A Portas Vilaseca Galeria apresenta, entre os dias 28 de abril e 29 de maio, a mostra individual “DESVIO” de Gabriel Giucci. A exposição conta com a curadoria de Daniela Labra.
Leia o texto da curadora Daniela Labra sobre a mostra:
Esta reunião de homens de traje não é um encontro qualquer. Trata-se de uma situação armada, construída por meio de uma das mais sofisticadas e tradicionais técnicas de reprodução da imagem do mundo moderno: o retrato sobre tela. Antes mesmo de insinuarmos notar algum posicionamento político do autor, Gabriel Giucci, pode-se afirmar que o conjunto de trabalhos é sobretudo uma ode ao retrato e suas possibilidades estilísticas, mil vezes transformadas por mestres famosos ou anônimos ao longo da história da arte. Do Século XIV, quando a autonomia do gênero artístico se consolida, até o contemporâneo, são muitos os estilos e técnicas de composição que se instauram como fundamentos para retratar a face humana. Historicamente, o retrato deve enobrecer as características físicas do retratado, de modo a mostrá-lo como alguém especial, seja pelo status que possui em uma comunidade, ou pela extraordinária singularidade, bela ou não, das suas feições. O retrato sobre tela, por ter como objeto indivíduos, possui ares atemporais, embora a indumentária do modelo ou mesmo a sua pose, possam oferecer boas noções do seu lugar de poder e da sociedade em que se insere.
Em DESVIO, Gabriel Giucci, artista virtuoso no desenho com grafite e técnicas mistas sobre papel, mostra o resultado do aprimoramento de métodos de pintura a partir do tradicional retrato, aliado ao desejo de comentar artisticamente fatos e registros da decomposição política no país, em curso há quase 18 meses. Para tanto, Giucci recorreu à pesquisa na internet – a fonte mais mundana e saturada de referências que a humanidade já viu, para escolher dali seus retratados. Assim, selecionou com precisão e apropriou-se de imagens de políticos e empresários publicadas em sites de conteúdo jornalístico brasileiros para iniciar esta série, não finalizada, que dá título à exposição. Diante da potência das expressões dos homens que negociam o país, captadas primeiro por uma câmera à serviço da mídia mais espetacular, o artista por fim se lançou em uma obstinada labuta para alcançar obras primas.
Inspirado na máscara grega da tragédia, em Caravaggio, nos retratos de Rembrandt, Frans Hals, Van Dyck, Velazquez e Francis Bacon, junto a referências mais remotas como o videogame, Giucci valoriza enquadramentos inusuais, experimenta texturas e palhetas de cor para tornar dramáticas e densas imagens de origem massificada que talvez ficassem relegadas ao estoque infinito dos bancos de dados. Desse modo, portanto, consegue subverter com estas pequenas mas vigorosas telas o pobre tempo de fruição do veículo midiático, incapaz de transmitir a força que emana de uma boa obra de arte feita para outros suportes. Ao mesmo tempo, o artista evitou replicar o retrato do modo mais convencional, frontal, o qual provou ser desinteressante do ponto de vista da narrativa teatral e detetivesca que foi alcançada neste conjunto. Outro dado que chama atenção é que embora toque no tema mais popular do momento, não esbarra no populismo. Seu pensamento vai além; é artístico e estratégico. Talvez por residir em Nova York há 3 anos, Gabriel Giucci se posicionou com um olhar crítico mas também distanciado, que lhe permitiu tomar partido abertamente pela pesquisa artística acima de toda ideologia ou da falta dela, algo que o resultado aqui não deixa dúvidas.
Veja algumas imagens da exposição:
“DESVIO”, individual de Gabriel Giucci
Curadoria de Daniela Labra
Abertura: 28 de abril
Em cartaz até 29 de maio
Portas Vilaseca Galeria
Avenida Ataulfo de Paiva 1079 subsolo 109 – Leblon | Rio de Janeiro, RJ
Funcionamento: Segunda a sexta, de 11h às 19h | Sábado de 11h às 14h
T: +55 21 2274-5965
contato@portasvilaseca.com.br