(Curitiba, PR)
Até fevereiro de 2023, o público visitante do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) vai ter a oportunidade de ver de perto a exposição 20 anos de Faxinal das Artes: lacunas e processos, de caráter histórico, celebrativo e reflexivo. Com curadoria do pesquisador Jhon Erik Voese, a mostra apresenta um olhar retrospectivo e reflexivo sobre Faxinal das Artes, evento que foi e é um importante marco na história da arte contemporânea paranaense e brasileira. A curadoria reuniu trabalhos produzidos na época do evento e também outros, desenvolvidos posteriormente, para proporcionar uma leitura de permanências e transformações. Entre os artistas, estão Daniel Acosta, Danielle Fonseca, José Bechara, José Rufino, Lia Chaia, Marta Neves, Milton Marques, Nazareno, Oriana Duarte, Paulo Meira e Rogério Ghomes,
Em 2002, em Faxinal do Céu (distrito do município de Pinhão), aconteceu o “Faxinal das Artes: programa de residência de artistas contemporâneos”, organizado pela então Secretaria de Cultura do Estado do Paraná a pedido do ex-governador Jaime Lerner. Dentre os objetivos do evento estava produzir obras para o acervo público do Estado. A ideia foi um sucesso: boa parte das obras desenvolvidas pelos artistas em residência em Faxinal das Artes foi incorporada da coleção do MAC Paraná, influenciando a identidade deste acervo.
O artista Rogério Ghomes participa com a obra “Projeto B.O.”, originalmente criada dentro da residência artística de Faxinal das Artes e montada ao longo dos últimos anos em diferentes versões, apresentando mudanças decorrentes da poética e do processo do artista. “Projeto B.O.” (2002) é uma instalação que tensiona o sistema das artes: o Faxinal das Artes ocorreu em maio de 2002, após o anúncio dos artistas que participariam da 25ª Bienal de São Paulo naquele ano, assim, o ponto de partida para o artista foi eliminar da cena artística os artistas brasileiros participantes na última edição da Bienal. Então, Ghomes, para realizar o projeto de residência, assumiu o papel de um serial killer.
Caracterizado como um projeto cambiante, cabe contextualizar as quatro apresentações anteriores do “Projeto B.O.”. A versão mais recente da obra foi apresentada na exposição “Pequenos gestos: memórias disruptivas” (2019), com curadoria da Fabrícia Jordão. Nesta exposição, a instalação foi apresentada como um conjunto fotográfico e as chapas de madeirite empilhadas em uma sobreposição de corpos que aludiam a um túmulo.
Na exposição, “Proposições sobre o futuro” (2012) com curadoria de Fabricio Vaz, havia um conjunto de seis fotografias e as chapas de madeirite estavam espalhadas pelo piso do espaço expositivo e os espectadores podiam andar sobre elas. Em uma outra versão, os corpos foram expostos na área externa do MAC-PR, na sede na rua Desembargador Westphalen. E na exposição “Faxinal das Artes”, em 2002, quando as obras oriundas da residência foram incorporadas ao acervo do MAC-PR, foi exposto o conjunto de fotografias de 12 fotografias.
Para a exposição 20 anos de Faxinal das Artes: lacunas e processos, a obra se potencializa pela palavra. Passados 20 anos da primeira versão da obra, o código verbal torna-se uma das chaves centrais da produção do artista. A obra já lidava com a emissão de sinais verbais desde 2002, quando o artista incitava as suas vítimas a citarem frases sobre a morte. Dentre as frases citadas pelos artistas quando estavam sendo assassinados, Ghomes seleciona, para esta instalação, a frase pronunciada pelo artista pernambucano Gil Vicente, “Só os mortos têm tempo para esperar você”, que ampara o totem de corpos das vítimas prensados pelos sargentos a frente desta anunciação.
Caso queira saber mais sobre a mostra, assista aqui à matéria disponível no Globoplay.
“20 anos de Faxinal das Artes: lacunas e processos”, coletiva
De 18 de outubro a fevereiro de 2023
Museu Oscar Niemeyer
Sala 09 do MAC no MON
Rua Marechal Hermes, 999, Centro Cívico – Curitiba
–> O MAC-PR está operando temporariamente nas salas 08 e 09 do Museu Oscar Niemeyer
devido às reformas em sua sede original