Conheça a “Ecos de 1922”: mostra de filmes apresenta catálogo com obra e texto de Denilson Baniwa

(Rio de Janeiro, RJ e Brasília, DF)

A mostra Ecos de 1922 – Modernismo no Cinema Brasileiroque chegou no CCBB do Rio de Janeiro no dia 10 de março e fica em cartaz até 4 de abril, usa a linguagem cinematográfica para abordar diferentes facetas do Modernismo. Com patrocínio do Banco do Brasil e incentivo da Lei Rouanet, a maior retrospectiva cinematográfica já feita sobre o tema conta com filmes raros em 35mm e 16mm, e trata do centenário da Semana de Arte Moderna de forma atual, trazendo um pensamento crítico sobre seu legado na cultura e, especialmente, no cinema brasileiro. A programação, composta por longas e curtas-metragens, prevê 54 sessões presenciais e 6 atividades paralelas, que incluem debates e palestra. A Ecos já passou por São Paulo e estará no CCBB de Brasília entre 19 de abril e 8 de maio.

Com curadoria de Aicha Barat, Feiga Fiszon e Diogo Cavour, a mostra se ocupa da pluralidade de modernismos, que não se restringe àquele que teve como palco São Paulo, e avança temporalmente para além da Semana e dos anos 20 para compreender como essas ideias foram apropriadas pelas outras gerações, a partir de linguagens e leituras diversas. O time curatorial explica: “Nossa proposta é pensar não apenas como o modernismo influenciou e, de certo modo, avalizou a produção artística brasileira no século XX, mas também como os cineastas criaram, ao seu modo, seu próprio mito do modernismo e se inseriram nele”. Num vasto recorte geográfico, temporal e conceitual, que vai de 1922 a 2021, de Roraima ao Paraná, os filmes escolhidos são atravessados pelo pensamento de intelectuais paulistas, como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, mas também pelo de intelectuais e artistas indígenas contemporâneos, como Jaider Esbell e Denilson Baniwa, um dos vencedores do Prêmio PIPA 2021. 

A identidade visual da mostra é toda baseada na obra Ficções coloniais (ou finjam que não estou aqui), de Denilson. Essa série de colagens, concebida em 2021, está presente em sua totalidade no catálogo da mostra junto a um texto do artista, e um dos trabalhos estampa a capa da publicação. Como escrito no texto curatorial, “Com esta obra, Baniwa ensaia um direito de resposta ao imaginário indígena forjado por fotógrafos e cineastas brancos ao longo da história. Por meio da colagem, Denilson também forja sua visão de Brasil através do encontro dos clássicos do cinema hollywoodiano com a fotografia etnográfica”.

O catálogo da Ecos de 1922 reúne textos heterogêneos, característica pontuada por Gabriel Martins da Silva, um dos organizadores da publicação: “Tivemos a preocupação de unir pesquisadores, iniciantes e consagrados, com textos de caráter mais experimental e de intervenção. Ao longo do catálogo, além da pluralidade de visões e posições diante do modernismo, optamos por uma variedade de formas que, além dos textos corridos, incluem poemas, ensaio visual e obras artísticas”. Foram disponibilizados 100 exemplares no Centro Cultural, sendo que para receber um deles é necessário apresentar 4 ingressos de filmes da mostra (os ingressos são vendidos na bilheteria ou site/app Eventim a R$10 a inteira e R$5 a meia entrada). Para além do catálogo físico, a versão digital pode ser acessada aqui.

No dia 24 de março, quinta-feira, será transmitido um debate online entre Denilson Baniwa e Clarissa Diniz, mediado por Lorraine Mendes. Com o tema “Espectros de 22 (1822/1922/2022) na cultura e nas artes brasileiras”, o debate terá início às 20h e poderá ser assistido ao vivo pelo Facebook do CCBB e pelo YouTube da produtora Lúdica.

Leia mais sobre a proposta da Ecos abaixo:

“Mais do que o legado direto deixado pelos intelectuais e artistas ligados à Semana, a mostra Ecos de 1922 pretende sondar as mínimas e as máximas reverberações da atitude modernista no cinema – este que talvez seja o maior símbolo da modernidade. Até o surgimento do movimento do Cinema Novo, houve apenas algumas manifestações isoladas do tema da modernidade (sem associação com o Modernismo), em filmes como São Paulo, a symphonia da metrópole, de 1929, e Limite, exibido pela primeira vez em 1931. Talvez o maior impasse de uma mostra de cinema que investiga esses ecos seja justamente a consciência de que não houve modernismo per se no cinema. Não há um cinema contemporâneo a 1922 feito nos moldes modernistas ou que se reivindique como tal. Mas o que a princípio pareceria o calcanhar de Aquiles do trabalho da curadoria, talvez seja justamente seu maior trunfo: a possibilidade de abordar o tema de forma múltipla. Sem a pretensão de esgotar o tema, Ecos de 1922 lança questionamentos, abre frentes, dispara provocações. Neste recorte, o modernismo se torna chave de leitura da história do cinema brasileiro, pois se não tivemos realizadores diretamente ligados à vanguarda de 1922, observamos claramente os reflexos do movimento e de seus autores na produção cinematográfica nacional. 

[…] Nesta mostra, os ecos cinematográficos dos modernismos são encontrados em diversas adaptações literárias e em cinebiografias de artistas modernistas, mas, acima de tudo, em produções que revelam uma ligação conceitual e uma vontade de experimentar novas formas, de romper com a tradição conservadora e colonial, de achar outras maneiras de pensar o Brasil. Voltar a 1922 em 2022 permite esmiuçar as linhas de força que marcaram um determinado período e perceber que sua relação com o presente não cessou, porque ali, nestes filmes, existe uma fissura em relação ao próprio tempo. Rever os filmes apresentados nesta mostra nos permite acessar os sintomas contidos nessas imagens do passado e dar a elas uma nova inteligibilidade, perturbando nosso presente e projetando novos futuros”.

Você pode acessar o texto na íntegra aqui.
Clique aqui para conferir a programação completa da mostra.

“Ecos de 1922 – Modernismo no Cinema Brasileiro”, mostra de filmes

Rio de Janeiro:
De 10 de março a 04 de abril, 2022
Centro Cultural do Banco do Brasil – Rio de Janeiro
Avenida Almirante Barroso, 25, Centro, RJ

Brasília:
De 19 de abril a 08 de maio, 2022
Centro Cultural do Banco do Brasil – Brasília
St. de Clubes Esportivos Sul Trecho 2 – Edifício Tancredo Neves



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