(São Paulo, SP)
Atlas, réguas, mapas-múndi. Estes são alguns dos objetos utilizados por Nazareno, indicado ao Prêmio PIPA em 2015, em “A Experiência Geográfica”, que ele inaugurou na semana passada na Galeria Lume. Buscando entender a construção social e cultural do homem, a individual analisa e questiona a geografia onde vivemos a partir de 12 desenhos e quatro objetos.
Reproduzimos aqui o texto “Cartografias Pessoais” que, assinado pelo curador da exposição, Paulo Kassab Jr., sintetiza as questões centrais da mostra:
Cartografias Pessoais
Paulo Kassab Jr.
Marion Segaud, autora do livro Antropologia do Espaço (Anthropologie de l’espace, 2010, Paris), diz em sua tese que a ordem espacial tem o poder de induzir a ordem social. Nunca existiu sociedade que não produzisse, moldasse ou delimitasse seu espaço, desde os índios, até hoje, nós mesmos, com a pretensão de instaurar um único espaço, o nosso, excluindo qualquer outro.
Na exposição “A Experiência Geográfica”, Nazareno evidencia a relação dos indivíduos e das sociedades com o espaço, além de seu conceito estrutural. Para entender a construção social e cultural do homem, o artista analisa e questiona a geografia onde vivemos. Tudo o que fazemos e somos está vinculado à experiência do espaço. Somos a soma de inúmeras sensações de ordem visual, auditiva, olfativa e térmica. Não se pode fugir do fato de que pessoas criadas dentro de espaços distintos, também vivem em mundos sensoriais diferentes.
Múltiplos e diversos, os desenhos e objetos de Nazareno fazem analogia à representação do espaço em seus diferentes aspectos: mapas mundi, atlas, fronteiras, réguas, todos tendo em comum o fato de subentender uma ordenação do ambiente terrestre, marítimo e celeste, com o objetivo de medir o espaço e lhe atribuir limites. São estas delimitações que, muitas vezes, definem um espaço para poder exercer sobre ele um domínio e, através dele, a estruturação de uma identidade. “É somente com a condição de que o homem meça e ordene dessa maneira sua habitação que ele pode medir seu próprio ser… porque o homem habita medindo, de um ponto a outro, o sobre a terra e o sob o céu”, define Heiddegger.
A relação do homem com seus espaços sofre as consequências de uma revolução sem precedentes. Atualmente são discutidos muros, fronteiras, divisões de territórios, enquanto há uma necessidade imperiosa de inter-relações em todos os níveis da sociedade contemporânea. As guerras, a fome e a consequente imigração para novos territórios fazem coexistir num mesmo espaço pessoas de ideais e valores extremamente distintos.
“Algumas geografias são naturalmente agressivas, não se abrem ao convívio, não admitem intromissões”, afirma o artista na obra “Tesouro da juventude”. A frase resume os questionamentos propostos por Nazareno. Como habitar/ocupar o mundo e conviver respeitando identidades e valores formados em territórios divergentes?
Veja algumas das obras expostas em “A Experiência Geográfica”, de Nazareno:
“A Experiência Geográfica”, individual de Nazareno
Curadoria de Paulo Kassab Jr.
Em cartaz de 23 de março a 27 de maio de 2017
Galeria Lume
Rua Gumercindo Saraiva, 54 – Jardim Europa
T: (11) 4883-0351
Funcionamento: seg – sex, 1-h às 19h; sáb, 11h às 15h
contato@galerialume.com