Ivan Grilo, "Fazer juntos um trecho de céu no chão", 2022

Coletiva “Dialetos do Firmamento” reúne obras de artistas que abordam diferentes cosmovisões e mundos inventados

(Rio de Janeiro, RJ)

Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta, até o dia 15 de abril, a exposição Dialetos do Firmamento, com obras dos artistas Bonikta, Ivan Grilo, Jeane Terra, Rochelle Costi, Shen Özdemir, Thiago Costa, e Zé Tepedino, que abordam diferentes cosmovisões, mundos inventados, o encantamento e os mistérios que transitam entre o céu e a terra. Por meio de suas linguagens e modos sensíveis de compreensão, os trabalhos dos artistas constelam imaginários, desenhando novas direções para modos plurais da existência, integrada à imensidão dos poderes ocultos do universo.

A exposição inaugura o programa de 2023 da galeria e convida o público a imaginar novas possibilidades de cuidar de um futuro ancestral, em conexão com o campo da arte e da espiritualidade, construindo percursos e diálogos entre manifestações divinas e profanas. O projeto de um Brasil inventado é revisto pelas potências do intangível, as expressões primárias e as subjetividades da memória, atravessando o tempo e o espaço visível/invisível do mundo moderno organizado pela racionalidade.

Na abertura da mostra, foi realizado um cortejo/performance com oito bandeiras desenhadas e confeccionadas pela artista belga de origem turca Shen Özdemir, em sua primeira visita ao Brasil, com a participação de seis músicos integrantes do tradicional bloco Céu na Terra, constituindo a primeira vez que os desfiles feitos pela artista com seu carnaval imaginário tiveram música. O conjunto de bandeiras do cortejo, que percorreu algumas ruas do bairro da Gávea, partindo da Praça Santos Dumont até a Galeria Anita Schwartz, integra a exposição.

Leia abaixo sobre os trabalhos apresentados pelos artistas, em relação às suas práticas:

Bonikta (Caio Aguiar), nascido em 1996, em Ourém, Pará, e radicado em Salvador, está na exposição com as fotografias “Kurumins do Rio” (2023) e “Ygarapé das Bestas” (2023), cada um medindo 45 x 60 cm. Sua produção que desenha um universo encantado inspirado no imaginário ribeirinho amazônico, reflexos de vivências que traçam travessias entre o interior e a cidade, entre a rua e a floresta. Bonitka se dedica a processos de criações e encantarias em diversas linguagens e tecnologias, do grafite, lambe-lambe, ilustrações, pinturas, fotografias, vídeos, animações, tatuagens, máscaras a desenhos digitais, entre outros. Bonikta é bicho que vira gente e gente que vira bicho. Atualmente ele é estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes na UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia).

Bonikta, “Kurumins do Rio”, 2023

Ivan Grilo (1986, São Paulo) mora em Itatiba, São Paulo, e tem sua produção reconhecida no circuito da arte a partir de seu interesse em investigar tradições orais, ou pesquisar história brasileira a partir de arquivos públicos. A escrita é um elemento importante em seu trabalho, de várias maneiras, e na exposição a obra “Fazer juntos um trecho de céu no chão” (2022) traz a frase entre linhas, em bronze, medindo 8cm x116cm.

Ivan Grilo, “Fazer juntos um trecho de céu no chão”, 2022

O tríptico “Santuário do Sertão” (2022), uma monotipia feita sobre pele de tinta – material desenvolvido pela própria artista – foi criado a partir da vivência de Jeane Terra no final de 2021 nas cidades baianas inundadas pelo Rio São Francisco em 1970 para a criação da represa de Sobradinho. A obra retrata, a partir de um registro fotográfico feito pela artista, a Igreja de Santo Antônio, do século XVIII, na margem do rio em Pilão Arcado. Jeane Terra nasceu em 1975 em Minas, e é radicada no Rio de Janeiro.

Jeane Terra, “Santuário do Sertão”, 2022

Rochelle Costi (1961-2022), artista atuante em exposições no Brasil e no exterior, deixou um legado poético de sua coleção amorosa de registros do que a cercava – objetos, paisagens, cenas do cotidiano. Sua obra que integra a exposição “Escada Palavrada – Céu” (2014), em jato de tinta sobre papel de algodão, de 105cm x 70cm, é também uma homenagem a ela.

Rochelle Costi, “Escada Palavrada – Céu”, 2014

A artista belga de origem turca Shen Özdemir (1996) criou um universo de carnaval a partir das lendas de gigantes, na Bélgica, e das marionetes da Turquia. Na série de trabalhos “Karnavalo”, sua intenção é criar uma comunidade humana internacional por meio do sincretismo cultural. Seu carnaval é composto por uma multidão de trupes, concebidas como núcleos familiares, ressaltando a ideia de parentalidade e seguindo a tradição das alegorias dos desfiles de carnaval. Suas “cabeças” nos lembram, entre outros personagens de festas populares, os tradicionais Bonecos de Olinda. Criadas com espuma, papel, tinta acrílica, gesso e tecido, e medindo aproximadamente 90cm x 90cm, duas obras “Cabeças” (2023), que representam metaforicamente dois membros de uma mesma família, sem definição de gênero ou faixa etária, estão na mostra.

Shen Ozdemir, “Cabeças”, 2023, foto de Alice Montesi

As esculturas-ferramentas “Exercícios para suspensão” (2022) – solda sobre vergalhão, com 50cm x 20cm cada – do paraibano Thiago Costa (1994, Bananeiras, residente em João Pessoa), faz parte de sua pesquisa da escrita em relação com a imagem a partir das filosofias Bantu e Yorubá. “O gesto de assentar e seus métodos fazem parte de saberes milenares onde se acessa as temporalidades do que é intencionado, que possibilita comunicação e relação da forma com o corpo”, diz. Ele investiga a relação das formas com as corporações e incorporações.

Thiago Costa, “Exercícios para suspensão”, 2022

Na instalação “Sem título” (2023), em madeira, nylon, tecido, areia e pedra, o artista carioca Zé Tepedino (1990) dá seguimento à sua série “Vários verões”, em que objetos de praia são destituídos de sua função original, e ao serem desmembrados e rearranjados são pensados a partir de cor e forma.

Zé Tepedino, Sem título, 2023

Para ler o texto da exposição escrito por Bianca Bernardo, clique aqui.

“Dialetos do Firmamento”, mostra coletiva
De 2 de março a 15 de abril de 2023

Anita Schwartz Galeria de Arte
Rua José Roberto Macedo Soares, 30, Gávea, 22470-100, Rio de Janeiro
Segunda a sexta, das 10h às 19h, e aos sábados das 12h às 18h
Telefones: (21) 2274-3873 | 2540-6446 | 99603-0435
Entrada gratuita


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