“Sinta-se em casa mas lembre-se que não está”, por Mariana Casagrande

Mariana Casagrande publicou na última edição da Revista Concinnitas um artigo que parte do conceito Das Unheimlich (o infamiliar), de Sigmund Freud, para analisar a relação sujeito-casa ao longo da pandemia iniciada em 2020. Utilizando como referência o texto psicanalítico, Mariana investiga como a arte contemporânea brasileira e as manifestações oníricas puderam simbolizar o angustiante convívio com o espaço doméstico durante o enfrentamento do vírus. Para ilustrar essa reflexão, ela analisa trabalhos exibidos no PIPA em Casa, auxílio emergencial oferecido pelo Prêmio em 2020.

Leia o texto abaixo ou no link da revista:
https://www.e publicacoes.uerj.br/index.php/concinnitas/article/view/62773/45722


1. Das Unheimliche: o infamiliar na pandemia

Casa: significante de identidade, reconhecimento e pertencimento e ao mesmo tempo de estranhamento, angústia e inquietação para todos nós que vivemos a pandemia do século XXI. Como esse lugar que nos é garantido como segurança e refúgio contra o vírus que nos aflige e ameaça pode ser também a origem do medo para aqueles que se isolam? Para refletir sobre a relação do sujeito com a própria casa, daqueles que puderam realizar o isolamento social, procuro me aproximar dessa casa enquanto experiência subjetiva e pessoal. Mas também considero a permanência no espaço doméstico enquanto uma vivência coletiva deste tempo em que nos recolhemos para nos proteger. Para isso, recorro a Sigmund Freud que, em 1919, escreveu Das Unheimliche, traduzido como O Infamiliar no Brasil [1]. No texto lançado logo após o término da primeira guerra mundial, Freud traça alguns paralelos entre a psicanálise e a literatura para tentar compreender a relação do sujeito com a estética e seus efeitos. Logo, neste ensaio, investigo manifestações psíquicas de relatos de sonhos da pandemia e obras de arte contemporânea exibidas na exposição virtual PIPA em Casa [2], realizada pelo Prêmio PIPA em maio de 2020, para pensar nossa relação com a casa e o íntimo nesse ano atípico e já marcado como um trauma.

O conceito do infamiliar criado por Freud pode ser usado para analisar a sensação de estranhamento vivida ao longo do isolamento social e do imperativo da casa durante a pandemia. No texto de 1919, o precursor da psicanálise define o infamiliar como “uma espécie do que é aterrorizante e que remete ao velho conhecido, há muito íntimo”[3] em oposição ao domesticado e aconchegante presente na interpretação de heimlich (familiar). Para ele, o mesmo objeto, cena, situação ou experiência estética poderia causar uma sensação de angústia e familiaridade de maneira sincrônica. O infamiliar seria então o sentimento estranho de se deparar com algo que é desconhecido, assustador, oculto e também doméstico e íntimo.

Segundo Freud, essa sensação aparentemente ambivalente de familiaridade e terror poderia ser vivenciada em diferentes situações: diante da loucura, da repetição, da morte, do duplo, de crenças animistas, de magia e feitiçaria, entre outras. Na realidade ou na ficção, esses temas exemplificados pelo psicanalista têm a capacidade de nos provocar o sentimento do infamiliar, de algo assustador que nos remete ao íntimo. Freud acredita que essa sensação de infamiliar seria causada pelo retorno do recalcado da infância ou de épocas remotas do desenvolvimento humano, a posteriori. Ou seja, aquilo que foi vivido nos primeiros anos de vida, ou no início da história da nossa espécie, é esquecido, embora permaneça reconhecível pelo inconsciente por fazer parte de um notado passado. O infamiliar é o
que deveria permanecer oculto, mas vem à tona. Por isso, há uma sensação paradoxal ao encará-lo.

Se a teoria psicanalítica tem razão ao afirmar que todo afeto de uma moção de sentimento, de qualquer espécie, transforma-se em angústia por meio do recalque, entre os casos que provocam angústia deve haver então um grupo no qual se mostra que esse angustiante é algo recalcado que retorna. Essa espécie de angustiante seria então o infamiliar [4].

Diante das imagens e exemplos que construímos para ilustrar a sensação do infamiliar, duas devem ser vistas com maior sensibilidade neste momento: o retorno do familiar-doméstico recalcado e o infamiliar diante da morte. Após um ano de enfrentamento da pandemia, em que até agora registramos mais de 4 milhões de mortes [5], do qual por muitos meses nossa única medida sanitária foi o isolamento social, reconhecemos que o convívio com a casa, com o silêncio e o estar sozinho nos desafiam a elaborar essa experiência. Desde a infância, em que a criança tem
medo do escuro do próprio quarto – lugar de suposta segurança e bem-estar –, percebemos que o doméstico nos causa angústia de algo muito íntimo. Potencializada com o número de mortes provocadas pelo vírus, a permanência em casa nos é inquietante. Por isso, buscamos compreender esse momento a partir das manifestações inconscientes e da produção criativa realizada durante este período.

2. Sonho e produção artística como elaboração e simbolização do trauma

É por conta da vivência da pandemia, acontecimento histórico e traumático para os sujeitos contemporâneos, que precisamos elaborar as perdas e mortes registradas, além da angústia experienciada ao longo de mais de um ano. Como forma de simbolização da dor, temos os sonhos noturnos como um dos recursos disponíveis. Em 2020, uma equipe de psicanalistas de universidades federais, como a Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) [6], se disponibilizou para escutar sonhos de pessoas de todas as regiões do país, remotamente. Os objetivos da iniciativa eram recolher sonhos que trouxessem sinais imagéticos da crise sanitária mundial, apontando para desafios e sofrimentos futuros, e oferecer apoio através da escuta para quem desejasse.

Ao final de alguns meses de coleta, quando mais de 900 sonhos já haviam sido enviados ao grupo, uma leitura computacional foi feita para identificar as palavras mais recorrentes nas manifestações oníricas. Depois de “sonho”, os dois termos mais citados eram “casa” e “mãe” [7]. Além disso, “medo” foi o significante mais usado para descrever esses sonhos. Fica evidente, portanto, que a tão referida casa estava tomada pelo horror – e não apenas por segurança ou conforto – até para aqueles que puderam se isolar.

Como entender esse aparente paradoxo? Se a ‘casa’ é o lugar no qual supostamente nos sentiríamos seguros e protegidos frente às ameaças do mundo, o que teria acontecido com os indivíduos em uma situação imposta na qual fossem impedidos de sair de casa? Esperávamos, então, que as imagens oníricas narrassem um pouco como a virada trazida por esse evento atravessou as sociedades em escala global e impactou sensivelmente os sujeitos na contemporaneidade [8].

Diante dos relatos de sonhos coletados e das imagens mais frequentes, podemos perceber que a casa foi vivida de forma ambivalente durante a pandemia: ao mesmo tempo em que oferecia uma barreira à contaminação para aqueles que tiveram o privilégio do isolamento, nos colocava também de frente para o nosso íntimo angustiante. Segundo os pesquisadores, ao permanecer em casa “estranhamos o que nos é familiar, quando sentimos desconhecer o que conhecemos há muito” [9] . A experiência doméstica, que poderia ter sido interpretada como uma proteção à doença, nos posicionou diante do mais secreto – que veio à tona repentinamente – e, por isso, nos causou horror. O material onírico dos brasileiros, como este abaixo, pôde nos revelar a sensação do infamiliar vivido no isolamento social.

Estava num prédio muito alto, imagino que no vigésimo andar. Não era um prédio luxuoso, mas era aparentemente sólido e com uma estrutura bacana, além de visualmente bem decorado. Por algum motivo que não sei exatamente qual, tive que sair de forma urgente, poderia ser um incêndio, poderia ser um curto-circuito apenas… mas o fato é que não poderia usar o elevador. Então corri para a escada e quando a encontrei fiquei muito chocada, pois o prédio havia ‘se virado em seu eixo’… tipo, invertido os lados… e a escada ficou virada para a parede, além de ter aberto um buraco, um vão da altura dos andares. Além de a escada estar aparentemente inacessível por “começar na parede”, a fenda muito larga que se abriu me impedia de sequer tentar chegar até a parede das escadas. Olhava o tamanho do buraco e a altura em que estava e sabia que seria impossível. Fiquei muito desesperada por estar encurralada ali e tive clareza de que não conseguiria me salvar, meu sentimento era de pânico, muito real e até físico, tanto que acordei muito assustada e impressionada com tantos detalhes e a clareza com que eu via minha morte (Anna, 38 anos, 20 de maio de 2020) [10].

Na descrição do sonho, Anna (nome fictício), uma das voluntárias da escuta de sonhos, já trabalhou no setor imobiliário e nos apresenta um cenário de abalo, de quebra de uma estrutura aparentemente sólida que se rompe e a coloca em desamparo. De forma repentina, ela percebe que o que era conhecido virou-se em seu próprio eixo e a deixou sem soluções para imaginar uma saída possível. Assim, como recurso simbólico, podemos analisar esse sonho como exemplo da dimensão traumática que o confronto com a casa nos proporcionou nos últimos meses. Houve, no
isolamento social, uma interrupção abrupta de uma realidade anterior que não oferecia uma escapatória exceto elaborar as perdas vividas.

É importante ressaltar, porém, que ainda que a quarentena obrigatória não tenha sido a única nem a maior responsável pelas angústias que surgiram ao longo da pandemia, ela em alguns casos reatualizou a sensação de
infamiliar ao estar diante do mais íntimo e das memórias do passado. Para aqueles que conviveram intensamente com o eu refletido na própria casa, esse retorno ao recalcado imposto pelo vírus merece uma elaboração à altura dos acontecimentos traumáticos de 2020 e 2021. O sonho, portanto, como trabalho do inconsciente, é uma das possibilidades para simbolizar as dolorosas transformações e perdas ocorridas, além de ser um material
rico para aqueles que desejam compreender o que ocorreu internamente com os indivíduos.

Uma outra rica fonte de investigação, além da psicanalítica, para a percepção da casa durante o ano de 2020 é a produção artística desenvolvida nesse período. Nos primeiros meses da pandemia, o Prêmio PIPA, importante premiação de arte contemporânea no Brasil, realizou a mostra digital PIPA em Casa. Em uma iniciativa de oferecer auxílio financeiro a artistas que perderam parte da renda durante o isolamento social e também servir como uma lupa para o que era produzido artisticamente nesse momento, artistas participantes de qualquer edição do PIPA foram convidados a enviar fotos ou vídeos de trabalhos antigos ou recém finalizados. Na exposição virtual, que contou com participação de mais de 100 artistas, a temática da casa esteve, de maneira espontânea, muito presente. A iniciativa, cujo nome afirmava politicamente a necessidade de estarmos em casa naquele momento e apoiava a produção doméstica, pôde reunir obras e artistas que ativamente estavam encarando e pensando a relação com o espaço privado ou denunciando as mazelas sociais do país que impediam a proteção de muitos que não têm um espaço para morar.

Uma das obras apresentadas, por exemplo, foi a pintura de Agrade Camíz Sinta-se em casa mas lembre-se que não está (2020). Em seu trabalho, a artista explora o significante grade – que ela repete em diversos suportes, inclusive no próprio corpo e no nome – para falar de temas como a problemática habitacional no país. A artista, que foi criada em um conjunto habitacional na cidade do Rio de Janeiro, nos coloca diante das desigualdades evidenciadas pela pandemia: em que casa podemos realizar o isolamento social? Ou ainda, como assegurar os direitos daqueles que não têm uma casa? Essas questões foram trazidas por Camíz na exposição Casa Carioca, apresentada em 2020 no Museu de Arte do Rio, cuja temática da habitação na cidade foi o ponto central de discussão.

Na pintura, também são abordados os temas da violência e opressão à mulher, além da imposição ao padrão de beleza, entre outras questões sociais e particulares de Camíz que foram agravadas pela pandemia e pela convivência no espaço doméstico. Na trabalho abaixo, ela desenha uma casa fragmentada, borrada, desbotada e sem nitidez para representar um lar gradeado e intransponível. As barras de ferro – imagem recorrente na arquitetura carioca – que bloqueiam a casa se sobressaem à ela e nos remetem à experiência pandêmica de muitos com uma possível “casa-prisão”. Nesse caminho de elaboração pessoal, Camíz traz algo de seu contexto particular para nos ajudar a elaborar a vivência do doméstico em 2020.

Agrade Camíz, Sinta-se em casa mas lembre-se que não está, 2020. Látex, acrílica, pastel oleoso, pastel seco e spray sobre lona de algodão, 200 x 210 cm.

Outro artista que nos provoca a pensar as estruturas de casa presentes no país é o artista baiano Maxim Malhado. Desde os anos 1990, a casa é o ponto de partida para os trabalhos de Malhado, que incluem esculturas que reproduzem principalmente construções de pau a pique, miniaturas de vilas, além de móveis e objetos de madeira. Na exposição virtual, ele apresentou o trabalho -C-A-S-A-, esculturas de papelão produzidas em abril de 2020. Nesse trabalho, sua trajetória artística usualmente dedicada a representar uma arquitetura local do Recôncavo baiano foi atravessada pela emergência sanitária que tomou o mundo de maneira veloz durante a pandemia.

Toda casa tem um metro a mais de grandeza e se a imaginação sua superar toda e qualquer hipótese de fracasso, ainda assim terá sua casa, pode então transformá-la no que desejares, contanto que seja no mínimo verdadeiro, ela a casa, ao contrário, todos os esteios, os cantos, juntamente com o telhado inteiro ruirão, aparecerão com o tempo, como em qualquer outra construção abandonada, surgirão rachaduras do rodapé até a cumieira, no pé direito mais alto, ainda assim no entanto, desse instante em diante, para libertar de toda essa lida, basta dar as costas como quem nega a si mesmo, pela terceira e última vez…[11].

No texto enviado pelo artista para acompanhar a obra, ele evoca a relação subjetiva do sujeito com a própria casa, assim como a dimensão coletiva dessas residências. Em “basta dar as costas como quem nega a si mesmo” estão evidentes tanto as rachaduras como os desejos de quem a habita, de forma singular. No entanto, como foi pensada para simbolizar a casa durante a pandemia, Malhado sublinha o caráter coletivo da crise sanitária ao interligar as obras com a linha de tricô vermelha. Dessa forma, ele coloca em evidência ambas as angústias pessoais e singulares experienciadas durante o isolamento e o sofrimento comunitário, global, devido às vidas perdidas.

Maxim Malhado, -C-A- -S-A-, 2020. Papelão, palha tingida e linha de tricô vermelha, dimensões variadas.

Outra participante do PIPA em Casa foi Marcia Thompson. A artista, que costuma investigar as possibilidades do volume, do relevo e da textura da cor em suas obras, explora também o que é a tela e como ela pode ultrapassar a parede. Em Sem Título (Home), de 2020, trabalho produzido durante a quarentena, Thompson marcou temporalmente o objeto ao acrescentar a ele a linguagem – recurso raro em suas obras, com a palavra home, casa. A artista recortou algumas páginas de jornais britânicos que estampavam um pedido do serviço público de saúde do Reino Unido: Stay at home to help us save lives (Fique em casa para nos ajudar a salvar vidas) e empilhou os papéis dentro de uma caixa de acrílico. Segundo ela, “as palavras foram cortadas, como as casas foram divididas. (…) A palavra ‘us’ (nós), no recorte do jornal, parece ler ‘só’, em português de cabeça para baixo. A palavra ‘me’ (eu) se reflete como ‘we’ (nós)” [12].

Nesse novo objeto, Thompson recupera algumas de suas práticas recorrentes, como o uso de materiais convencionais, como a tinta e até mesmo o papel de jornal e caderno. No entanto, localizado no período de quarentena, a artista imprime novas camadas ao trabalho: o jornal, que ganha o status de pele e de corpo, está confinado na caixa de acrílico que usualmente serve para emoldurar a tinta óleo e dar-lhe noção de espaço e
tridimensionalidade. Nas pinturas coloridas de Marcia, a tinta é expansão. Em Sem título (home), ao contrário, a caixa reforça a condição de confinamento e isolamento dessa casa. No objeto, home é destacado como representação de um momento em que a casa precisou ser repensada em diferentes línguas e temporalidades. O acúmulo de palavras – que remete ao volume recorrente no trabalho de Thompson – pode ser a repetição do significante com o intuito de elaborá-lo. Da mesma maneira, a longa duração para a produção de seus trabalhos – que levam por vezes semanas ou meses para secar – pode ser interpretada em home a partir da relação com o tempo e a espera vividos durante o isolamento.

Marcia Thompson, Sem título (home), 2020. Jornais e caixa de acrílico, 15 x 15 x 15 cm.

Por fim, outro trabalho interessante para pensarmos a relação com a casa em 2020 é A caça (2018-2020), uma série de vídeos de Ío, o duo de artistas formado por Laura Cattani e Munir Klamt. No vídeo exibido no PIPA em Casa, cujo título tem semelhança fonética com a palavra casa, duas mulheres brasileiras que moram fora do país de origem relatam sonhos que tiveram em território estrangeiro. Isis, que mora em Alma, no Canadá, diz que sonhou que vomitava pedras que formavam uma trilha atrás dela, enquanto Luiza, em Budapeste, na Hungria, conta que em seu sonho ela era perseguida pela escuridão e não conseguia ver nada. Os relatos expõem a angústia de viver em um lugar desconhecido e o possível desejo de retornar ao caminho familiar.

Em Subjetividade antropofágica13, Suely Rolnik analisa como a vivência globalizada, instável e volúvel pode embaçar nossa sensação de pertencimento e identidade para substituí-las por “modulações metamorfoseantes”14. Nesse contexto, “o estranhamento toma conta da cena, impossível domesticá-lo: desestabilizados, desacomodados, desaconchegados, desorientados, perdidos no tempo e no espaço – é como se fossem homeless, ‘sem casa’15. É essa, para Rolnik, a condição do sujeito contemporâneo, aquele que — em um mundo no qual culturas, etnias e práticas sociais se misturam ao ponto de as desnaturalizar — vive uma falta de sentido completa. Talvez tenha sido exatamente essa a sensação de muitos que viveram a pandemia: uma mistura de inquietação e angústia nessa casa
que pode ser estranha e irreconhecível para quem a habita.

Ío (Laura Cattani e Munir Klamt), A Caça, 2018 – 2020. Série de vídeos (em andamento), 1 min cada

Conclusão

A partir do conceito do infamiliar na obra de Freud – a sensação de estranhamento e angústia com aquilo que nos é mais íntimo – procuramos analisar um pouco do que foi a experiência da pandemia iniciada em 2020 para aqueles que precisaram e puderam se isolar em casa. A experiência ambivalente de estar protegido e ao mesmo tempo vulnerável ao enfrentamento de traumas ou de memórias individuais marcou a dificuldade de permanecer em casa durante o pacto social e político do isolamento social.

Apesar da necessária quarentena para a proteção contra o vírus, o abrigo no ambiente doméstico por muitos meses remeteu a muitos indivíduos a sensação de infamiliaridade com aquilo que nos é mais íntimo, a casa. Para tentar sublimar essa crise sanitária que apesar do recrudescimento ainda está em curso, recorremos aos sonhos relatados durante a pandemia e principalmente a produções artísticas recentes com o intuito de elaborar o trauma. Afinal, os trabalhos desenvolvidos ao longo de 2020 podem oferecer uma possibilidade de leitura crítica ou uma potência criativa para este momento de luto.

Referências
DUNKER, Christian et al. Sonhos confinados: o que sonham os brasileiros em tempos de pandemia?. 1a edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
FREUD, Sigmund. O Infamiliar [1919]. In: Obras incompletas de Sigmund Freud. Trad. de Ernani Chaves e Pedro Heliodoro Tavares. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
PIPA em Casa, disponível em https://www.premiopipa.com/em-casa/. Acessado em 11/08/2021.
ROLNIK, Sueli. Subjetividade Antropofágica / Anthropophagic Subjectivity. In: HERKENHOFF, Paulo e PEDROSA, Adriano (Edit.). Arte Contemporânea Brasileira: Um e/entre Outro/s, XXIVa Bienal Internacional de São Paulo.
São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998, p. 128-147.

[1] FREUD, Sigmund. O Infamiliar [1919]. In: Obras incompletas de Sigmund Freud. Trad. de Ernani
Chaves e Pedro Heliodoro Tavares. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
[2] PIPA em casa. Disponível em https://www.premiopipa.com/em-casa. Acessado em
01/08/2021.
[3] FREUD, op. cit., p. 33.
[4] FREUD, op. cit., p. 85.
[5] Organização Mundial da Saúde, disponível em https://covid19.who.int/. Acessado em
04/08/2021.
[6] DUNKER, Christian et al. Sonhos confinados: o que sonham os brasileiros em tempos de pandemia?. 1a edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
[7] Ibid., p. 38.
[8] Ibid., p. 41.
[9] Idem.
[10] DUNKER, Christian et al., op. cit., p. 34.
[11] Declaração de Maxim Malhado para o PIPA em Casa (https://www.premiopipa.com/em-casa/).
[12] Declaração de Marcia Thompson para o PIPA em Casa (https://www.premiopipa.com/em-casa/)
[13] ROLNIK, Sueli. Subjetividade Antropofágica / Anthropophagic Subjectivity. In: HERKENHOFF,
Paulo e PEDROSA, Adriano (Edit.). Arte Contemporânea Brasileira: Um e/entre Outro/s, XXIVa
Bienal Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998, p. 128-147.
[14] Ibid., p. 128.
[15] Idem.


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