(Porto Alegre, RS)
Indicado à segunda edição do Prêmio PIPA, Luciano Zanette inaugurou, no sábado passado, 13 de maio, a coletiva “detalhe, desenho”, que divide com Amélia Brandeli e Marcos Fioravante. Curada por Eduardo Veras, a exposição nasceu de “afinidades estéticas, admirações recíprocas e o desejo fraterno de trabalhar juntos” dos três artistas, e está aberta à visitação no Espaço Cultural ESPM-Sul até o início de agosto.
“Durante todo o tempo de construção da exposição em si e de grande parte dos trabalhos que iriam configurá-la, a questão mais recorrente parecia ser a própria noção de desenho”, comenta Veras no texto de introdução à mostra. Seria então essa questão que guiaria “desenho, detalhe”, exibindo obras em grafite, pastel seco, carvão e lápis de cor sobre papel. Mas se a técnica é em geral a mesma, os temas divergem imensamente. Fioravante, por exemplo, trabalha a partir de imagens fotográficas feitas por ele próprio ou coletadas em mídias diversas, que formam uma espécie de “banco de imagens”. Seu interesse está voltado sobretudo a imagens que se projetam no espaço, geralmente estruturas feitas para conter algo, assim como espaços desabitados. “Vejo nessas imagens um certo flerte com o próprio pensamento de desenho e produção de imagens”, observa o artista. “Um desenho é como um depósito, o lugar e a própria forma de receptáculo, onde são sedimentadas ideias, desejos, memórias, percursos, mistérios e vestígios.”
Amélia Brandelli também parte de fotografias, feitas por ela mesma no celular, em seu processo de criação. Trabalhando com formas pinçadas da natureza, como folhagens, ela registra “o encontro entre dois e três tipos de formas”, procurando os “buracos que ficam entre elas e a não-forma”. “Não pretendo que meu desenho seja hiper-realista, gosto que tenha todas as marcas do fazer e refazer por cima e o acúmulo de muitas horas de ateliê”, sublinha. “As decisões que têm que ser feitas no desenho se dão ao desenhar… É como se uma escolha apontasse para outra, e o desenho pronto levasse a outro.”
Já Luciano Zanette faz uma ponte inesperada: inclui na mostra uma escultura, que, para remeter à questão do desenho, é feita em nanquim, pigmento e verniz sobre madeira. Apresenta, assim, três conjuntos distintos de trabalhos: o primeiro, sobre os conceitos de Melancolia e Finitude, parte da observação – apenas inicial – de imagens caras à história da arte, mas que a medida em que são trabalhadas, se distanciam visualmente dos originais que lhe serviam de referência. A série sobre veganismo aborda a brutalidade humana contra animais não-humanos – em especial, casos que geraram comoção nacional ou internacional, ao serem divulgados por grandes jornais e sites de notícias. A série sobre questões atuais, de viés político, revisita adjetivos muito difundidos nas mídias digitais.
Observando os trabalhos mais tarde, o curador Eduardo Veras percebeu que uma outra questão irmanava a produção dos três autores além da técnica do desenho. “Ocorre que Brandelli, Zanette e Fioravante cultivam com determinação, quase obsessiva, mas sobretudo prazerosa, o sentido da minúcia. Tanto no gesto fundador da observação do entorno, da vida cotidiana, quanto no processo mesmo de criação de imagens figurativas, os três mantêm, de maneira lenta e silenciosa, a atenção máxima ao pormenor. Há deleite pelo detalhe. O desenho depende do detalhe. O desenho ama o detalhe. Constrói-se nessa busca”, conclui Veras.
Confira algumas das obras exibidas em “detalhe, desenho”:
- Luciano Zanette
- Amélia Brandelli
- Marcos Fioravante
“detalhe, desenho”, coletiva com Amélia Brandeli, Luciano Zanette e Marcos Fioravante
Curadoria de Eduardo Veras
Em cartaz de 13 de maio a 05 de agosto de 2017
Espaço Cultural ESPM-Sul
Rua Guilherme Shell, 268
Funcionamento: ter – sex, 8h às 22h; sáb, 9h às 15h
T: (51) 3218-1300
rjohn@espm.br