"OK/CANCEL", 2020, detalhe

“Arte e Tecnologia”: novo episódio do PIPA Podcast com Elias Maroso

No episódio desta semana do PIPA Podcast, conversamos com Elias Maroso, indicado ao Prêmio PIPA 2020. Elias trabalha e estuda em Porto Alegre, RS, onde desenvolve uma pesquisa em artes visuais voltada ao objeto, à intervenção urbana e à eletrônica aplicada. O artista entrou no acervo do Instituto PIPA no ano passado com as obras “Criptocromo” e “OK/Cancel”.

Confira, abaixo, uma fala do artista:

“Existem duas formas de lidar com arte e tecnologia: uma se relaciona com processo endógeno (…), de abrir a caixa preta dos dispositivos e descobrir como funcionam, e a outra com o exógeno, de lidar com a repercussão das mídias, como o artista que faz uma gif art, modelo tridimensional, realidade aumentada, em que ele não está mexendo no sistema ou construindo um dispositivo de visualização. Um entra no funcionamento e outro a usa como ferramenta de expressão”.

Ouça agora o episódio aqui no site ou acesse nas plataformas de streaming, como Spotify e Apple podcast, além do nosso canal Prêmio PIPA no Youtube.

Os episódios do podcast estão sendo gravados remotamente, por meio de videoconferência. Abaixo, você pode conferir as referências que são feitas durante a conversa.

R E F E R Ê N C I A S

  • Mark Fisher

Em uma de suas falas, Elias citou uma frase de Mark Fisher (1968-2017), filósofo e crítico cultural: “É mais fácil pensar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”. Essa frase, mas em formato de pergunta, é o título de um livro do autor, publicado em 2009. Reproduzimos, abaixo, do que o livro se trata:

“Após 1989, o capitalismo se apresentou com sucesso como o único sistema político-econômico aparentemente viável no mundo – uma situação que só começou a ser questionada para fora dos círculos mais duros da esquerda a partir da crise bancária de 2008, quando começa-se a entender a urgência de se desmontar a ideia de que ‘não existe alternativa’. Este livro, escrito pelo filósofo e crítico cultural britânico Mark Fisher, desnuda o desenvolvimento e as principais características do ‘realismo capitalista’, conceito que delineia a estrutura ideológica em que estamos vivendo. Usando exemplos de política, filmes, ficção, trabalho e educação, argumenta que o ‘realismo capitalista’ captura todas as áreas da experiência contemporânea. Mas também mostra que, devido a uma série de inconsistências e falhas internas ao programa de realidade do Capital, o capitalismo é, de fato, tudo — menos realista”.

  • Modelo do cubo branco

O modelo, citado por Elias, pode ser explicado da seguinte forma: “O modelo modernista da arquitetura de espaços para exposição é o ‘cubo branco’. Trata-se de oferecer à arte um pano de fundo isento-limpo, branco, livre de excessos, ornamentos e efeitos”.  Este é um trecho de um texto especial escrito na Folha de S.Paulo em 1999 por Adriano Pedrosa. Em “Museu propõe discussão do ‘modelo do cubo branco'”, Pedrosa faz algumas críticas a esse modelo e comenta como o Guggenheim Bilbao, de Frank O. Gehry, vai na contramão dessa lógica. Separamos outro trecho abaixo:

“[…] a própria inserção e suposta abstinência estilísticas na arquitetura acabam por construir um forte discurso e uma ideologia que, por mais que tenhamos nos acostumado com a noção modernista de ‘pureza’, contamina tanto a arquitetura quanto a arte. Hoje, admite-se que há uma grande dose de autoritarismo na disciplina modernista do design. A isenção, pura e simples, é inatingível.

Para ler o texto na íntegra, clique aqui.

Exposição Abstract Expressionist New York: The Big Picture, no MoMA (2010)

  • Sociedade disciplinar e sociedade de controle

Em um certo momento da conversa, o artista menciona o filósofo Gilles Deleuze (1925 – 1995), que acreditava que a sociedade disciplinar, como chamada por Michel Foucault (1926-1984), havia se tornado uma sociedade de controle. Reproduzimos aqui breves explicações destes termos:

“A chamada sociedade de controle é um passo à frente da sociedade disciplinar. Não que esta tenha deixado de existir, mas foi expandida para o campo social de produção. Segundo Foucault, a disciplina é interiorizada. Esta é exercida fundamentalmente por três meios globais absolutos: o medo, o julgamento e a destruição. Logo, com o colapso das antigas instituições imperialistas, os dispositivos disciplinares tornaram-se menos limitados. As instituições sociais modernas produzem indivíduos sociais muito mais moveis e flexíveis que antes. […] A forma cíclica e o recomeço contínuo das sociedades disciplinares modernas dão lugar à modulação das sociedades de controle contemporâneas nas quais nunca se termina nada mas exige-se do homem uma formação permanente.

Enquanto a sociedade disciplinar se constitui de poderes transversais que se dissimulam através das instituições modernas e de estratégias de disciplina e confinamento, a sociedade de controle é caracterizada pela invisibilidade e pelo nomandismo que se expande junto às redes de informação.

Se nas sociedades disciplinares o modelo Panóptico é dominante, implica o observador estar de corpo presente e em tempo real a observar-nos e a vigiar-nos. Nas sociedades de controle esta vigilância torna-se rarefeita e virtual. As sociedades disciplinares são essencialmente arquitecturais: a casa da família, o prédio da escola, o edifício do quartel, o edifício da fábrica. Por sua vez, as sociedades de controle apontam uma espécie de anti-arquitectura. A ausência da casa, do prédio, do edifício é fruto de um processo em que se caminha para um mundo virtual.

É importante perceber que na sociedade de controle, o aspecto disciplinar não desaparece, apenas muda a actuação das instituições. Os dispositivos de poder que ficam circunscritos aos espaços fechados dessas instituições passam a adquirir total fluidez, o que lhes permite actuar em todas as esferas sociais. Entre os princípios norteadores desta dinâmica, destaca-se a abolição do confinamento enquanto técnica principal”.

Para ler o texto completo de onde separamos esses trechos, clique aqui.

  • Exposição “Futuração”, na Galeria Aymoré

A mostra coletiva que aconteceu de 6 de março a 8 de maio na Galeria Aymoré, no Rio de Janeiro, reuniu 20 artistas e tensionou trabalhos que enfrentam o amanhã, tornado ainda mais complexo com a pandemia. “Como a arte pode apontar para outros futuros?” foi a pergunta que direcionou a exposição. Entre os artistas participantes, estavam, além de Elias, CabeloCaduEduardo BerlinerPedro Varela Rodolpho Parigi. A obra de Elias Maroso que estava sendo exposta, “OK/Cancel”, pertence ao acervo do Instituto PIPA e faz parte do programa de aquisições do Instituto e da iniciativa de circular as obras de sua coleção em exposições próprias e de outras instituições.

Confira, abaixo, os eixos pensados pelo curador Lucas Albuquerque para a mostra:

“A curadoria concentrou o recorte da pesquisa em três interesses: trabalhos que lidam com a imagem digital por meio de apropriações das mídias contemporâneas, tais como a realidade virtual, a simulação e a montagem; obras que dialogam com as possibilidades do corpo e suas reinvenções, seja pelo caminho da desfiguração, da discussão de gênero e/ou da fuga das binaridades; e, por fim, trabalhos que lançam questionamentos sobre as atuais estruturas de poder que normatizam os corpos, questionando-os e propondo sua subversão. Apesar das diferentes perspectivas poéticas e do uso de diferentes suportes, como a pintura, o vídeo, a fotografia e a performance, o fio condutor que reúne os trabalhos busca discutir a potência da arte na geração de outras realidades”.

Você pode visitar o post que fizemos sobre a exposição aqui.

  • Coleção “Deslocamentos” e as obras de Elias Maroso

A coleção do Instituto PIPA está focada nas obras dos artistas que participam do Prêmio PIPA. De 2010, todos os artistas vencedores em cada categoria do Prêmio doaram um trabalho ao Instituto.

No final de 2016, o PIPA iniciou o processo de aquisições e comissionamentos por meio do Instituto. O conceito “Displacement / Deslocamento” serve como orientação para a coleção. O “deslocamento” tem, na verdade, muitas definições. Isso pode significar a situação em que pessoas ou objetos se movem de um lugar para outro. Pode ser espontâneo ou forçado. Há um sentido de urgência e uma necessidade de invenção associados aos deslocamentos – entre países, corpos, sexualidade, identidade, suportes e linguagens artísticas.

A intenção, sempre que possível, é tentar adquirir um conjunto de obras que deem conta minimamente do processo de trabalho dos artistas e da coerência interna de suas pesquisas e questões. Além disso, tentar acompanhar ao longo do tempo o desenvolvimento de sua trajetória. A diversidade da produção brasileira é algo a ser estimulada nestas aquisições, com suas narrativas históricas, políticas e sociais heterogêneas. A diversidade é a base de um ecossistema cultural que se queira vital e produtivo.

Acreditamos na importância de incentivar o desenvolvimento de práticas artísticas, apoiando a produção de novas obras e projetos, com a missão de contribuir para o reconhecimento e divulgação internacional da arte contemporânea brasileira. A coleção está disponível para empréstimos (como ocorreu com “Futuração”), exposições têm sido organizadas e estamos abertos a desenvolver novos projetos e parcerias.

Conheça mais sobre a coleção do Instituto aqui.

Como mencionado durante o episódio do podcast, o Instituto PIPA adquiriu as obras “Criptocromo” e “OK/Cancel” de Elias Maroso. Na conversa, o artista fala sobre o processo e a ideia por trás das obras, e você pode conhecê-las abaixo:

Para visitar a página de Elias no site do Instituto, clique aqui.



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