O PIPA Online surgiu ainda em 2010, durante a primeira edição do Prêmio PIPA. Assim que divulgamos os então quatro finalistas, o interesse do público parecia ter ficado concentrado apenas neles. Por outro lado, tinham ainda outros 72 artistas naquele ano que mereciam ter seus trabalhos divulgados. Disto surgiu a ideia do PIPA Online: utilizaríamos a força do voto popular e da internet para poder promover mais artistas, principalmente aqueles que estão fora dos grandes centros urbanos. Ao longo dos anos algumas campanhas se destacaram por suas estratégias junto à comunidades. Nesta 14ª edição do PIPA Online, tivemos novamente um movimento positivo e engajador.
Após dois turnos de votação, com 70 artistas participando do primeiro e 10 artistas do segundo, o coletivo Retratistas do Morro alcançou o primeiro lugar do PIPA Online 2023, e André Mendes alcançou o segundo.
O Retratistas do Morro tem por objetivo contribuir para construção de uma narrativa da história recente das imagens brasileiras baseada no entendimento e reconhecimento sobre a existência do movimento de fotógrafos que viveram e trabalharam nas favelas registrando cotidianamente os modos de vida de suas comunidades, ao longo dos últimos 50 anos. Atua por meio de um conjunto de ações ligadas aos campos da pesquisa de imagens, historicidade, vivências comunitárias, preservação de memória oral e visual, conservação de acervos e restauração digital, propondo reflexões sobre as mudanças fundamentais nos modelos de percepção promovidas por essas fotografias.
Recebemos alguns relatos de pessoas que acompanharam de perto, e puderam ver pessoalmente, a campanha realizada pelos Retratistas na Comunidade da Serra, em Belo Horizonte (MG), para incentivar a votação. A mobilização feita foi impressionante, contando com banners em praças, projeções em prédios, cartazes espalhados, eventos culturais, visita a escola e pontos com Wi-Fi para tornar o voto mais acessível. Todas essas atividades foram organizadas de forma comunitária por uma equipe composta de 11 pessoas, que se voltaram à divulgação do trabalho do coletivo ao longo dos sete dias de votação do segundo turno do PIPA Online.
Leia abaixo o relato que a equipe dos Retratistas nos enviou, contando mais sobre os eventos realizados e a dinâmica da campanha, repleta de afeto:
“Durante os dias de votação realizamos uma ação comunitária na Comunidade da Serra. Foi uma semana de campanha bem intensa e de muito trabalho. Nossa equipe, composta por 11 pessoas, esteve presente na Comunidade, junto com os fotógrafos João Mendes e Afonso Pimenta, mobilizando os moradores e conversando com a população nas praças, escolas e ruas. Recebemos muita ajuda e muito carinho da população que a cada voto compartilhava suas memórias sobre as fotos tiradas pelos fotógrafos. Todo voto conquistado foi uma história de vida contada.Montamos uma estrutura de apoio para atender a população e comunicar com os moradores; foi praticamente um evento na comunidade. Tínhamos uma tenda com internet Wi-Fi livre, banners espalhados pela Praça do Cardoso e uma equipe que distribuiu mais de 6 mil panfletos em toda favela. Em nossos materiais havia um QR code que direcionava a pessoa direto para o site do prêmio, facilitando o acesso à votação.
No período da noite, realizávamos sessões de projeção e interagíamos com os movimentos culturais e de formação da Serra. Na batalha de MCs da DJ Pitty (Batalha da Serra e Baile da Serra ) apresentamos o projeto ao seu público, participamos de uma oficina sobre comunicação comunitária organizada pela Oficina de Imagens no Projeto Seu Vizinho e visitamos a Escola Estadual José Mendes Júnior, indo de sala em sala, para falar sobre o Retratistas. Por fim estivemos no baile Soul Preto do Centro Cultural Vila Marçola com discotecagem do DJ Misinha a convite do Movimento Hip Hop Serra. Foram sete dias e sete noites de campanha.”
Ana Avelar, um dos membros convidados do Conselho do Prêmio, estava em Belo Horizonte na época da votação e pôde ver de perto a campanha, que descreveu como incrível e emocionante. Ela destacou que presenciou o movimento do coletivo em uma praça em sua comunidade, onde “eles montaram uma estrutura com banners, mesas, cadeiras, tendas, e recebiam as pessoas para conversar sobre o Prêmio, para divulgar tanto o Prêmio, quanto o fato de estarem concorrendo. Havia livros sobre o coletivo, e eles estavam presentes. Então foi um movimento coletivo, comunitário, em nome de um prêmio que se quer também coletivo. Como a expressão, de fato, daquilo que é o desejo da comunidade”.
Assista abaixo a um compilado feito com os vídeos enviados pela equipe da campanha, capturando alguns dos momentos vividos nos sete dias de atividades:
Após o anúncio dos vencedores, a equipe dos Retratistas ainda colocou uma faixa na comunidade, comemorando, agradecendo o apoio de todos e ressaltando o caráter coletivo da vitória:
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