"Série 5 esfumado", 1974, acrílica sobre tela, 100 x 100 cm, Coleção Marcia e Luiz Chrysostomo. Crédito: paivabrasil.com

Segunda temporada do PIPA Podcast: confira as referências de “Colecionismo, com Luiz Chrysostomo”

Em fevereiro, o PIPA Podcast completa um ano de existência, e agora está de volta com uma segunda temporada. O episódio de reestreia, nessa nova fase, é uma conversa sobre colecionismo com o convidado Luiz Chrysostomo, que tem atualmente uma coleção particular com 1.500 peças e é presidente do conselho do Museu de Arte do Rio, e com a participação do curador do Instituto PIPA, Luiz Camillo Osorio.

Ouça agora o primeiro episódio da segunda temporada do podcast aqui no site ou acesse nas plataformas de streaming, como Spotify e Apple podcast, além do nosso canal Prêmio PIPA no Youtube.

A conversa girou em torno da importância do colecionismo para o circuito artístico, e Chrysostomo falou sobre a formação e as mutações de um acervo, além da necessidade de preservar as obras como memória nacional.

Os episódios do podcast estão sendo gravados remotamente, por meio de videoconferência. Abaixo, você pode conferir as referências que são feitas durante a conversa.

R E F E R Ê N C I A S

  • Colecionadores russos: Morozov e Shchukin

“Ivan Morozov (1871–1921) e Sergei Shchukin (1854–1936) se destacaram como colecionadores de arte no início do século XX: ambos adquiriram arte moderna francesa, desenvolveram uma sensibilidade para detectar novas tendências e divulgaram-nas na Rússia. Shchukin, comerciante de tecidos, estava entre os primeiros a apreciar o trabalho de artistas franceses impressionistas. Quando os franceses os consideravam loucos e sem valor, Shchukin corajosamente buscava o trabalho de artistas ‘rejeitados’. Em 1904, ele possuía 14 Monets, e obras impressionistas adornavam a sala de música de sua vila em Moscou. Ele então voltou sua atenção para os artistas da próxima geração, e queria apresentar os mais recentes desenvolvimentos artísticos para Moscou, e comprou os retratos do Mar do Sul de Paul Guaguin seguido dos trabalhos de Cézanne e Van Gogh” (Texto traduzido do portal do museu Guggenheim, disponível na íntegra aqui).

“Herdeiro de uma famosa família de comerciantes, Ivan Morozov passou a infância estudando a arte da pintura com o principal impressionista russo, Konstantin Korovin. Mas, depois de concluir a universidade na Suíça, viu-se obrigado a deixar seu passatempo predileto e se dedicar à administração das fábricas de tecidos da família. A amizade com os pintores moscovitas, porém, conseguiu manter acesa sua paixão pela arte. Avaliada em 5 bilhões de dólares, a coleção de Ivan Morozov, que inclui a famosa ‘Menina na Bola’, de Pablo Picasso, ‘O Café Noturno’, de Vincent Van Gogh, e ‘Retrato de Jeanne Samary’, de Pierre-Auguste Renoir, entre outras, é uma das mais preciosas da história da humanidade” (Texto retirado deste portal).

Ivan Morozov, na esquerda, e Sergei Shchukin. Fotografias do State Pushkin Museum of Fine Arts, retiradas do site do The New York Times

  • Gertrude Stein

“Do momento em que se mudou para a França em 1903 até sua morte em Neuilly-sur-Seine em 1946, a escritora americana Gertrude Stein foi uma figura central no mundo da arte parisiense. Uma defensora da vanguarda, Stein ajudou a moldar um movimento artístico que exigiu uma nova forma de expressão e uma ruptura consciente com o passado. A casa na rua Fleurus número 27, que ela dividia com Alice B. Toklas, sua companheira de vida e secretária, se tornou um lugar de encontro para os “novos modernos”, como os talentosos jovens artistas que apoiavam esse movimento vieram a ser chamados. Entre estes cuja carreira ela ajudou a lançar, estavam Henri Matisse, Juan Gris e Pablo Picasso. O que esses criadores alcançaram nas artes visuais, Stein tentou em sua escrita. Uma corajosa experimentadora e gênia autoproclamada, ela rejeitou a escrita linear e orientada pelo tempo, característica do século XIX, e trocou por uma literatura espacial, orientada pelo processo e específica do século XX”.

Texto traduzido do portal Poetry Foundation, e disponível em inglês aqui.

Foto por Hulton Archive/Getty Images, retirada do portal Poetry Foundation

  • Grupo Frente

“Marco histórico do movimento construtivo no Brasil, o Grupo Frente, sob a liderança do artista carioca Ivan Serpa, um dos precursores da abstração geométrica no Brasil, abre sua primeira exposição em 1954, na Galeria do Ibeu, no Rio de Janeiro. Participam da mostra, apresentada pelo crítico Ferreira Gullar, os artistas Aluísio Carvão, Carlos Val, Décio Vieira, Ivan Serpa, João José da Silva Costa, Lygia Clark, Lygia Pape e Vicent Ibberson, a maioria alunos ou ex-alunos de Serpa nos cursos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Apesar de informados pelas discussões em torno da abstração e da arte concreta, com obras que trabalham sobretudo no registro da abstração geométrica, o grupo não se caracteriza por uma posição estilística única, sendo o elo de união entre seus integrantes a rejeição à pintura modernista brasileira de caráter figurativo e nacionalista. […] na segunda exposição do grupo, em 1955, no MAM/RJ. Aos fundadores do grupo unem-se outros sete artistas: Abraham Palatnik, César Oiticica, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Rubem Ludolf, Elisa Martins da Silveira e Emil Baruch. Além da diversidade no que se refere às técnicas e materiais utilizados (pastel, xilogravura, objeto cinético, colagem etc), percebe-se também uma certa variação de estilos […]. Para os artistas do Grupo Frente, a linguagem geométrica é, antes de qualquer coisa, um campo aberto à experiência e à indagação”.

Texto retirado do portal Enciclopédia Itaú Cultural. Você pode lê-lo na íntegra aqui.

Hélio Oiticica. Sem título, 1955, guache sobre cartão, 43 cm x 50 cm

  • Poema/Processo

“O poema ganhou status de objeto. Produziram-se assim, poemas para serem rasgados, queimados, degustados. […] O movimento Poema-Processo, em 1967, surgiu paralelo à Tropicália, numa época onde qualquer ruptura criativa colaborava com a ideia de ruptura com a comunicação institucional da ditadura. Fundado por Wlademir Dias-Pino, Neide Sá, Álvaro de Sá, entre outros, o grupo chegou a ter mais de 70 artistas e poetas brasileiros participantes e até um uruguaio, Clemente Padin, e um argentino, Edgardo Antonio Vigo. O grupo trabalhava com a ideia de processo, utilizando a linguagem como veículo. A partir daí, se construíam várias versões que se somavam por sua vez a diferentes estilos, o que permitia uma despersonalização da obra” (Texto retirado do portal Arte! Brasileiros. Você pode lê-lo na íntegra aqui).

“Imersos em um alto nível de possibilidades e inventividades, uma das contribuições de maior relevância de sua prática reside na quebra dos gêneros, a palavra que vira imagem, a imagem que vira escultura, e a tridimensionalidade que vira uma ação. O poema, liberto de seu suporte tradicional, torna-se multidisciplinar, podendo nos proporcionar a noção de que toda conjuntura de fazeres e da realidade se dá em processo, assim como o próprio viver” (Texto retirado da Galeria Superfície. Você pode lê-lo na íntegra aqui).

Neide Sá. “Transparência”, 1968, acrílico, vinil adesivo, 20 x 20 x 20 cm. Imagem veiculada pela Galeria Superfície.

  • Metaesquemas, por Hélio Oiticica

“A série Metaesquemas revela o espírito das investigações abstrato-concretas realizadas por Hélio Oiticica durante sua participação em 1955 e 1956 no Grupo Frente, fundado no Rio de Janeiro por Ivan Serpa com Aluísio Carvão e Lygia Pape, entre outros. Oiticica havia iniciado seus estudos de arte no Curso Livre de Pintura de Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954. Em 1956, quando acabara de completar 20 anos, começou a produzir seus Metaesquemas. Composta por mais de 400 trabalhos, a série consiste em exercícios metódicos, em pequeno formato, em sua maioria em guache sobre cartão, privilegiando experimentações com cores (preto, vermelho, amarelo, azul e verde), formas abstratas geométricas e espaço.

Os Metaesquemas de 1956 a 1957 apresentam formas como trapézios, losangos, retângulos, quadrados. As figuras parecem passear pelo papel, em alguns casos de forma ordenada pelo movimento de rotação ou explosão. Em outros casos, as formas tomam direções independentes das demais na composição, apontando para lados distintos, reforçando uma sensação de ruptura do plano da imagem. […] Em texto de 1972, Oiticica escreveria que os Metaesquemas teriam sido uma ‘obsessiva dissecação do espaço’ e um ‘espaço sem tempo: frestas no plano mudo'”.

Texto retirado do portal do MAM Rio. Para saber mais, clique aqui.

Metaesquema (1958), de Hélio Oiticica, guache sobre cartão, 68 x 50 cm, Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, doação Fininvest. Foto Vicente de Mello.

  • Logotipo do Piraquê, por Lygia Pape

Confira, abaixo, um pouco da relação de Lygia Pape com a identidade visual da marca Piraquê a partir de trechos selecionados do texto “O Crime da Piraquê” de Daniela Name, crítica de arte, curadora e jornalista que já foi membro do Comitê de Indicação do Prêmio PIPA 2011 e 2012:

“O que muito pouca gente sabe é que toda a identidade da Piraquê – embalagens dos biscoitos, massas, caminhão e logomarca – foi criada por Lygia Pape, uma das maiores artistas que este país já produziu.  A atuação de Lygia –  falecida em 2004 – no ramo da comunicação visual foi tão versátil quanto no das artes plásticas. Entre o fim dos anos 1950 e os aos 1970, ela criou numerosos cartazes e letreiros para filmes do Cinema Novo, caso de ‘Vidas secas’. A partir de 1960, já com boa experiência como programadora visual, atuou na Piraquê. Lygia criou o desenho de embalagens que se tornaram clássicas, como as dos biscoitos Cream Crackers, Maria e Maisena, e de quebra inventou um novo conceito para o empacotamento, depois copiado por outras indústrias do Brasil e do exterior. Até então, os biscoitos eram guardados em caixas ou latas padronizadas, fosse qual fosse o seu formato. A artista desenvolveu, no entanto, um método próprio de cortar e colar o papel de embalo, de modo que ele  passou a envolver os biscoitos sem gerar sobras dos lados, acima ou abaixo. Os biscoitos passaram a ser empilhados verticalmente e o papel plástico apenas se sobrepunha a esta pilha, criando a forma que as embalagens de Maria, Maisena e Cream Crackers têm até hoje, ou seja, a de sólidos espaciais (cilindro, ovalóide e paralelepípedo). […] Nas embalagens da Piraquê, Lygia aplicou todos os princípios de Gestalt, de geometria sensível e de ‘obra aberta’ que nortearam as obras de arte do período. Os losangos sobrepostos nas embalagens dos Cream Crackers e a embalagem do Água e Sal, que você vê acima e ao lado, respectivamente, não me deixam mentir.  Olhe bem para a perturbação dos biscoitos desta última, espalhados sobre o fundo branco, e me diga:  não parece um ‘Metaesquema’ de Hélio Oiticica? […]. O desenho não é a única aproximação com a vanguarda do período. Ao transformar os biscoitos em sólidos geométricos e ser copiada no mundo inteiro, Lygia reproduziu no produto as formas de uma de suas obras mais famosas: em 1958, pouco antes do trabalho para a Piraquê, ela criou, em parceria com Reynaldo Jardim, o ‘Balé neoconcreto’, executado a partir do momento em que bailarinos, cobertos por sólidos espaciais, faziam com que estes se mexessem no espaço”.

Para ler o texto na íntegra, clique aqui.

  • Arte Concreta

“Em 1930, o artista plástico holandês Theo van Doesburg publicou, no primeiro e único número da revista Art Concret, em abril de 1930, o que viria a ser o manifesto de uma corrente estética denomina ‘arte concreta’. […] Apesar de Van Doesberg ter morrido no ano seguinte, sua denominação alcançou notoriedade, e diversos artistas entre as décadas de 1930 e 1950 reivindicaram para sua obra a descrição de ‘arte concreta’. Sua principal característica era a abstração geométrica, sem nenhuma referência ao mundo exterior. Seu objetivo era ser um produto claro e racional da mente consciente e livre de ilusões de um artista, em vez de ser expressão da irrazão e do inconsciente (como ocorria com os surrealistas, no mesmo período). Formas geométricas e superfícies homogêneas tornaram-se uma marca da corrente”.

Para ler o texto completo do Museu Afro Brasil, assim como conferir alguns pontos do manifesto de Doesburg, clique aqui.

Theo van Doesburg.
“Simultaneous Counter-Composition”, 1929-30, óleo sobre tela, 49.5 x 49.5 cm. Crédito: The Riklis Collection of McCrory Corporation

  • Maria Polo de 1964 e Paiva Brasil de 1968

Durante a conversa, Chrysostomo compartilhou duas histórias de obras que ele acreditou ter perdido a chance de obter, mas que chegaram às suas mãos em algum momento.

O colecionador menciona que a obra de Paiva Brasil, de 1968, chamada “Emblema” (70 x 50 cm), foi o primeiro “cinco” que o artista fez. Para saber mais sobre estes “cincos”, leia abaixo um fragmento do texto “Paiva Brasil: Percurso”, escrito pelo próprio Luiz Chrysostomo e veiculado no portal Paiva Brasil:

“Em sua ‘Homage’ ao 5 , série que se inicia no fim dos anos 1960 com Emblema (1968), presente nesta exposição, Paiva reinventa o número e constrói sua poética matemática, como bem notou Walmir Ayala. Ainda que o uso dos algarismos esteja presente desde os primórdios das vanguardas europeias cubistas e dadaístas, o artista segue caminho próprio redefinindo uma nova linguagem plástica. O que lhe atrai é a exata medida do manejo gráfico, deslocando reta, semicírculos e círculos inacabados em construções no espaço. Pinta, desenha com normógrafos, carimba e esculpe em madeira. Sutilmente recodifica e ressignifica o 5, inaugura um elemento externo de representação. O 5 não é mais o 5. Brinca com a tonalidade, esfuma, repete sem monotonia, integra. Não é mais algarismo, mas uma elaboração geométrica. Sua apropriação não provém da matriz da arte conceitual dos anos 1970 ou do Pop de Robert Indiana. É o 5 de Paiva”.

Já a obra de Maria Polo, artista vinda da Itália que era pintora, desenhista, gravadora e vitralista, faz parte do período tachista. Saiba sobre mais sobre este abaixo, com parte do texto da Enciclopédia do Itaú Cultural:

“Menos que um movimento pictórico com traços facilmente reconhecíveis, o tachismo remete a uma tendência artística que finca raízes na Europa no período após a Segunda Guerra Mundial, 1939-1945. O termo – que vem do francês tache, “mancha” – é criado pelo crítico Michel Tapié no livro Un Art Autre [Uma Arte Outra] para tentar definir o novo estilo de pintura que recusa qualquer tipo de formalização, rompendo com as técnicas e os modelos anteriores. Arte informal (no sentido de sem forma) é outra designação corrente para o tachismo, às vezes também ligado à noção de abstração lírica. A defesa da improvisação, associada ao gesto espontâneo e instintivo, permite entrever as afinidades da nova pintura com o expressionismo abstrato, assim como a inspiração no surrealismo, pela valorização do inconsciente, no dadaísmo, em função da defesa do caráter irracionalista da arte e no expressionismo, que toma a imaginação como expressão direta do espírito do artista”.

Para ler o texto na íntegra, clique aqui.



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