(Porto Alegre, RS)
A mostra coletiva The Dance Party acontece entre os dias 7 a 21 de outubro na Galeria Ecarta, com entrada franca. A exposição que reunirá nove artistas brasileiros e estrangeiros, com diferentes origens e propostas, busca investigar as interações entre a arte e a cultura das pistas de dança – e os reflexos disso no cotidiano. Participam os seguintes artistas: John Cage, Déh Dullius, Leyland Kirby, Mark Leckey, Giovanni Mad, Alexandre Navarro Moreira, Leigh Orpaz, Luiz Roque e Katja Ruge. A mostra integra a programação da terceira edição do Festival Kino Beat de música e performance audiovisual multimídia. A curadoria é de Gabriel Cevallos e Leo Felipe.
Gestada nos clubes noturnos de Londres e Nova York ainda nos anos 1970, a atmosfera que envolve as pistas de dança vai muito além da música e da performance de quem está ali, obviamente, dançando. Os comportamentos, a moda e a ideologia deste universo influencia, há 40 anos, os costumes, o consumo, a política e a produção artística de toda uma geração que encontrou nestes locais as suas referências. A mostra promete uma releitura destes cenários e uma interpretação da influência que esta cultura teve – e tem – na sociedade.
Além das obras e performances dos artistas, a programação inclui um registro do que é considerado a primeira rave urbana brasileira, uma festa que ocorreu simultaneamente em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, em 1992. O seminário A Teoria da Festa vai discutir, com base em pressupostos teóricos, as questões políticas e epistemológicas deste movimento.
The Dance Party
As origens são ancestrais, remontando ao tribalismo das cavernas, quando mulheres e homens pré-históricos pulavam ao redor do fogo – primeva rave – buscando voltar ao caos primordial. A festa é um filtro do mundo. Além do místico (megaclubes não costumam ser chamados de templos?), há também o político presente em cada molécula dos corpos que desejam liberdade e se organizam em comunhão contra os sistemas. E há, evidente, o consumo, essa invenção capitalista que infecta as coisas como um vírus. Mas existe também algo que diz respeito à forma e ao tempo: a música em torno da qual se construiu a cultura parece representar de maneira bastante adequada a distopia de um mundo pós-industrial onde as danças deserotizadas duplicam os movimentos mecânicos de nossa vida nas cidades, gestos que de tão repetidos perdem o sentido (expressão de nossa alienação?). Música de máquinas, produto da tecnologia que aponta para um futuro que não existe mais. Há somente um eterno passado, em constante sucessão de revivais.
As danças e modas, a música eletrônica e os expedientes do DJ, o sentido de resistência e a certeza da cooptação, a embriaguez dos sentidos e a sordidez do vício. The Dance Party lança um olhar sobre a cultura das pistas de dança e sua relação com a forma e o tempo, estes dois elementos que participam da memória, matéria que a música deflagra e o vídeo capta.
Artistas e obras
John Cage (Los Angeles, 1912-1992)
Goal: New Music, New Dance (texto, 1939)
John Cage foi um homem generoso. Depois de suas experiências artísticas, nossa percepção sobre o que é a música nunca mais foi a mesma. Foi ele quem definiu uma vez a arte como a “estação experimental da liberdade”. No artigo de 1939, extraído do livro Silence, Cage parece um profeta quando fala da relevância da música percussiva que no futuro (hoje?) será feita pelas máquinas.
Déh Dullius (Canoas, 1988)
Disco fall (performance, 2016)
Sob o codinome Jesebel, Déh Dullius cria roupas-personagens que desfilam por clubes noturnos e eventos sociais, fazendo de sua própria presença extravagante uma performance. Para o projeto, o artista usará como elemento criativo um dos ícones definidores da cultura das pistas: a disco ball.
Leyland Kirby (Stockport, 1974)
The Death of Rave (álbum, 2006)
O álbum de Leyland é uma seleção das 19 horas de áudio do projeto The Death of Rave. Nele, os hinos da era das raves no Reino Unido são extirpados da estrutura que os sustenta: os beats, restando apenas sons etéreos que evocam fantasmas do passado. Será a nostalgia o preço pago por tantas noites de festa?
Mark Leckey (Birkenhead, 1964)
Fiorucci made me hardcore (vídeo, 1999)
O curta de 14 minutos, montado a partir de registros que vão da cena northern soul de início dos anos 1970 ao auge do acid house, é um tributo à cultura das pistas de dança no Reino Unido.
Giovanni Mad (Porto Alegre, 1974)
After (fotografia, 2009)
Giovanni Mad é um fotógrafo de festas cuja marca é a (in)sensibilidade para a sordidez. Um cinzeiro do artista japonês Yoshitomo Nara, cheio de desagradáveis baganas de cigarro, é a peça central de sua “natureza morta”, comentário sobre os ritos e vícios que participam da cultura das pistas (e depois delas).
Alexandre Navarro Moreira (Porto Alegre, 1973)
AUTACOM_b2b (instalação, 2016)
As instalações da série AUTACOM se originam a partir do diálogo do artista com outros interlocutores, neste caso, os curadores da exposição. Tal qual um DJ, Moreira opera em uma situação de agrupamento humano efêmero, ruidoso e afetado por estímulos sensoriais, a partir de expedientes como a apropriação, a sobreposição e o remix.
Leigh Orpaz (Nova York, 1977)
Breakfast (vídeo, 2014)
As imagens em preto e branco que Orpaz captou no clube de Tel Aviv que dá nome ao vídeo não parecem combinar com uma festa. Mais sugerem mortos-vivos confinados em um bunker. Podem as subculturas ainda oferecer alguma forma de resistência em um mundo em que tudo se torna mercadoria?
Luiz Roque (Cachoeira do Sul, 1979)
Cabeça com brinco (escultura, 2015)
Em sua pesquisa sobre a superficialidade, Luiz Roque aproxima as formas puras do modernismo ao corpo ambíguo da sexualidade não normativa, permitindo uma história da arte que incluiria o nightlife entre seus objetos.
Katja Ruge (Hamburgo)
Can Love be synth? (fotografia, 2010)
A fotógrafa Katja Ruge se especializou em retratar o universo da música, tendo produzido imagens para revistas, livros, exposições e festivais. Na série Can Love be synth? ela registra sintetizadores analógicos clássicos, reverenciando um dos instrumentos que deram origem à música eletrônica das pistas. Katja, que também é DJ, criará um mix especial para a exposição.
“The Dance Party”, coletiva com John Cage, Déh Dullius, Leyland Kirby, Mark Leckey, Giovanni Mad, Alexandre Navarro Moreira, Leigh Orpaz, Luiz Roque e Katja Ruge
Curadoria de Gabriel Cevallos e Leo Felipe
Abertura: 07 de outubro, às 19h
Em cartaz até 13 de novembro
Galeria Ecarta
Av. João Pessoa, 943 – Porto Alegre – RS – Brasil
T: 51-4009.2970