(São Paulo, SP)
Por meio de diversos dispositivos que animam objetos na ausência de atores, cabeça oca espuma de boneca explora, através da experimentação de linguagens que se encontram entre as artes cênicas, plásticas, sonoras e do cinema expandido, as inquietantes possibilidades de projeção de um corpo fragmentado em peças antropomórficas e, em última instância, novas concepções dessas próteses corpóreas e pseudo-subjetividades. O trabalho foi mostrado pela primeira vez em um contexto distinto e pré-pandêmico, para um pequeno grupo de pessoas. Agora, a peça de Ilê Sartuzi terá sua estreia no SESC Pompéia em junho, ficando em cartaz do dia 18 ao 24. A montagem original foi realizada em um galpão industrial, sendo agora adaptada para uma arquitetura similar, no histórico conjunto redesenhado por Lina Bo Bardi.
Na peça figuram bonecos, manequins e fantasmagorias das mais diversas, explorando a repetição e a substituição enquanto forma e estratégias de construção e modificação de partes postiças de corpo. Em uma espécie de sistema encerrado em si mesmo, cabeça oca é alimentada por esses loops incessantes que aproximam método e demência; engrenagem e delírio. Passando por uma série de mecanismos ao longo de aproximadamente quarenta e três minutos, os corpos assumem diferentes qualidades, sendo esticados e arrastados, tombados e inflados. Os dispositivos que regulam a obra são transparentes e sua precariedade denuncia giros em vão de uma máquina que está prestes a fugir do controle.
Apesar da centralidade do corpo enquanto imagem, mesmo dos sons produzidos, seus resquícios são sempre a marca de uma ausência. Diálogos fragmentados e descontínuos – cacoetes sampleados – refletem uma atenção moderna dispersa e recusam noções de unidade e linearidade, em busca de uma experiência cacofônica. cabeça oca espuma de boneca explora, por fim, uma familiaridade deslocada que desperta um sentimento de estranhamento frente a esses objetos (in)animados.
Como escreve Tiago Mesquita no texto curatorial, a peça “traz a impressão de que não sobrou nenhuma forma viva, apenas dejetos do que foi a vida moderna”. Leia o texto completo aqui.
Clique nas imagens abaixo para ampliá-las:
- Vista de objeto da peça “cabeça oca espuma de boneca”, crédito de fotografia: Marina Lima
- Vista da peça “cabeça oca espuma de boneca”, crédito de fotografia: Ilê Sartuzi
- Vista da peça “cabeça oca espuma de boneca”, crédito de fotografia: Ilê Sartuzi
Confira, ainda, um teaser da apresentação:
“cabeça oca espuma de boneca”, individual de Ilê Sartuzi
De 18 de junho a 24 de junho de 2022
Todos os dias exceto segunda-feira, 20h e no domingo às 18h30
Espaço Cênico SESC Pompéia
R. Clélia, 93, São Paulo, SP
Entrada gratuita