(ultima atualização em julho/2018)
Rio de Janeiro, RJ, 1982.
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ.
Representado pela Galeria Cavalo, Galeria Dotart e Roberto Alban Galeria
Indicado ao Prêmio PIPA 2018.
Doutor em Linguagens Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRJ, Alvaro Seixas é também professor do departamento de Desenho da Escola de Belas Artes, UFRJ. Seu trabalho mais recente explora o desenho e a figuração, muitas vezes se apropriando de figuras da cultura pop. Esses trabalhos, carregados de um humor ácido, tecem uma crítica e fazem uma provocação ao sistema de arte e seus mecanismos de poder e status. O artista também desenvolveu, ao longo de sua carreira, trabalhos que exploram a abstração na pintura e como essa linguagem se relacionam com o panorama artístico-cultural atual.
Site: alvaroseixas.com
Vídeo produzido pela Do Rio Filmes exclusivamente para o Prêmio PIPA 2018:
“O artista como impostor”
Por Felipe Scovino, 2012
[Texto escrito por ocasião da mostra individual do artista “Keep Dripping” na Galeria Mercedes Viegas Arte Contemporânea, RJ]
Alvaro Seixas aborda francamente o problema: a maior parte de suas telas é indicativa de um lugar, de uma referência que transita entre o suprematismo, o expressionismo abstrato, o minimalismo e pósminimalismo. E, porque são (a princípio) autorreferentes, essas telas colocam o espectador diante de uma significação. Ora, é impossível, diante de uma tela de Seixas não experimentar esse reflexo: procuramos a analogia, assim como a legenda de uma obra é incessantemente procurada pelos visitantes de um museu antes da contemplação da pintura. Portanto, procuramos e, evidentemente, encontramos “erros”, “desajustes” em relação ao original. Ou pelo menos – e aqui começa a produção de Seixas – o que encontramos – a tela e a revelação de um incessante enigma – é ambíguo: entre os falsos Malevitchs, Blinky Palermos que “nada” representam, permeando certa vagueza, somos deslocados para uma outra lógica: embora possa receber a qualidade de “impostora”, a tela tem um fim: o que nela se passa está em conformidade com uma certa finalidade. Sua obra não pode ser julgada em um primeiro olhar, pois não se trata de uma relação de imitação tampouco de inspiração.
Passando ao largo da instância entre ser original e cópia, a obra busca uma autonomia que acaba por recodificar o real, isto é, ao se colocar como uma falsa aparição e logo adiante superar essa ideia, percebemos o método investigativo, a preparação criteriosa da obra, suas camadas de óleo e velaturas elaboradas. Sua tela não trata de uma reprodução ou fazer crer ao espectador uma incrível (e falsa) ilusão de facilidade. Sua obra coincide plenamente com sua aparência, isto é, uma série de obras ou dispositivos imagéticos que são plenamente reconhecidos ou consagrados pela história da arte e, portanto, é necessário atrever-se a afirmar que é uma obra banal. Porém, por outro lado – e aqui está outra qualidade – esta aparência não coincide com uma linguagem que está deslocada de seu lugar, pois é gauche. É uma obra permeada de erros, imperfeições e falsidades que descobertas em um segundo momento de apreciação deslocam-na para um território de autonomia em relação à “matriz”. Passamos a analisar a sua obra como uma pintura qualquer – no melhor sentido que essa expressão possa vir a ter -, e nesse momento a relação de aproximação e diálogo com a história da pintura ganha novos contornos e trajetórias.
Essa sucessão de “erros” quando colocados lado a lado acabam por criar uma condição de abjetos a elas próprias – as obras – e ao território da galeria. As obras deixam de dialogar entre si – condição primaz de uma curadoria – ou então esse diálogo se dá pela forma de uma contaminação que é atravessada pelo ruído, por certa sujeira. Há uma atmosfera de desarmonia e paradoxos sendo apresentada: obras próximas ao chão, ou no encontro de arestas, obras menores sendo “engolidas” por maiores, discordâncias entre cores, formatos e escalas assim como o próprio título da exposição (Keep Dripping). Este é mais um momento da referida permanência que a sua obra possui e da sua desvinculação com a ideia frágil de ser nomeada como impostora. Ou melhor, esta condição lentamente se transforma em uma qualidade preenchida de cinismo e deboche corrosivos. Sua obra torna-se um agente infiltrador, cáustico, portador de questionamentos e elemento criador de seu próprio circuito.
“Um estranho olhar, um estar no olhar”
Por Marcus de Lontra Costa, 2008
[Texto crítico escrito por ocasião da individual de Alvaro Seixas realizada na Galeria Amarelonegro Arte Contemporânea, RJ]
Para a arte moderna a imagem da pintura é o instrumento da Verdade. Para a arte contemporânea a verdade não interessa – a imagem da pintura é o fantasma de sua própria realidade, espaço ambíguo onde o real e o virtual se encontram e se estranham.
É exatamente esse estranho espaço, no where, essa não concretização de seu espaço físico de ação de representação…) que assegura à arte contemporânea a sua razão de ser nesse mundo volúvel e indefinido de formas e volumes, de mitos e realidades, abstrações e concretudes, sólidos, líquidos e gasosos de uma mesma matéria, de um corpo intangível. E a pintura sobrevive a essa realidade tão contrária à sua essência, graças a essa sua incrível capacidade de fingir, de representar, de elaborar discursos que recusem o seu papel redentor de agente transformador do mundo por meio de um mergulho nas suas próprias entranhas para se afirmar como elemento poético do mundo projetado pelas imagens dos seus fantasmas.
“O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente”
(1). Assim como Fernando Pessoa, o artista contemporâneo sublima o horror pelo humor e elabora um discurso pautado pela ironia, pelas antíteses conceituais e pela recusa frontal a um discurso ético que hoje cede lugar ao pragmatismo dos tempos atuais.
Aquele discurso de mundo idealizado pelo modernismo foi estilhaçado pela realidade tecnológica e por suas inusitadas formas de contato e de comunicação. O artista, hoje, opera como amálgama dessa realidade fragmentada, resíduos de matérias opacas, cacos de vidro, pinturas e fotografias. Nesse grande “lixão” tudo se encontra, tudo se mistura: por isso para o artista contemporâneo é indiferente trabalhar com imagens construídas numa tela, impressas num papel fotográfico ou projetadas num espelho. Todas elas estão por aí, e cansadas de serem sonâmbulas no museu, vagam pelas ruas da cidade, pelos quatro cantos do mundo, pelas lembranças, memórias, passados e presentes que se encontram nessa estranha equação de um novo e admirável mundo sem futuro.
Os trabalhos do jovem artista Alvaro Seixas fazem aflorar algumas dessas questões. Pinturas, desenhos, fotografias, essencialidades do plano, trazem um flagrante comprometimento com a história recente da arte. Sua produção estabelece de imediato uma associação com as vanguardas tradicionais modernistas, dialogando com abstração informal e com a síntese construtiva. A elas o artista acrescenta um imediatismo gráfico oriundo da pop arte e é a partir dessa seleção que Alvaro compõe as bases de seu repertório formal. Se os instrumentos de ação artística são, essencialmente, oriundos da história recente, a ironia e uma espécie de “mal estar” que embasam os trabalhos são característicos do pensamento contemporâneo. Os elementos formais não se estruturam como agentes da Verdade modernista; ao contrário elas são objetos de uma estranheza, sem definição nítida ou superando seus contornos pelos limites rígidos do suporte. Essa tensão entre o elemento formal e o local da ação artística provoca uma inteligente e curiosa equação visual que o artista sabe explorar.
Todo trabalho de um jovem artista necessariamente traz o seu presente, o fato real e visível, a “Obra” e traz, também, inevitavelmente, a projeção do seu futuro, do seu devenir, de sua projeção no tempo futuro. Alvaro Seixas encontra-se no início do caminho, começo de uma trajetória. Há nele, a inquietação desejada nos verdadeiros artistas. Devemos, ainda acreditar, que em meio ao burburinho do mundo em que vivemos a arte possa ser ainda um instrumento poderoso de transformação do real, valorizando o que o ser humano tem de essência e valor: a capacidade de criar, como faz o jovem artista Alvaro Seixas, uma linguagem baseada na inteligência e na sensibilidade da experimentação do mundo.
1. Autopsicografia, Fernando Pessoa
Formação
2015
– Doutor em Linguagens Visuais pela UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
2010
– Mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil
2006
– Graduado em Pintura pela UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil
Atuação Acadêmica
2015 – atualmente
– Professor da Escola de Desenho da Escola de Belas Artes da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil
2009 – 2015
– Professor da Escola de Design da Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, Brasil
Exposições Individuais Selecionadas
2017
– “Muito Romântico Tour”, Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
– “O coxo, o sádico e o poeta”, Roberto Alban Galeria, Salvador, Brasil
2016
– “Alvaro Seixas: O Artista que queria ser Rei”, DotART Galeria de Arte, Belo Horizonte, Brasil
2015
– “Paintbrush”, Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
– Alvaro Seixas no projeto Technô, Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, Brasil
2012
– “Keep Dripping”, Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
2011
– “Alvaro Seixas”, Amarelonegro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
2008
– “Alvaro Seixas”, Galeria Amarelonegro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
2005
– “Alvaro Seixas”, Galeria de Arte SESC, Niterói, Brasil
Exposições Coletivas Selecionadas
2018
– “Jardim das delícia com juízo final”, curadoria de Pedro Caetano, Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
2017
– “Palavra”, curadoria de Omar Salomão, Galeria Oriente, Rio de Janeiro, Brasil
– “Pés no chão, cabeça nas nuvens”, DotART Galeria de Arte, Belo Horizonte, Brasil
– “PINTURA (Diálogo de artistas)”, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil
– “A Luz que vela a corpo é a mesma que revela a tela”, curadoria de Bruno Miguel, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil
– “Mundos Reinventados (Let us just call it abstract)”, curadoria de Bob N., C Galeria, Rio de Janeiro, Brasil
2016
– “The Unique Institutional Critique Pop-Up Boutique”, Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
– “Um desassossego”, Galeria Estação, São Paulo, Brasil
– “Pequenas Pinturas”, curadoria de Ricardo Kugelmas e Bruno Dunley, Auroras, São Paulo, Brasil
– “Alvaro Seixas, Jhafis Quintero e Roberto Freitas”, curadoria de Wilson Lázaro, Casa DotART, Belo Horizonte, Brasil
– Exposição Inaugural, Cavalo, Rio de Janeiro
2015
– 10a Bienal do Mercosul “Mensagens de Uma Nova América”, Porto Alegre, Brasil
– V Edição do Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, MAC-USP, São Paulo, Brasil
2013
– “Ornamentos”, curadoria de Felipe Scovino, A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, Brasil
2012
– “Coletiva 12”, Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
– Palácio: Alvaro Seixas, Hugo Houayek, Rafael Alonso – Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea, Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, Brasil
2011
– “Coletiva 11”, Galeria Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
– “(Des)equilíbrios e (Im)perfeições”, curadoria Marcus Lontra, Galeria Coleção de Arte, Rio de Janeiro, Brasil
– “Pintura Ampliada: Alvaro Seixas, Hugo Houayek e Rafael Alonso”, curadoria Felipe Scovino, Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza, Brasil
– “Pintura Reprojetada”, curadoria Marcus Lontra, Espaço Cultural Marcantonio Vilaça do TCU, Brasília, Brasil
2010
– “Além do Horizonte”, curadoria Daniela Name, Amarelonegro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
– Alvaro Seixas/Rafael Alonso, Atelier Subterrânea, Porto Alegre, Brasil
2009
– “Mirantes – Rumos Itaú Cultural”, curadoria Alexandre Sequeira, Galeria Juvenal Antunes, Rio Branco, Brasil
– “Rumos Itaú Cultural 2008-2009 – Trilhas do Desejo”, curadoria Paulo Sérgio Duarte, Instituto Itaú Cultural, São Paulo e Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil
2008
– “Janelas para o Mundo”, curadoria de Marisa Flórido Cesar, Casa das Onze Janelas, Belém, Brasil
– “Arte pela Amazônia”, Fundação Bienal, São Paulo, Brasil
2007
– “Velatura Sólida”, curadoria de Felipe Barbosa, Amarelonegro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
2006
– “Imaginário Periférico: Migrações”, Galeria da Usina Cultural CENF, Nova Friburgo
– “Imaginário Periférico: Migrações”, Galerias de Arte do SESC,Teresópolis, Niterói, Nova Iguaçu e Barra Mansa, Brasil
– “Imaginário Periférico, Galeria 90”, Rio de Janeiro, Brasil
2005
– Alvaro Seixas, Hugo Houayek, Rafael Alonso, Espaço Bananeiras, Rio de Janeiro, Brasil
– “Assentamento”, Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, Niterói, Brasil
– Fraenkelstein Salon London – Project 142, Londres, Inglaterra
2004
– “Diálogos plurais”, Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro, Brasil
– I Salão de Arte Internacional laisle.com, Fundación Gugg und Chaim, Rio de Janeiro, Brasil
– Coletiva, Galeria da Universidade Salgado de Oliveira, Niterói, Brasil
Bibliografia Selecionada
– Seixas, Alvaro. Mind the Artist. Holanda: Basboek Publishers, 2017
– Seixas, Alvaro; Houayek, Hugo; Alonso, Rafael. Palácio. Rio de Janeiro: Apicuri, 2013.
– Seixas, Alvaro. Sobre o Vago: Indefinições na Produção Artística Contemporânea. Rio de Janeiro: Apicuri, 2011.
– Seixas, Alvaro; Lontra Costa, Marcus. Pintura Reprojetada. Catálogo da exposição . Brasília: Tribunal de Contas da União, 2011.
– Duarte, Paulo Sérgio. Trilhas do Desejo: a arte visual brasileira. Catálogo da exposição. São Paulo: Senac, 2009.
Prêmios
2012
– Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea 2012 – Rio de Janeiro. Pela proposta de exposição ‘Palácio’, concebida em parceria com Hugo Houayek e Rafael Alonso
2008
– Rumos Itaú Cultural 2008-2009, curadores: Alexandre Sequeira, Christine Mello, Marília Panitz, Paulo Reis, coordenados por Paulo Sérgio Duarte
– Prêmio SIM Artes Visuais. Exposição “Janelas para o Mundo”, Casa das Onze Janelas (Belém), curadoria de Marisa Flórido Cesar
Coleções Públicas e Privadas
– The Alex Katz Foundation, EUA
– Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), Rio de Janeiro, Brasil
– Coleção Diógenes Paixão, Rio de Janeiro, Brasil