(ultima atualização em julho/2018)
Piracicaba, SP, 1984.
Vive e trabalha em São Paulo e Piracicaba, SP.
Indicado ao Prêmio PIPA 2018.
Gustavo Torrezan é artista, pesquisador e educador. Seus trabalhos, marcados pela experimentação de síntese de formalização e pesquisas conceituais, convidam a refletir sobre as estruturas de poder em dispositivos do sistema das artes, fazendo uso de questões sobre o arquivo e a memória, espaço e lugar, Estado e poder.
Site: gustavotorrezan.com
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes exclusivamente para o Prêmio PIPA 2018
Sobre os trabalhos:
– Rádio Livre
O Projeto Rádio Livre consiste em montar uma rádio partindo dos pressupostos dos usos livres do ar (e por sequencia do espectro), da permanência no espaço de uma onda transmitida (frequência) e de como fazer um programa. Funciona como dispositivo político e afetivo de troca e aprendizados coletivos, de amplificação de vozes e de discursos e, também, de contestação do sistema de concessão para emissoras de radiodifusão.
– Comensalidade
Comensalidade é uma plataforma wi-fi independente para compartilhamento de arquivos. Com ela é possível oferecer e receber arquivos de interesse comum.
– Convivialidad
Convivialidad lanço uso da proposta criada pelo filósofo Ivan Illich para pensar a capacidade de fazer conviver as dimensões de produção e cuidado na e para o cultivo de modos de aprender que se dão em relação aos modos de conhecimentos não institucionalizados.
– estado
Um trabalhador de uma empresa terceirizada, contratada pelo próprio Estado para realizar serviços, utiliza as horas de descanso para trabalhar e complementar seu baixo salário confeccionando o mastro que sustenta uma bandeira oficial do Estado de São Paulo, deslocada do seu espaço usual. A bandeira, com tamanho agigantado, recebe um nó para não tocar o chão. Com área reduzida, assim como função, ela alude às ações de governantes ao mesmo tempo em que tensiona aquilo que aponta Pierre Clastres ao pensar a relação dos povos indígenas com o Estado: “mais contra o Estado do que sem Estado”.
– Americano
Americano parte da justaposição de tensões para disparar a sobreposição de possíveis conflitos. Um copo que comumente é lugar para líquido contém terra seca, numa alusão às condições de muitas cidades como São Paulo que, apesar de edificada em meio a tantos rios, padece da falta de água. Por outro lado, a questão da terra também se coloca. Não se trata de qualquer terra, mas de uma pequena porção vinda do povo Guarani do Pico do Jaraguá, em São Paulo, reprimida.
– Abolir o Futuro Planejado e Prometido
Construído com materiais precários, típicos aqueles que são facilmente descartados, o trabalho sustenta uma fragilidade típica de anti-monumentos. Parte das barricadas construídas por populares em manifestações para estruturar duas bases feitas com pneus usados que sustentam duas varas de madeira que apresentam na altura e num ângulo do ponto de vista de uma pessoa, o registro em dimensão proporcional de uma parcela do monumento as bandeiras quando esse foi palco das manifestações indígenas contra aquilo que representa o monumento e o futuro que sempre planejam e prometem à população, enquanto uma utopia que não se dá o primeiro passo para alcançá-la.
– Bandeirante
O trabalho parte do uso de materiais populares para criar uma associação entre dois momentos da história: as recentes manifestações patrióticas ocorridas desde o segundo mandado da primeira presidenta eleita, cujos manifestantes fazem uso da camiseta amarela da equipe de futebol, com o bandeirantismo, quando colonizadores faziam uso de cavalos para assolar os povos originários. O mastro que coloca a camiseta da seleção no alto traça uma linha reta com o urucum moído e em grãos, remetendo à terra roxa paulista rasgada por aqueles que buscam sobrepor uma cultura a outra.
– Sertão Sul
O trabalho traz aspectos reflexivos sobre a “incursão” desenvolvimentista para implementar a ideia de Brasil moderno que adentra e reconfuguram caracterizando seu próprio território. Ao somar materiais e símbolos temporais muitas vezes não associados busca provocar a tensão que marcou a caracterização de partes do país: o mandacaru do sertão dá suporte à luz elétrica e o pneumático veicular circunscreve o vaso de barro.
– Invenire
Invenire é a palavra em latim que se desdobra nas palavras inventário e invenção. Considerando e essa origem etimológica comum foi realizado procedimentos a partir da questão do roubo de obras em coleções. Inventariou-se as obras roubas e com ela foi feito um banco de dados com o qual o artista se coloca realizando alguns procedimentos curatoriais ao escolher algumas para serem exibidas, porém, não há a obra em si, mas a invenção de um outro modo de exibí-las a partir da referência dessas em fichas técnicas de dispositivos criados com as mesmas dimensões de
maneira a criar espaços ativos.
– Herança
As transformações da cidade e a constante sobreposição de histórias é pano de fundo para a construção de Herança. As demolições de construções antigas ou menos rentáveis e a consequente gentrificação são questões implicadas no trabalho, cuja pesquisa se iniciou com a fotografia da edificação prestes a ser demolida, seguida da coleta de um resquício da construção que é preso a um quadro, provocando um ruído entre o bidimensional do registro protegido e a pedra fixada por um cabo de aço que, tensionado, produz uma pressão estilhaçando o vidro da moldura.
– Lição
Como símbolo oficial que representa um Estado, toda bandeira possui um procedimento padrão e único para ser guardada. As dobras buscam evidenciar aspectos daquilo que é contido nela na tentativa de indicar a soberania de um Estado, porém, o mesmo não é feito nos procedimentos de governança que na maioria seguem padrões dos mais fortes. Associando essas duas perspectivas, o trabalho se faz na apresentação da bandeira do Estado de São Paulo segundo os procedimentos oficiais da bandeira dos Estados Unidos da América.
– Sem título (Desviantes)
A pesquisa para a exposição parte de estudos sobre museologia social e dos museus comunitários existentes no Estado do Ceará buscando problematizar a perpetuação de discursos hegemônicos assim como a possibilidade de desvio do uso corriqueiro de uma instituição. A partir do apagamento de posters de museus tradicionais que são vendidos como suvenirs para serem emoldurados e apresentados como obras, apresenta-se variações de possibilidades de construção, formatação e de uso dos museus enquanto dispositivo estratégico para escrever uma contra-história política.
– Dobra a força que vaza use uma torção a favor de um novo caminho
O trabalho parte de reflexões sobre a sintaxe visual – ponto de fuga e enquadramento – em relação à linha orgânica, esta ultima proposta por Ligia Clarck, para propor um desenho que se faz a partir da escrita, no espaço entre a moldura, remetida ao vidro translúcido, e o entorno.
Estudo sobre limite e produção de campo. Para apagar um campo ou mesmo “neutralizá-lo”; era comum o uso de sal como arma. Esse era jogado à terra para torná-la ácida e então infértil, rebaixando-a a condição de deserto afastando pessoas daquele lugar. A ação de colocar sal num território era realizada por escravos, trabalhadores em sua maioria de engenhos de açúcar, que por sua vez eram trocados por sal.
Essa mesma arma é usada de uma outra forma. Ao sentir uma indisposição momentânea, daquelas em que a cabeça parece girar, o corpo fica enfraquecido, mole, a visão escurece e o limite da perda de consciência esta próximo, é comum associá-la a hipotensão e consequentemente o uso do mesmo sal como estimulante para aumentar os níveis tensionais, a pressão.
A ação proposta consiste em levar uma pedra de sal* que pode ser ingerida, ou melhor, dissolvida completamente em baixo da língua no momento da viagem que melhor convier ou haver a necessidade. Caso não se dê essa necessidade do uso, o sal deve ser depositado o mais próximo possível da Base de Guantanamo.
*Pedra de Sal, remete também ao nome de um lugar no Rio de Janeiro, onde são encontrdos remanecentes de quilombolas e acontece festejos, especialmente rodas de samba e choro.
– Tecidades
A intervenção parte do convite que faço a uma outra artista para conhecer a cidade de Campinas. Dos pontos na cidade onde levei minha convidada até a exposição foram colocado placas que possibilitavam para que qualquer pessoas possa refazer o mesmo trajeto até chegar a exposição. A intervenção busca apresentar a cidade enquanto uma cartografia afetiva e entende-la como tecido social. Uma experiência de levar a conhecer e ser levado a conhecer foram expostos no formato de narrativa videográfica.
– Devir #3
Um palete industrial sustentando uma cadeira de plástico e um cachorro flutua a deriva no rio. Alusão direta a terceira margem do Rio, conto de Guimarães Rosa, a ausência, mas também a sempre constante diferenciação do fluxo do rio. Metáfora sobre a passagem da vida em relação a origem da cidade de Piracicaba que recebeu o nome do rio que corta seu território. Este trabalho também homenageia o artista popular Elias dos Bonecos que fazia intervenções na margem do Rio Piracicaba.
– |in|site
Uma pequena moldura é disponibilizada dentro da página de um catálogo de arte com os seguintes dizeres: “a partir de seus afetos e perseptos, eleja algo para indicar como arte, emoldure, registre e envie para o e-mail”. Aquilo que foi enviado pelos participantes foi construído um banco de dados e exibido na exposição.
– Catedral
Durante uma semana, em um mesmo período de horário e tempo estabelecido, foi desenhado em uma vidraça do espaço expositivo. Ao passar dos dias os desenhos foram sobrepondo-se criando camadas e fricções das diferentes perspectivas.
– Demarche
A intervenção parte da seleção de pontos da cidade de Campinas ao quais foram identificados como “obras de arte”, configurando uma exposição pela cidade. No museu vazio é apresentado um mapa da cidade em forma de um grande display onde estão apontadas as obras selecionadas para o “Salão de Arte Contemporânea de Campinas” e um pequeno livreto impresso como um convite para visitação desse salão. Demarche faz referência direta as conversas de Ligia Clarck com Helio Oiticica que utilizaram do termo para pensar a caminhada e o processo em seus trabalhos.
Graduado em artes plásticas, Torrezan é mestre em educação e doutor em poéticas visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Participou, entre outros processos de formação, do Programa Independente da Escola São Paulo (Piesp), dirigido por Adriano Pedrosa, entre os anos de 2013 e 2014.
O artista trabalha com práticas híbridas nas quais se vale de diferentes linguagens e materiais para evidenciar relações de poder e de controle com as quais se modulam os processos de subjetivação da sociedade, partindo de noções de história da arte e da cultura para tensionar questões políticas, sociais e culturais que convergem no campo da arte.
Educação:
2017 – 2013
– Doutorado em Artes Visuais (Área de concentração – Poéticas Visuais) na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp
2014 – 2013
– Programa Independente da Escola São Paulo (PIESP), dirigido por Adriano Pedrosa e Ana Paula Cohen
2012 – 2009
– Mestrado em Educação (Área de concentração – Educação, Cultura, Linguagem e Artes) na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp
2008
– Mestrado em história da arte e cultura latinoamericana na Universidad Mayor Nacional de San Marcos, Lima, Perú (interrompido)
2008 – 2004
– Graduação e Licenciatura em Artes Plásticas na Universidade Estadual de Campinas, Unicamp
Exposições Individuais:
2016
– “estado”. Ateliê 397, São Paulo, SP
– “Pode uma Imagem”. Vila Feito à Mão, Piracicaba, SP
2015
– “Invenire”. Galeria de Artes Fernanda Perracini Milani, Jundiaí, SP
2013
– “Desviantes”. Galeria de Artes da Faculdade de Artes de Limeira, Limeira, SP
2012
– “ESCAPA”. Galeria Vertente, Campinas, SP
2011
– “TECIDADES”. Ateliê Aberto – Espaço independente, Campinas, SP
Exposições Coletivas Selecionadas:
2018
– “Especular”. Curadoria de Hena Lee e Mirtes Martins de Oliveira. Galeria Jaqueline Martins, São Paulo, SP
2017
– “Elogiamos a Casa que se Abre a Perder de Vista”. Curadoria Mario Gioia. Galeria Bolsa de Arte, São Paulo, SP
– Festival Voa Voador. Sítio Voador, Atibaia, SP
2016
– “Anacronismo Combinatório”. Galeria de Arte Braz Cubas, Santos, SP
– “Pode uma imagem”. Galeria de Artes da Unicamp, Campinas, SP
– “Abolir o futuro planejado e prometido”. Curadoria de Juanjo santos. Ateliê Fidalga, São Paulo, SP
2015
– “Aparições”. Museu da Imagem e do Som, Campinas, SP
– “Palavra + imagem”. Museu de Arte de Goiânia, Goiânia, GO
– “Artista-pesquisador e seus campos de atuação”. Galeria Espaço Piloto da Universidade Nacional de Brasília, Brasília, DF
2014
– Exposição PIESP – Turma 2013-2014. Casa do Povo, São Paulo, SP
– 25 anos de Mostra de Arte da Juventude. Galeria de Artes do Sesc Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, SP
2013
– “Nada do que Lembramos é Verdade”. Curadoria de Ricardo Resende e Danilo Villa. Casa das Artes da Universidade Estadual de Londrina – PR
2012
– 62º Salão Paranaense de Arte Contemporânea. Curitiba,PR
– 44o Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Piracicaba, SP
– HAJA S.A.C. – Casa do Salgot Espaço Cultural Independente. Piracicaba, SP
– AO CUBO + SOBRELIVROS – Aragem Contemporânea. Espaço Independente, Piracicaba, SP
– 28º Salão de Embu das Artes. Embu das Artes, SP
2010
– “e…”. Casa do Salgot- Espaço Cultural, Piracicaba, SP
– RESIDÊNCIA. Galeria de Artes da Unicamp, Campinas, SP
2009
– “79-09” Panorama de 30 anos da arte contemporânea em Campinas. Museu de Arte Contemporânea de Campinas, Campinas, SP
– “Identidade Caipira”. SESC Piracicaba, Piracicaba, SP
– “Situ.” SESC Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, SP
– 9º Território das Artes de Araraquara. Araraquara, SP
2008
– 8º Salão de artes Visuais de Guarulhos. Guarulhos, SP
– “Idéias em trânsito para circulação balanceada e sobrevivência”. Americana, SP
– “Casa na Cidade”. Projeto de exposição e residência artística. Campinas, SP
– 19º Mostra de Arte da Juventude do SESC. Ribeirão Preto, SP
– “Entre_Linhas”. Museu de Arte Contemporânea de Campinas, Campinas, SP
– “4 Ventos”. Piracicaba, SP
– 14º Salão de Arte Contemporânea de Campinas. Campinas, SP
2007
– 39 ̊ Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Piracicaba, SP
– 1º Bienal do Triângulo Mineiro. Uberlândia, MG
– 1º Salão Universitário de Artes da Unicamp. Campinas, SP
– Coletiva no ARAGEM Contemporânea. Piracicaba, SP
– 2 ̊ Technology: Diálogos entre a música eletrônica e a arte contemporânea. Americana, SP
2006
– 38º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Piracicaba, SP
– Technology: Diálogos entre a música eletrônica e a arte contemporânea. Americana, SP
2005
– 6 ̊ Festival do Instituto de Artes da Unicamp. Campinas, SP
– 37 ̊ Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Piracicaba, SP
Residências Artísticas:
2018
– Barda del Desierto (Contra-almirante cordero, Rio Negro, Patagônia, Argentina)
2017
– Intervalo Escola – Intervalo em Curso Amazônia
2016
– Lab Verde Amazônia
Curadorias:
2014
– “O feito, trabalho”. Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC), Campinas, SP
2013
– “Territórios e Fugas”. Galeria de Artes da Unicamp, Campinas, SP
2012 – 2011
– “Instante: experiência/acontecimento”. Sesc Campinas. Sesc Pinheiros e
Sesc Santo André, Campinas e São Paulo, SP
Trabalhos em Coleções:
– Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC), Campinas, São Paulo
Posts relacionados
- A coletiva "Máscaras: fetiches e fantasmagorias" reúne pinturas, esculturas e instalações
- Como medida sanitária, Lucas Simões apresenta site specific em espaço externo
- Oito artistas discutem a cidade de São Paulo em coletiva
- Mais vídeo-entrevistas com os artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018
- Conheça os 78 artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018
- Anúncio dos artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018 - 1º boletim
- Performance em foco em duas exposições
- Fabiana Faleiros, Ícaro Lira, Pedro Caetano e Rafael RG participam do evento-bazar Souvenir
- Últimos dias: 64º Salão Paranaense
- Coletiva no Paraná com artistas PIPA
Videos relacionados