Prêmio PIPA 2016: uma retrospectiva da sétima edição do Prêmio

“Tal frente de ação perene do PIPA vem construindo um arquivo essencial para o intercâmbio de informações entre agentes culturais e demais interessados que, contribui para a compreensão e promove a difusão de nossa arte tanto nacional, quanto internacionalmente.” – Fernando Cocchiarale, curador do MAM Rio

O Prêmio PIPA chega ao final da sua sétima edição cumprindo a sua missão: estimular a produção de arte contemporânea no Brasil e fortalecer institucionalmente o MAM-Rio – com uma exposição anual e a entrada no acervo de uma obra de cada artista finalista (quatro por ano). Ao final de sete anos foram doadas ao acervo do MAM-Rio trabalhos de: Renata Lucas, Marcelo Moscheta, Cinthia Marcelle, Marcius Galan, Tatiana Blass, Jonathas de Andrade, Eduardo Berliner, André Kotmasu, Matheus Rocha Pitta, Rodrigo Braga, Thiago Rocha Pitta, Berna Reale, Cadu, Camila Soato, Laercio Redondo, Alice Miceli, Daniel Steegmann Mangrané, Thiago Martins de Melo, Walter Malta Tavares, Virginia de Medeiros, Leticia Ramos, Marina Rheingantz, Cristiano Lendhardt, Clara Ianni, Gustavo Speridião, Luiza Baldan e Paulo Nazareth, assim formando um amplo e significativo panorama da arte contemporânea brasileira.

Ao longo dos anos, os sites do Prêmio vem se consolidando como uma plataforma de pesquisa online, primeiro por ser bilíngüe, depois por ser abrangente geograficamente (com artistas além do circuito Rio-SP) e focado historicamente (tratamos apenas dos artistas indicados, ou seja, de uma cena relativamente recente, dos últimos 20 anos). São hoje 335 artistas com páginas biográficas, que incluem currículos, textos críticos, imagens de obras que podem ser continuamente atualizadas e há ainda pelo menos um vídeo feito via skype, em que cada um fala sobre seu processo criativo, formação, inquietações, desejos e percursos. O nosso objetivo permanece: fortalecer a tendência do site como fonte de consulta e buscar melhorias para qualifica-lo como uma plataforma de pesquisa sobre cena artística contemporânea brasileira. A contribuição dos artistas envolvidos, das galerias e do meio é fundamental para a continuidade deste trabalho. 

Estatísticas 2016

O Comitê de Indicação 2016 foi formado por 30 especialistas em arte contemporânea brasileira, entre críticos, curadores, colecionadores, galeristas, artistas e historiadores distribuídos por diferentes regiões do país e do exterior. Indicados por eles, 71 artistas participaram da sétima edição do Prêmio, sendo 45 ou quase 60% deles pela primeira vez. A maioria dos artistas tinha entre 31 e 40 anos, e a maioria nasceu no Sudeste do país, embora um número significativo tenha nascido (14%) ou resida (10%) fora.  

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PIPA & PIPA Voto Popular

“A premiação principal quer valorizar e qualificar as produções cuja circulação nacional e internacional já são mais consistentes, além de mostrá-las em exposição numa das instituições mais prestigiadas do país – o MAM-Rio.” – Luiz Camillo Osorio

– PIPA: Principal categoria, na qual o vencedor é escolhido pelo Júri de Premiação. O vencedor recebe R$ 130 mil, sendo parte desse valor (em torno de R$ 25 mil) utilizado para financiar a participação do artista no programa de residência artística internacional da Residency Unlimited, em Nova York, EUA. O Júri de Premiação definirá o vencedor com base no que será exposto na mostra do MAM-Rio, na análise das trajetórias e dos portfólios apresentado pelos artistas, bem como na relevância do prêmio em dinheiro e da participação no programa de residência artística internacional para o desenvolvimento da carreira de cada finalista.

– PIPA Voto Popular Exposição: Segunda categoria exclusiva para os finalistas, onde quem define o vencedor é o público que visita a exposição do PIPA no MAM-Rio e vota no seu artista preferido. O vencedor recebe R$ 24 mil.

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No dia 9 de novembro, anunciamos, com exclusividade no site do Prêmio, o grande vencedor de 2016: o artista mineiro Paulo Nazareth, que competia com os finalistas Clara Ianni, Gustavo Speridião e Luiza Baldan. Nazareth foi o favorito do Júri de Premiação de 2016, composto por Fernando Cocchiarale, Marisa Flórido, Júlia Rebouças, Milton Machado e Luiz Camillo Osorio, e recebeu um montante de R$130 mil, valor no qual se inclui sua participação no programa de residência artística da Residency Unlimited, em Nova York, por três meses. O artista também foi premiado com os R$24 mil da categoria Voto Popular Exposição, em que, durante a exposição dos finalistas no MAM-Rio, o público escolhe seu artista favorito.

PIPA Online

“A premiação online busca principalmente, dar visibilidade e impulsionar artistas sem tanta presença institucional.” – Luiz Camillo Osorio

O PIPA Online é a categoria do Prêmio na qual todos os artistas indicados na edição vigente são convidados a participar. A participação não é obrigatória. O vencedor é definido pelo número de votos recebidos em sua página, aqui no website. O objetivo principal é divulgar todos os artistas indicados e a arte contemporânea brasileira através da internet. Os artistas que conquistarem o maior número de votos recebem uma doação de respectivamente R$10.000 e R$5.000. Ambos doam uma obra para o Instituto PIPA (a serem definidas em comum acordo entre os artistas e a coordenação do Instituto).

Em 2016, a categoria online do PIPA aconteceu em dois turnos entre 17 de julho a 7 de agosto. Dos 63 artistas que participaram do 1º turno, apenas 10 conquistaram mais de 500 votos e passaram para a 2ª fase. Em uma disputa muito acirrada, decidida nas últimas horas de votação, Jaider Esbell foi o vencedor (com 3789 votos) e Arissana Pataxóa segunda colocada (com 3686).

Em sete edições, este foi o primeiro ano em que três artistas indígenas foram indicados ao Prêmio, todos classificados para o 2º turno da votação on-line (Isaías Sales é o terceiro artista do grupo). Assista ao anúncio dos vencedores, onde Esbell, índio Macuxi da Amazônia, e Pataxó, que incorporou sua etnia ao nome, contam a experiência de concorrer nesta categoria em que o vencedor é definido pelo voto do público na internet.

Nesta conversa exclusiva, Jaider aponta a disseminação popular de sua obra e sua satisfação em alcançar um maior número de pessoas para apresentar a realidade de sua cultura, assim como Arissana, que relata como a premiação levou mesmo quem já era próximo a se aprofundar em sua obra.

Exposição dos finalistas no MAM-Rio

A exposição da sétima edição do Prêmio PIPA aconteceu no MAM-Rio entre os dias 03 de setembro e 13 de novembro e apresentou obras dos quatro artistas finalistas de 2016, Clara Ianni, Gustavo Speridião e Luiza Baldan e Paulo Nazareth, como de costume: anualmente, participam da exposição do Prêmio quatro finalistas selecionados pelo Conselho entre os cerca de 70 artistas indicados pelo Comitê de Indicação da edição vigente. Sobre os finalistas em 2016, Luiz Camillo Osorio afirma: “São quatro artistas com poéticas contundentes, diversificadas e de alta intensidade política. Em um país e um mundo convulsionados por crises e desafios político ­civilizatórios, o que se espera da arte é, no mínimo, é compromisso sem adesão com o momento”.

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Clara Ianni, cuja pesquisa de doutorado em Artes Visuais na USP é focada na relação entre arte e política, mostra o vídeo-instalação “Círculo” (2014-2016). A obra consiste em um documentário em vídeo sobre uma manifestação contra a Copa do Mundo pelas ruas de São Paulo em 2014. Nela, a polícia usa a técnica Caldeirão de Hamburgo, onde confina a multidão em determinada área através de uma formação circular. “A ideia do trabalho é fazer-nos pensar sobre a forma do círculo e suas diversas aplicações”, diz Clara. A artista aplica um círculo em vinil no chão do museu, onde o espectador assiste o filme e pode se sentir confinado dentro de um caldeirão. A artista também faz a analogia do círculo de Hamburgo com os avisos típicos dos museus que indicam a distância mínima de aproximação diante de uma obra de arte.

Clara Ianni. "Círculo". 2014 - 2016.

Clara Ianni. “Círculo”. 2014 – 2016.

Gustavo Speridião é, provavelmente, o artista entre os finalistas cuja pegada política é mais explícita. Na exposição, ele exibiu a pintura-instalação “Fora” (2013), uma tela de 6,5 metros grampeada na parede, onde palavras ocupam o plano pictórico de maneira a emular uma bandeira de protesto ou um caderno de anotações políticas. Sobre o processo do trabalho, Speridião afirma que a pintura nasceu de um material de “lágrimas, sangue, suor e nanquim”.

Gustavo Speridião. "Fora". 2013.

Gustavo Speridião. “Fora”. 2013.

“Todo mundo tem um perfil muito político. Talvez na obra de Baldan essa abordagem seja menos óbvia, mas ela pode ser encontrada na forma como ela explora a arquitetura“, comenta Osorio sobre mais uma finalista ao Prêmio PIPA 2016, Luiza Baldan. Na videoinstalação “Perabé” (2014-2015), a artista apresenta uma narrativa contemporânea sobre sua relação com as cidades em que viveu. “São Paulo foi a primeira cidade onde eu morei, por um curto período de tempo, que não está na costa, e eu percebi o quanto eu sinto falta do mar na minha relação com a cidade.” Trata-se de uma coleção de fotografias e um texto escrito pelo artista, lido a quatro vozes através de quatro canais de som separados.

Luiza ainda constrói uma ponte de sua produção com o do último finalista e vencedor do Prêmio PIPA 2016, Paulo Nazareth: “[seu trabalho] tem uma pegada completamente diferente do meu, mas tem essa coisa do deslocamento, da errância. De você de alguma forma ir construindo coisas que você coleta e vai encontrando ao longo do caminho”.

Luiza Baldan. "Perabé". 2014-2015.

Luiza Baldan. “Perabé”. 2014-2015.

Vencedor do Prêmio PIPA e do Voto Popular 2016, Paulo Nazareth tem viajado longas distâncias a pé: da aldeia de Caiová para Nova York, de Miami a Mumbai. Entre os muitos destinos curiosos, ele apresenta a série “Produtos de Genocídio” (2015-2016), um instalação que reúne em um mesmo grupo objetos “já feitos”, serigrafias, gravuras, e um vídeo. A série reflete sobre o extermínio das populações indígenas e a apropriação de elementos de sua cultura como bens de consumo. Falando sobre a exposição como um todo, Nazareth observa: “Eu não sei como nossas obras vão dialogar, ao mesmo tempo que estamos dialogando por estarmos vivendo o mesmo no tempo. Cada um de nós com sua história e sua maneira de encarar esse momento histórico atual”.

Paulo Nazareth. "Produtos de Genocídio". 2015-2016.

Paulo Nazareth. “Produtos de Genocídio”. 2015-2016.

Assista ao vídeo da montagem com a participação dos finalistas contando sobre as obras na exposição:

Catálogo 2016

“A difusão atualizada da produção contemporânea brasileira promovida pelo PIPA-tanto por meio de catálogos impressos voltados para o registro da produção dos participante, quanto pelo site brasileiro e o em inglês, de abrangência internacional – permite o livre acesso a estas publicações e informações permanentemente atualizadas sobre os cerca de 330 artistas participanetes em toda história desse projeto.” – Fernando Cocchiarale, curador do MAM Rio.

Os catálogos do Prêmio podem ser baixados gratuitamente em PDF diretamente no site. Já estão disponíveis os livros de todas as edições, de 2010 a 2016 (esta última, com 6.9Mb, recentemente adicionada).
O catálogo de 2016 conta com 211 páginas. Em 2016, ele também inclui um diagrama explicando a dinâmica do prêmio e páginas adicionais com mais imagens de trabalhos dos finalistas e indicados, com textos nas versões português e inglês.
Além das páginas de artistas, no catálogo encontram-se informações gerais sobre o Prêmio, textos assinados pelos curadores Luiz Camillo Osorio, do Instituto PIPA e Fernando Cocchiarale, curador do MAM-Rio, além de outros membros do Conselho. Além disso, o catálogo inclui ainda uma avaliação sobre a proposta da Área de Convivência da exposição do ano de 2015, dos arte-educadores Virginia Motta e Jean Diêgo Soares. Clique aqui para saber mais.

Diagrama Prêmio PIPA

O lançamento da oitava edição do Prêmio PIPA acontece no dia 27 de janeiro de 2017, quando serão anunciados os membros do Conselho, o cronograma, o regulamento e as novidades. Preparados?



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