(São Paulo, SP)
Até 30 de outubro, o espaço coletivo OLHÃO apresenta a exposição SUPER-NATURAL, que reúne um conjunto de obras de Adriano Amaral (Brasil), Nídia Aranha (Brasil),Vitória Cribb (Brasil), Débora Delmar (México), Ilê Sartuzi (Brasil), Wisrah Villefort (Brasil) e Janaina Wagner (Brasil). Os artistas, tanto em suas pesquisas teóricas quanto em suas práticas conceituais e conformações plásticas, desafiam a herança modernista da noção de natureza. A exibição é acompanhada por um texto das curadoras Lívia Benedetti e Marcela Vieira.
O OLHÃO é um espaço independente na Barra Funda (São Paulo – Brasil) gerido pela artista Cléo Döbberthin. É um território experimental que procura refletir e atuar sobre práticas contemporâneas no campo das artes, além de ser um ponto de encontro entre participantes da comunidade artística e o público em geral. A mostra agora em cartaz foi pensada desde 2019 e estava marcada para acontecer no primeiro semestre de 2020, mas foi adiada por conta da pandemia.
Confira abaixo um pouco sobre algumas das obras que estão sendo apresentadas no local:
Lobisomem é parte da pesquisa desenvolvida por Janaina Wagner durante sua participação na 6a edição do programa público Bolsa Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Durante os seis meses de residência no estado, Janaina trabalhou sobre a paisagem dos campos de mineração da região, encarando-os como a boca de um lobisomem contemporâneo. A instalação, apresentada sob as rampas do Museu de Arte da Pampulha, compunha a placa gravada juntamente do filme de título homônimo, filmado em Casa de Pedra, um dos maiores complexos de mineração a céu aberto do Brasil. Nas palavras de Rafa Campos Rocha, uma “autópsia na ferida da terra, com os ossos pétreos à mostra”.
Em #TheKardashians, de Ilê Sartuzi, uma prateleira de ferro dispõe nove cabeças de látex com o semblante dos integrantes da família estadunidense. Organizadas por idade, cada imagem do rosto se conforma a um mesmo formato padrão da cabeça de manequim. O procedimento de acomodar o plano bidimensional no volume da face expõe as diferenças, assumindo lugares vazios, rugas e dobras. A pesquisa sobre a imagem de celebridades frequentemente aponta para o descompasso entre a imagem construída e a corporificação no espaço. Na maioria dos casos, essas personagens também são responsáveis pela elaboração de uma imagem própria, descolada da realidade, ou hyperreal. As Kardashians, vale acrescentar, têm ainda a particularidade de serem proprietárias de marcas de cosméticos e terem dirigido por mais de uma década um reality show em torno de suas próprias vidas.
IMAGEM MILAGRE (2021) é uma instalação que propõe a aproximação das duas palavras que compõem o título. Na composição do trabalho, cada uma delas aparece duplicada, criando dois pares que unem uma fonte serifada a uma iconográfica. Na pesquisa de Wisrah Villefort, as palavras surgem de seus estudos sobre o conceito de colonialismo animal, especialmente considerando o uso do simbolismo da figura do não-humano no reino pela Igreja Católica. A fonte floral aparece como um comentário sobre a relação precária entre os gestos de fala, leitura e escrita, partindo do que o filósofo Jacques Derrida discute em Gramatologia, livro de 1967. Apesar da elaboração teórica, por apresentar duas palavras de definição abstrata e fontes de grafismo reconhecível, mesmo que parcialmente ilegível, o trabalho convida o visitante da exposição a elaborar suas próprias associações nas relações ali possíveis.
“SUPER-NATURAL”, exposição coletiva
De 28 de agosto a 30 de outubro, 2021
OLHÃO
Rua Barra Funda, 288, São Paulo, SP
Visitação: sábados, de 13h às 18h
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