Em entrevista a Vice em 2014, a finalista ao Prêmio PIPA 2017 Bárbara Wagner comenta que não a interessa “a arte que se anuncia como arte, ou que especula o social a fim de produzir objetos bonitos que, no fundo, perdem todo o sentido crítico”. Interessada na investigação de expressões culturais, religiosas e econômicas mais típicas do Brasil atual e no registro fotográfico de grupos sociais específicos intimamente ligados à cultura brasileira, o trabalho de Bárbara busca retratar um “corpo popular” que ressignifica a tradição.
Formada em jornalismo, Bárbara transferiu algumas de suas experiências trabalhando em um jornal popular de Recife para a sua prática artística. Viu na arte, mais especificamente na fotografia e no vídeo, uma possibilidade não só de explorar seu referencial em comunicação social, como também de expandir seu interesse em discutir temas sociais e cotidianos. A experiência em jornalismo também muito contribuiu para o viés documental do seu trabalho, que se estrutura em algumas convenções jornalísticas. “Na fotografia documental, vejo a subjetividade exatamente no modo como se articulam esses três eixos [do jornalismo]: o quê, como e para quem”.
Apesar de desenvolver sua obra e pesquisa em torno do registro documental, a artista comenta que não produz “verdades” sobre aquilo que retrata, e que ficção e realidade se misturam em suas fotos, na medida em que as pessoas fotografadas se apresentam ao mesmo tempo como corpos performáticos e naturais. Seu compromisso ético com quem fotografa a leva ainda a pensar, no seu processo criativo, formas de evitar a exotização e o espetáculo dos retratados. Uma das suas marcas estéticas é o uso do flash durante o dia, o que ajuda a deslocar a imagem de lugar completamente naturalista.
Nascida em Brasília, Bárbara vive entre Recife e Berlim. Embora seu trabalho esteja intimamente relacionado a questões da cultura brasileira e suas especificidades, a artista diz que morar em Berlim, na verdade, é uma vantagem. Como no princípio da antropologia de Roberto DaMatta, “tornar o estranho em familiar e o familiar em estranho”, o distanciamento do Brasil permite à artista que ela acomode, em suas palavras, “perspectivas estimulantes sobre temas que não me pareceriam urgentes de outra forma”.
Assista a entrevista exclusiva de Bárbara Wagner para o Prêmio PIPA 2017:
A Exposição dos Finalistas do Prêmio PIPA 2017 abre neste sábado, 23 de setembro, às 15h. Não perca!