A mostra coletiva “Últimas dias”, com organização de Marcelo Amorim, conta com trabalhos em diversas linguagens, pintura, vídeo, fotografia e objetos, e é possível perceber o recorrente uso da palavra “precariedade” e a torção dos seus sentidos. O próprio título “Últimos dias” tem um tom ao mesmo tempo publicitário e apocalíptico, se refere ao estranho ano de 2020 e ainda se liga ao título do livro que serviu de disparo para estas explorações.
Entre 2019 e 2020, o grupo de segunda-feira do Hermes Artes Visuais se encontrou para conversar a respeito dos trabalhos de arte que seus integrantes criavam, mas também para ler e discutir sobre arte. Dentre as leituras estava o livro “Bad New Days”, do crítico de arte e historiador estadunidense Hal Foster. Lançou-se a proposição de criar trabalhos ou ainda ler os trabalhos que iam se apresentando sob a chave da precariedade, assunto de um dos capítulos do livro. No texto, o autor comenta sobre produções que não apenas mimetizam o precário, mas que também apontam para questões que são próprias de uma mudança histórica mundial recente e que afeta a todos, como enunciado no release da exposição.
O release da mostra comenta como esta se entrelaçou com a situação vivida por conta da pandemia:
“A exposição que já tinha nome e abertura marcada para março foi adiada algumas vezes por conta da pandemia. Nesse meio tempo, com todas as mudanças provocadas pelo vírus, questões que antes pareciam um tanto abstratas se colocaram nítidas e presentes: o assunto, ao invés de perder interesse, se tornou mais pertinente. Infelizmente são diversas áreas sofrendo uma orquestrada deterioração, desde campos fundamentais como a saúde, educação, saneamento básico, meio-ambiente até questões no âmbito da cultura. Destaca-se a precarização que os trabalhadores sofrem paulatinamente, perdendo seus direitos, aí inclusos os artistas, como intelectuais precários, que atuam sem sequer contar com o reconhecimento de suas práticas como trabalho. Além disso, o golpe inesperado que tomou todos os planos e a experiência do isolamento inevitavelmente atravessaram os artistas e podem ser vistas nos trabalhos. A precariedade aqui tratada é, portanto, um assunto que se expande e pode estar na efemeridade, na condição transitória, fugaz e pouco confiável da vida na contemporaneidade”.
Participam da mostra os artistas Adriano Franchini, Clovis Teodorico, Corina Ishikura, Débora Rayel, Diego Marcicano, Fefa Lins, Fernanda Isola, Guilherme Borsatto, Gustavo Aragoni, Jamila Maria, Jussara Marangoni, Lorena Bernardes, Marcelo Barros, Maria Luiza Mazzeto, Márcia Morelli, Mari Nagem, Roberto Unterladstaetter e Tomie Savaget.
“Últimos dias”, com organização de Marcelo Amorim
Entre 13 e 28 de novembro de 2020
Realização por Hermes Artes Visuais
FONTE
Rua Mourato coelho, 751, Vila Madalena, São Paulo, SP
Visitação por agendamento: residenciafonte@gmail.com