André Griffo, "Antônio agredido pelos demônios", 2021, tinta óleo e folha de ouro sobre compensado naval, 143 x 219 cm

“Voarei com as asas que os urubus me deram”: individual de André Griffo reúne trabalhos inéditos

(São Paulo, SP)

Nara Roesler São Paulo apresenta Voarei com as asas que os urubus me deram, primeira individual de André Griffo na galeria, com texto de Agnaldo Farias. A mostra reúne trabalhos inéditos do artista fluminense, já conhecido por suas composições que privilegiam a representação de espaços nos quais se inserem elementos que visam questionar aspectos presentes na cultura do Brasil. Griffo apresenta, também pela primeira vez, duas instalações elaboradas especialmente para a ocasião. Após ter integrado a programação oficial da feira SP-Arte Weekend, a individual continua em exibição até 21 de maio de 2022.

Nos últimos anos, André Griffo tem se firmado no cenário artístico pela excelência de seu trabalho pictórico, em que espaços arquitetonicamente ou socialmente intrigantes são apresentados com a presença de imagens, figuras e construções em miniatura. De fato, o artista tem entendido os espaços como lugares em que diferentes temporalidades podem se sobrepor de modo a evocar os mais diferentes elementos que compõem nossa realidade. Os espaços de Griffo acabam por se tornar verdadeiros veículos para um discurso que vê na justaposição de objetos anacrônicos uma estratégia para falar da permanência de estruturas de poder na formação do Brasil.

André Griffo, “Corte Onírico”, 2022, tinta óleo e folha de ouro sobre compensado naval, 270 x 177 cm

A partir desse processo singular, Griffo apresenta um novo corpo de trabalho, que não depende diretamente da representação arquitetônica, caracterizando-se também pelo uso de folhas de ouro e pelo entrelaçamento entre o presente e o passado, dado às referências a artistas consagrados da história da arte, tais como Michelangelo, Cranach e Van Eyck. Um exemplar dessa nova série é Antônio agredido pelos demônios, que faz referência a Sant’Antonio battuto dai diavoli do renascentista Stefano di Giovanni (Siena, 1392–1450), também conhecido como Sasseta. O uso pouco usual que o artista faz do ouro em suas pinturas, aplicando-o sobre os rostos e partes íntimas dos demônios que agridem o santo, chamou a atenção de Griffo, que então refez a composição, incluindo, no entanto, elementos e personagens contemporâneos, aproximando, mais uma vez, diferentes tempos e nos levando a refletir sobre as provações dos santos e quais são adversidades pelas quais passamos nos dias de hoje.

Já na série O vendedor de miniaturas, Griffo cria composições em estações de metrô, lugares de passagem que, devido ao grande fluxo de pessoas, são escolhido por muitos vendedores informais para disporem seus produtos. Todavia, as miniaturas comercializadas pela personagem ali retratada são figuras representativas do sistema de poder territorial no Rio de Janeiro, tais como líderes religiosos, políticos, santos, milicianos e policiais, transformados em objetos que tanto evocam o sagrado, quanto o lúdico, podendo ser tomados como figuras de ação.

Vista da exposição

Na ocasião da exposição, Griffo confeccionou miniaturas tridimensionais dessas personagens que estão dispostas no espaço da galeria usando estruturas e modos de organização similares às empregadas pelos ambulantes, tais como a disposição sobre lonas e o uso de ganchos. O artista, assim, revisita um desejo inicial de criar projetos instalativos que fossem meios de reflexão e crítica sobre determinados aspectos sociais e políticos.

Em A materialização do canto da mãe da lua, outra instalação inédita apresentada na mostra, o artista ocupa o espaço tridimensional com imagens e objetos que oferecem uma reflexão sobre mecanismos patriarcais que seguem moldando nossa sociedade. Nesse sentido, o próprio observador, tornado uma espécie de ator na cena criada pelo artista, é convidado a perceber como atua na manutenção dos costumes e princípios herdados.

Vista da exposição, foto de Flávio Freire

Voarei com as asas que os urubus me deram apresenta uma síntese da pesquisa recente de André Griffo, ao mesmo tempo em que suscita reflexões sobre questões políticas e sociais atuais fazendo uso de elementos de outros períodos históricos. Ao serem conectadas, através das pinturas e instalações, as diferentes temporalidades podem nos auxiliar a compreender como chegamos até o momento presente.

Saiba mais sobre os trabalhos da mostra e sobre o processo do artista no vídeo abaixo:

“Voarei com as asas que os urubus me deram”, individual de André Griffo
De 2 de abril a 21 de maio, 2022

Nara Roesler São Paulo
Avenida Europa 655, Jardim Europa, 01449-001 S
ão Paulo, SP
Seg a sex, de 10 às 19h; Sáb, de 11 às 15h
T. 55 (11) 2039-5454
Contato: info@nararoesler.art



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