Ocupação dos Artistas Selecionados 2021: Ventura Profana

Bem-vindos à Ocupação dos Artistas Selecionados do PIPA 2021! Até o dia 16 de outubro, os selecionados “abrem as portas de seus ateliês” para o público virtual do Prêmio PIPA, com vídeos, fotos e textos exclusivamente elaborados para a ocupação. A cada semana, um artista apresenta sua obra. De 04 a 09 de outubro, Ventura Profana fala sobre sua trajetória no meio artístico, o que tem produzido, além de apresentar trabalhos recentes. Ao final da ocupação, está programado também como parte do exposição virtual uma conversa na plataforma Preview (da qual o crítico e curador Gabriel Pérez-Barreiro é um dos fundadores) com o Luiz Camillo Osorio, curador do Instituto, para falar sobre os selecionados e as recentes mudanças do PIPA.

Nesta 12a edição, o Prêmio PIPA traz um novo formato, sendo direcionado para artistas que tiveram sua primeira exposição no máximo há dez anos. O foco do PIPA 2021 é incentivar artistas em início de carreira que desenvolvem uma produção diferenciada. O material abaixo está disponível em versão reduzida também nas redes sociais do Prêmio. Fique de olho e nos acompanhe nas plataformas InstagramTwitter e Facebook.

E lembre-se que os Artistas Selecionados estão sendo apresentados também na exposição em cartaz no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, ao lado dos Vencedores do Prêmio PIPA 2020. A mostra está aberta até o dia 20 de novembro. Será um prazer te receber por lá!


Dia 01:

Ventura Profana
Salvador, BA, 1993
Vive e trabalha em Belo Horizonte, MG

Indicada ao Prêmio PIPA 2020 e 2021
Artista Selecionada Prêmio PIPA 2021

Filha das entranhas misteriosas da mãe Bahia, donde artérias de águas vivas sustentam em fé, abunda. Ventura Profana profetiza multiplicação e abundante vida negra, indígena e travesti. Rompe a bruma: erótica, atômica, tomando vermelho como religião. Doutrinada em templos batistas, é pastora missionária, cantora evangelista, escritora, compositora e artista visual, cuja prática está enraizada na pesquisa das implicações e metodologias do deuteronomismo no Brasil e no exterior, através da difusão das igrejas neo-pentecostais. O óleo de margaridas, jibóias e reginas desce possante pelas veredas até inundá-la em desejo: unção. Louva, como o cravar de um punhal lambido de cerol e ferrugem em corações fariseus.

Vídeo produzido pela Do Rio Filmes exclusivamente para o Prêmio PIPA 2021:


Dia 02:

Um dos pontos centrais da pesquisa artística de Ventura Profana é a presença da Igreja evangélica e seus dogmas no país. Partindo de um rompimento com a “culpa cristã”, que regeu por quase 20 anos a infância e a história familiar de Ventura, a artista preta e travesti se reconcilia com seu passado para hoje explorar os símbolos da fé, subvertendo-os, em seu trabalho.

Em 2020, Ventura desenvolveu o trabalho “Plantações de traveco para a eternidade”, para a mostra no Centro Cultural São Paulo, com curadoria de Hélio Menezes. Nele, ela constroi uma edificação que simula uma congregação para reunir muitos de seus trabalhos que imaginam  “antídotos para o veneno cristão”. A artista também usa a imagem do “senhor” como representação não só da religião neopentecostal mas também do patriarcado cisgênero que domina o sistema em que vivemos. Veja nas imagens abaixo:


Dia 03:

Além das instalações e colagens, Ventura expande seu trabalho para outras mídias, como a música. Em julho de 2020, a aritsta lançou Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor, disco de estreia, fruto da parceria musical com Podeserdesligado.

Veja abaixo um dos clipes produzidos para o álbum e ouça as outras músicas aqui.

“Eu não vou morrer”, 2020. Duração: 4’32”


Dia 04:

Usando como referência a linguagem e imagens apresentadas aos fiéis da Igreja evangélica, Ventura Profana cria, nos folhetos abaixo, seu próprio discurso a partir de vivências particulares. Para a consagração e edificação de corpos trans, Ventura desarticula ideias e propõe estéticas que nos permitem vislumbrar outras poéticas e lugares de ocupação para subjetividades fora do regime branco, heterossexual e colonial.


Dia 05:

Em mais uma edição do Prêmio, o curador do Instituto PIPA entrevista os artistas Selecionados. Leia abaixo a Conversa entre Luiz Camillo Osorio e Ventura Profana

LCO – Onde começou tudo? Quando e como foi o salto para a Ventura Profana artista/performer? Quais artistas, históricos ou atuais, te impulsionaram neste salto?

VP – No princípio estava o fim, o fim comigo estava. E eu era o fim. Estávamos no princípio. Todas as coisas foram feitas pelo fim. E sem fim nada do que foi feito se fez. No fim estava a vida, e a vida é a nossa escuridão. A escuridão resplandece na brancura, e a brancura não a compreende.

LCO – Você é cantora, performer ou evangelizadora do Reino do Trans-bordamento?

VP – Eu já estou sendo derramada como oferta de bebida. Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhamos, pela comida que perece e pela comida que permanece para a vida infinita, a qual nos damos; Somos o cu da vida, as que estão em nós não terão fome, e quem crê nunca terá sede. Mas já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes. Tudo o que nos fora roubado virá a nós; e o que vem a nós de maneira nenhuma lançaremos fora. 

LCO – Como a religião e a resistência se ligam? Qual a diferença entre o sagrado e o profano? Quais as forças que te movem? 

VP – Empino-me contra a paz do Senhor. Para isso sou eleita e financiada. Desabrolho buliçosa segundo o aroma inesgotável do sopro infinito da mudança, que jamais cessará. Não caibo nesta ocasião. Em nome do deus de Israel, a minha tenda foi destruída; todas as cordas da minha tenda foram arrebentadas. Contudo domicílio-me em todos os anos que também foram séculos, somas de meses, pedaços de eras, trechos de gerações. Sustentada por tendões entrelaçados em todos os tempos, sou a parede do olho. O vento que invade e escapa pelos portais das janelas, independente do seu controle. Ventania não tem pátria. Pátrias são vales de ossos secos. Nossa profanação é viver sete vezes mais; é esquecer a cisgeneridade, sem poder. É envenenar-te com o silêncio bailarino dos nossos olhos. As regras coloniais têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e necropolítica adversária aos corpos bestializados. Vãs e enganosas filosofias escravocratas que fundamentam as tradições humanas e os princípios elementares da modernidade. Esses homens todos são estúpidos e ignorantes; cada ourives é envergonhado pela imagem que esculpiu. Suas imagens esculpidas são uma fraude, elas não têm fôlego de vida. Logo, não têm valor algum para refrear os impulsos da transmutação. Pois em nós habita corporalmente toda a plenitude da divindade.

LCO – A Lygia Clark, em um outro contexto bem diferente, falava de “ritos sem mitos”. Suas performances alegorizam os rituais das igrejas neopentecostais e procuram transtorná-los e transformá-los com os corpos dissidentes das bichas e travestis. Há uma nova mitologia por vir? O futuro é trans-humano? 

VP – Partindo do cu, tomando-o como alicerce. Quem edifica transcende a cruz. Isto é, a vida está no cu reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadoras da parte do cu, como se a vida por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte do cu, que vos reconcilieis com a vida. Foram designadas algumas para apóstolas, outras para profetas, outras para evangelistas, e outras para pastoras e mestras, com o fim de preparar as profanas para a obra do ministério, para que o corpo seja edificado, até que todas alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do cu, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude. 

LCO – Nas suas performances e vídeos qual o papel de um roteiro prévio? Você escreve as letras das suas músicas? 

VP – Não te perdoo. Não se cancela uma escrita de dívida desta maneira. Essas coisas são sombras do que vem; a realidade, que não se encontra em ti. Não permito que seu prazer numa falsa humildade e na adoração de anjos nos impeça de alcançar as restituições. Estou unida à Cabeça, a partir da qual todo o corpo, sustentado e unido por seus ligamentos e juntas, efetua o crescimento. Estou morta para os princípios elementares deste mundo, mas, como se ainda pertencesse a ele, sou submetida a regras: “Não manuseie!”, “Não prove!”, “Não toque!”. Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. 

LCO – A experimentação com o corpo trans é uma experimentação espiritual e uma transformação do que entendemos por humano? Ao mesmo tempo, suas performances trazem muito os elementos originários como a água e a terra. Qual a direção desta desterritorialização generalizada e desta afirmação da Vida? Fale um pouco sobre isso?

VP – Sou azáfama em tudo, não suporto os sofrimentos, faço a obra de uma evangelista, cumpro plenamente o meu ministério.

LCO – Como foi para você e sua obra esse período da pandemia? O que não será mais igual? 

VP – Eis que eu digo um mistério: Nem todas dormiremos, mas todas seremos transformadas, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta.


Dia 06:

Leia o texto crítico de Diane Lima sobre o trabalho de Ventura Profana:

A força revolucionária da sensualidade que emerge do evento sônico e da pulsão de liberdade que anima a tradição visual e ritual das performances pretas, é o que dá vida à obra de Ventura Profana. 

Isso porque, se considerarmos a natureza cinética da sua fé, a inseparabilidade das estruturas simbólicos e litúrgicas que mobiliza, a ruptura com a matriz de poder cis-hetero-patriarcal que propaga e a não linearidade do tempo que evoca, Profana, como escritora e gravadora do Livro da Vida, do Livro Delas, ao atualizar uma tradição preta-espiritual-travesti, torna-se a própria pastora de uma das mais radicais e percursoras manifestações estéticas que vemos e ouvimos na arte contemporânea da América Latina dos nossos tempos.

Por Ventura e por assim dizer, por sorte, risco e coragem, ao esgarçar as conflituosas e polêmicas radiações existentes entre religiosidade, espiritualidade e travestilidade, a artista, através de um apurado domínio dos estudos bíblicos, funda um enredo cosmogônico que narra com detalhes plásticos, cinematográficos e musicais, os violentos desdobramentos do evangelicalismo no Brasil, além das implicações e metodologias do deuteronomismo por meio da difusão das igrejas neo-pentecostais. 

Como pastora missionária, compositora, cantora, escritora e artista visual, sua mitopoética vem sendo alicerçada através de textos, videoclipes, instalações, performances, espetáculos, fotografias, fotomontagens e objetos, que se ora parecem por demais borrar as fronteiras alvejantes da história da arte, assim o faz como aprendizado estratégico de missões e evangelização que acumulou ao longo dos anos, na própria igreja. 

Desafiando as normas do sagrado, reinventa de modo coletivo uma tradição preta-travesti ao aproximar, ressignificar e destruir o aparato imagético que lhe forjou desde a infância e a adolescência, nas peregrinações entre Salvador, Catu, cidade situada na boca do sertão baiano, e o Rio de Janeiro, onde de acordo com a sua baianidade “todo mundo era meio Projac”.

Através de constantes procedimentos de composição, recomposição e decomposição do abundante universo simbólico da cultura cristã-protestante neopentecostal, mais do que limitar-se ao campo da representação das denúncias que a dimensão utilitária da linguagem lhe permitiria, vemos que na sua plasticidade e poética, a artista se esbalda questionando a própria temporalidade das formas. 

Momento onde surgem camadas de ironia, pitadas de deboche, sacanagem e sagacidade que não somente são o reflexo de uma cultura travesti contemporânea que bebe das encruzilhadas, dos assentamentos bíblicos e da sofisticada incursão na cultura pop, mas que também, habita e é vozeada pelas oralituras de quem se aproxima do seu tabernáculo. Templo que se ergue pelas areias, pistas, quintais, passarelas, cubos brancos e palcos por onde ela passa. 

Ao invés de sucumbir aos entendimentos da obra de arte como uma totalidade autônoma norteada por um governante universal divino, sua prática vozeia por debaixo da porta, ameaçando com a massa sonora e seu poder de radiação, tudo aquilo que o espaço-tempo normativo excluiria. Com e a partir da capacidade generativa da materialidade da sua fala, nos arrebata quando em garganta trêmula, encarna spirituals, ladainhas, moninhas, louvores, sermões, Beyonce’s e adorações, no qual respondemos em coro, no grito.

Articulando estratégias de eternização, surgem citações intertextuais engenhosas, agudas e ardentes. São anotações bíblicas, versículos rasurados, transfigurações de smilinguidos e casos emblemáticos como as das botas de píton no episódio luxurioso da também pastora Ana Paula Valadão, que durante um culto, afirmou que o senhor Jesus lhe autorizou comprar uma bota de couro de cobra, com a qual pisaria em “principados e potestades”. Se Python aparece como a primeira canção de “Traquejos Pentecostais para Matar o senhor” (2020), disco de guerra onde “sintetiza os hinos brotados nos anos de culto realizados”, “Concílio das lamentações” (2020) parece ensaiar os modos como a artista passeia do espaço virtual das fotomontagens, ao espaço instalativo expositivo. 

Por conta das arquiteturas de templos e estádios, é na 3ª edição de Frestas Trienal de Artes do SESC São Paulo – O Rio é uma serpente, com curadoria nossa, de Thiago de Paula Souza e Beatriz Lemos, que a artista apresenta “A taça do mundo é nossa”, videoinstalação comissionada onde volta a discutir como desde os anos 2000, o futebol vem servindo como uma das principais plataformas de evangelização. Numa pesquisa contundente sobre como a expansão do Reino de Deus se aproximou das competições esportivas e seus ídolos com fins missiológicos, na instalação, a pastora dá as boas-vindas ao público, se erguendo como um troféu esculpido em impressão 3D, sobre uma arca dourada. 

Do digital ao mundo físico, ao imprimir-se, Ventura se materializa e se eterniza de quatro patas com asas e cauda de leoa, ao passo que repousa sobre o gramado verde nas espirais do tempo, como quem fareja os calabouços das congregações e arquibancadas. Luzes iluminam os modos como a produção do fanatismo se conjura em elementos de captura de rebanhos, e painéis de bordas de campo de led das arenas e estádios recebem dois vídeos que narram a cruzada da glória, da redenção e da vitória, na direção da busca das atletas da fé. 

Simulando e se apropriando de elementos da cultura midiática, a artista vai construindo um universo transpioneiro, fantástico e de devoção em que sua palavra contada, cantada e vivida, ganha, a partir das estrofes, seus ritmos e entonações, volume, textura, cor, movimento, brilho e intensidade, saltando das páginas dos sermões para tanto habitar em nós como ser o habitat de sua desobediência evangélica a partir de um aparato instalativo. 

Segundo Denise Ferreira da Silva e Rizvana Bradley, “se a capacidade disruptiva da negritude é uma busca (íon) em direção ao fim do mundo“, como protagonista incontornável de uma estética radical negra contemporânea, Ventura, ao performar uma “exposição total da sua negridade tanto habilita quanto extingue a força do programa ético moderno”. Guiada pela fé, transforma qualquer coisa em religião. Criando um lugar sagrado, desafia o ímpeto colonial da monocultura espiritual que deu contorno ao próprio movimento de dominação, subjugação, obliteração e subalternização que matizou a experiência colonial nas Américas, ao mesmo tempo em que nos faz questionar, através da figura de Jesus como imagem e semelhança da supremacia cisheteropatriarcal, a ancestralidade violenta encarnada na brancura da fé cristã.

É o que está diante de nós em “esse não é jesus de verdade” (2020) e nos mares de sangue, calcinhas que sustentam que “Universal é o reino das bichas”, além de bundas e Bic Macs, camuflados de guerra, paletós, túnicas e tapetes que na porta de entrada anunciam: “Nem eu nem minha casa serviremos ao senhor”. Pois “se o mundo ordenado garante significado porque é suposto ser conhecível, e somente pelo Homem, se esse mundo é tudo que o comum pode compreender, então a escuridão (re) transforma a existência em extensão: nos destroços do espaço-tempo, corpus infinitum

Confrontando a violência total que a trajetória histórica da existência negra, indígena e dissidente matiza no mundo, a artista retira o véu transparente que protege a ontoepistemologia do Sujeito em seus momentos científicos, estéticos e das leis transcendentais do espírito. Para ela: “se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, e temos duas representações biológicas de espécie (homem e mulher), então Deus só pode ser a mistura dessas duas configurações. Logo, Deus é uma travesti. Ou um Transmasculino. E está aí o que se expande para o campo da infinitude divina“. 

E é em busca dessa infinitude divina que Profana retorce as configurações da matriz colonial, racial e cis-heteropatriarcal, suas categorias de gênero e sexualidade para criar obras onde suas “cantigas proféticas, de vitória e encantaria” se edificam em múltiplas materialidades. 

Em 2020, muitas delas foram reunidas na exposição “Plantações de Traveco para a Eternidade” no Centro Cultural São Paulo com curadoria de Hélio Menezes. Batizada e treinada em diversos cursos teológicos e ministeriais, neste conjunto podemos ver o exercício de uma pastora que defende a transmutação da carne como um caminho de libertação e que alicerça as suas memórias em bases sólidas de alvenaria. Dentre um dos seus mais preciosos pertences, uma bíblia que presente da sua avó, recebe uma série inédita de desenhos que repousam junto a esculturas-crucificadas nos contornos da sua bunda onde fitas de um Senhor do Bonfim Sem Senhor, abundam e flamejam. 

Ao olhar para os ternos e paletós e fazendo da cruz, encruzilhada, Profana que transita entre a música e as artes visuais, vem também construindo um mecanismo próprio de produção. Alternando entre o saqueio e a recusa, ora produz valor no sistema da arte a partir da visibilidade que suas profecias no campo da música oferecem, ora se mantém afiada, opaca e disruptiva a partir dos meios mais ou menos autônomos de produção que essa mesma arte contemporânea possibilita. Nesse ministério de louvor e adoração, é nesse instante que a ficção se confunde com a vida: momento onde abrindo os braços em uma túnica dourada, Ventura ostenta o traquejo de uma “ladra que rouba ladrão”. 

Assim que Resplandescente (2019), video-clip de 2019, surge como parte da instalação “Tabernáculo da Edificação”, comissionado durante a sua participação na 7ª Bolsa Pampulha no Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte.  Já em “Eu não vou morrer”, videoclipe-profecia “pelas que foram, pelas que são e pelas que serão, eternamente”, a artista reencenca uma ode às coletividades e irmandades pretas, originárias e travestis, realinhando os pactos de fé ancestrais negros, suas brincadeiras, performances e macumbarias rodantes, numa música que também é protesto contra as recorrentes ameaças que sofrem os territórios quilombolas em Alcântara no Maranhão, onde passou, gravou e se eternizou. 

Entre práticas artísticas e de resistência, Rizvana Bradley nos lembra que “o fascismo que a modernidade liberal e a sociedade civil sempre exigiram, nunca acatou essa separação mentirosa desta ordem entre o político e o estético. O genocídio, agora como antes, é um projeto estético” e Profana, ao lutar com as armas espirituais, segue enchendo os corações fiéis de multiplicação e a_bundâ_ncia pois para mergulhar nas visualidades vocais das quais emana, é preciso um exercício de imaginação radical e acima de tudo, fé. 



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