Denilson Baniwa é o sétimo convidado do “PIPA de perto: o artista fala na coleção do Instituto”. Selecionamos, quinzenalmente, uma obra adquirida pelo Instituto e pedimos para o(a) artista comentar um pouco sobre o trabalho: seja o processo criativo; a ideia por trás da obra; a conexão com toda a sua produção ou algum outro aspecto que a pessoa deseje compartilhar. O intuito é aproximar o público do universo do(a) artista e da coleção “Deslocamento” do Instituto PIPA, que foi criado em 2010 para apoiar, ajudar a documentar e a promover o desenvolvimento da Arte Contemporânea Brasileira, e que tem o Prêmio como uma de suas iniciativas. Desta vez escolhemos a obra “Forget me, please!”, de 2017, que foi doada à coleção quando Denilson venceu o PIPA Online em 2019. Baniwa também foi indicado ao Prêmio este ano e se tornou um dos Artistas Selecionados do PIPA 2021. Nesta edição, o primeiro turno do PIPA Online acontece de 15 a 22 de agosto.
O trabalho de Denilson é principalmente voltado a quem é o indígena atual e como ele se relaciona com o mundo. O artista de 37 anos nasceu na aldeia Darí, no Rio Negro, Amazonas, e sua trajetória na arte inicia-se a partir das referências culturais de seu povo, já na infância. Na juventude, começa seu caminho na luta pelos direitos dos povos indígenas e transita pelo universo não-indígena, apreendendo referenciais que fortaleceriam o palco dessa resistência. Ele é um artista antropófago, pois apropria-se de linguagens ocidentais para descolonizá-las em sua obra.
Denilson, em sua trajetória contemporânea, consolida-se como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional, como mencionado na biografia em suas páginas nos sites do PIPA: “Às vezes o desafio não é ocupar posições. Por exemplo, quando as que existem não servem, é necessário criar algo novo. Denilson Baniwa é um artista indígena; é indígena e é artista, e seu ser indígena lhe leva a inventar um outro jeito de fazer arte, onde processos de imaginar e fazer são por força intervenções em uma dinâmica histórica (a história da colonização dos territórios indígenas que hoje conhecemos como Brasil) e interpelações àqueles que o encontram a abraçar suas responsabilidades”.
Confira abaixo o relato que a artista enviou especialmente para o PIPA de perto:
“Vou falar um pouco sobre a obra que foi doada ao Prêmio PIPA quando eu ganhei o PIPA Online. Ela é uma referência ao Lichtenstein; é baseado em um dos trabalhos dele e na técnica do artista. Quando fiz essa obra, estava pensando sobre as relações que as pessoas indígenas têm com o resto do mundo; em como os indígenas são vistos, na maioria das vezes, nas universidades, nos cargos, no trabalho; em como a sociedade de uma maneira geral enxerga os índios em um lugar de exótico, ou de qualquer outra coisa, menos como uma pessoa normal. Então essa pintura trata disso, dessas relações sociais onde os indígenas são vistos como exóticos, como corpos exóticos e quase objetificados, então é a partir desse lugar. É um trabalho em acrílica sobre tela que tem essa referência ao Lichtenstein, à Arte Pop, aos quadrinhos.
A escolha do Pop Art está relacionada ao contato bem grande que tenho com a arte de quadrinhos. Gosto dos artistas Pop, e esse trabalho tem em especial uma releitura de uma obra do Lichtenstein, então eu tentei usar os mesmos elementos que ele usava, mas adaptando para um lugar indígena, a partir de uma localização indígena.
O balão de fala em inglês é justamente para deixar a obra mais universal, sendo uma homenagem aos artistas Pop, ao quadrinho, e também extrapolando a língua portuguesa. Acho que esse uso do inglês também está relacionado a muita gente de fora querer conhecer a aldeia, conhecer o índio, e isso geralmente se dá com uma chave muito estereotipada. Tem esse apelo vindo de estrangeiros, quando querem conhecer indígenas na Amazônia”.
A tradução do balão de fala na imagem seria algo próximo de: “Esqueça! Me esqueça! Estou farto da sua espécie!”.
Para acompanhar mais do trabalho de Denilson, fique de olho:
Os cinco Artistas Selecionados do PIPA 2021, escolhidos pelo Conselho do PIPA, vão realizar de setembro a novembro uma ocupação virtual no site e nas redes sociais do Prêmio PIPA e na plataforma Preview (da qual o crítico e curador Gabriel Pérez-Barreiro é um dos fundadores), com conteúdo exclusivo.
Abaixo, você pode assistir ao vídeo produzido pela Do Rio Filmes exclusivamente para o Prêmio PIPA 2021, no qual Denilson fala, também, dos assuntos mais presentes em suas obras e do seu trabalho mais recente:
O artista foi um dos convidados da primeira temporada do PIPA Podcast. O áudio está disponível na aba “Podcast” em nosso site; nas plataformas de streaming, como Spotify e Apple podcast; além do nosso canal Prêmio PIPA no Youtube. Você pode conferir as referências feitas durante a conversa aqui.
Para visitar a página de Denilson no site do Instituto, clique aqui.