(Rio de Janeiro, RJ)
A partir de 2 de fevereiro, a mostra Abre Gira, primeira individual de Bruno Miguel, ocupa as Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, sob a curadoria de André Sheik. Por meio da mistura de tintas acrílica, a óleo e em spray, os trabalhos de Bruno, artista e professor da instituição há 13 anos, exibem pinturas sobre tapeçarias antigas compradas em leilões.
As obras da mostra apresentam entidades e orixás, representações sincréticas religiosas e manifestações presentes na cultura brasileira, como samba, capoeira e festas populares. Assim, o artista procura estabelecer ligações com a memória do outro em sua produção a partir de suportes já existentes e de uso corriqueiro, buscando facilitar o acesso à obra por meio das vivências afetivas em comum – neste caso, o sincretismo da umbanda, religião que professa, e outras expressões culturais brasileiras.
“Se grande parte da arte ocidental tem sua origem associada à pintura religiosa cristã, ao retratar elementos de uma crença de matriz africana sobre tapetes, cuja origem é de uma tradição europeia, o artista ressignifica esses tecidos e acrescenta a eles a cultura miscigenada brasileira. Nesse processo, o artista inverte a lógica do protagonismo”, ressalta André Sheik, curador da exposição.

Bruno Miguel, “Eu andava perambulando sem ter nada pra comer, fui pedir às Santas Almas…”, 2021, tinta acrílica, tinta a óleo e tinta em spray sobre tapeçaria, 122 x 174 cm, créditos: Jaime Acioli
O conjunto a ser exibido em Abre Gira teve início durante a pandemia da Covid-19, coincidindo com o despertar mediúnico de Bruno Miguel. Durante todo o processo e o desenvolvimento da pesquisa, ele consultou e respeitou seus guias espirituais, irmãos de fé e seu pai de santo. Para o artista: “Abre Gira é respeito, amor e muito axé”.
Na opinião do historiador brasileiro Luiz Antonio Simas, “os trabalhos de Bruno Miguel que compõem essa exposição ganham contornos que desafiam, driblam, subvertem os projetos de exclusão do Brasil oficial em nome da força espantosa das brasilidades encantadas. Interferindo em tapeçarias com personagens, cenas e ambientes europeus, e trazendo para a arte-gira orixás, guias, encantados, caboclos, malandros, pombagiras, carnavais, tambores, flechas, cocares; o artista celebra a sofisticação de saberes e modos de vida que dão uma rasteira no racismo estrutural, na colonialidade, nos projetos de branqueamento físico, espiritual, artístico e filosófico”.
Durante o mesmo período expositivo, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage também apresenta, na Capelinha do Parque, Geometrias do habitar, individual que reúne trabalhos de Carmen Verônica da Costa Souza, funcionária e aluna da EAV que adotou o nome artístico Dona Carmen para seguir sua trajetória na cena das artes visuais. A curadoria é de Adriana Nakamuta.
“Abre Gira”, individual de Bruno Miguel
Curadoria: André Sheik
Abertura: 02 de fevereiro de 2023, de 19h às 21h
Até 02 de abril de 2023
Escola de Arte Visuais do Parque Lage
Rua Jardim Botânico, 414 – Rio de Janeiro, RJ
Local: Cavalariças
De quinta à terça-feira, das 10h às 17h