(Brasília, DF)
Até 26 de junho, o Museu Nacional da República em Brasília apresenta simultaneamente duas individuais: Guardadora de água, de Isabela Couto, e Paraíso sem vocabulário, de Pedro Gandra. Ambas contam com ensaio poético de Mar Becker, intitulados, respectivamente,“Nem a nuvem do dizível” e “O rosto, sumidouro”.
Em Guardadora de água, título inspirado no poema “O guardador de água”, de Manoel de Barros, Isabela apresenta sua produção mais recente em vídeo e aquarela que trata da paisagem e do corpo em uma jornada que atravessa o continente de Santiago do Chile à Praia do Forte, no litoral norte da Bahia.
As aquarelas partem da observação da Cordilheira dos Andes e se encaminham para a observação de edredons sobre a cama, que figuravam montanhas domésticas, como a artista comenta:
“As obras iniciadas com o título Paisagem de cobertor surgem da observação da natureza sob viés doméstico. Cada uma dessas aquarelas se relacionaria com um cômodo da casa: Paisagem de cobertor: o quarto; Paisagem de cobertor: sala de costura; Paisagem de cobertor: amontoado ao pé da cama; Paisagem de cobertor: piscina; Paisagem de cobertor: quintal”.
Os vídeos apresentados tiveram como ponto de partida o trajeto do corpo em envolvimento horizontal com o entorno, assim buscando na captura dos fragmentos de paisagem o inverso da tradição da cultura ocidental de segregação do homem e da natureza. Isto ocorre, por exemplo, em Maré dançando sedimento sobre areia, que oferece protagonismo da maré ao mostrar os desenhos com sedimentos orgânicos por ela executados sobre a areia, ou o vídeo Inventar países, que trabalha com a miniatura para reformular paisagens em que o humano se apresenta como um aspecto secundário à imagem. Ambos têm como referência paisagens orientais tradicionais, em que o ser humano e o entorno não disputam hierarquias, mas se complementam.
Já a Paraíso sem vocabulário, individual de Pedro Gandra, reúne pinturas inéditas e de séries produzidas anteriormente, a partir de 2020. A exposição dá continuidade à pesquisa do artista em torno da fabulação da imagem. Imagens compreendem uma qualidade cenográfica artificial para as ambientações, onde paisagens são pensadas como cenários que podem se apresentar elusivos ou eventualmente inóspitos. Habitam esses cenários ou paisagem-cenários representações de figuras, ocasionalmente antropomórficas (criadas a partir de memória ou imagens de arquivo), etéreas, que se apresentam quase sempre solitárias. Situações são colocadas como sugestões, onde o estado e os significados prováveis das cenas podem se encontrar na iminência da dissolução.
Para esta exposição o artista estabeleceu uma troca com a poeta Mar Becker, responsável pelo ensaio poético produzido sobre a mostra. A escritora se debruçou sobre as imagens desenvolvidas pelo artista visual e em referências caras à pesquisa de ambos, gerando um diálogo experimental e horizontal. O fogo é um elemento poético presente na obra de Pedro Gandra e na de Mar Becker, e é a partir dele que a escritora produziu o ensaio poético que atravessa tempos e entra nos espaços comuns à criação de ambos.
Guardadora de água e Paraíso sem vocabulário, individuais de Isabela Couto e Pedro Gandra
Desde 29 de abril até 26 de junho, 202
Museu Nacional da República
Setor Cultural Sul, Lote 2, próximo à Rodoviária do Plano Piloto
Sala 2 (Isabela Couto) e Galeria Térreo (Pedro Gandra), Piso Térreo
De terça a domingo, das 9h às 18h30
Entrada gratuita
Contato: (61) 3325-6410