O Instituto PIPA permanece com a missão de criar e compartilhar um acervo representativo da arte contemporânea produzida no Brasil. Desde 2010, obras de artistas que já participaram do Prêmio PIPA são adquiridas, assim como os artistas finalistas e os vencedores do PIPA Online doam obras para o acervo. Este ano, tivemos o prazer de anunciar aquisições de dois artistas: Ana Paula Oliveira, de quem recebemos quatro instalações e André Griffo, que agora faz parte da coleção com mais uma pintura.
Agora, anunciamos mais dois novos artistas incluídos no acervo: Ibã huni Kuin (Isaías Sales), indicado ao PIPA 2016, e Elias Maroso, indicado ao PIPA 2020.
Ibã huni Kuin (Isaías Sales) é um txana, mestre dos cantos na tradição do povo huni kuin. Na década de 1980, ele se tornou professor e aliou os saberes de seu pai Tuin huni Kuin aos conhecimentos ocidentais, passando a pesquisar na escrita a sua tradição junto com seus alunos. Em 2008, ingressou na Universidade Federal do Acre, em Cruzeiro do Sul (AC) e criou o Projeto Espírito da floresta visando, com seu filho Bane, pesquisar processos tradutórios multimídia para esses cantos compondo o coletivo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin. O artista é pesquisador e utiliza diferentes linguagens, chamadas por ele de desenho-canto-vídeo, para disseminar práticas, conhecimentos e vivências indígenas.
Abaixo, fotos do trabalho adquirido recentemente pelo Instituto,“YUBE NAWA AIBU” [povo mulher jibóia], 2020, caneta sobre papel, 30 x 40 cm. O desenho foi executado por Cleber Pinheiro Sales Kaxinawa, participante do MAKHU (Movimento dos Artistas Huni Kuin) e coordenado por Ibã Sales Huni Kuin. Ao lado, certificado escrito pelo artista indicado ao PIPA 2016 e, abaixo, um audio em que o canto é a autenticação da obra.
Elias Maroso desenvolve pesquisa individual em artes visuais voltada ao objeto, à intervenção urbana e à eletrônica aplicada. Especialista em arte e tecnologia, Elias é membro-fundador do projeto Sala Dobradiça, a partir do qual participou da 7ª e 8ª Bienal do Mercosul. Atualmente, é Doutorando em Artes Visuais (PPGAV/UFRGS) com ênfase em Poéticas Visuais. Sua formação transita entre as Artes Visuais, estéticas contemporâneas (Universidad de la República – Montevidéu, Uruguai), Design de Superfície – Especialização (PGDS/UFSM).
Duas obras de Elias foram adquiridas pelo Instituto, “Ok/Cancel”, 2020, 17,5 cm (altura) x 18,5 cm (largura) x 8,5 cm (profundidade) e “Criptocromo”, 2019, 90 cm (altura) x 105 cm (largura) x 16 cm (profundidade).
“Ok/Cancel” (acima) toma o regime das telecomunicações e da sociedade de controle como principal motivação prática. Trata-se de uma pequena instalação com um projeto de circuito eletrônico impresso manufaturado que desempenha a função de bloquear sinais de telefones celulares nas faixas de transmissão 2g, 3g e 4g, em um perímetro doméstico de 5 metros. Desativado em seu modo expositivo, junto desse dispositivo artesanal, o trabalho exibe na tela de um telefone celular o vídeo-tutorial com as etapas da montagem manual do circuito na atribuição de código aberto e autonomia tecnológica.
Envolvido pelas emissões invisíveis que atravessam ambientes públicos e privados, este projeto de instalação é entendido como um convite a ser, ao mesmo tempo, cúmplice e rival das ondas informacionais. A colisão do comando positivo (ok) com sua dobra negativa (cancel). Sim+não com as próprias mãos; feitura de um circuito menor e próprio para o corte momentâneo de outro circuito, maior e totalizante. Veja informações completas sobre o trabalho aqui.
A instalação “Criptocromo” (acima) tem como peça principal um conjunto de imagens que busca simular a maneira como aves migratórias enxergam o imenso campo magnético do planeta Terra no horizonte. A bússola natural aviária é possível por uma proteína no olho dessas espécies, chamada criptocromo – “cor escondida” em grego (κρυπτός χρώμα). A simulação dessa capacidade visual foi adaptada de uma publicação científica (Solov’yov; Mouritsen; Schulten, 2010) que, na instalação, foi reformulada com fotografias do centro de Porto Alegre/RS. Essa adaptação marca os principais pontos cardeais e colaterais do horizonte local em sobrevoo [L, Ne, N, No, O, So, S, Se] com manchas escuras no céu, seguindo o padrão visual proposto pelo documento científico original.
O trabalho também conta com dois alto-falantes artesanais feitos com ímãs, espirais de adesivo condutivo de cobre, peças de acrílico cristal, transparências de acetato impresso e com laminação plástica que imita o aspecto metálico do cobre. Desses dispositivos é executada uma peça sonora por meio de vibrações eletromagnéticas. Com duração de 1’32”, sendo reproduzido ciclicamente, o som é gerado pela própria vibração das folhas de acetato impressas, mediante impulsos elétricos de um circuito ocultado da sala expositiva. Dessa engenhoca, sai o canto sutil do pássaro Olho de Prata (Zosterops lateralis), uma das aves que enxergam as manchas no horizonte pela magnetorecepção.
A principal motivação do trabalho está na visão além do humano, apontando ocorrências do mundo que outras espécies são capazes de ver. Trata-se de uma aproximação em estado de maravilhamento sobre invisbilidades reais, impossíveis de serem vistas mesmo com olhos em perfeitas condições. O olho humano deixa de ser a referência central sobre as coisas que podem ser vistas. Veja informações completas sobre o trabalho aqui.