Ocupação finalistas 2020: Renata Felinto

Olá, já conhece o trabalho de Renata Felinto? Quer saber mais sobre as pesquisas da artista em arte e educação?

Bem-vindo à Ocupação dos Finalistas 2020! A cada semana, um dos quatro artistas abre a porta de seu atelier para o público virtual do Prêmio PIPA, com vídeos, fotos e textos exclusivamente elaborados para a Ocupação. Randolpho Lamonier, Maxwell Alexandre e Gê Viana já compartilharam conosco diversas novidades sobre seus trabalhos. Nesta última semana de Ocupação, até o dia 14 de novembro, Renata toma conta do site e das redes sociais do Prêmio com conteúdo original. A cada dia, um novo material será disponibilizado. Fique de olho e nos acompanhe também nas plataformas Instagram, Twitter e Facebook.

A ideia de criarmos uma mostra online surgiu por conta deste período em que estaria em cartaz no Paço Imperial a exposição dos finalistas do Prêmio PIPA 2020. Até 14 de novembro, nossas plataformas vão estar recheadas de conteúdos realizados e elaborados pelos artistas. Não temos o objetivo de substituir a exposição que foi adiada por conta da pandemia, com previsão para acontecer em 2021, mas criar um encontro possível entre finalistas do PIPA 2020 e o público virtual ainda este ano.


Dia 6: No último dia da ocupação, Renata Felinto compartilha mais três trabalhos: “Santinha” (2019), “Amor-tecimento” (2019) e “White face and blond hair” (2020). As performances seguem as temáticas principais da artista, o reconhecimento de si enquanto corpo negro, o resgate da autoestima afrodiaspórica e a revisão dos padrões construídos pela colonização europeia.

Em “Amor-tecimento”, pessoas negras são convidadas a tocarem-se, acariciarem-se e massagearem-se de forma orientada, transformando o corpo em ato político. Através da troca gestual, há uma valorização do auto-amor negro em um país onde o racismo é estrutural.

“White Face and Blonde Hair” já foi performado em diferentes locais, desde 2012. Nas fotografias abaixo, Renata levou o trabalho para a galeria Mendes Wood DM, em São Paulo, em 2019. Nele, a artista interfere em importantes destinos de São Paulo, referências para o consumo de luxo, como a Rua Oscar Freire. Travestida de mulher loira passeando pela rua, observando vitrines, consumindo, ou tomando um café, ela questiona a quem esses espaços são permitidos, visto que o consumo e a riqueza pressupõem, na maior parte das vezes, espaços de segregação racial e social.

“Santinha” compõe a exposição “As que me habitam”, de 2019. Oriki é oração de agradecimento a Maria de Araújo e a todas as mulheres negras que a antecederam e que foram submetidas a violências diversas. Veja fotos das performances:


Dia 5: Hoje, penúltimo dia de Ocupação, Renata compartilha o texto crítico escrito por Fabiana Lopes, “Renata Felinto: ser (tão) doce na dureza”. No texto, a autora comenta sobre a trajetória da artista, as causas feminista e negra de Renata e como suas heranças familiares e sociais influenciam no trabalho artístico. Leia o texto completo abaixo:

Renata Felinto: ser (tão) doce na dureza

Fabiana Lopes

Como acontece de forma recorrente com a produção de artistas negrodescendentes, de um modo geral, e com artistas negras, em particular, no Brasil (e talvez na América Latina), a produção de Renata Aparecida Felinto dos Santos (1978) é relevante para o entendimento da arte contemporânea no Brasil, bem como para a compreensão histórica desse tempo.

A obra de Renata Felinto se apresenta como uma conjunção entre revisão historiográfica em constante processo, por um lado, e uma abertura (do escopo de uma janela, ou do buraco de uma fechadura, até) através da qual podemos vislumbrar os desejos e ansiedades, as preocupações, os modos de apreender o mundo, as formas de ser e de estar nele enquanto sujeitxs negrxs nesse tempo e espaço, e um espaço geralmente sancionado. Através de sua prática artística, Felinto propõe conceitualizações e teorizações que nos abrem a possibilidade de uma visão expandida de nossa formação histórica e seus desdobramentos no agora. Ao mesmo tempo, ela provoca um esgarçamento mesmo em nossa compreensão das práticas na arte contemporânea, bem como de sua teoria crítica. Daí a importância de atenção cuidadosa, de pesquisa dedicada para a compreensão de sua obra e a de seus contemporâneos. A obra de Felinto é, também, um testamento de que, para certas populações, arte e vida nunca foram experiências e reflexões separadas e, portanto, não se juntaram à posteriori. Pelo contrário, uma é o espelho da outra, a outra informa o entendimento de uma.

A cidade de São Paulo, onde a artista nasceu e passou boa parte da vida, serve de contexto para a produção de seu trabalho até aqui, trabalho em que alguns elementos se mostram recorrentes: reflexões sobre memória, o cuidado em tornar explícita a experiência e o ponto de vista da mulher negra, discussão sobre territórios, espaços sancionados e a possibilidade de (re)apropriação dos mesmos e, em certos momentos, uma reflexão crítica sobre a produção artística modernista no Brasil.

Na produção de Felinto, a preocupação com memória é acionada a partir da reflexão sobre a condição histórica e atual das populações negras no Brasil observada pelo prisma intimista oferecido pelas famílias pretas, de suas experiências capturadas na documentação fotográfica que seus membros fazem de si e de suas comunidades.

A obra Reexistindo (2004 e 2009) é um exemplo. Uma série de fotomontagens em que artista se debruça no acervo fotográfico de famílias negras em São Paulo para, como ela indica em seu texto explicativo, “[re]pensar a família negra em ambientes de sociabilidade”. À partir desse material, a artista engaja numa reflexão sobre cotidiano, sobre afetos e experiências coletivas, sempre tendo como referência às experiências dessas famílias em espaços urbanos como é o caso da cidade de São Paulo. O projeto é permeado de elementos sugestivos como “cortes, riscos, apagamentos e falhas”1. Tão relevante é o repensar a família preta que esse projeto intelectual-artístico foi empreendido por artistas como Rosana Paulino (Parede da memória, 1994) e Janaina Barros (Psicanálise do cafuné: sobre remendos, afetos e territórios, 2016-2019).

A reflexão sobre territórios, espaços e a leitura que essa reflexão nos possibilita sobre a sociedade em que vivemos, suas sanções e exclusões parece evidente em trabalhos-intervenções como Vai, jorra esse amor na minha cara! (2013), em que a artista adiciona cartas e poemas de amor, desenhos pornográficos, adesivos românticos e fitas de cetim perfumadas nas zonas de meretrício da cidade de São Paulo. Qual a implicação de se cobrir de mimos espaços geralmente marcados por desumanização e violência? O que o gesto de adicionar produz num contexto marcado pela prática da extração?

Cola lá na Goma (2003) é uma outra intervenção em que a artista reproduz, em lambe-lambe, fotografias do Conjunto Habitacional José Bonifácio (ou COHAB II) em Itaquera, um distrito da região Leste de São Paulo, e cola essas imagens em bairros centrais da cidade. A provocação aqui está na distinção feita entre “bairro nobre” e “bairro periférico”. Nessa sobreposição de espaços, nesse misturar do central e periférico, nesse trazer o que está lá para cá, como um gesto de contaminação, de borrar de barreiras, a artista reflete sobre práticas de marginalização, exclusão e racismo geograficamente marcado.

É importante fazer a distinção entre o olhar da artista como mulher negra que, obviamente, permeia o seu trabalho e ter essa posição destacada explicitamente no discurso artístico, uma posição política numa sociedade sexista e anti-preta por definição. Investigar a condição da mulher negra dentro do contexto social brasileiro tem sido uma prática recorrente entre uma nova geração de artistas negras— uma prática da qual Paulino é creditada como pioneira, e mestra até. Felinto faz parte dessa geração e, com ela, apresenta uma atualização artística-visual da produção intelectual de pensadoras como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, para citar algumas referências. Essas produções artísticas oferecem alternativas teóricas para pensar problemas enfrentados por feministas negras, tanto acadêmicas quanto ativistas.

Podem ser entendidas a partir desse recorte a série Afroretratos (2010/2014), pinturas produzidas a partir de desenho e colagem em que a artista propõe “reflexões sobre a identidade congelada que se forjou na sociedade brasileira sobre ser mulher negra”2. Também a série de autorretratos, parte do projeto Também quero ser sexy (2012), com obras de títulos sugestivos como Renata Basinger, Renata Monroe, Renata Bardot. Ambos projetos apresentam um viés biográfico e performático, já que a artista apresenta suas enunciações à partir da própria imagem. 

Um outro projeto parte desse recorte e que também traz marcas biográficas é  Embalando Mateus ao som de um hardcore (2017/2020), uma belíssima obra documental contemporânea, pensada nos moldes das produções feministas dos anos 70,  a uma vez intimista e pública, pessoal e social. A obra é formada por recibos e notas fiscais de compras feitas para a manutenção dos filhos da artista, sem a participação do pai das crianças, recolhidos durante o período de um ano. A artista transforma os documentos em estampa para tecidos e esses são usados para confecção de enxovais de bebês. As estampas também são usadas em gravuras digitais que, segundo a artista, acompanham frases geralmente proferidas contra mulheres em condição de mãe sozinha. 

Entretanto, é através de sua prática em performance que o escopo de proposições e reflexões de Felinto se expande e se complica. Podemos pensar, por exemplo, em como a artista mobiliza, com o corpo, espaços da cidade onde vive em obras como White Face and Blonde Hair (2012). Neste trabalho, também parte do projeto Também quero ser sexy, a artista faz a intervenção na rua Oscar Freire — importante destino em São Paulo para o consumo de luxo mas conhecida também por seu status de espaço de segregação racial e social — travestida de mulher loira passeando pela rua, observando vitrines, consumindo, ou tomando um café3; ou Brunch para Exu (2013), um brunch na na Praça da Sé, em São Paulo, oferecido pela artista para pessoas em situação de rua e desfrutado com elas; ou a vídeo-performance Danço na terra em que piso (2014) na qual, acionando suas memórias afetivas sobre certos lugares em São Paulo, Felinto dança, de maneira graciosa, em sete espaços públicos da cidade (Praça da Sé, Vale do Anhangabaú, Cracolândia, Estação da Luz, viaduto Mie Ken no bairro da Liberdade, em frente ao estádio de futebol Itaquerão e num carrossel do parque de diversões Marisa também em Itaquera). Dado que em alguns dos espaços nos quais Felinto performa, negridade e expropriação se entrelaçam, o dançar da artista funciona como um gesto na direção de uma re-apropriação desses territórios, como uma expansão das possibilidades de sua presença (preta). Se em Brunch a artista articula compartilhar espaço e comer junto, em Danço na terra, ela apresenta o corpo negro feminino em movimento, num lírico desafio às sanções feitas a esse corpo em certos espaços públicos. A experiência negra feminina é articulada de maneira ainda mais acentuada na ação-performativa Psicanálise reversa ou lugar de escuta privilegiado (2019), um trabalho no qual 10 mulheres negras compartilham suas histórias de vida e eventos decorrentes da percepção social sobre a mulher negra4. Uma pergunta importante aqui é como essa questão está sendo endereçada nos trabalhos de artistas negras trans e não-binárias, cujas presenças são enfrentadas com um grau ainda maior de violência? 

E termino essa breve reflexão sobre a produção de Renata Felinto com o trabalho Axexê da Negra ou o descanso das mulheres que mereciam serem amadas (2017). Nessa belíssima obra, a artista parece apresentar, de maneira compacta, muitas das reflexões presentes em sua produção até então, além de pôr em cheque nosso culto acrítico ao movimento modernista no Brasil. Tomando como conceito o Axexê — prática cerimonial do candomblé nagô entendida como um “enterro da espiritualidade da pessoa iniciada falecida” ou o desfazer de sua iniciação —, Felinto performa simbolicamente o colocar em descanso a “espiritualidade coletiva de mulheres negras que foram amas de leite no Brasil escravocrata,” e um consequente desfazer dos desdobramentos dessa história para experiência das mulheres negras no presente. No processo de enterrar reproduções fotográficas de amas de leite, Felinto enterra também uma reprodução da obra A Negra (1923), de Tarsila de Amaral, num gesto que põe fim, nas palavras da artista, ao “culto infinito aos modelos modernistas que carregam em si a gênese racista das elites escravocratas” no Brasil5. 

A mudança de Felinto para a cidade do Crato, na região metropolitana do Cariri ao sul do estado do Ceará, parece abrir uma outra janela na produção da artista, informada agora pelos modos de ser e estar no mundo próprios do ambiente que a cerca. A experiência urbana é substituída pelas marcas do sertão e pelas vivências de mulheres negras desse espaço. E isso é o que vemos em trabalhos como Axé, Marias! (2018), Sertão doce na dureza (2018), Ex-votos (2019), e Trindade (2019). Numa costura permanente e em permanente processo entre arte e vida, a produção de Renata Felinto nos oferece vislumbres de dores e de delícias. E nos momentos em que respirar é quase impossível, ela nos convida a seguir re-existindo e insistindo na doçura a despeito da dureza.

  1. Website Renata Felinto, www.renatafelinto.com, acessado em 20/08/2020.
  2. Website Renata Felinto, www.renatafelinto.com, acessado em 20/08/2020.
  3. Bispo, Alexandre Araújo, Lopes, Fabiana. “Presenças: a performance negra como corpo político”. Harper’s Bazaar Art, n. 4, abril 2015, p. 112.
  4. Trabalhos como Embalando Mateus ao som de um hardcore e Psicanálise reversa ou lugar de escuta privilegiado me fazem pensar em alguns textos do livro Black, White, and In Color: Essays on American Literature and Culture: University of Chicago Press, 2003, da pesquisadora Afroamericana Hortense Spillers. Textos como “Mama’s Baby Papa’s Maybe, An American Grammar Book” ou “All the Things You Could Be by Now, If Sigmund Freud’s Wife Was Your Mother: Psychoanalysis and Race” podem  ampliar, e muito, o entendimento crítico sobre esses trabalhos.
  5. Website Renata Felinto, www.renatafelinto.com, acessado em 20/08/2020. O artigo “Is Brazil’s Most Famous Art Movement Build on Racial Inequality? A new generation argues ‘yes’” publicado por Sarah Roffino na ArtNet em março de 2018 compartilha o pensamento de alguns artistas e curadores negros contemporâneos sobre a complicada relação entre questões raciais e o movimento modernista no Brasil.

Dia 4: Renata desenvolveu o termo “performar a vida” em 2017 e, desde então, ele se apresenta em suas obras como um conceito-espírito que engendra a maneira como ela tem organizado seus trabalhos.

Segundo Renata, “Compreendendo que não faço parte do estereótipo que o Ocidente idealizou para a materialização do ser pessoa artista, considerando categorias como gênero, cor, condição socioeconômica e mesmo estado civil. Dessa forma, ser artista incorpora todas as minhas performances de sobrevivência, todas as estratégias de presentificação da minha pessoa, todas as negociações de meu ser, estar e criar. Não pretendo disputar territórios, narrativas, identidades. Pretendo coexistir nos territórios, nas narrativas, com as outras identidades, com as não brancas e com as brancas que não se pensam identidades. Esse tem sido o exercício de performance respirativa porque ela é constante-incessante, requer variadas espécies de força e algum equilíbro, bem como honestidade para apresentar limitações e me mostrar valorosa como ser criativa mulher-mãe-feminina não apesar dessa condição, mas sim devido a ela. Então ‘Performar a Vida’ é uma ginástica de acomodação do que já foi aceito por mim em mim”.

Veja o vídeo exclusivo que Renata preparou para a Ocupação:


Dia 3: Renata Felinto desenvolve trabalhos em diversos suportes e formas, como desenho, performance, instalação, pintura, fotografia e intervenção. Suas pesquisas relacionam arte, identidade e gênero.

Abaixo, Renata apresenta três trabalhos em que esses temas são elaborados, como “Embalando Mateus ao som de um hardcore” (2017), “uma instalação composta por recibos e notas fiscais recolhidas durante um ano provenientes de todos os gastos com a criação de suas duas crianças sem nenhum auxílio do progenitor. Esses documentos transformam-se em estampa para tecidos que são utilizados nas confecções de enxovais de bebês e também formam gravuras digitais que acompanham frases que mulheres nas condições de mães sozinhas já escutaram devido a essa realidade” – trecho retirado do site da artista https://renatafelinto.com/bio/. Ela propõe uma reflexão sobre a maternidade e a violenta sobrecarga naturalizada pela sociedade e que impacta decisivamente a liberdade e as vidas dessas mulheres.

O segundo trabalho é “Axexê da negra ou o descanso das mulheres que mereciam ser amadas” (2017), uma cerimônia de enterro inspirada em rituais do candomblé nagô. Partindo da pintura “A Negra” (1923), de Tarsila do Amaral, que reproduziu sua ama de leite, Renata propõe o enterro da espiritualidade coletiva de mulheres negras que foram amas de leite no Brasil escravocrata.

Por fim, o terceiro trabalho apresentado é “Performar a vida” (2018).


Dia 2: No segundo dia de Ocupação, Renata divulga a entrevista dada ao curador do Instituto PIPA Luiz Camillo Osorio. A conversa exclusiva vai estar disponível no catálogo do PIPA 2020, que será lançado ainda este ano.

Confira a entrevista completa:

Conversa entre Luiz Camillo Osorio e Renata Felinto

1 – Fale um pouco da sua formação? Como a formação acadêmica contribuiu na construção do seu trabalho?

Considero que minha formação se dá no âmbito informal, formal e não formal, do modo mesmo como se divide a educação de um ser humano no contexto ocidental quando estudamos as disciplinas de didática. A preocupação da minha mãe e de meu pai, como pessoas negras no Brasil racista, para que eu, minha irmã e irmãos fôssemos pessoas bem educadas em todos os aspectos, bem vestidas e limpas, ainda que de classe média baixa, um eufemismo para pobre, se efetiva completamente. As minhas referências femininas, especialmente de minha mãe, são muito fortes na pessoa que sou hoje e na persistência para determinadas realizações que culminam na profissional que sou hoje. Diria que meu pai conferiu-me aquela dose de acreditar no que não foi necessariamente criado pra gente, e que essa “mania de grandeza” como dizia minha mãe em tom mais crítico, foi significativa para que eu me permitisse sonhar. Também é muito crucial a possibilidade de conhecer música, andar pelo centro de São Paulo, ver as coisas, ações que eu fazia com meu pai. Estudei na rede pública a vida toda, com exceção da parte de licenciatura. Eu cresci em Itaquera, São Paulo, com pessoas como eu. Passar num colégio técnico na região central me obrigou a um deslocamento diário de quase três horas para ir e para retornar, no entanto, também me apresentou o caminho que me levaria à universidade pública antes de termos políticas importantes como as cotas. Fiz Artes Plásticas, sendo das poucas negras retintas da universidade e me equilibrava no trabalho de telemarketing. Ao trabalhar na Mostra Brasil Mais 500 anos Artes Visuais, da falida Brasil Connects, eu me deparei com um universo que não era abordado em sala de aula: artistas negras e negros. Daí em diante foquei meu trabalho de conclusão de curso, dissertação e tese na investigação desse campo. Não vou entrar em todas as dificuldades que enfrentei para tanto, qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe disso. Eu finalizei meu doutorado em 2016, como bolsista da CAPES, com duas crianças bebês, separada, com o apoio da minha mãe, e de São Paulo mudei para o sertão do Ceará. Um lugar que nega em sua historicidade a presença e participação de pessoas negras em sua constituição populacional, mas que brada Dragão do Mar, um grande paradoxo. E nesse ambiente paradoxal como artista e acadêmica, redefini aspectos da minha vida pessoal e profissional que se convertem nas minhas últimas produções nas quais revejo questões de relacionamento social, interpessoal, íntimo, que se conectam ao fio da história como desdobramento, como resgate, como revisão. Antes de estar na academia como docente eu já desenvolvia pesquisas inúmeras, como trabalho e como necessidade e, portanto, a diferença com o ingresso na academia é que passo a sistematizar mais o que pesquiso.

2 – Como você articula seu trabalho como artista com a sua prática pedagógica? Como tem sido esta experiência aí no Crato, no Ceará, como professora de História e Teoria da Arte na Universidade Regional do Cariri? Como traduzir as referências da história da arte aprendidas em SP para esse outro território simbólico e cultural?

Antes de adentrar a academia como docente, na contramão de muitos pares artistas, eu já acreditava que a arte tem relevância quando tem sentido para as pessoas que se deparam com a criação artística, quando ela pode causar sensação, sentimento, reflexão, articulações com a vida, quaisquer que sejam elas. Isso é importante e indissociável de minha produção, é uma preocupação. E essa mesma preocupação está na minha prática docente e pedagógica. Preocupo-me em articular o conhecimento em história da arte com as vidas das pessoas que são minhas estudantes, em trabalhar esses conteúdos de forma que não exista o abismo muito comum e naturalizado entre o conhecimento docente e o alcance discente em relação ao desenvolvimento do que chamamos de história das artes visuais. Então existe uma adequação de linguagem, uma humildade de adotar referências bibliográficas que se ampliem para além de textos de livros que não podem ser adquiridos pelas maioria e, mais do que isso, busco humanizar a produção de arte na perspectiva de que todas as pessoas entendam que estamos tratando de produções de outras pessoas e que gênero, cor/raça, classe socioeconômica e geografia interferem decisivamente nos nomes e produções que estudamos, que constituem um contexto específico. Ao mesmo tempo, busco trazer sempre referências de outros lugares que não seja a Europa, porque a sensação que a historiografia nos passa é a de que nos demais lugares não se estava fazendo arte. Gosto muito de destacar o peso do cânone clássico e de como, ao mesmo tempo, ele só existe porque houve um cânone egípcio e dessa forma, mostrar como há conexões entre as populações e que estamos tratando de um fenômeno de criação com continuidade, descontinuidades, simetrias, assimetrias. Mais do que tudo a história das artes visuais trata da escolha sobre quais histórias contar e que precisamos de muitos e muitas contadores e contadoras de histórias das artes visuais. Tentando aplicar o “Ensinando a transgredir”, da bell hooks, eu tento me ver estudante, lembrar das minhas fragilidades para me conectar com as pessoas que são minhas estudantes. Mas eu exijo leitura, trabalho escrito, participação em sala porque sei que são capazes.

3 – Como é o circuito artístico no sertão? Quais alianças são possíveis para a continuidade e a reinvenção do seu trabalho?

Quando chegamos numa cidade pequena, na qual as pessoas se conhecem e somos as forasteiras, digamos assim, é preciso muito cuidado, especialmente sendo mulher negra e mãe sozinha num lugar no qual os homens héteros se tratam por “macho”. É perigoso mesmo, seja pela curiosidade e/ou maledicência alheia, pelo sentimento de que nós sudestinas e sudestinos nos colocamos num lugar de superioridade que está muito naturalizado, seja por outras violências cotidianas que se expressam no olhar, no tocar meu corpo. Então, foi esse primeiro impacto, o choque cultural que adentrou nos meus trabalhos. Essa tentativa de entender o que é ser mulher negra em outro canto do Brasil totalmente diferente de São Paulo, e com um tipo diferente de racismo que incluía a imensa surpresa das pessoas ao me verem entrar num carro e dirigir. Ou mesmo, dizer que sou professora universitária. E isso mesmo dentro da universidade, do ambiente acadêmico.

Não foi nada simples criar um ambiente de trocas e de crescimento pessoal e coletivo aqui no sertão. Diria que no que se refere às artes visuais, essas parcerias que estavam mais visíveis não me interessavam. Eu fui buscar ver o que me interessava, o que também habitava meu imaginário como o Espedito Seleiro de Nova Olinda e os artistas xilogravadores da Lira Nordestina, gráfica e editora fundada por José Bernardo em 1926, vai completar 100 anos. Lá encomendei parte de minha instalação “Ser tão doce na dureza”, 2018/2019, na qual estão gravados em xilogravura nomes de pessoas que gravaram suas presenças, para o bem ou não, em minha chegada. Foi o Cícero Lourenço quem fez as matrizes e gravações que juntas formam o mapa do estado do Ceará. Nesta instalação eu apresento junto do mapa corações formados com rapadura e cachaça Kariri, muito tradicional daqui. A proposta é que as pessoas permitam que a rapadura dissolva-se em suas bocas. É uma iguaria para se saborear com a paciência da ação da saliva. É um trabalho que trata de tempo para encontrar o sabor doce por detrás da dureza do alimento. 

Apresentei esse e outros trabalhos no Aparelha Luzia em São Paulo, a convite de minha amiga, artista, educadora e hoje deputada estadual Erica Malunguinho. Ela me disse, numa conversa informal que para viver bem aqui, eu teria que me misturar com os nossos e as nossas, as pessoas negras estão nas camadas mais simples da sociedade brasileira em qualquer estado devido ao nosso eficiente sistema de castas. E rapidamente compreendi que colegas brancas e brancos de universidade realmente podem representar uma elite tóxica porque fundada a partir de um conceito de branquitude que envolve modos de ser e de agir objetivando manter privilégios, sejam eles quais forem e os menores que forem. E fui me misturar com minhas e meus.

Fui pesquisar e escutar sobre personagens que habitam o imaginário popular e a oralidade local como Maria de Araújo, Maria Caboré e Maria Margarida, tive o auxílio de pesquisa de mulheres que estão hoje na minha vida como amigas, e que são participantes do grupo de pesquisa que lidero na Universidade Regional do Cariri, o NZINGA (Novos Ziriguiduns Inter Nacionais Gerados nas Artes). Por exemplo, a historiadora Edivânia Barros me apresentou sua monografia sobre Maria Caboré, mulher que foi extremamente marginalizada e violentada no início do século 20, tendo vivido em situação de rua no Crato e que hoje, seu túmulo é local de peregrinação e ela tida como mulher santa. Maria de Fátima Gomes, cantora e pedagoga, me apresentou a Mestra Maria Margarida, que ainda é viva e está internada em um asilo em Juazeiro do Norte, criadora de um grupo da tradição composto apenas por mulheres chamado “Guerreiras de Joana D’Arc”, uma musicista, compositora, brincante muito importante. A partir dessas três mulheres criei a tríade de performances “Axé Marias!” que apresentei, dentre outras obras, no 29º Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, a convite da curadoria encabeçada por Adelaide Pontes. Foi inclusive a partir do NZINGA que se constituiu um agrupamento de artistas visuais com as quais dialogo e pesquiso, porque quando cheguei aqui a questão da mulher negra no âmbito das artes visuais, ou mesmo da pessoa negra, não era uma questão, inexistia. Maria Macedo que foi minha estudante é uma artista que considero que se forma como uma artista que traz tais questões a partir de seu ingresso no NZINGA, assim como Eliana Amorim, Nayra Gomes, Suaine Oliveira, Andréa Sobreira, Aline Lima. Não que elas não pensassem sobre arte, e algumas sobre ser mulher, ou ainda ser negra, mas, às vezes, precisa de uma pessoa para explicitar que essas questões estão latentes em algum lugar, foi isso o que houve. O Nzinga auxiliou-as na percepção do racismo que existe na região, no apagamento da importância de se ver e se entender como pessoa inteligente e criadora negra. O Cariri com sua luz solar, sua natureza farta, sua gente, sua estética própria me desafia até na rotina do dia a dia a pensar minha existência de maneira muito profunda e isso impregnada à minha produção de escrita, de docência, de arte. 

4 – A frase “Da Adversidade Vivemos” deve ter uma ressonância forte para uma artista mulher e negra. Como dar voz a essa dor indo além da denúncia?

O Brasil, como país com uma forte veia sádica, tem toda uma cultura de exploração do período escravocrata, seja pelas produções de telenovela, seja pelos enfeites que as pessoas possuem em suas salas de estar, pessoas negras carregando cestos, amas de leite amamentando, ou mesmo com a normalidade que se convive com estabelecimentos de nome “Senzala”, para citar apenas algumas aberrações de nossa sociabilidade racista. Essa naturalização evidentemente que dói porque atravessa a vida da pessoa negra no Brasil. Não somos nós que falamos sempre de racismo, são os brancos e brancas que estão a todo momento nos mostrando e nos lembrando, nos recolocando em lugares do passado sem conseguir compreender a necessidade de uma nova ética social entre pessoas diferentes que está mais do que explícita como uma urgência para não morrermos de ódio. Eu tenho tentado extrapolar a dor e me permitir imaginar lugares de acolhimento, de reconhecimento e de afeto. Um dos meus últimos trabalhos “AMOR-Tecimento”, de 2019, é sobre isso, sobre como nós pessoas negras podemos enfrentar o racismo cotidiano. Esse enfrentamento se dá pelo autocuidado, pelo afeto e pela cura herbárea. Na equipe temos um historiador, músico, yogue e massagista o Marcos Felinto, uma doula e pedagoga a Edite Neves, uma cientista social, produtora cultural, ativista feminista e dos direitos humanos Lúcia Chiyere Ijeoma Udemezue. Reunimos um grupo de pessoas com idade entre 18 e 80 anos para conversar sobre racismo, olhar nos olhos, fazer carinhos, massagens e carícias em outras pessoas que habitam corpos negros tendo a mediação do poder de ervas como alecrim, manjericão, arruda, dentre outras. É um trabalho de reconhecimento de nossas humanidades, entre nós, entre iguais, compartilhando o que a escritora Vilma Piedade chama de “dororidade” em oposição à “sororidade”. Estendo o conceito para pessoas negras para além do gênero no sentido de que as trajetórias são diferentes, inclusive a experiência com o racismo o são, no entanto, o sentimento é semelhante e o zelo pelo outro, pela outra também podem ser. É um trabalho longo, multimídia, tem as pessoas nesse processo de toque, as três senhoras que tricotam a linha dourada, as imagens que exigem a barbárie do tráfico transatlântico e de como a descendência dessas pessoas é tratada pelo Estado e pela sociedade, que somos nós, eu e você, tudo isso com música sendo construída naquele momento. É uma imersão que traz elementos de espiritualidade e de ritualização, o cuidar como rito.

5 – Li um artigo interessante da Djamila Ribeiro sobre a polêmica surgida pela crítica da Lilia Schwarcz ao filme da Beyoncé. Ela escreveu: “como disse a artista visual Renata Felinto, arte é sobre imaginação e ‘Beyoncé é uma artista amadurecendo como pessoa, mulher, mãe’”. Você poderia falar um pouco sobre o papel da imaginação na arte e como você viu essa polêmica?  

Poderíamos dizer a postura de superioridade que a sociedade euro-ocidental se auto impingiu, como se fosse seu devir “guiar”, “liderar” outras populações ao redor do mundo e especialmente no “Novo Mundo”, diz muito sobre o que pode ser imaginado no campo da arte. A produção de arte de pessoas brancas passa pela reverência às suas próprias narrativas, sejam as históricas, as religiosidades, sociais, e isso tudo já é muito explícito no período clássico com as representações de deusas e deuses, ou mesmo com os bustos de imperadores com expressões faciais heróicas. E seguindo a linha do tempo da história da arte euro-ocidental encontramos essa reiteração de uma importância histórica, religiosa, social ainda que com transformações em relação ao tema representado sobre o qual se cria. Após esses ciclos do representar fidedignamente temos o esgarçamento da figura no início do século 20 e novas e muitas experiências que se dão a partir de outras articulações entre as linguagens artísticas e num confronto mais direto com a sociedade que se engendrou. Quando a Lilia Schwarcz critica de forma pouco aprofundada a produção de uma artista da cultura pop que aciona justamente a história, as religiosidades, as sociedades africanas que pouco foram visibilizadas no contexto dessa sociedade que se diz plural e que, no entanto, é clinicamente euro-ocidental, ela diz que outros povos não podem imaginar. Ela confina a sua compreensão de imaginação aquilo que conhece e desnuda o confinamento de sua mente aos limites do fantástico lido pela lente da Europa, do Ocidente. Não porque ela faça isso para vilipendiar pessoas negras, mas porque ela não deveria sentir-se tão à vontade para falar sobre tudo, ela deveria dar-se tempo de compreender o que não tem registro anterior em seu amplo repertório para que seja lido a partir de outras lentes.  E talvez ela mesma, como antropóloga, precise fazer essas leituras de atualização porque nós, pessoas negras, em nossos processos criativos, no âmbito do conhecimento humano e não apenas das artes, estamos utilizando de fontes de referências que nos foram negadas dentro de um processo de invasão territorial, de opressão como disputa de poder, de genocídio, de epistemicídio, de violências extremas contra as nossas existências, incluindo apagamentos para que nos entendêssemos a partir da tragédia apocalíptica do tráfico transatlântico de povos.  Nesses movimentos de nos revermos a partir de nossas próprias lentes, como pessoas que fazem parte de outras histórias, de outros lugares, de outros tempos, de outras culturas e, portanto, de outros imaginários, fantasias e mitologias. À parte isso tudo, por favor, “Black Is King” é da Disney, a maior indústria de fantasia e de imaginação do século 20 e 21, portanto, tudo é possível e esse tudo não deve ser assim tão racionalizado. Beyoncé, como muitas pessoas afro-diaspóricas, está fazendo a sua reconexão, me sinto honrada de viver nesta época e poder assistir esse trabalho.

6 – No final dos anos 1960, a artista norte americana Mierle Ukeles escreveu o Manifesto for Maintenance Art, em que punha em questão a dimensão poética e produtiva do cuidado. Antecipando o discurso feminista posterior, ela valorizava os afazeres domésticos invisíveis e desprezados no contexto de uma sociedade patriarcal. Nada mais atual. Como isso tem interferido na sua visão de arte sendo uma artista mulher, mãe e professora?        

Luiz Camillo, que perguntas incríveis, estou aprendendo nessa troca, isso é muito valioso. Sobre sua pergunta, nossa sociedade é do desajuste, do paradoxo, da violência tão normatizada que se torna uma regra. Todas as pessoas já estiveram nessa condição ou nas duas: ou fomos crianças e, portanto, precisamos de uma mãe, ou fomos crianças e mães. E me parece, que quando pessoas adultas nos esquecemos das inúmeras necessidades para se criar uma criança de forma saudável. Bem como, enquanto mulheres com crias adultas e autônomas, nos esquecemos de como foi ser mãe e como, mesmo quando se conta com algum apoio, ser mãe é uma experiência que nos coloca nuas diante das nossas fragilidades, deficiências, ansiedades, angústias. O quanto temos tornado essa experiência mais e mais difícil para mulheres num contexto capitalista e patriarcal. O quanto a “machização” das relações de trabalho impõe que as mulheres se apresentem como autônomas e que escondam as suas necessidades como mães e, consequentemente, as de suas crianças, que precisam delas. Penso em formas de flexibilização do trabalho profissional e como devemos focar no aprimoramento da estrutura da educação formal que é o grande amparo da maioria das famílias com mulheres em exercício de seu direito/necessidade de ter uma profissão, de exercer uma atividade remunerada. Como arte-educadora eu já li inúmeros textos maravilhosos sobre as aproximações escola e sociedade, educação formal e informal, entretanto, na prática isso só ocorre nas escolas muito elitizadas, muito caras. Ser mulher, negra, mãe sozinha, profissional, artista, nessa ordem mesmo e ao mesmo tempo, tem sido um enorme desafio e é imperativo que tratemos dessa questão com a maior seriedade possível num país que proíbe aborto, mas que não criminaliza e responsabiliza devidamente o homem negligente em sua função de pai. Ao mesmo tempo nós, sociedade, precisamos entender a importância da comunidade que circunda essas mulheres e sua/s cria/s dentro do projeto de sociedade que dizemos sonhar. Como é o papel que se exerce como tio, irmão, avô, pensando especificamente nos homens, uma vez que as mulheres, tias, irmãs, avós já desempenham esse auxílio junto às mães? As sociedades autóctones não são retomadas nesse momento em vão, olhar para esses grupos que foram animalizados e tornados selvagens no processo histórico de expropriação, é restituir a nossa sociedade de um pensamento mais amplo de família e de responsabilidades compartilhadas com os homens. Homens não saem mais para caçar, não são mais os únicos mantenedores, não são os que têm mais estudos, portanto essas responsabilidades todas que antes eram atribuídas às mulheres, urgentemente, precisam ser redivididas. A arte foi predominantemente feita por homens porque esse era o pensamento, de que os homens tinham a liberdade para criar, imaginar, produzir. Se a arte é sobre existir também, é a partir dela que vou compartilhar minhas ideias sobre existência considerando minha experiência neste tempo-lugar.

7 – Como você imagina e deseja um futuro para sua obra? Afinal, como dizia o Tunga, devemos estar à altura dos nossos sonhos.   

Basicamente, eu sou uma pessoa que sonha, e tenho meus sonhos anotados em papéis de quando eu tinha 13 anos de idade. Tenho cada projeto desenhado em alguma agenda diário. Eu sonho que minha obra diga sobre o que foi ser uma mulher, negra, brasileira, mãe sozinha, profissional, artista entre 1978 e o momento em que eu me for e que esse dizer dê subsídios para que se compreenda a sociedade na qual eu vivi e as lutas que inventei para sobreviver da melhor maneira nela. Sonho também que a minha arte dê a dimensão de como me permiti viver, criar e imaginar, entendendo que essa prática criativa que extrapola pensar nos processos de comercialização da minha obra (mas que quero que estejam em alguns acervos para serem acessadas, fruídas, entendidas, refletidas), é a recompensa e o agradecimento que gostaria de oferecer aos homens e mulheres do meu povo que vieram antes de mim e que me permitiram ser quem sou, especialmente às mulheres negras da família Benedito Nascimento e Felinto dos Santos. Fazer tudo que faço da melhor maneira que posso é meu muito obrigada!


Dia 1: Renata Felinto é especialista em curadoria e educação. Doutora e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, a artista visual é professora adjunta da URCA/CE, foi coordenadora do Curso de Artes Visuais e do subprojeto PIBID do mesmo curso e coordena o Grupo de Pesquisa NZINGA – Novos Ziriguiduns (Inter)Nacionais Gerados na Arte. Renata já trabalhou na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Itaú Cultural, Centro Cultural São Paulo, SESC, SESI / FIESP, entre outros locais.

A arte produzida por mulheres e homens de ascendência negro-africana tem sido o tema principal de sua pesquisa e o mesmo reverbera de muitas formas em sua produção de artes visuais. Foi também nessa linha que ela coordenou o Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil.

Veja a entrevista que Renata deu a Do Rio Filmes este ano, falando sobre seus projetos e trabalhos:



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