(São Paulo, SP)
“A expressão “a sorte está lançada” teve origem nos jogos de dados na Roma Antiga, mas entrou para a história quando foi dita pelo imperador Júlio César. Na época, o rio Rubicão ficava no limite entre o território governado por César e a área comandada pelo cônsul Pompeu. Para atravessar o rio, era necessária uma autorização. Foi então que, já às margens do Rubicão, o general declarou: “A sorte está lançada!”. Tratava-se de uma declaração de guerra. O conflito só terminou quando César tomou o poder em Roma e se declarou ditador vitalício. Ou seja, nunca foi sorte. Sempre foi guerra”. Partindo dessa expressão, a exposição coletiva “Nunca foi sorte” critica a noção da meritocracia no atual contexto do Brasil. A justaposição entre capitalismo e uma certa religiosidade cristã é muito antiga, e suas atualizações mais recentes correspondem às convicções de “precariedade como realidade inevitável”, indissociabilidade entre “sucesso e graça alcançada” e “empreendedorismo como salvação”. A estrutura social, com toda a sua complexidade e desigualdade, está reduzida a uma questão de foco, fé e força.
A coletiva, com curadoria de Ludimilla Fonseca, está aberta de 31 de maio a 30 de julho na Central galeria, em São Paulo. Participam da exposição os artistas Allan Pinheiro, Ana Hortides, Fábio Menino, Gabriella Marinho, Gustavo Speridião, Janaína Vieira, Leandra Espírito Santo e Marta Neves. Segundo a curadora, a reunião desses trabalhos produz uma imagem de coletividade para trazer reflexões acerca de questões de classe social, trabalho e consumo, casa e corpo. Os principais conceitos pensados para a exposição são precariedade, estética, construção, mercado de arte, subúrbio, vernissage, propaganda, meme, plano, ironia e decepção.
Os trabalhos de Leandra Espírito Santo trazem corpos automatizados reproduzindo gestos mecânicos. Marta Neves já explorava a lógica do meme antes de ele ser um verbete no dicionário. Nestas obras inéditas, ela discute menos sobre protestos e mais sobre exercícios constantes de resistência. Ana Hortides lida com as relações entre casa, corpo e origem. Enquanto isso, o trabalho de Gustavo Speridião é um testemunho sobre a inerência entre o sistema das artes (configurado a partir da história e do mercado) e regimes político econômicos (constituídos pelo mesmo binômio).
“Nunca foi sorte”, coletiva com Allan Pinheiro, Ana Hortides, Fábio Menino, Gabriella Marinho, Gustavo Speridião, Janaína Vieira, Leandra Espírito Santo, Marta Neves
Curadoria de Ludimilla Fonseca
Em cartaz de 31.05 a 30.07.2022
Central galeria
Rua Bento Freitas, 306, Vila Buarque, São Paulo