios vibrarem com a batida da música. A playlist que toca 4 músicas por hora inclui gêneros do “Atlântico Negro” e que geralmente tocam em “paredões de mala”, os soundsystems de porta-malas: reggaeton, cumbia, azonto, tecnobrega, funk carioca, kwaito, trap, lambadão e outros.
– “Adeus”, 2015
“Adeus” é composto por um mini-system com micro-processadores, receptores FM e antenas acopladas capazes não apenas de sintonizar faixas de rádio mas também de perceber movimento. Quanto mais próximas as pessoas estão das hastes metálicas, mais sensíveis elas são às ondas FM, emitindo, assim, menos ruídos na decodifcação dos sinais eletromagnéticos e, por consequência, mais precisão em sua transformação em ondas sonoras propagadas pelo ambiente. O trabalho sublinha a relação importante para as Caminhadas entre movimento, percepção do som e de diferentes territórios e domínios, metaforizados pelas diferentes estações FM.
– “Oco SoundSystem”, 2013
Feito em madeira e tecido, Oco soundsystem é um sistema de som silencioso e transparente, uma “casca”, um work-in-progress, capaz de receber diferentes técnicas de amplifcação.
– “DubRoom (Fourth World)”, 2012
[comissionada para a exposição comemorativa GIL70]
DumRoom é um ambiente completamente escuro que abriga uma instalação sonora construída com auto-falantes da quadra de funk da Cidade de Deus. O sistema toca uma música reggae de Gilberto Gil em loop, chamada “Quarto Mundo”. Há uma mudança periódica, como uma onda, nesta canção que aquieta as vozes e aprofunda os graves. O movimento é acompanhado por flashes de luzes que revelam o sistema de som brutalista para o visitante.
– “Caminhada Silenciosa”, 2012
Caminhada Silenciosa é um itinerário urbano de oito horas de duração para uma excursão de quinze a vinte pessoas. O trajeto é feito sob voto de silêncio e leva o grupo a visitar locais com atividade acústica especial. Construções que abrigam sons contrastantes, problemas acústicos, terraços, bairros isolados, arquivos e espaços religiosos são exemplos de locais pelos quais o grupo percorre. Ao longo do dia a excursão poderá encontrar situações onde se vêem mais facilmente as relações entre arquitetura, privacidade, propriedade e intimidade.
Ao fim do trajeto, o grupo volta a falar por meio de um jantar especialmente preparado para o projeto durante o qual os participantes trocam suas impressões e ouvem as vozes dos demais pela primeira vez.
A caminhada já foi realizada mais de vinte vezes em cidades como Valparaíso (Chile), Rio, São Paulo, Niterói, Helsinki (Finlândia) e Riga (Letônia). O objetivo da caminhada silenciosa, desde sua primeira realização, é questionar como se configura a circulação em espaços públicos e privados, entendendo o urbanismo, a arquitetura e o capital como agentes formadores da personalidade dos espaços urbanos. Modificar a maneira como esses espaços são visitados e utilizados promove uma oportunidade de mudança de consciência e descondicionamento dos participantes. A presença de 15 pessoas em voto de silêncio em um local específico também atrai a atenção, revelando códigos de comportamento social na cidade.
– “Dissimulado”, 2010
Nesta performance, Vivian canta “Samba do Avião”, uma canção escrita por Tom Jobim que descreve a paisagem do Rio de Janeiro vista de um avião aterrisando. Cada frase é cantada e depois tocada de trás para frente. Vivian ouve a gravação invertida e tenta cantá-la desse jeito. Ela então grava a si mesma cantando de trás para frente. Finalmente a nova gravação é tocada e reinvertida à direção original. Esse processo compromete dois importantes materiais da bossa-nova: a respiração e o português. O processo foi acompanhado pela artista Maíra das Neves, que escutou às palavras e tentou transcrevê-las.
– “Garganta”, 2010
Oito pessoas se reúnem em um círculo, cada uma portando um microfone de contato que deverá ser pressionado contra o pescoço na região onde sua voz vibra. Enquanto cantam, falam ou fazem ruídos com suas vozes, os participantes podem ouvir à ressonância de suas gargantas juntas, porém sem o som da articulação de qualquer palavra. O tempo extendido no qual suas gargantas soam, muitas vezes convidam os participantes a desacelerar sua respiração e emitir sons longos.
- Vogue Brazil, “Rising in Rio”, 2017
- Site e-flux, “Sonic rebellion, music as resistance”, 2017 (em inglês)
- Folha Ilustrada, “Brasileiros vão além na Bienal em Veneza”, 2017
- Site da “C&” Magazine, 2017 (em inglês)
- Frieze Magazine, “a song for rio”, 2017 (em inglês)
- Site ArtForum, “Pinchuk Art Prize”, 2017, (em inglês)
- Site e-flux, 2017 (em inglês)
- Miami Herald, 2016 (em inglês)
- Basel Magazine, 2016 (em inglês)
- Frieze Magazine, 32nd Bienal de São Paulo, 2016 (em inglês)
- “Hyperallergic”, “After the olympics and an impeachment brazilian artists look to the horizon”, 2016 (em inglês)
- Revista “TRIP”, “Mulher de Trinta”, 2016
- Revista “O Globo”, capa, 2010
Formação
2017
– Music Production and Sound Design, Dubspot, Nova York, EUA
2011
– Pesquisadora visitante, Departmento de Literatura Latina; Departamento de Música e Tecnologia e Departmento de Artes Visuais, Princeton University, EUA
– Mestrado em Estudos do Som Musical pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ; com pesquisa realizada na Princeton University, EUA
2007
– Bacharelado em Artes Plásticas pela Universidade Estadual Paulista, UNESP, São Paulo, SP
Exposições individuais
2018
– Galeria Leme, São Paulo, SP
2015
– “Condomínio”, Galeria Leme, São Paulo, SP
2013
– “Tá na Mente”, Galeria Progetti, Rio de Janeiro, RJ
Exposições coletivas
2018
– 11º Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS
– “Água Parada”, balcão do MAC Niterói, Niterói, RJ
– “Ojalá”, Carslbad Museum, Carlsbad, New Mexico, EUA
2017
– “Vivemos na melhor cidade da América do Sul”, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brazil
– “Charivaria”, CentroCentro, Madri, Espanha
– “Sonic Rebellion”, Museum of Contemporary Art of Detroit, Detroit, EUA
– “Buried in the Mix”, MEWO Kunsthalle, Memminghen, Alemanha
– “O terceiro mundo pede a bênção e vai dormir”, DESPINA, Rio de Janeiro, RJ
– “Festwochen”, em colaboracão com Daniel Lie, Vienna, Áustria
– “Future Generation Art Prize”, Palazzo Contarini Polignac, paralela a Bienal de Veneza, Veneza, Itália
– “Atlântico Negro”, Instituto Goethe, Rele Gallery, Lagos, Nigéria
– “Future Generation Art Prize”, Pinchuk Art Center, Kiev, Ucrânia
– “Uma canção para o Rio”, abertura da inauguração de Fortes D’Aiola, Gabriel Gallery, Rio de Janeiro, RJ
2016
– “32ª Bienal de São Paulo”, “Incerteza Viva”, São Paulo, SP
– “Wandering Arts Biennial”, Bruxelas, Bélgica
2015
– “Sonorama”, Chelpa Ferro, CCBB, RJ
– “Quero Te Encontrar”, La Maudite, Paris, França
– “Encruzilhada”, Parque Lage, Rio de Janeiro, RJ
– “O Que Caminha ao Lado”, SESC V Mariana, São Paulo, SP
– “Ter Lugar para Ser”, CCSP, São Paulo, SP
2014
– “Laboratório Contemporâneo”, Casa Daros, Rio de Janeiro, RJ
– “Open Museum Open City”, MAXXI Museo, Roma, Itália
– “Brazil Arte-Música”, Zacheta National Gallery, Varsóvia, Polônia
2013
– “Tsonami” Festival, Cárcel, Valparaíso, Chile
– “Panorama de Arte Brasileira”, MAM-SP, São Paulo, SP
– “VERBO”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “GIL70”, Museu Rodin, Salvador, BA
2012
– “VERBO”, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
– “Tro-pi-cal, Alternative Orders: A glimpse of Brazilian Art”, Akershus Kunstsenter, Oslo, Noruega
2011
– “Data Garden”, Botanical Garden, Philadelphia, EUA
Prêmios
2017
– “I EFG Artnexus Latin American Art Award”, nominada, Colômbia
– “I Prêmio Paulo Costa e Silva”, nominada, Porto, Portugal
– “Future Generation Art Prize”, nominada, Pinchuk Art Center, Kiev, Ukraine
2013
– Prêmio FUNARTE de Produção Crítica em Música, Rio de Janeiro, RJ
2011
– Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia, São Paulo, SP
2008
– Rumos Itaú Cultural, São Paulo, SP
Residências
2016
– “Bienal Dias de Estudo”, Fundação Bienal de São Paulo, Accra, Ghana
2014
– “Pivô Pesquisa”, Instituto Pivô, São Paulo, SP
– Sound Development City Expedition, Riga, Letônia/Helsinki, Finlândia
– Sound Development Institute, Zurich, Suíça
2012
– “CAPACETE”, Rio de Janeiro, RJ
Livros
2013
– “O que Faço é Música” (Music is What I Make), 7Letras, Rio de Janeiro, RJ
#32bienal TabomBass, Vivian Caccuri, Duração 52″
Video produzido pela Matrioska Filmes exclusivamente para o PIPA 2014:
Posts relacionados