Um retrato sombrio da política na individual “NECROCOLÔNIA 2016-2019”, de Luciano Zanette

(São Paulo, SP)

A Verve Galeria recebe “NECROCOLÔNIA 2016-2019”, individual do artista Luciano Zanette. A mostra traz a leitura do artista sobre o cenário político atual do Brasil através de esculturas, desenhos e pinturas, e pode ser visitada de 07 de novembro a 07 de dezembro de 2019. O texto curatorial é assinado por Thais Rivitti, que ressalta: “Não tardou a aparecer na arte o retrato sombrio da política do nosso tempo”, e que indica como tarefa da arte a “elaboração do amargo retrocesso do pensamento humanista do qual somos todos testemunhas”.

A pesquisa de Zanette propõe, como explica o release da exposição, um olhar reflexivo e crítico sobre como os objetos do cotidiano desenhados para o corpo humano acabam condicionando estes mesmos corpos, seus hábitos, gestos e posturas. “De maneira simbólica, o artista traça um paralelo entre estes objetos e estruturas de poder também criadas pelo homem, que acabam por oprimir a liberdade do próprio indivíduo”, elucida o release. Na mostra, está um recorte da pesquisa, abordando os processos, agentes, acontecimentos políticos, sociais e midiáticos conectados aos fatos que ocorreram no Brasil desde 2016, sobre os quais Zanette comenta: “Fatores estes que, entre outros, colocaram o país dentro de uma condição de Estado Pós-Democrático, de um regime de exceção que se quer permanente, uma neocolônia refém de controles externos”.

A “NECROCOLÔNIA” trata da grande preocupação do artista frente a episódios de caos que prejudicam o setor público, e principalmente a Educação, tema que é ainda mais caro a Zanette, que também é professor. Para expressar isso, ele utilizou em algumas peças, por exemplo, carteiras escolares desconstruídas e reformatadas, exibidas “junto a instrumentos de violência empregados pela polícia, sugerindo uma atmosfera de tensão no âmbito acadêmico” (release). A ideia é representar as salas de aula como desmembradas, tanto de modo literal quanto simbólico, e como alvo de violências, como as declarações de políticos atacando o Sistema Educacional do país.

Além disso, também estão expostas uma série de desenhos inéditos a lápis de cor, representando figuras políticas sobrepostas, dentre outras obras. A sobreposição que quase impossibilita a identificação dos personagens é uma forma de abordar o esquecimento, algo trazido no texto curatorial, já mencionado, de Thais Rivitti: “a gente reconhece as feições mas esquece o nome, que já vimos na TV ou nas matérias de jornais mas não conseguimos mais lembrar a qual barbaridade ou descalabro encontram-se associados”. Já Zanette levanta a reflexão: “diante desta avalanche cotidiana de retrocessos e obscurantismos, que afetam a todos nós, resta o questionamento: o que pode ser feito a partir de tudo isso?”.

O título faz referência ao termo que o filósofo camaronês Achille Mbembe trouxe, “Necropolítica”, com outra discussão levantada por ele sobre as colônias, que ele define como: “o local por excelência em que os controles e garantias de ordem judicial podem ser suspensos – a zona em que a violência do estado de exceção supostamente opera a serviço da ‘civilização’”. Zanette faz essa mistura para mostrar como a violência está presente no cotidiano brasileiro em pleno século XXI, como explica Thais.

“NECROCOLÔNIA 2016-2019”, por Luciano Zanette
De 07 de novembro a 07 de dezembro

Verve Galeria
Rua Lisboa, 285 Pinheiros, 05413-000, São Paulo
Terça a sexta-feira, das 11h às 19h, e sábado, de 12h às 17h



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