Leandro Muniz , "Domingo", 2021-2022, instalação na Casa de Cultura do Parque, foto de: Fernando Pereira

“Domingo”: individual de Leandro Muniz revisita a estética dos quintais na Casa de Cultura do Parque

(São Paulo, SP)

Revisitando a estética dos quintais, que comumente cumprem a função prática de não apenas serem um espaço de lazer mas, sobretudo, de serviço, a exposição Domingo, de Leandro Muniz, explora um universo lúdico e de descobertas, ao mesmo tempo que nos coloca diante de novas formas de pensar os suportes e as maneiras de produzir arte nos dias de hoje. Em cartaz até 29 de janeiro, e ocupando dois espaços expositivos da Casa de Cultura do Parque, a mostra conta com uma nova série de pinturas diretamente nas paredes do espaço expositivo e outras realizadas sobre tecidos de tricoline, e tem texto crítico assinado por Tarcísio Almeida, professor e doutorando pela UFMS.

Utilizando o varal como situação fronteiriça entre sua utilidade doméstica e a concepção de uma exposição, surge uma ambiguidade não apenas por se tratar de uma superfície plana, mas porque expõe as duas possibilidades de leitura de um mesmo objeto frente e verso. Além da ambiguidade expográfica, o próprio nome da Casa se incorpora ao trabalho, já que se contrapõe à formalidade de um espaço expositivo. Aliado a esta ideia há, também, questões envoltas no imaginário coletivo de um domingo. Para alguns, pode ser um período de morosidade, preguiça e, por vezes, de muita atividade doméstica; um misto entre o tédio e a ansiedade que prenuncia a chegada da semana. E, nesse contexto, o ciclo dos dias se reflete nos materiais domésticos utilizados por Muniz e nas elaborações que orbitam o tema, aliado às formas de transitar entre o abstracionismo e o objeto real.

Além da instalação com varais que dá nome à mostra, compõem a individual do artista paulistano um dos trabalhos da série de desenhos-pinturas intitulada “Tapetinhos”, e “Camiseta rosa”, da série “Cascas’ — na qual o artista realiza a colagem de diversos pedaços de papel, formando, assim, uma camiseta, apresentada em um cabide e coberta com uma pintura de um grid preto. Por fim, sobre a parede do “Projeto 280×1020”, o artista desenhou um outro grid por toda a superfície, aludindo a azulejos.

Como escrito por Tarcísio Almeida no texto crítico, “Em ‘Domingo’ é impossível não pensarmos nas inquietações suscitadas pela poética do tremor em Édouard Glissant que nos lembra que ‘tudo começa sempre com poemas’”. O professor ainda entrevistou Leandro Muniz, abordando questões como o desenvolvimento do projeto da mostra; a relação que o artista cria com o cotidiano; questões de figuração e discurso, e mais. Sobre sua prática, o artista reflete: “Ainda acho que faço arte por um desejo de criar memória sobre as coisas que vivo e de como materiais muito triviais condensam experiências sociais (de classe, raça, gênero), mas, em especial, existenciais. Marcar presenças e toda a dimensão política disso… E acho tudo muito ambíguo. Os trabalhos têm dois lados, são imagens e objetos, seriais e únicos, regulares e irregulares. Fico pensando nas múltiplas experiências que formam meu corpo que me fazem pensar e trabalhar assim.”

Leia o texto crítico e a entrevista completa aqui.

“Domingo”, individual de Leandro Muniz
15 de outubro de 2022 a 29 de janeiro de 2023
Direção artística: Claudio Cretti

Casa de Cultura do Parque
Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1300 – Alto de Pinheiros, São Paulo, SP
De quarta a domingo, das 11h às 18h
Entrada gratuita


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